Não consigo fechar os olhos às evidências.
Muita coisa me incomoda e se não falar delas, vão continuar incomodando. E acontecendo.
Às vezes quero que os blogs tenham maior visibilidade da mídia em geral, para que pudessem avaliar bem o que nos vai no coração.
Ontem, em casa de minha mãe, TV ligada em "Malhação". Lá não tem criança nem adolescente, mas eles ligam a TV na hora do programa porque ele antecede a novela das 18h e para eles é o "relógio" que anuncia a novela.
Folheava uma revista (Calma, filho! Calma! eu conto...). Parênteses:
Meu filho tem "implicância" com meus casos, porque explico tudo, nos mínimos detalhes. Muitas vezes me perco da história central, de tanto que "rodeio" pra contar...rsrs - fecha parênteses.
Bom, o fato é que não prestava atenção na série, mas eis que levanto os olhos da revista e me deparo com a cena:
Mocinha (não sei se a protagonista da temporada) se encontra com rapaz, tendo ao lado um menino de uns 8 anos. Ela o apresenta como "o filho da mulher do meu pai, mas eu o considero como meu irmão".
Ela sai de perto dos dois, o menino trava um diálogo de provocações com o rapaz (não sei se namorado ou desafeto da moça, mas algo não vai bem entre eles.). Daí, me perdi de novo na revista e logo depois pego outra cena: a mesma moça à mesa com o menino e o rapaz. De repente ela se levanta e diz que vai sei lá onde e avisa ao rapaz: "Cuidado com o que você fala com ele, senão te mato!"
Aí parei tudo e fiquei "de cara", absorvendo aquela frase. Uma moça classe média (muito bem arrumada, bem patricinha), um garotinho idem, um rapaz mais simples (se não me engano é o ator que fêz o papel de bandido na novela das 21h, "Viver a vida",onde era um desajustado e namorava a irmã da personagem da Thaís Araújo, que era modelo famosa.)
Bom, então, continuando: Num diálogo simples, comum, uma moça aparentemente bem educada solta um "eu te mato" para um rapaz, possivelmente amigo, ou um ex-namorado?
Em plena horário onde as crianças e adolescentes estão em casa, provavelmente sem os pais por perto (hora de trabalho) ou mesmo com adulto em casa, mas que não devem estar assistindo "Malhação" junto com eles.
Quando meus filhos eram adolescentes, muitas vezes assisti a uma temporada do programa (que dura o ano todo) e teve histórias ótimas, que acompanhava com emoção. Mas hoje elas são fraquinhas, nem sei como o programa existe ainda.
E a criança, sem formação ainda, que está em casa assistindo, sem mãe ou pai por perto, e ouve a frase, dita com uma banalidade absoluta? "Eu te mato!" Vai assimilar o quê? Que se pode matar pelos mais simples motivos, basta que sejamos contrariados?!
Estou totalmente chocada!
Outro fato marcante de ontem: Sempre fui assinante de boas revistas, mas este ano cortei todas, porque não há mais revistas que nos entretenham simplesmente, têm muitos assuntos repetidos, muitos guias de compra e de beleza que nunca se renovam - renovam-se os produtos, mas não a apresentação. Todas parecem cópias umas das outras.
Bom, o fato é que acabei comprando uma revista mais nova, chamada LOLA. Nela veio um encarte sobre como ter cabelos bonitos (velhas fórmulas para os mesmos velhos problemas, com produtos novos e sempre mais caros...).
Daí, a chamada da capa já me implicou: "Milagres acontecem!"
O "milagre", no caso, é fazer um bom corte, para acabar com os cabelos danificados. Cadê o milagre aí?
Na próxima página, o "ALELUIA!" mostra que os problemas todos se resolvem com um bom produto e um bom corte.
Depois, mostrando que com um bom corte fica fácil arrumar os cabelos: "Este corte tem uma SANTA vantagem..."
(Clique para ampliar. Na coluna do meio está a frase).
Três palavras alusivas a religiosidade, tratadas com banalidade.
Como cristã, achei completamente desnecessária as alusões.
Milagre é um acontecimento admirável, sem explicação pelas leis naturais. Aí, no caso, "milagre" foi um corte bem feito nos cabelos.
"Aleluia" é um cântico de alegria ou de ação de graças, o que não cabe nem um pouco na reportagem.
E "santo" é sagrado, puro, virtuoso, que também não cabe ali.
Muitas vezes falo um "Aleluia!" querendo dar mesmo graças a algo acontecido, nem que seja a chegada de alguém, depois de uma espera, por exemplo.
Também falo que aquele é "um santo remédio", "uma santa ajuda", apreciando. Não condeno que se use as palavras num contexto adequado, o que não foi absolutamente o caso da reportagem.
Não ando com tempo, nem com disposição, nem com paciência, mas fiquei chocada com o que contei acima e por isso registro.
Ainda tenho em mim a capacidade de indignação. Mesmo que possa parecer que seja "por coisas bobas".