segunda-feira, 25 de março de 2013

Saiu do forno o "Protréptico"

Sidney Silveira

Nasceu o filhote que, dentro de brevíssimo tempo, estará à venda nas principais livrarias do Brasil. "Exortação aos Gregos", de Clemente de Alexandria, é a segunda obra da Coleção Medievalia. A primeira foi o recém-lançado clássico "Questões Disputadas Sobre a Alma", de Santo Tomás.

Eis o texto da contracapa do livro do mestre da Escola de Alexandria :

"Erudição a serviço da fé. Esta epígrafe serve perfeitamente para toda a obra de Clemente de Alexandria, mas se adapta com particular ênfase a este "Protréptico", notável chamado à conversão dirigido por um Padre da Igreja aos gregos de sua época – mas também a homens de todos os tempos.

A tradução desta importante obra pela professora de Grego Clássico Rita Codá, do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, é um grande serviço para os que se interessam pela história da filosofia e da teologia no Ocidente. Nela o leitor de língua portuguesa consegue vislumbrar o estilo de rara beleza literária de Clemente, forjado na Escola de Alexandria.

Com 'Exortação aos Gregos' – até então inédita entre nós –, a Editora É dá mais um passo rumo ao seu objetivo de formar novas gerações de leitores familiarizados com textos clássicos importantes. A trilogia que se inicia com a presente obra (sendo as outras duas o "Pedagogo" e os "Strómata") é "catequese" na melhor acepção da palavra: instrução a viva voz, que, no caso de Clemente, cumpre o seguinte plano: primeiro exorta, depois educa e por fim ensina".

domingo, 24 de março de 2013

Certeza moral e crise da Igreja

Sidney Silveira
Quando a consciência de um homem é assaltada por dúvidas positivas em matéria grave, qualquer ação é, em si mesma, ilícita — como ensinam os bons manuais de Teologia Moral. Isto pelo seguinte fato: quem leva uma ação a cabo com consciência duvidosa a respeito de sua própria licitude aceita, temerariamente, a possibilidade de ofender a Deus e ao próximo. Noutras palavras, em caso de dúvida ou impossibilidade de chegar a uma certeza absoluta, é necessário reunir elementos suficientes para a inteligência alcançar o estado que os grandes tratadistas católicos chamam de certeza moral. Antes disso, convém não iniciar nenhuma ação.
Esse tipo de certeza é próprio das ocasiões em que se torna impossível chegar a certezas especulativas apoiadas em princípios intrínsecos indubitáveis, como são os que nos levam às certezas matemáticas ou metafísicas, por exemplo. A licitude da ação dependerá, pois, do fato de a consciência apoiar-se em princípios reflexos ou extrínsecos decorrentes dos princípios intrínsecos. Em síntese, os princípios reflexos são assim chamados pelo fato de que lançam uma luz indireta e parcial sobre a ação, mas em grau suficiente para lograr-se a certeza moral na ordem prática. Ressaltemos que a luz, neste caso, não dissipa de todo as trevas especulativas, mas é suficiente para o homem empreender a ação. Analogamente, é como a luz bruxuleante de uma vela que, embora não ilumine o caminho com perfeição, o faz em nível suficiente para o homem poder seguir em frente sem tropeçar.
Eis alguns critérios encontráveis em Santo Afonso de Ligório e outros tratadistas de moral:
Ø  Em caso de dúvida, é preciso considerar atentamente as normas gerais.
Ø  Em caso de dúvida, é preciso julgar pelo que ordinariamente se praticou ao longo do tempo.
Ø  Em caso de dúvida, deve-se pressupor a validez do ato.
Ø  Em caso de dúvida, é preciso orientar-se pelo que, na prática, parece ser mais seguro.
Ø  Em caso de dúvida, é preciso considerar se o ato em questão favorece ou contraria a lei e os princípios da ordem moral.
Ø  Em caso de dúvida, convém colher a opinião de pessoa douta ou sábia na matéria.
Ø  Etc.

