O jornalista e estudioso da cultura alenquerense, Marjean Monte, enriquece este trabalho com uma jóia sobre o nome de Alenquer. Começa ele assim:
Alenquer, que nome é esse? Todo nome de cidade tem, ou deveria ter um sentido, um motivo. Deveria dizer algo sobre o lugar em si. Mas se é assim, então o que quer dizer Alenquer? De onde vem esse nome? Porque afinal Alenquer? Antes de chegar ao nome Alenquer propria-mente dito, vamos voltar ao início de toda a história da nossa cidade, quando tudo de fato co-meçou.
Nossa cidade primeiro foi uma povoação chamada Arcozelos, no local onde hoje é a sede do município de Curuá. Não se tem a data precisa de sua criação, mas se observarmos a data da criação da fortaleza dos Pauxis no município de óbidos, e sem perder de vista a proximidade com o Curuá, teremos como mais provável o ano de 1697 para a fundação de Arcozelos.
No arquivo público do Estado, segundo Fulgêncio Simões em seu livro sobre a história de nos-sa terra publicado em 1908, está a Carta Régia datada de 17 de Maio de 1730, que descreve e dá conhecimento à criação da aldeia de Surubiú, através do ofício do Governo da Província, de 3 de Outubro de 1729, no qual os capuchinhos são "acusados" de fundar a aldeia, sendo neste mesmo ato expedido ordem de prisão para 3 deles.
Como era costume eleger como padroeiro o santo do dia em que fosse fundada determinada povoação, podemos aceitar como 13 de Junho de 1729 o dia de fundação da nossa cidade, o que quer dizer que estamos comemorando agora 271 anos de fundação.
Foi em 1758 que o nome "Alenquer" entrou na história, quando o então Governador da Provín-cia do Grão-Pará, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, irmão do Marquês de Pombal, que por aqui passava em direção à província do Rio Negro, hoje, Estado do Amazonas, elevou a aldeia de Surubiú à categoria de vila, mudando assim o topônimo para Alenquer, obedecendo a Carta Régia de 6 de Junho de 1755, que lhe determinava elevar à vila as povoações que tives-sem condições para tal, dando às mesmas nomes de cidades portuguesas.
Aí é que a coisa complica. Surubiú é até fácil explicar: nome indígena que vem de surubi ou surubim, (aquele conhecido peixe liso) mais y ou yu (água). A pronuncia do y, significando água é quase a do u e por isso ficou Surubiú em vez de Surubiy, ou seja... algo como "água com muito surubim". Mas e Alenquer? Como é que uma cidade portuguesa ficou conhecida por este nome?
Não há ainda uma narrativa definitiva e existem muitas versões e opiniões a respeito, pois perderam-se nas noites do tempo os fatos que conspiraram para tal. Porém, juntando-se os vários elementos disponíveis pode-se chegar à seguinte narrativa que certamente é a que mais se aproxima da realidade.
Segundo o diretor do Jornal D'Alenquer, Hernâni de Lemos Figueiredo, em seu "site" na inter-net sobre a cidade em questão, desde o século VI AC o lugar já apresentava um topônimo pró-ximo ao atual, quando habitado, respectivamente pelos Celtiberos, Cartagineses, Lusitanos e Túrdulos (ALAN-KERK-KANA); a partir do Século II AC até o ano de 418 de nossa era, passou a fazer parte do império romano, tendo sido chamada de Arabriga, Gerabriga e Iera-briga, sen-do que a partir de 418 entram na história os Alanos, por lá ficando até o ano de 714, fato este confirmado pela história da formação da família de sobrenome Alencar.
Os Alanos eram bárbaros que habitavam uma região bem próxima ao Mar de Azov, nos limites territoriais da Rússia Européia. Em 374 os Alanos enfrentaram os Hunos, que deixaram sua posição no norte da ásia em demanda da Europa. Os Alanos foram derrotados. A descida dos Hunos provocou a reorganização de todas as hordas bárbaras que viviam nos limites da Europa oriental.
Os Alanos então tomaram o caminho da Europa e, na altura da Romênia, aliaram-se aos Vân-dalos e Suevos. Em 406, cruzaram o Reno congelado e marcharam juntos sobre a Europa, sa-queando e destruindo o que encontraram. Em 409 se estabeleceram na Gália. A chegada dos bárbaros foi muito bem recebida pela população, já cansada do domínio romano. Os Suevos integraram-se perfeitamente à região e de lá não sairiam mais.
