3.6.06

O veto e a realidade*

O Presidente da República fundamentou o seu veto à lei da paridade - isto é, à lei do terço - dizendo que ela estabeleceria um regime sancionador excessivo e desproporcionado porque, desde logo, poderia impedir que certos partidos ou listas de candidaturas eleitorais, que não aceitem ou que não possam cumprir com os rígidos critérios do diploma, concorressem às eleições.

Terá o Presidente tido em consideração a composição efectiva dos actuais grupos parlamentares? Se teve, deparou-se-lhe o seguinte:


O BE (4 deputados e 4 deputadas) e os Verdes (1 deputado e 1 deputada) praticam já uma lei da paridade propriamente dita. São pequenos partidos, são forças periféricas, não é muito expressivo, poderá dizer-se.

Passando ao PS, verifica-se que pratica já uma remediada lei dos dois terços e picos (74 deputados e 47 deputadas). Para esta força partidária, os mínimos já estariam sendo cumpridos; viesse a lei nova, calamidade nenhuma.


No entanto, o mesmo não acontece com os restantes grupos partidários:

O PCP, enfileirando-se actualmente segundo uma lei do sexto (10 deputados e 2 deputadas), teria de dar uma volta pelas militâncias e prebendas.

Finalmente, muito, muitíssimo, imensamente inconveniente, seria a lei do terço para o PSD, que parece preferir a lei do undécimo-vírgula-qualquer-coisa (69 deputados e 6 deputadas), e para o CDS-PP, que se contenta com uma sólida lei dos duodécimos (11 deputados e 1 deputada).
Tendo em consideração estes números, a afirmação de que a lei da paridade mereceu o veto porque poderia ser prejudicial para certos partidos ou listas de candidaturas eleitorais é, no mínimo, infeliz. E ou foi feita com desconhecimento da realidade, o que estará muito mal, ou é excessivamente realista, o que é pior ainda.
*Addenda: A "quota" efectiva das mulheres no conjunto dos portugueses é superior a 50%. Um partido que não aceite ou não possa, dizia o Presidente...

7 comentários:

abrunho disse...

Crítica construtiva à pintura:
O fundo não está escuro o suficiente para o branco se ver bem.

Ps:
Bem vinda a solo.

Graza disse...

Boas companhias nem sempre acompanham...Às vezes dava pra corar. Foi aqui que lemos coisas boas. Força.

Anónimo disse...

re-começamos, todos, como que abandonando velhas muletas, amigas mas desnecessárias.

jmnk disse...

a revolta é de bonitas feições e de palavras orientadas...

Susana Bês disse...

Sou continuo a ser uma rapariga com sorte, agradeço muito as vossas palavras, Gabriela, Graza, Filipe e JMNK.

Vou tentar moderar-me nos links extensos, penso que isso ajudará a legibilidade.
Boas e amigas companhias que eram continuam a ser. Aqui e lá no outro lado.

Ainda falta revoltar ao princípio, JMNK. Lá chegarei, se ainda me quiserem.

Graza disse...

Moderar os links? Prejudicar o conteúdo? Porque não inverter a cor do link: o que é branco ser cinzento? Veja!

Anónimo disse...

Greets to the webmaster of this wonderful site. Keep working. Thank you.
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