Com tais bússolas um homem se nutre de razões suficientes para chegar à certeza moral. E aí, sim: tendo-a no horizonte, habilita-se a empreender a ação de forma lícita mesmo quando erra. Esta última advertência não nos custa fazer pelo simples fato de que a especificação do ato moral não se dá pelo resultado prático da ação, mas pela intenção do agente. É esta que define se a ação foi boa ou má, justa ou injusta. Assim, um professor imbuído da reta intenção de ensinar a matéria, mas que por alguma razão acidental não consegue, é moralmente mais digno que o professor negligente que, numa frase fortuita, acaba sem querer passando determinado ensinamento ao aluno.
Em breves palavras, todo homem tem a obrigação de empregar os meios possíveis para chegar a uma consciência verdadeira e reta antes de obrar, sobretudo nas ocasiões de extrema gravidade. Só assim se pode alcançar a certeza moral que lhe servirá de critério mais ou menos seguro para agir. Portanto, se a perplexidade de qualquer situação se impõe à consciência de uma pessoa — seja em razão do escândalo, seja em razão de contrariar o bom senso, seja em razão de favorecer o mal em detrimento do bem, seja em razão de ir contra a lei, etc. —, é dever dela se munir de critérios que a conduzam à certeza moral. Caso contrário, o pecado de omissão é gravíssimo.
Esta é, a propósito, a situação de pessoas cuja covardia se reveste do molde da falsa boa consciência, esta mesma que as faz acusar temerariamente quem não se mantém no marasmo, como elas. Em verdade, com total incerteza moral alegam agir com prudência e movidas por amor a um bem maior; infelizmente, trata-se da chamada prudência da carne — tipificada, em sentido próprio, não pelo amor ao bem, mas pela hesitação culposa entre o bem e o mal, pelo temor mundano de ferir susceptibilidades ou perder algum benefício adquirido.
Muitas dessas pessoas boazinhas deixam escapar um afetado esgar de nojo ao ler as críticas construtivas de quem, tomando como critério a Tradição, o Magistério e a prática bimilenar da Igreja, aponta as absurdidades que a vem corroendo nas últimas décadas. Absurdidades doutrinais, pastorais, litúrgicas, canônicas, magisteriais, dogmáticas e políticas. Ora, como esses bons moços desconsideram muitos dos critérios que poderiam levá-los a julgar a situação presente munidos de uma certeza moral, acabam por se tornar acusadores daqueles cuja ação se transforma no incômodo espelho diante do qual as suas consciências remordem a si mesmas. Na prática, as acusações que engendram são mera autodefesa psicológica, mecanismo típico da neurose.
Pois bem. Uma das acusações dessa gente de tão bom coração e ilibada índole é a seguinte: os “tradicionalistas” são sedevacantistas práticos, pessoas movidas por um orgulho insano manifestado pela desobediência em que caíram. No que nos diz respeito, como o ônus da prova é de quem acusa, desafiamos estes eruditos conhecedores da doutrina católica a provar isto com razões suficientes — e com a devida associação da teoria a exemplos práticos. Tipo assim: seria desobediência sedevacantista apontar publicamente a absurdidade do discurso do Papa Francisco em prol de uma Igreja pobre e para os pobres? Essa opinião do Papa é porventura magisterial? Tem ela a intenção declarada de se impor aos fiéis católicos como doutrina a ser seguida? Divergir dela é, por acaso, desobediência? Etc.
Apenas aconselhamos a estes homens cuja  habitual prudência é fechar os olhos para não ver, e tapar o nariz para não sentir eventuais odores nauseabundos, a estudar muito bem antes de dar razões à sua desrazão, ou seja: antes de se lançar à demonstração cabal de que somos uma espécie de "sedevacanista prático".
Se porventura forem dialeticamente degolados, sirva-lhes de consolo que o terão sido com e por amor. O mesmo amor à Igreja que eles alegam em sua defesa ao acusar moralmente o próximo.
P.S. Escolhemos este breve vídeo do falecido Prof. Orlando Fedeli não apenas porque subscrevemos integramente o que ali se diz, mas também porque o trecho em que ele menciona D. Hélder Câmara é muitíssimo a propósito para ilustrar o momento presente.

