Como mãe, tenho noção que as minhas palavras têm muito poder e impacto na percepção que os meus filhos terão das suas forças e fraquezas. Tenho plena consciência de que as minhas constatações e atos podem afetar, profundamente, a forma como eles verão o mundo. Tenho, principalmente, cuidado e atenção às conversas com o JP e à forma como o motivo. Terei também a seu tempo, com o Rafael. Mas, sem dúvida, considero o JP, um caso atípico e aquele em que terei refletir mais. Mas não consigo controlar tudo o que lhe dizem.
Nas aldeias das Beiras, toda a gente olha e mete conversa. Num desses dias, logo após o almoço, vínhamos contentes os quatro, pelas ruelas estreitas e sinuosas, quando fomos abordados por uma senhora, dos seus 50 e poucos anos.
Aproximou-se e disse assim em alto e bom som "Ah, este é que é o menino Doentinho ?". Eu, mãe, tal, fera ferida, cortei a conversa, antipaticamente.
Disse "- Não, não, graças a Deus até tem muita saúde. Nasceu foi com uma paralisia cerebral que o impede de andar".
Arregalei os olhos e continuei "- e mais, é inteligente e percebe TUDO o que lhe dizem"...(para que se calasse de vez).
A senhora continuou :"Não leve a mal. Eu também tenho uma netinha pequena assim" …e a conversa continuou até eu perceber o desconforto do JP. Cortei a conversa e fui embora, sem sossegar a senhora, e com um miúdo, visivelmente, agitado. A senhora não fez por mal. Longe de mim, pensar isso...mas não foi bonito e quase que nos estragou uma tarde.
Quando chegámos a casa, desatou num berreiro, com perguntas, porque tinha paralisia, porque o mano não tinha, o que tinha acontecido....entre berros e choro.
E eu a tentar manter a tranquilidade e calma interior, para transmitir essa serenidade. Abraçava-o e expliquei de modo simples. Mas não foi fácil sossegá-lo. Até porque o pequenino de ouvir o grande a chorar, também chorava. Depois tivemos uma conversa a quatro, com muitos abraços e beijinhos. Que gostamos muito dele assim como ele era. E não só nós. Que era especial. Nada mais importava. Sossegou. Parece ter esquecido. Mas não esqueceu e há-de voltar. Só espero que faça um esforço para se aceitar, porque nada mais lhe resta, senão confiar nele. Ele realiza tantas coisas, mesmo com as dificuldades motoras que tem...mas há gente que, sem dificuldades algumas, não realizam nada. Tem de aprender a confiar nele. Devagar se vai ao longe e ele trilhará o seu caminho também.
Outra situação foi num dia em que o JP decidiu fazer uma birra a entrar para o carro, com muito choro e lágrimas. Típica de quem não consegue comunicar bem e que sente revolta por isso. E uma senhora disse, mesmo em frente a ele " Oh pais, então, têm de ter paciência...esse é assim...o pequenino Rafael é este amor e vai-vos dar muitas alegrias, pelos dois, vão ver".
Mal humorada arranquei-lhe o Rafael do colo e não disse mais nada, pois era amiga da minha sogra.
Quando chegámos a casa, fartei-me de gozar com a senhora. O JP ria. E quero ensiná-lo a rir destas coisas...no dia seguinte fomos aos cavalos e voltámos a gozar com a senhora e com o que ela disse. O JP soltou gargalhadas boas e com sentido de humor.
Haja paciência, para ele, para mim...para todos, que há gente burra .