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27.11.15

Deixemos de treinar, voltemos a ensinar

O Público de ontem traz uma notícia sobre o fim dos exames nacionais de português e matemática que titula:

Fim dos exames do 4.º ano: as crianças andaram três anos a treinar “para nada”?

A mim este título parece-me de sobremaneira esclarecedor. Desde a imposição dos exames nacionais no 4º ano que as nossas crianças vão para a escola treinar. Pelo menos a português e a matemática já não se aprende, treina-se.
Não se aprende a ler e interpretar, não se aprende a escrever correctamente, nem a usar bem a gramática, não se estudam histórias, poesias, nem canções. Não se aprende a contar, somar ou subtrair. Não importa que Portugal seja um rectângulo nem a Terra uma esfera. Não interessa a beleza do mar, nem os rios que aos poucos descem das montanhas e se vão lá juntar.
O que importa, tudo o que importa é fazer boa figura no exame no fim da escola primária.
Importa aos alunos que querem chegar ao 5º ano; importa aos pais que compraram todos os cadernos de exercícios porque querem gabar-se da nota do filho ao pobre coitado que contou os tostões para poder comprar tão só os manuais escolares; importa aos professores cujo desempenho é medido em função do aproveitamento escolar dos seus alunos. Não faz mal que a criança não socialize com as outras ou que não saiba nadar, dançar ou jogar à bola, nem saiba outras línguas. As actividades extracurriculares são de pouca ou nenhuma importância e a leitura recreacional de menos ainda.
O importante é treinar.

Tudo o que importa é ter boa nota no exame nacional da quarta classe!
É isto a nossa escola primária: um campo de treino.

Talvez a partir de hoje voltemos a considerar a hipótese de ensinar as nossas crianças.

14.6.13

A pátria inteirinha na mão dos professores

No contexto da greve dos professores no dia do primeiro exame nacional deste ano várias personalidades têm vindo dizer que o futuro dos alunos, os seus sonhos e aspirações estão a ser postos em causa pelos professores grevistas, aliás pela teimosia do sindicato (a questão semântica interessa).

Parece-me isto muito curioso. Pelos vistos, se os sindicatos não tivessem convocado a greve, se os professores não aderissem a ela e os alunos pudessem fazer o exame nacional o cenário económico-social pátrio seria algo bem diferente:

A taxa de desemprego desceria para níveis nunca imaginados (nem pelas mais optimistas mentes durante o PREC).
Abririamos fábricas em barda, todas cheias de trabalhadores de justos salários e longe, muito longe da falência. Nas notícias apareceriam trabalhadores a abraçar os patrões em vez de exigirem o pagamento de salários em atraso, já de carta de despedimento na mão.
As "pastagens permanentes" do Alentejo seriam semeadas e as terras clamariam por mãos e braços e conhecimento e tecnologia.
O investimento em ciência e tecnologia aumentaria exponencialmente e descobririamos a cura para a SIDA e resolveriamos o problema do aquecimento global.
As crianças iam todas à escola de barrigas aconchegadas e corpos agasalhados.

Verdade verdadinha, se os sindicatos não tivessem convocado a greve, se os professores não aderissem a ela e os alunos pudessem fazer o exame nacional a retoma da economia era coisa certa e seriamos todos completa e genuinamente felizes!