terça-feira, 19 de março de 2013

Pauperismo: a velha humildade herética — e o momento atual


“O católico que coloca questões políticas à frente das doutrinais é o sujeito que concedeu indulgência plenária à sua própria estupidez”.
Sidney Silveira
A exibição histriônica da humildade deixa, ipso facto, de ser humildade. Isto pelo simples fato de que a humildade é, antes e acima de tudo, o ato interior da vontade pelo qual alguém refreia o afã de ser louvado e reconhecido, ao mesmo tempo em que se imbui de um notável espírito de serviço. Mas aqui vem a pergunta decisiva: qualquer serviço? Não. Um milhão de vezes, não! Os demônios, por exemplo, servem a Lúcifer — o superior deles na hierarquia satânica — não porque sejam humildes, pois, como ensina Santo Tomás, a obediência de uns a outros é tirânica. Em suma, entre os demônios a concórdia na maldade não procede da amizade, a qual pressupõe o amor que lhes falta, nem do espírito de humildade, mas do seu ódio aos homens e à justiça divina.[1] A coincidência deles no mal se dá por meio de uma agônica submissão dos menos poderosos aos mais poderosos.
Ratifiquemos tudo isso com poucas palavras: nem todo servir é humildade. Há um servir que é soberba pura, cupidez, engano, vontade de poder e de supremacia despótica sobre as demais pessoas. Vamos a um exemplo simples: quando comparsas obedecem ao chefe da quadrilha, o seu serviço nada tem de humilde, nem denota amizade ao líder: ele provém do maldoso desejo comum de obter bens de maneira ilícita, contrária à ordem da justiça. Aqui não existe o despojamento espiritual que caracteriza a humildade, muito menos o fim bom que a especifica, moralmente. Em síntese, a humildade é para o bem, por bem e com o bem, daí ser a rainha das virtudes cristãs, do ponto de vista da razão prática. Ademais, ela se baseia na submissão a Deus e no reconhecimento da nossa absoluta miséria perante o Altíssimo. Não é o caso de desenvolver neste breve texto o tema, mas deixemos registrado que um ateu humilde é mera contradictio in terminis, porque lhe faltam os motivos conformadores da humildade.
Estabelecido, pois, o princípio de que a humildade é um ato interior que radica na vontade, e de que nem todo serviçal é humilde, falemos agora de uma antiga forma de macaquear ou distorcer a humildade: associá-la exageradamente à pobreza material e ao serviço aos pobres. Essa velha heresia tem um nome: pauperismo. Foi condenada pelo Magistério da Igreja, e com toda razão. Segundo os seus propugnadores, a pobreza é o sinal distintivo da virtude evangélica, não sendo lícito possuir nenhum (!) bem material próprio, como também bens comunitários. Tal doutrina possui um viés notadamente gnóstico — ou seja, de aversão à matéria, como se esta fosse a distinção ontológica do mal —, e não por outro motivo foi pregada entre cátaros, valdenses e “espirituais” franciscanos que, na Idade Média, fizeram de tudo para destruir a autoridade do Papa e, por conseguinte, a força do Papado.
Imbuídos dessa falsa humildade que encobria a mais insana soberba, tais homens tentaram corroer os alicerces doutrinais da Igreja com incrível pertinácia, sempre lançando mão de astuciosos sofismas. O Papa João XXII, que a propósito canonizara Santo Tomás de Aquino, pôs fim aos exageros pauperísticos desses fanáticos fraticelli, ao condenar a sua posição como herética e totalmente contrária à verdadeira pobreza evangélica — a qual é voluntária, sim, mas jamais absoluta. Em verdade, esses fraticelli não eram animados por nenhum espírito fraternal, pois trabalhavam para matar um dos princípios que transformam em irmãos os homens marcados pela fé em Cristo: a obediência à autoridade do Magistério tradicional da Igreja. Eram, na prática, fratricidas espirituais que procuravam transformar um conselho evangélico em preceito, fazer dele um “dogma” fundamental, entre outras coisas porque eram estrondosos analfabetos teológicos.
