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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Gago Coutinho e a Associação Naval de Lisboa / Real Associação Naval

 Gago Coutinho Faria anos hoje a minha contribuição para a sua história na Associação Naval de Lisboa:







Carlos Viegas Gago Coutinho, nasceu em Belém, Lisboa, a 17 de Fevereiro de 1869. Filho primogénito de José Viegas Gago Coutinho, marítimo, natural de Faro e de Fortunata Maria Coutinho, natural de Faro, moradores na Calçada da Ajuda nº 5. Foi baptizado na Igreja de Santa Maria de Belém a 2 de Junho de 1869, morreu na Freguesia de Santa Engrácia às 18h05 do dia 18 de Fevereiro de 1959.

Era assim que descrevia a sua família:

«Meu pai era um homem de reduzida educação literária. Só a primária, mas conhecia escrita comercial, em que praticava. Sargento de mar-e-guerra até 1873, serviu na nau Vasco da Gama e na fragata D. Fernando. Era homem alto, desempenado, bem branco. (...) falecendo em Lisboa com 93 anos. Meus avós eram livreiros em Faro. (...) De minha mãe, senhora pequena, algarvia, filha de padeiros, e que devia ter ascendência moura, nada mais sei a não ser que um irmão dela era patrão de um cahique da costa (...). (...) Desde os 8 anos que foi minha mãe adoptiva uma amiga de minha mãe, D. Maria Augusta Pereira, falecida em 1914.»

Em 1885 Gago Coutinho concluiu o curso do Liceu e devido aos fracos recursos materiais de seu pai não conseguiu satisfazer a vontade de frequentar um curso de Engenharia na Alemanha, matriculou-se então na Escola Politécnica para preparar a sua entrada na Escola Naval, um ano depois. Entrou para a Armada como aspirante em 1886. Em 1890 foi promovido a guarda-marinha, em 1891 a segundo-tenente, e em 1895 possuía já a patente de primeiro-tenente. Em 1907 foi promovido ao posto de capitão-tenente e em 1915 a capitão-de-fragata. Em 1920 era já capitão-de-mar-e-guerra. Em 1922 foi promovido ao posto de vice-almirante, e em 1958 um ano antes de falecer, a almirante.

 

O seu primeiro grande embarque foi na corveta “Afonso de Albuquerque”, de 7 de Dezembro de 1888 a 16 de Janeiro de 1891, numa viagem para Moçambique pertencente à Divisão Naval da África Oriental. Seguidamente passou à canhoneira “Zaire”, na qual navegou até 24 de Abril de 1891, viajando de regresso a Lisboa. Colocado na Divisão Naval da África Ocidental, embarcou sucessivamente na lancha-canhoneira “Loge”, que comandou, na canhoneira “Limpopo”, na canhoneira “Zambeze”, e na corveta “Mindelo”. Durante o serviço nesta corveta no Brasil, em 1894, adoeceu com a febre-amarela, foi então internado no Hospital da Beneficência Portuguesa no Rio de Janeiro. Já em Portugal, esteve embarcado na canhoneira “Liberal” e na corveta “Duque da Terceira”. Foi nesta corveta que fez nova viagem ao Atlântico Norte. Viajou depois até Moçambique na embarcação de transporte “Pero de Alenquer” e, a seguir, ingressou na corveta “Rainha de Portugal”, embarcou então na canhoneira “Douro”, que o trouxe para Lisboa. Fez parte da guarnição da corveta couraçada “Vasco da Gama”, até 31 de Março de 1898, da qual passou para a sua primeira comissão como geógrafo ultramarino, em Timor.

De espírito inovador, era sincero e austero, afirmava: «Gosto de controvérsias, de tudo o que possa esclarecer, pois sou comunicativo como todos os homens do mar. Gosto da discussão que faz luz...». Normalmente modesto ao fazer as suas apresentações e conferências nas academias, qualidade que, segundo os que com ele conviviam, vinha cultivando desde sempre: «(durante a travessia), o meu papel foi secundário.» (Gago Coutinho, 30/03/1942). Também muito imaginativo, tinha sempre uma resposta de espírito pronta para dar, ou uma anedota para contar. Em resposta à pergunta: como tinha atravessado África a pé? Resposta pronta de Gago Coutinho: «Como havia de ser? Com as botas rotas, para a água sair mais à vontade, porque, para entrar, entrava sempre.»

Assinalável é também o seu gosto pelo desporto, visto não ser muito comum na época em que viveu. Desde adolescente que o praticava, remo, vela e especialmente ginástica com aparelhos. Já com alguma idade, ainda trabalhava com as argolas montadas numa trave do tecto na Rua da Madragoa, para se manter em forma. A prática desportiva interessava-o, e dedicou-lhe algumas das suas palavras, das quais temos o exemplo aquando da conferência do 71º. aniversário do Real Ginásio Clube Português (1946). Foi  Secretário Geral da Real Associação Naval/Associação Naval de Lisboa e rezam as crónicas que foi ele quem deu, em Portugal, o primeiro curso de Patrão da Náutica de Recreio, em 1900, na Real Associação Naval. Já no inicio do século XX organizava com frequência conferências no seu clube náutico.

