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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Amor...



Definição do Amor - Lope de Vega

Desmaiar-se, atrever-se, estar furioso,
áspero, terno, liberal, esquivo,
alentado, mortal, defunto, vivo,
leal, traidor, covarde, valoroso;

não ver, fora do bem, centro e repouso,
mostrar-se alegre, triste, humilde, altivo,
enfadado, valente, fugitivo,
satisfeito, ofendido, receoso;

furtar o rosto ao claro desengano,
beber veneno qual licor suave,
esquecer o proveito, amar o dano;

acreditar que o céu no inferno cabe,
doar sua vida e alma a um desengano,
isto é amor, quem o provou bem sabe.


Fiquei encantada por este poema de Lope de Vega e achei que essa definição de amor cabe em muitos tipos de amar...




sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Sonhos

Gostava de sonhar de olhos abertos antes de dormir.
Todas as noites, ao se deitar, fechava os olhos e ficava pensando em coisas das quais gostava...pescava lembranças de quando era criança, da avó, de certas canções de ninar, de leite com chocolate, pedaços pequenos, quadradinhos que mal flutuavam e já se afundavam no líquido branco e denso, fumegando nas noites frias, tornando-o marrom e espesso...Ou do leite com canela, fervente, preparado pela mãe, quando estava resfriada...
Mal fechava os olhos, imaginava-se em lugares distantes. Países, castelos, jardins encantados, pássaros falantes a lhe indicar o caminho. Nos seus sonhos, tudo eram possibilidades, tudo era permitido...
Dormia e sonhava. E sonhava acordada.
Lembrava-se de quando tinha 10 anos e das coisas que mais gostava... Bisbilhotar as portas abertas da vizinhança. Ou de olhar pelas janelas quando passava em frente às casas à caminho da escola. Imaginava a vida lá dentro. Imaginava outras vidas. Imagens. Imaginação.
Hoje, sonhava com noites de autógrafo em livrarias renomadas. Fechava os olhos e se via, assinando, autografando, enquanto a fila, enorme, se estendia diante da mesa com livros ao fundo...E ela, lá, sentada, sorrindo feliz diante dos fãs, com seu livro nas mãos.
Sonhava com caminhos, com trilhas, com ruas onde pudesse caminhar sem medo...Uma cidade na Itália, uma ruela em Roma ou talvez uma ladeira em Sintra? Sentar em frente ao Tejo e olhar o horizonte, satisfeita por ter chegado até ali, por mérito próprio, graças ao seu talento, ao único talento verdadeiramente seu...a escrita...Sem dever nada a ninguém...
Fechou os olhos antes de dormir e sonhou com o possível...

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Atravessemos...

Atravesso.
Parece perto...logo ali
Estico os braços
Abro as mãos
Quase toco.
Sigo.
Ainda não foi dessa vez...
A luz me aguarda
O sol me espera
Tento dirigir meu olhar
Ouso não olhar para trás
Nem desanimar com as nuvens escuras
Procuro a claridade
Procuro um sinal
Olho o reflexo de mim mesma
Na poça do chão
Continuo.
Ainda não foi
Mas em breve
Será...
Atravessemos...
*

sexta-feira, 29 de abril de 2011

A Menina Sem Asas



A menina sem asas
morava
numa casa
Morava numa casa
amarelinha
E portão azul a casa tinha
Duas janelas
ficavam de frente
duas
na parte de trás
A casa era amarela
e a menina era rosa
como todas as meninas
com asas ou sem elas
aliás

Havia uma mangueira frondosa
na frente da casa amarela
da casa onde a menina rosa
morava
E por ser mangueira
mangas dava
Não peras ou ameixas
mas mangas
amarelo-alaranjadas
suculentas
lacrimosas
pingando mel
em quem debaixo
dela passava

E por não ter asas
a menina
voava
como podia
abria livros de estória
"Mundo da Criança"
se chamava
a coleção vermelha
capa dura
lindas figuras
que a menina rosa
deslumbrada
folheava

Quem passasse em frente
à casa
jamais saberia
que ali morava
uma menina rosa
que asas não tinha
mas possuía
o imaginar
de cada página
soberana
todinha
e mesmo sentada
em sua caminha
senhora de si
coroada de estrelinhas
ela sabia
a menina rosa
sabia
que de seu mundo
era rainha
e em sua casa
e entre seus livros
alada era
e asas  tinha.

Aquarela de João Barcelos

Dedico esta poesia a minha amiga Carminha do blog Fractais de Calu e à nossa paixão em comum na infância, e também à nossa infância que nos deu asas imaginárias.
Beijos Calu!