Passados seis séculos e meio daquele período agitado em que se inicia o longo declínio da Cristandade, a chamada “opção preferencial pelos pobres” foi a expressão eufemística com a qual esta antiga heresia renasceu camuflada, no final da década de 60 do século passado, com o verniz do marxismo e o mesmíssimo ódio à autoridade (magisterial e jurídica) do Vigário de Cristo — assim como movida por uma ojeriza invencível ao caráter monárquico e hierocrático do Papado. Tratava-se, tanto na Idade Média como na época imediatamente posterior ao Concílio Vaticano II, de uma verdadeira sedição empacotada em formato de má-teologia, ou melhor: de diabolice com fumos de sabedoria teológica. Era o surgimento da funesta Teologia da Libertação (TL), direta ou indiretamente incentivada por clérigos vaticano-secundistas. Aqui não nos custa lembrar que Joseph Ratzinger patrocinou a publicação da tese de doutoramento de Leonardo Boff... Será que Ratzinger via hegelianamente em Boff um teólogo de futuro?
A disseminação desse joio marxista com o incentivo de homens influentes da própria Igreja passou despercebida pelos tolos e pelos “otimistas”, que sempre servem de fermento para as revoluções. A propósito, no caso do catolicismo, os otimistas cegos são adeptos do esporte radical de cair das nuvens: não dominando bem os princípios, são facilmente manipuláveis por quem os queira deturpar, e depois se mostram “chocados” — com ar de donzela  violentada — quando não dá mais para sustentar a sua cegueira voluntária. São massa de manobra bastante útil para o andamento da revolução que, há cinqüenta anos, vem autodemolindo a Igreja. É o caso de pessoas que, a esta altura dos acontecimentos, ainda acreditam no conto da Carochinha chamado hermenêutica da continuidade, e se recusam a enxergar que a desgraça atual está essencialmente ligada aos falsos princípios que inspiraram os textos do Concílio Vaticano II.
São exatamente estes católicos deveras tolerantes para com os desvios e as imprecisões doutrinais que parecem não enxergar a hidra marxista da TL, por trás do discurso do Papa Francisco a favor de uma Igreja pobre e para os pobres.
A estes, vale lembrar algo que deveria ser óbvio:
Ø  Não é papel da Igreja resolver o problema da pobreza no mundo. A função dela é salvar as almas, valendo-se para tanto dos seus carismas, do seu ministério, do seu Magistério, dos sacramentos, etc. É claro que os conflitos sociais e a injustiça tendem a ser minorados numa sociedade que aceita o Evangelho, mas isto nada tem a ver com a instituição de uma Igreja pobre e para os pobres.
Convém, ao contrário, que a Igreja seja institucionalmente rica e politicamente poderosa, para que não lhe faltem meios materiais para o exercício de seu múnus salvífico, e para que ela não seja constrangida pelos poderosos do mundo em sua atuação. A propósito, quando Platão — a certa altura da República — nos diz que, numa sociedade ideal, é conveniente a riqueza estar nas mãos de homens devotados às coisas do espírito (referindo-se ali aos filósofos), e não com homens cúpidos, ímpios ou aproveitadores, nos aponta o seguinte: mesmo o antigo paganismo tinha noção da hierarquia dos bens a ser custodiados, para que os alicerces sociais se mantenham de pé.
Portanto, não confundamos Cristo com Barrabás. A revolução de Cristo faz os Santos; a revolução de Barrabás faz os Stálins. Ademais, não sendo a pobreza em si um mal, nem muito menos um empecilho à salvação (o Evangelho inclusive nos aconselha a ela, para melhor seguimento de Cristo), é flagrante contra-senso pensar que a Igreja deva ser para os pobres. Ora, muito mais do que para os necessitados materiais, o seu trabalho deve voltar-se para os necessitados espirituais. É claro que isto não exclui o fato de que ela possa incentivar a criação de irmandades voltadas ao auxílio aos pobres, como sempre o fez, mas constranger ou reduzir a isto o seu papel é aberração, pura e simples.
A pobreza só é indigna fora dos princípios cristãos.

