“Quem tem o que dizer . .
diz. ..
Quem não tem, fala de. .
si.” . .
Tuca Zamagna *. .
1/
O lado positivo de hoje estar
em extinção o cinema de rua
é que preserva-se o ambiente
dos títulos psico-poluentes
que os tradutores inventam.
\2
Somos recicláveis
de várias formas
enquanto vivos.
Mortos, nem tanto.
Se enterrados,
damos bom adubo;
se cremados, poeira
para o mundo espanar
e esquecer – se alguma
ivete não der de levantá-la.
3/
Somos biodesagradáveis,
porém não biodegradáveis.
O que degrada-se da alma
não é bio: não é todo, não é nós.
O que degrada-se da carne,
lixo lançado à cova,
já não somos nós.
\4
Essa tal de auto-estima
nasceu das fezes do tempo
em que não carecia ser-se
tão parvo quanto hoje se é
para viver uma vida fútil.
5/
No futuro, todo
minuto será famoso.
para quinze durantes.
\ô/
* Na epígrafe, o Tuca incorpora, com a naturalidade de um pai-de-santo competente, o espírito (encosto?) que busco materializar nestes desaforismos. Ao submeter a pequena pérola à opinião de uma amiga, ele ouviu o comentário a meu ver consagrador: “Mas Clarice Lispector, Fernando Pessoa e outros grandes falam de si quase o tempo todo!” E o Tuca, paciente e didático, propôs: “Me aponte um texto de um deles que comece, por exemplo, assim: ‘Eu hoje tive um dia incrível, sabe, gente? Eu acordei, eu escovei os dentes, eu lavei o rosto, eu fiz cocô...’”