Hoje
abri as paginas da internet que uso pra me atualizar da vida e me deparei com
uma serie de coisas:
1. A
PEC sobre redução da maioridade penal que havia sido rejeitada hoje foi
aprovada após um dito “golpe”. Tem inclusive uma foto do Feliciano reivindicando com uma camiseta sobre a PEC.
2.
Hoje faz 499 anos que Nostradamus morreu e aparentemente o History Channel vai
exibir um documentário sobre isso.
3. A
Dilma anda sendo atacada com adesivos misóginos.
4. A
Sandra Bullock usou um sapato amarelo dos Mignons “por uma boa causa”.
Achei
que valia uma reflexão sobre a relação entre esses eventos todos – e sim, eu
acho que existe uma!
Já
há algum tempo venho acompanhando o drama da PEC que resolve sobre a redução da
maioridade penal no Brasil. O assunto não me interessa apenas como cidadã, mas
faz parte da minha vida como psicóloga e docente.
Quem
me conhece sabe que eu não acredito que punição resolva o problema de ninguém,
muito menos no que se refere a adolescentes que mal tem desenvolvimento
neuroquímico para entender boa parte do que fazem a longo prazo. E embora eu
não seja a maior entendedora de economia, não acho de nenhuma forma vantajoso
para o país aprovar a tal da PEC, considerando que nossos presídios já operam
com muito menos do que o necessário para garantir os direitos humanos dos
usuários – e sim, gente, por mais graves que tenha sido os crimes cometidos por
esses indivíduos, eles ainda são seres humanos. Teve um cara uma vez que falava
sobre atirar a primeira pedra. Eu não
sou a maior fã dele, mas isso sempre fez sentido pra mim.
Estava
lendo sobre algumas previsões do Nostradamus e uma especificamente se acredita
falar do surgimento do Dalai Lama. “Do
oriente ensinando coisas boas ao ocidente...”. Quem dera a gente aprendesse
alguma coisa!
Então,
só para esclarecer algumas coisas, aí vão alguns dados que muita gente não
sabe.
1. O
cérebro do adolescente ainda está em formação e há regiões não maduras ainda
para tomar decisões adequadas. Isso não significa que eles não sabem a
diferença entre certo e errado, significa apenas que eles ainda não se deram
conta das implicações dessa escolha.
2.
Certo e errado é uma maneira dicotômica de avaliar situações que tem muito mais
do que apenas esses dois lados. Só porque alguém sabe a diferença, não quer
dizer que não tenha uma serie de problemas/transtornos que dificultam aceitar
que essa diferença é importante e deveria ser respeitada. Ou seja, mesmo que
alguém tenha feito algo errado sabendo que era errado, pode ser que essa pessoa
tenha uma doença que a impeça de entender que o errado é relevante.
3. É
um grande erro achar que todo mundo teve as mesmas condições que você teve, aos
16 anos, para saber a diferença entre certo e errado e efetivamente escolher o
certo. A maioria das pessoas que cometem crimes tiveram vidas bem diferentes
que a sua, de forma que você não pode fazer essa comparação.
4. A
maior parte dos teóricos e cientistas da área sugerem que a punição somente é
eficaz a curto prazo, e que não tem o poder real de educar ou mudar
comportamentos a longo prazo. A maioria das pessoas que pune quer vingança. A
lei de Talião foi extinta por um bom motivo!
5.
Se presídio fosse bom, não haveria população carcerária no mundo, pois não
haveriam reincidentes.
6.
Não faz qualquer sentido esperar que alguém se eduque através de sofrimento.
Aliás, esse sempre foi meu problema com o cara que falou sobre atirar a
primeira pedra. Ele também falava de pecado e culpa...
Considerando
esses fatos, acho complicado ser a favor de uma medida que não apresenta
qualquer benefício. Mas isso, na verdade, não importa, porque além de mim e
talvez outras pessoas que se interessem e se posicionam frente ao tema, o resto
dos nossos colegas cidadãos está preocupada em comprar adesivos que ofendem o
gênero da presidente, como se isso fosse de qualquer forma relevante para a
administração pública.
Não
me entendam mal, eu sou a pessoa que fez propaganda política aberta ao Aécio na
eleição passada. Eu adoraria que a Dilma deixasse de ser presidente. Mas essa
posição não tem absolutamente nada a ver com o fato de que ela é mulher. É um
absurdo atacar a imagem dela, como é um absurdo atacar a imagem de qualquer
outra pessoa. Eu desaprovo a forma de governo dela, um direito meu. Mas não é
direito de ninguém desrespeitar ela por uma questão de gênero.
Aliás,
boa parte do problema da política hoje é isso. Nós votamos em uma imagem, em
uma atuação/encenação, ao invés de no desempenho. Há pouco alguém tentou me
lembrar que os políticos deveriam ser os representantes das nossas ideias no
congresso, mas a verdade é que isso não ocorre. Os políticos tratam nossos
projetos de leis como figurinhas, que são trocadas por conveniência. Boa parte
deles nem mesmo sabe o que significam as leis que aprovam ou rejeitam, é só
poder e dinheiro que está em questão ali. Meu irmão mais novo tinha um grupo de
amigos na escola que se reunia no recreio para trocar Tazos – lembram aquelas
figurinhas que vinham nos salgadinhos? É assim que eu imagino os políticos e os
projetos de lei – com a diferença de que meu irmão, uma criança ainda sem muita
noção de certo/errado, já era capaz de ponderar sobre o poder do seu Tazo e se
era o melhor para todos que ele trocasse a figurinha. Já nossos políticos...
E
pra quem acha que o Feliciano (ou qualquer outro desses atores fervorosos
fantasiados de pseudo-políticos) teria qualquer intensão de pensar sobre isso, uma vez
que estava lá literalmente “vestindo a camiseta”, pense de novo. Garanto que a
Sandra Bullock e seu sapato amarelo de Minions pensou mais sobre a causa que
estava defendendo do que toda nossa câmara de deputados.