Francisco, o humilde “Papa dos pobres”?
Agora, muitas dessas pessoas que têm o hábito de se precipitar das nuvens estão se dizendo “chocadas” com o ecumenismo do Cardeal Bergoglio, eleito Papa Francisco; dizem-se temerosas de que a sua salada litúrgica, tão contrária à sacralidade, e tão ao estilo pós-conciliar, tome conta de Roma; escandalizam-se com a sua declarada intenção de que a Igreja seja pobre e para os pobres; com o seu constrangimento em dar bênçãos públicas, para não ferir a consciência dos não-católicos, como na ocasião em que agradeceu aos jornalistas que cobriram o Conclave, sem contudo deixar de lhes dizer que, crendo ou não, “todos são filhos de Deus” (até então, éramos filhos de Deus porque irmãos em Cristo, mas a nova fraternidade à moda da Revolução Francesa excluiu a filiação adotiva, a qual antes assumíamos apenas ao aceitar Nosso Senhor e Sua Igreja); etc.  
Não conseguem ver a perfeita linha de continuidade entre todos os Papas conciliares, que culmina no atual. Este, em pouquíssimo tempo de pontificado, já mostrou a que veio, e o mundo começa a amá-lo, a “adorá-lo”. E não por menos: trata-se do homem flagrantemente ecumênico na cúpula da Igreja, como o mundo quer; do homem que, alegando humildade, dispensa até os tradicionais paramentos papais e os chama de... carnavalescos! Do homem que é “humilde” porque anda de ônibus, cozinha a própria comida e caminha entre o povo. Ó, humildade, flor das virtudes cristãs, a que arremedo de si mesma te reduziram?
A propósito, ao ler por estes dias no Frates in Unum (e depois checar com outras fontes) as palavras que o Papa Francisco dirigiu, diante de algumas testemunhas, ao cerimoniário pontifício Mons. Guido Marini, enfatizando que “o tempo do carnaval acabou”, referindo-se aos paramentos tradicionais, não pude evitar as lágrimas, e foram muitas, muitíssimas. Mas não foram lágrimas de quem foi pego de surpresa, e sim de quem vê o caos instaurado de forma humanamente impossível de reverter — embora de Deus sempre possamos esperar o milagre de reapostolicizar a hierarquia eclesiástica, fazê-la perder os pruridos diplomáticos e as susceptibilidades baseadas na “liberdade de consciência”.
Os católicos tradicionais — chamados de “tradicionalistas” por seus detratores liberais — precisarão de uma dose suplementar de heroísmo para não sucumbir ao tsunami que desponta no horizonte. A hora é de provação. Serão inculpados ou acusados de ferir a “unidade” da Igreja, e em geral os acusadores serão pessoas que mal leram um manual de teologia (quanto mais o Magistério e os Santos Doutores), e por isso ignoram que a unidade cristã só se dá na integralidade da fé. Serão caluniados por pessoas que acham que a defesa de artigos da lei natural (como as questões relativas ao aborto, etc.) basta para a unidade cristã, visto considerarem o aspecto político em primeiro lugar. Ocorre o seguinte: o católico que coloca questões políticas à frente das doutrinais é o sujeito que concedeu indulgência plenária à sua própria estupidez; dele poderíamos dizer shakespearianamente que faz da ignorância a melhor defesa. Mas não lhe respondamos; o melhor é calar perante quem confunde solidariedade com caridade, politicagem com esperança e opinião pessoal com fé.
Pois bem. Ao contrário do que pensavam Kierkegaard e Karl Barth, a fé não é um salto no absurdo, mas sim um salto na mais ofuscante luz, como dizia o Pe. Penido, eminente tomista brasileiro. E essa luz não é outra senão a da cruz. Ad lucem per crucem: a caminho da luz, pela cruz. Este é o dístico do cristão, que nada tem de bandeira ideológica ou política. E, num momento como o atual, ele deve ser o guia maior para os que amam a Igreja e a vêem tão dramaticamente desrespeitada. E não apenas pelo mundo, mas pelas próprias autoridades eclesiásticas.
Aos amigos tradicionais que porventura se sentirem constrangidos pelas difamações e detrações que, a partir de agora, hão de se multiplicar, entre as quais o doce apelido de "sedevacantista prático" é o mínimo, vale o conselho: lancem em rosto dos acusadores o “dogma” por eles defendido (implícita ou explicitamente) da intocabilidade da consciência individual. Esta mesma que o recém-eleito Papa Francisco tanto demonstra respeitar nos ateus, nos não-católicos e nos adeptos de outras religiões.
Mostrem a eles que vocês não podem contrariar as suas consciências católicas, pois a isto seria preferível a morte.
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1- Cfme. Tomás de Aquino, Suma Teológica, I, q.109.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Bom momento para estudar Garabandal