A região então dominada pelos Vândalos passou a denominar-se Vandaluzia, conhecida poste-riormente como Andaluzia, na Espanha. A região dominada pelos Alanos passou a denominar-se Alenen-Kerk (Igreja), Alano Kerk e Alankerk (templo dos Alanos).
Já a partir de 714, foi dominada pelos Mouros, passando a chamar-se Alain-Keir (Fonte Aben-çoada) e El-Haquem (O Governandor). Desde 24 de Junho de 1148, quando a cidade foi domi-nada pelos portugueses, foi chamada de Alãoquer, Alunquer, Alon-quer, Alanquer, Alemquer (Quando nossa cidade adotou o nome ainda era grafado assim) e finalmente Alenquer tal qual conhecemos hoje.
Por isso, considera-se que o sobrenome Alencar está intimamente ligado à povoação lusitana dos Alanos, que veio a posterizar-se sob o nome de Alenquer. Até antes de 1600, o sobrenome utilizado pela Família era Alenquer. Daí João Afonso de Alenquer, Vedor-Mor da Fazenda e mentor da conquista de Ceuta, em 1415, marco da expansão ultramarina Portuguesa; Pero de Alenquer, piloto notável, em cujas mãos estiveram as frotas de Bartolomeu Dias, em 1487, de Vasco da Gama, em 1497, e de Pedro Alvares Cabral, em 1500.
A partir de 1600 já não é praticamente possível encontrar membros da Família usando o so-brenome Alenquer. A Família passou a adotar outro sobrenome em razão de fato desairoso, que marcou profundamente a Vila de Alenquer, seu núcleo geográfico. Tornara-se a Vila feudo de um nobre que durante a crise sucessória de que resultou a União Ibérica ficou ao lado do monarca de Castela, Felipe II. A então Vila de Alenquer, que era reduto Português de forte sentimento patriótico, ficou marcada assim com o colaboracionismo daquele nobre.
A Família de Alenquer, então, em sinal de protesto e para que as novas gerações não ficassem marcadas por aquele episódio, adotou o sobrenome Alencar. Houve variações até que o so-brenome se firmasse (Alancar, Alanquer...).Quase um século depois ainda é possível encontrar familiares registrados como de Alancar.
São vários os nomes ilustres gravados na história que têm sua origem na cidade portuguesa de Alenquer. D. Dinis, Rainha Santa Isabel, Luís de Camões (isso mesmo, Camões pode ter nas-cido em Alenquer), Tristão da Cunha, Visconde de Chanceleiros, Hipólito Cabaço, e tantos ou-tros. O Infante D. Duarte nasceu em Alenquer em 11 de Julho de 1435.
Como já dissemos, a Vila "Presépio de Portugal", como é conhecida por lá, tem uma origem ainda não perfeitamente definida. Para Damião de Góes, notável Alenquerense e cronista de estatura universal, a fundação de Alenquer dá-se no ano de 418 da nossa Era. Em 1148, de-pois de um cerco de dois meses, os mouros, que então a habitavam, foram dela expulsos no dia de S. João pelos valentes guerreiros cristãos, que o primeiro rei português em pessoa co-mandou.
Mas nem só de história faz-se o nome de uma cidade. Vamos então às lendas. Contam por aqui a história de um cão dos capuchinhos chamado Além que latia no oco de um pau no cru-zeiro. Desconfia-se de que o criador dessa lenda conhecia ao menos uma das duas "aconteci-das" em Portugal, ambas, evidentemente, envolvendo cães, as quais transcrevo baixo:
Lenda 1
"Conta a tradição que, na manhã do dia em que teve lugar o combate final entre portugueses e mouros, indo o rei Cristão com o seu séquito banhar-se no rio e fazer suas correrias, notaram que um cão grande e pardo, que vigiava as muralhas e que se chamava Alão, calou-se e lhes fez muitas festas. El-rei, tomando isto por bom presságio, mandou começar o ataque, dizendo: 'O ALãO QUER', palavras que serviram de futuro apelido à vila".
Lenda 2
"Há uma segunda lenda que diz que o cão Alão era encarregado de levar as chaves na boca, todas as noites, pela muralha a fora até à casa do Governador, e os Cristãos, aproveitando os instintos do animal, prenderam uma cadela debaixo de uma oliveira à vista do cão que, subju-gado por sentimentos amorosos, galgou os muros, entregando assim as chaves aos portugue-ses".
