( A rota do passeio!)
Eu tinha 22 anos quando fui a Lisboa pela primeira vez. No Barreiro que se situa do outro lado do Tejo, e que na altura era vila próspera, com as muitas fábricas ali sediadas, a C.U.F como era designada, empregava grande parte da população residente, e nesse número estavam familiares meus, mais própriamente a minha meia irmã e os filhos. Ela tinha a idade da minha mãe, e o filho mais novo (meu sobrinho) ainda era mais velho do que eu. Ele casou-se e veio com a esposa visitar Coimbra e Figueira da Foz, e estacionou em nossa casa em Montemor. Quando regressou ao Barreiro, ficou assente que iriamos lá passar uns dias. Ele residia com os sogros, mas isso não era obstáculo, porque eles até já estavam a contar. E assim na data combinada eu e a minha mãe, lá fomos no combóio até Lisboa. Ele e a esposa esperaram-nos na estação de Sta. Apolónia, saímos apanhámos um táxi para o cais e aí entrámos no barco. Após 45 minutos de viagem na travessia do Tejo chegámos ao Barreiro. Daí a pouco estavamos na fase dos cumprimentos, e depois ao jantar a fase de encantamentos, com os projectos de passeios para os dias seguintes.
E assim no Domingo logo de manhãsinha, saiu toda a família de casa, fomos a pé até ao cais e de barco para Lisboa. O Sr. Correia que era o sogro do meu sobrinho e também o mais velho do grupo, tomou conta das operações, e nem genro nem ninguém o contrariou, até porque o senhor era o que se chama um companheirão. Pois, mas para além disso, ele não conhecia Lisboa, mas pensava que sim, como vivia relativamente perto.
Eu queria ir a Belém visitar o Mosteiro dos Jerónimos, o Museu dos Coches, o Monumento aos Descobrimentos, enfim eu tinha as minhas ideias e desejos, e ele colaborou, só que de forma péssima. Chegados a Lisboa saímos do barco e demos meia dúzia de passos pela beira do rio. Então ele alvitrou que fôssemos a pé por ali abaixo para vermos tudo bem. E sem sabermos a distância que nos esperava, lá "embarcámos" todos naquela penitência dolorosa,que o foi de verdade. Quando finalmente eu entrei no Museu dos Coches só desejava poder sentar-me nas Cadeirinhas dos Infantes que ali estavam expostas. Eu já não controlava o movimento dos joelhos, só sentia a perna a baloiçar quando mudava o pé, tinha a noção de que dentro em pouco não poderia continuar a andar. Não me queixava para não preocupar a minha mãe, mas estava muito aflita. Entretanto o tempo tinha passado e já eram horas de almoçar. No restaurante num plano superior onde ficámos só nós, eu olhava o chão de madeira lavada e pensava, "depois do almoço eu deito-me aqui"! Mas não foi necessário, a comida fez efeito e eu reagi. Como consolação fiquei com a boa recordação do prato saboroso de lulas guizadas e arroz branco. Retemperadas as forças, e apesar da enorme distância percorrida a pé,que deixou marcas, retomámos o passeio,demorámo-nos no Mosteiro dos Jerónimos, e voltámos a apanhar o barco para Almada para visitar o Cristo Rei, santuário inaugurado havia pouco tempo. Ali por perto ainda estavam grandes pedras espalhadas no solo, restos da construção, que para mim foram confortáveis maples por alguns minutos. A tarde estava no fim, embarcámos num Cacilheiro para Lisboa e fomos jantar. Jantar? Mas jantar como? Eu não jantei nada, e não fui só eu. Eram horas de voltar ao Barreiro. Deixámos o restaurante e caminhámos até ao cais, seriam mais 45 minutos de barco, e depois de autocarro mais uns minutos e estariamos em casa. Sentada no barco eu repetia para mim," já falta pouco!!!" Porém a odisseia não tinha terminado, esperava-nos ainda mais um resto. Os passageiros do barco que eram bastantes, aguardavam como nós o autocarro que já estava atrasado e ainda ia demorar, segundo informação de alguém no local. Contas feitas, chegou-se à conclusão de que era melhor não esperar, valia mais ir a pé, e fomos! O Sr. Correia e a esposa não quiseram e ficaram à espera.Tinhamos andado talvez uns quinhentos metros, passa por nós o autocarro, e dentro, eles a acenar-nos...!Choveram os lamentos entre nós, mas não havia escolha, havia que caminhar.
E lá seguimos penosamente, na noite escura, enquanto a mulher do meu sobrinho um tanto mimada, não parava de chorar d'alto, agarrada ao braço do marido,que sem paciência a repreendia sem parar.
Passado um ano voltei,e então sem sofrimento, visitei vários locais bonitos da nossa Capital, esta foto feita no Castelo de Lisboa, recorda um desses dias. E no ano seguinte de novo nos Jerónimos, na fonte frente ao Mosteiro.
Um ano depois casámos e passámos a residir na área de Lisboa. Iamos muitas vezes até Belém passear, e ao futebol no Estádio do Restelo, mas de eléctrico, e eu sempre recordava aquela primeira ida a Belém e os quilómetros que percorri a pé. Hoje de novo recordei com sorrisos e... saudades.