sábado, 23 de janeiro de 2010

O Elevador - Danny Marks




















As portas abriram e ela precipitou-se para dentro, lágrimas amargas a queimar-lhe os olhos.
Pela segunda vez entrava em um elevador, desde que ficara claustrofóbica em uma brincadeira ruim, na infância.
Com o temor infantil progredindo para o pânico adulto, resolvera procurar ajuda profissional.
Dois anos de terapia e um romance com seu psicólogo haviam feito milagres e caminhava para a cura.
Ainda subia os dois lances de escada que a conduziam aos seus encontros no divã.
Até que Ele comunicou sua mudança para o nono andar e que indicaria outro profissional para atendê-la. Não queria que ela sofresse, disse, e ela aceitou. Sempre aceitava tudo o que ele mandasse, sempre querendo agradá-lo.
Dois meses de desencontros a obrigaram a enfrentar o cubículo macabro. Algumas horas de sistemática preparação de corpo e alma e suportou a subida pelos nove andares. Olhos fechados e coração pulsando entre o medo e a alegria de superar-se e comunicar-Lhe a novidade do seu progresso.
Ninguém na recepção, porta do consultório fechada, não trancada.
Uma brecha pequena e um olhar furtivo, o sorriso definhando no rosto ao ver e ouvir os sons que denunciavam previamente o tratamento que era dado no divã. Corpos nus entrelaçados.
Ali no “seu divã” viu o monstro ressurgir, o mundo girou e escureceu à sua volta. Fugiu entrando na porta que se abria e o elevador tragou-a em sua descida.
Quando se apercebeu onde estava as luzes apagaram e o elevador parou. Um simples fiapo de luz iluminando o seu medo vindo de alguma brecha acima.
- Não se preocupe, vou ajudá-la. Deve ter sido uma falha nos geradores, mas logo arrumam.
Ficou paralisada, muda pelo medo, trancada no escuro solitário com um estranho e com imagens a suceder-se na mente. Chorou soluçando, desabando completamente.
- Por favor, não chore. Vai manchar o seu lindo vestido.
Sentiu o toque suave de um lenço em suas mãos. Tateou dedos fortes e ásperos e pegou rapidamente o lenço limpando o rosto.
- Eu queria tanto vê-la... Estava disposto a obrigá-lo a dar-me o seu nome e endereço e depois...Depois castigá-lo por trair você. Tinha que vê-la ainda que ao longe. Foi o destino que a trouxe assim tão linda e me permitiu poder falar-lhe sem medo, uma ultima vez.
Ela sentiu o hálito suave, o carinho nas palavras e soube que ele a amava. Estranhamente sentiu-se segura. Ele suspirou tristemente, a voz embargada.
- Quando abrirem as portas, eu desaparecerei de sua vida. Nada posso lhe oferecer, sou pobre, feio, mas eu...Eu amo você. Desde que a vi no consultório dele, não consigo pensar em outra coisa, só em vê-la, sentir o seu riso.
Ela sentiu o apelo desesperado na voz dele fundir-se às suas próprias necessidades. Todos os seus sentidos e sentimentos em um turbilhão em meio à escuridão e num impulso sua boca procurou a dele.
Desejo reprimido, desespero, caos de sentidos e memórias fundindo corpos em êxtase frenético com a urgência de condenados.
Luz, movimento, realidade superando fantasias.
Roupas arrumadas às pressas, olhar furtivo para o dono daquela alma incomum.
Uma arma guardada às pressas, portas que se abrem e uma fuga prometida.
Ela ainda levou alguns segundos para se recompor e sair atrás dele gritando:
-Vilma, meu nome é Vilma.
Danny Marks