Eis então toda a história e o significado do nome da bela e tão querida cidade de Alen-quer, uma história que, como vimos, pertence a um outro povo, que gentilmente nos emprestou o nome. Desde o ano passado, quando fizemos contato com o Sr. Hernâni Figueiredo, o povo de Alenquer de Portugal sabe também de nossa existência, recebida não sem espanto, mas com a certeza de que admiramos e respeitamos tão heróico passado e hoje, ao conhecermos essa história, temos mais um motivo para nos orgulhar de sermos chamados alenquerenses.
2004 Copyright © Eliezer de Oliveira Martins
Escudo da Ossétia do Norte - Alánia
Ataces, lendário rei dos alanos, fundou a cidade de Coimbra e Alenquer, segundo os estudiosos, deve o seu nome à expressão "Alan Ker" que significa "Templos dos alanos".
Curiosamente, em 1993, a República da Ossétia do Norte acrescentou ao seu nome Alania.
Estas são algumas das pistas históricas que ligam os portugueses ao longínquo Cáucaso, quando citas, sarmatas e alanos se instalaram no Nordeste daquelas montanhas, no território situado entre o Rio Don e o Mar Cáspio. Nos primeiros séculos da era cristã, aqueles povos criaram uma civilização próspera no Cáucaso mas, em 360, os hunos derrotaram os alanos, obrigando à sua separação. Parte dos alanos sujeitou-se aos hunos, outra parte procurou refúgio nas montanhas do Cáucaso Central e uma terceira atravessou toda a Europa e instalou-se na Península Ibérica, por volta de 408.
Apesar de terem permanecido pouco tempo no território da Hispânia, os alanos deixaram importantes marcas materiais na Península Ibérica. Há vestígios deles na construção de castelos como o de Torres Vedras e Almourol ou ainda nas muralhas de Lisboa, onde os sinais da sua passagem pela Península Ibérica ainda podem ser vistos debaixo da Igreja de Santa Luzia.
Chegado à Península, Ataces, rei dos Alanos, cujo estandarte ostentava um leão, instalou-se no alto da colina a Norte do Mondego, por onde actualmente se estende a cidade de Coimbra. A vontade de aumentar os seus domínios levou-o a confrontos sangrentos com o rei suevo Hermenerico, senhor de Conimbriga, em cuja bandeira ondeava uma serpente.
Mas não foi só a sede de expansão que motivou Ataces. O caucasiano, de pele morena e cabelos escuros, apaixonou-se por Cindazunda, linda princesa sueva, de olhos claros, cabelos loiros e pele alva. Por ela, reduziu Conimbriga a cinzas e obrigou o rei suevo a aceitar o casamento da sua filha com o rival. A boda selou a paz entre o leão e a serpente , que hoje ainda se podem ver no brasão da cidade universitária.
Alenquer deve o seu nome aos alanos. Segundos os estudiosos, significa "Templos dos Alanos" (Alan ker). Além disso, a localidade continua a ser prote gida pelo "cão alano", representado no seu brasão.
A raça do "cão alano", famoso pelas suas qualidades de caça e combate , foi trazida para a Península pelos alanos, não se tendo conservado no Cáucaso mas continuando hoje a ser utilizada na caça e pastoreio no País Basco.
Os actuais ossetas, ao contrário dos alanos ibéricos que passaram para o Norte de África e aí desapareceram, conseguiram sobreviver aos numerosos invasores (tártaro-mongóis, turcos, russos), mas, actualmente, estão espalhados por dois países: Geórgia e Rússia.
"Quando eu estudei História na escola, na Ossétia do Norte não nos fal avam da presença dos alanos na Europa Ocidental", recorda Teimuraz, um osseta ac tualmente a residir em Moscovo.
"Talvez as autoridades soviéticas - continua Teimuraz - receassem o ressurgimento do nacionalismo. Eu apenas me interessei por esse tema depois da escola, quando chegou a `perestroika` e começaram a ser publicadas obras sobre essa s páginas da história o meu povo".
Após a derrocada do comunismo, os dirigentes da Ossétia do Norte acrescentaram ao nome desta república "Alania" para recordar os laços existentes entre os alanos e os ossetas.
Fátima, outra osseta residente na capital russa, há já vários anos que vai passar férias com a família a Portugal.
"As pessoas perguntam-me porque é que gosto tanto de Portugal e eu respondo que, nesse país, tenho a sensação de estar em casa. Há muita coisa de familiar, principalmente nas pessoas", esclarece Fátima.
"E cada vez encontro mais razões para fazer mais uma visita a Portugal, uma delas é visitar o lugar por onde andaram os nossos antepassados", conclui ela.