Encontrei dias desses o
Rogério (FatimaNews) em algum canto desse recanto favo de mel.
Seguiu-se as
amabilidades confortáveis que devem haver entre fraternos e entre uma coisa
aqui e outra ali passou-me ele a missão: estava na hora de mandar textos para
publicação no jornal, escassos nos últimos anos. Despedimo-nos e ficou a
provocação no ar.
Ocorre que já há algum
tempo as idéias boas para textos fugiram de mim escapando chateadas e exilando-se
em algum país estéril de poesia (não é do Brasil que estou falando).
Existem épocas de aridez
poética.
A ausência de textos é somente
a representação material disso. Porque a gente se debruça pelas janelas dos
dias todos, buscando nas muitas prateleiras do cotidiano as inspirações que te
levam aos textos – mas, como por encanto, elas não estão mais lá. Os novos bons
livros não são mais publicados; as canções estão ávidas por ritmos e batidas
elétricas e malícias verbais que atiçam os quadris humanos e jamais seu cérebro,
para onde foi a poesia??? Perdeu-se... e, assim, seguem os dias, encaixados um
após outro, numa fila de lirismo que começa no vazio absoluto e termina em
horas perdidas no sem nexo profundo.
Por ventura, esteja
enganado e o problema real não esteja em todas as coisas e sim, apenas em mim,
que fiquei aleijado na sensibilidade e não consigo mais perceber e captar a
poesia que feito pedra preciosa está incrustada nas minas do cotidiano.
Não existem treinamentos
e nem aplicativos que nos ensinam a distinguir esta poesia que muda o homem e
isso me assusta um bocado, porque a verdade é que essa capacidade de percebê-la
ainda que não me fizesse de fato melhor aos olhos das outras pessoas, sempre me
fez diferente – o diferente sempre me satisfez, sempre considerei o mérito do
melhor ou pior um grande clichê.
Sem poesia também
caminho nesta fila de gente que festeja o nada e queima incenso no altar do
tempo desperdiçado com cultura. Quero ser eu novamente, não posso ser eu sem
poesia. Quero enxergar a vida novamente sob este prisma que transforma o homem
em algo melhor.
O reencontro com Rogério
trouxe a provocação que me faltava e esta me trouxe até este ponto que
compartilho com tu que me lês e, quem sabe, a partir daqui, redescubro tudo o
que esqueci nesta seara.
De repente, à entrada de
meu coração, ouço um bater urgente de palmas. Cesso tudo que estou fazendo e vou
ver quem me convoca lá fora, às portas de minha sensibilidade. Me debruço na
janela e vejo, segurando nas mãos calejadas as malas prontas de longas viagem, o
passaporte surrado esquecido no bolso desbotado da velha calça jeans, sorriso
largado nos lábios, os meus textos, todos eles, convidando-me para um abraço.
Convido-os para dentro e
juntos, eles e eu, sentados à frente de um litro de puro suco de uva,
entregamo-nos à nostalgia dos velhos tempos. É sempre bom rever velhos amigos,
penso, tomando um demorado gole do vinho dos abstêmios.