abril 07, 2004
Uma democracia progressiva
"Outro grupo influenciado por estes acontecimentos foi o dos teóricos liberais democráticos e das figuras importantes dos media, como, por exemplo, Walter Lippmann, que (...) afirmou que aquilo a que ele chamava uma «revolução na arte da democracia», podia ser usado para «fabricar consentimento», isto é, para conseguir a concordância das pessoas para coisas que não queriam, recorrendo ás novas técnicas de propaganda. Pensava também que isto não só era uma boa ideia, como era mesmo necessária. Era necessária porque, como observou, «a opinião pública não distingue os interesses comums» que só podem ser compreendidos e orientados por uma «classe especializada» de «homens responsáveis», suficientemente inteligentes para aprender as coisas. Esta teoria afirma que só um pequeno escol, a comunidade intelectual de que falavam os seguidores de Dewey, pode compreender os interesses comuns, aquilo que nos preocupa a todos, e que «o público em geral deixa-se iludir». Trata-se de uma opinião com centenas de anos. É também um ponto de vista tipicamente leninista. Com efeito, assemelha-se muitíssimo à concepção leninista segundo a qual uma vanguarda de intelectuais revolucionários toma o poder político, usando as revoluções populares como as forças que os levam ao poder. Aí chegados, orientam as massas estúpidas para um futuro que elas, sendo demasiadamente estúpidas e incompetentes, não conseguem antever por si próprias."
Noam Chomsky, A manipuação dos media - Os efeitos extraordinários da propaganda, Editorial Inquérito, 2003
É isto que ajuda a entender porque é que Saramago apela ao voto em branco.
Afinal, só os iluminados é que o entendem!