... pelo ferro será ferido.
O ladrão colou na área de segurança do
pavilhão e pediu seguro.
A polícia fechou os bretes isolando o
preso num limbo e depois o retirou com segurança, a ele e a sua tralha que
consistia numa sacola velha de roupas sujas, um colchão surrado e fino e um
monte de bugigangas.
Seguiu-se a praxe: geral no preso e em
seus pertences, assinatura no papel que caracterizava a medida preventiva de
segurança pessoal e, na sequência, o preso sendo isolado em pavilhão específico
para essas situações.
Antes disso, o policial perguntou ao
preso o motivo do seguro, já que esta medida é sempre extrema (pelo menos devia
ser...), porque não existe dignidade para o preso em sair jogado do raio, além
do mais, o isolamento para onde se vai é um pavilhão onde as dificuldades
florescem que nem mato sob sol e chuva.
O interno, não se fez de rogado e
entregou o jogo.
O “voz” do raio chegou até ele, no
início do banho de sol, e alertou que a sua cabeça estava a prêmio e não tinha
como garantir a sua segurança pessoal e não queria problemas no raio, pois isso
atraía a polícia. Ladrão tem alergia a polícia. E, terminou dizendo, como
querendo fazer piada que “defuntos sempre fedem...”.
Com esta informação alcançada pela
polícia foram tomadas as devidas precauções para a segurança deste preso que
chegou na cadeia com uma etiqueta de preço colada na testa – havia matado em
sua cidade o filho de um figurão e alguém tinha dado a missão: apresentem o
cadáver do assassino e o pix será feito na hora. Essas coisas inflamam a bandidagem...
O seguro foi alojado e a cadeia seguiu o
seu fluxo massacrante de rotina, os dias viraram meses e os meses se amarelaram
em anos e tudo sobre esta história parecia realmente esquecido, nem mesmo o
preso que fora seguro se lembrava mais que sobre ele pesava uma sentença e um
preço.
Um dia, dia qualquer, tão gorduroso de
rotina quanto qualquer outro dentro da quimera, o preso que fora seguro
amanheceu dependurado numa cela e, como sempre, ninguém viu nada, ninguém sabia
de nada.
Cadeia é bicho estranho... traiçoeiro
mesmo...
Deus perdoa sempre... o homem perdoa as
vezes... cadeia não perdoa nunca...
É... Quem com o ferro fere, pelo ferro
será ferido...