Sidney Silveira
Os acontecimentos recentes da Igreja apresentam-se como ensejo para reolharmos com especial atenção os extraordinários fatos sucedidos entre 1961 e 1965 (ou seja: em tempo coincidente com o do aggiornamento da Igreja operado pelo Concílio Vaticano II), na pequena aldeia espanhola de San Sebastián de Garabandal. Primeiramente porque o Santo Padre Pio — taumaturgo extraordinário — lhes deu crédito. Mas também, e sobretudo, pela enorme gravidade da mensagem de Nossa Senhora, que, entre outras coisas, dissera às quatro jovens videntes o seguinte:
Ø  A partir de então — e estávamos sob João XXIII —, haveria apenas mais quatro Papas antes da marcha do fim dos tempos (sendo o renunciante Bento XVI exatamente o quarto deles).
Ø  O fim dos tempos seria precedido de um Aviso, um Milagre e um Castigo sem parâmetro na história da humanidade.
É verdade que a Igreja não reconheceu oficialmente as aparições em Garabandal. Mas também não as condenou. Ademais, se associarmos Garabandal às reconhecidas aparições marianas de La Sallete, Lourdes e Fátima, teremos material suficiente para refletir sobre o abominável momento presente, em que a débâcle doutrinária ganha caráter materialmente universal, no seio da Igreja. Só os cegos voluntários se recusam a ver, assim como os católicos tomados por um senso de naturalismo prático absolutamente contrário à fé e tão criticado pelos Doutores e pelo Magistério.
Seja como for, o estudo destes eventos fora do comum é algo pertinente. A morte extática do Padre Luis María Andreu, teólogo de talento que, a princípio, se mostrara cético quanto às aparições, e o milagre da Hóstia materializada na boca de Conchita González diante de muitas pessoas (há um famoso registro fotográfico acerca disto), entre outros eventos, são indicativos suficientes para refletirmos sobre as nossas próprias vidas e, como pediu Nossa Senhora em Garabandal, para fazermos penitência e visitarmos com a maior freqüência possível o Sacrário. Sempre com confiança inabalável em Deus, ou seja, imbuídos da verdadeira esperança cristã, que, segundo Santo Tomás de Aquino, tem como objeto formal a Deus auxilians, quer dizer: ela traz a certeza do socorro divino para aqueles que amam ao Senhor e procuram guardar os Seus mandamentos, mesmo em meio a quedas e momentos de fraqueza e tentação.
Trata-se, como dizia o próprio Doutor Comum, de uma certeza de tendência (“spes certitudinaliter tendit in suum finem”), que obviamente não se refere à nossa própria salvação — pois isto seria pecado de presunção gravíssimo —, mas uma certeza que, sob a luz da fé, indica estarmos na direção do fim querido por Deus. Esta é a esperança dos que crêem em Cristo e dos que crêem a Cristo, e, como explica o nosso Vieira no Sermão da Quinta Dominga da Quaresma, "crer em Cristo é crer o que Ele é, crer a Cristo é crer o que Ele diz".
Advirtamos: este é um momento propício para estudarmos com prudência Garabandal, pois, como se disse, sobre esta aparição a Igreja ainda não bateu o martelo, e só Deus Pai sabe a hora. Não se trata, pois, de fazê-lo ao modo de um procedimento adivinhatório, mas por simples obediência a Cristo — que nos diz  na Sagrada Escritura para estarmos atentos aos sinais dos tempos que precederão à Parusia. A  postura contrária a esta é a do otimismo beócio que oculta uma fé tíbia e mascara a demasiada confiança nos negócios humanos.
É abundante na internet o material sobre as aparições de Garabandal e a mensagem da Virgem acerca do Aviso, do Milagre e do Castigo que antecederão ao fim dos tempos.  

