04 setembro 2008

Aviso

Os posts anteriores têm, obviamente, as ilustrações trocadas. O título do post sobre a influência da arginina na monogamia dos machos humanos, que se destinava apenas a pedir às minhas amigas dos estudos literários- e dos estudos de género,vejo agora- que considerassem sem precipitação os estudos suecos e a pilinha de David, devia ter a ilustração do general de Zhang Xiaogang e a reflexão escatológica, o belo rosto de David. Aos ilustradores, as minhas desculpas.

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10 outubro 2007

Prepúcio


André Bonirre

No balneário o rapaz cruzou o olhar com o meu prepúcio. Como estava a entrar no duche tive este tempo todo para reflectir. A primeira impressão foi desagradável. Olhei o rapaz e no olhar dele, fugidio, oblíquo, vi o meu prepúcio. Esta triangulação irritou-me. Lembrei-me de Cavafys. Tive pena de não ter sentido o que Cavafys sentiu quando entrou na loja escura e o rapaz o atendeu furtivamente. Pensei simultaneamente no meu prepúcio e em como a minha recta orientação me limitava nas emoções, sobretudo no balneário masculino, ao entardecer. Depois, enquanto ensaboava a cabeça, percebi que não ia sentir nada de transcendente ao cruzar com a maior parte das ginastas de body jump, se a limitação de género não me impedisse a entrada no balneário feminino.
Apaziguado com esta auto-absolvição fiz a barba. Infelizmente a falta de creme de barbear não deixou durar muito esta beatitude.

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03 maio 2007

Remember me




REMINDER

f. é uma jornalista que conheço há alguns anos pelos textos que publica nos jornais e blogs. É uma jornalista de causas e aprecio algumas das causas que abraçou. No dia 25 de Abril publicou um comentário ridicularizando o discurso de Paulo Rangel na Assembleia da República. Recorde-se que Rangel considerou que se viviam em Portugal tempos de ameaça à liberdade de expressão, o que foi considerado, pelo governo e seus próceres, como um arrobo de demagogia partidária. Bota abaixismo, disse Sócrates. Deslocado, disseram outros. f. preferiu falar do casaco do deputado, um trapo indigente comparado com o blaser do primeiro-ministro. A posição de f. é importante por ela ser uma referência do jornalismo de qualidade, independente. Se ela menospreza assim o discurso de Rangel é porque há razões para ter confiança. Não há ameaças à liberdade, ou a haver são irrelevantes. Se as houvesse, f. estaria em guerra. Sublinhando a sua posição, f. publicou uma carta de um leitor do blog que manifestava uma indignação possidónia pelas preocupações do psd relativamente às liberdades.
Permiti-me discordar. Num curto espaço de tempo, um dos jornais de referência, o DN, foi entregue a um director experiente num tipo de jornalismo em que me não revejo, e encetou um programa acelerado de tabloidização do jornal. A minha liberdade de leitor foi atingida quando deixei de ter o suplemento de sexta ou rubricas como Contra os Canhões.
Logo de seguida, um grupo espanhol comprou a TVI e entregou a sua gestão a um destacado elemento do PS, conhecido pela enorme influência conquistada através da promiscuidade cargos do Estado/ cargos empresariais e da forma maquiavélica com que pratica a política.
Estas questões podem ser discutidas, embora não haja muita gente disponível para as discutir. Fora da blogosfera, por exemplo, a disponibilidade para discutir estes temas é escassa, por razões óbvias. Os media têm alguma dificuldade em avaliar-se a si próprios.
Eu não disse a f. que estava mal vestida nos Prós e Contras do referendo da interrupção da gravidez. Acho que o humor tem lugar no combate politico e na intervenção pública. Admito que os outros utilizem contra mim armas semelhantes às que utilizo ou estou pronto a usar. Não tenho visões a preto e branco do mundo. Engano-me muito. Não me orgulho de muitas das coisas que fiz. Sinto-me aliás mais forte para falar de alguns aspectos da realidade na medida em que os vivi com alguma proximidade. Não sei o que é “o bem” e “a liberdade”. Com John Gray, tendo a considerar que o objectivo da vida é apenas viver, como os restantes animais, olhar, observar e disso retirar felicidade.
Quando quero falar de f. falo de f. Quando quero falar dos policias franceses falo dos policias franceses.
Tudo isto não tem muita importância. Já é conhecido o veredicto de f. e das suas admiradoras. O que eu possa dizer sobre as suas posições é palermice.
Eu não acho que f. seja uma palerma. É uma pessoa de virtude. Desde Saint Just que tenho medo dos virtuosos.

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