quinta-feira, 14 de março de 2013

Tradução inglesa do "Comentário à Metafísica de Aristóteles", de Santo Tomás


Sidney Silveira
A indicação é do Prof. Carlos Nougué, e o texto do Aquinate se encontra neste link.

Uma pergunta catolicamente chata e, para muitos, inoportuna: o que esperar de um ecumenista convicto à frente do Papado?



“Tua perdição é obra tua, Israel. Tua força é obra Minha”.
(Os. XIII, 9)
Sidney Silveira
Um bispo católico que se ajoelha diante de um pastor evangélico para receber o “dom” da sabedoria ecumênica manifesta, com tal ato, algum tipo de humildade? E outra: é verdadeira humildade calar a verdade da fé no “diálogo” com outras religiões ou seitas?
À primeira pergunta podemos responder dizendo o seguinte:
1-  se Cristo nada tem a aprender com Nicodemos, muito menos terá a aprender com Lutero e seus descendentes; e
2-  a verdadeira humildade, antes e acima de tudo, é uma reverência pela qual o homem se submete a Deus, como ensina Santo Tomás. Nas palavras do Doutor Comum, o homem deve submeter-se ao próximo única e exclusivamente naquilo em que nele há de semelhança com Deus (cfme. Suma Teológica, II-II, q.161, art. 3, resp), e não no que nele haja de humano ou de não cristão — ou ainda de falsamente cristão, o que é pior.
Neste último caso, não é humildade submeter-se; ao contrário, é anuência ao mal ou rebaixamento indevido diante de um inferior. A título de analogia, seria mais ou menos como um expert em metafísica concordar reverentemente com qualquer neófito saído dos cueiros que fala uma bobagem sem tamanho, apenas para não ferir as suas juvenis susceptibilidades.
À segunda pergunta podemos responder dizendo o seguinte:
1-  a regra da humildade cristã é a verdade evangélica, da qual a Igreja Católica é a única custodiadora, por missão divina. Esta é a doutrina bimilenar, quer gostemos, quer não. Quer o mundo a aceite, quer não. Por isso a Igreja sempre foi um signo de divisão e os líderes de seitas cristãs sempre foram chamados pelos Papas a se arrepender e a retornar à Santa Madre Igreja — isto até que batesse o vendaval do Vaticano II e inaugurasse um virulento ecumenismo totalmente anticatólico... intra muros Ecclesiae!
2-  O único diálogo possível é o apostólico: convertam-se à religião verdadeira fundada por Cristo, o Verbo encarnado. Simples desta forma: sim, sim, não, não.
Ai, que coisa chata e antiquada! Ai, que coisa antimoderna e antidialogante! Ai, quanta intolerância!
Pois bem. O recém-eleito Papa Francisco tem um passado de grande propagador do ecumenismo — que, dentre os crimes contra a fé, talvez seja o pior de todos, por seu caráter insidioso e corrosivo. Então repitamos a pergunta do título, incômoda para muitos no momento presente: o que esperar de um Papa ecumenista convicto? Resposta: o milagre de uma conversão à doutrina católica integral.
É possível? Sim. É provável? Não, pois a história da Igreja está aí para nos mostrar que o modo ordinário de Deus agir não é este.
A hora é grave. Gravíssima. Um divisor de águas se aproxima e parece que todos teremos de tomar uma posição clara em breve — inclusive muitos dos chamados conservadores “linhas-médias”.
Movido pelo Espírito Santo, o Papa Francisco contrariará o Cardeal Bergoglio? Ou dará razão a Leonardo Boff, para quem ele é a grande esperança do estabelecimento de uma Igreja pancristã mundial, ou seja, a abominação da desolação no lugar santo?
Logo saberemos.
P.S. Queríamos, de verdade, postar algo muito, muito diferente — num dia tão festivo para a maioria dos católicos. Mas estas são indagações que, a nosso ver, todo católico verdadeiramente amante da Igreja deveria fazer na hora presente. Além de rezar sobretudo pelo Papado, ao qual o Papa deve servir. Isto por um motivo bem simples: nenhum Papa está acima do Papado.

sábado, 9 de março de 2013

Promoção de Páscoa de obra-prima de Santo Tomás


Sidney Silveira
O pessoal da editora É me informa que está fazendo uma promoção de Páscoa da obra-prima Questões Disputadas Sobre a Alma, de Santo Tomás, que sairá por R$ 47,20 até 01/04/2013. Aproveitem: o preço já estava bom (para a excepcional qualidade da edição), e agora ficou ainda mais atraente.