Das suas diversas viagens destacamos:

1893 – No Mindelo (Luanda - Rio de Janeiro), cujo comandante era o grande almirante Augusto de Castilho

1896 - No Pero de Alenquer (Lisboa – Lourenço Marques), seguindo na medida do possível a histórica rota de Vasco da Gama, na sua viagem rumo à Índia, travessia que tão grandes ensinamentos lhe veio a fornecer para os seus estudos sobre "Náutica dos Descobrimentos".

Já com 75 anos fez, a bordo da barca portuguesa Foz do Douro, uma nova travessia à vela, Santos – Leixões, durante a qual navegou 105 dias, utilizando o histórico astrolábio, como os antigos mareantes portugueses, confirmando, assim, as suas opiniões sobre as rotas por estes seguidas.

Calcula-se, por conseguinte, que durante toda a sua vida, o almirante teria navegado 30837 milhas o que, por certo, constitui um recorde para todos os oficiais do seu tempo. A sua missão, a bordo dos barcos em que prestou serviço, foi, quase exclusivamente, de "oficial encarregado da navegação", daqui vindo a resultar o conhecimento que manteve com o sextante clássico.

De 1913 a 1914 Gago Coutinho comandou a  missão de delimitação da fronteira Angola com a Rodésia, surgindo como seu colaborador o segundo-tenente Arthur de Sacadura Cabral a quem o almirante apelidava de «observador de fina vista».

A competência do geógrafo levou à sua nomeação pelo Ministério da Guerra, em 1928, a presidente da Comissão, para propor a reorganização dos serviços geográficos, cadastrais e cartográficos. Neste mesmo ano passou igualmente a vogal da comissão encarregada de estudar o estabelecimento de um aeroporto nos Açores, e a navegação aérea nas colónias

Desempenhou ainda as funções de Presidente da Comissão de Cartografia, contribuíndo eficazmente para a criação da missão geográfica de Moçambique e para a solução definitiva da fronteira luso-belga na região do Dilolo.

Assim, o seu interesse pela aviação não surgiu apenas do espírito Romântico que esta inspirava, mas principalmente do caracter científico do almirante. Gago Coutinho pressentiu na aviação uma hipótese de novas descobertas científicas, onde desejava aplicar os seus inúmeros conhecimentos e pesquisar quer a nível marítimo quer a nível terrestre. O emprego, quase diário, que havia feito, em África, durante as suas missões de geógrafo, do sextante e o grande conhecimento sobre este instrumento, eram mais que suficientes para justificar a sua opinião. Assim, Gago Coutinho foi um dos primeiros oficiais de Marinha a oferecer-se para ir ao estrangeiro obter a sua «Carta de piloto do ar», uma vez que a de «piloto do mar» já tinha há alguns anos. Tirou o Brevet em França em 1915, num frágil Maurice Farman, o "baptismo do ar" do almirante realizou-se em Portugal, mais propriamente na Escola de Aviação Militar em Vila Nova da Rainha, acompanhado pelo já piloto-aviador Sacadura. Nesta escola, foi, mais tarde, instrutor.

A propósito da sua passagem pela escola referida, e já no contexto das experiências aéreas na companhia, de Sacadura Cabral, o almirante comenta:

«Vou ao aeródromo de Vila Nova da Rainha e dou três voos com o Sacadura. Total, 35 minutos no ar. Admirável a segurança; demos vários saltos, curvas, etc. até governei um pouco. Pareceu-me bastante fácil e muito mais seguro do que eu julgava. Em todo o caso, entusiasmei-me.»

Esta foi a primeira de algumas das suas experiências de voo que culminariam com a Travessia Aérea do Atlântico Sul, que consagra o nome de Gago Coutinho como aviador, na História Nacional.

 

 

OBRAS PUBLICADAS:

Algumas determinações de longitude feitas ultimamente em África pela missão da fronteiro do Barotze, 1915

As determinações de latitude pela missão da fronteira Barotze, 1915

Impressões de duas viagens através de África entre Angola e Moçambique, 1915

Relatório da missão geodésica de São Tomé. 1920

Relatório da viagem aérea Lisboa-Rio de Janeiro, 1923 (de colaboração de Sacadura Cabral)

Tentativa de interpretação simples da teoria da relatividade restrita, 1926

O roteiro da viagem de Vasco da Gama e a sua versão nos Lusíadas, 1930

Desdobramento da derrota de Vasco da Gama nos Lusíadas, 1931

Possibilidade da rota única de Vasco da Gama em Os Lusíadas. Impossibilidade de Vasco da Gama ter de Cabo Verde navegado para o Sul, 1931

Pela Segunda vez, possibilidade de ler em Os Lusíadas uma rota única de Vasco da Gama, 1933

Gaspar Côrte-Real, 1933

Alguns erros em que se apoiou o desdobramento da rota de Vasco da Gama em Os Lusíadas, 1933

Continuação dos erros em que se apoiou o desdobramento da rota de Vasco da Gama em Os Lusíadas, 1934

Passagem do Cabo Bojador, 1935

Influência que as primitivas viagens portuguesas à América do Norte tiveram sobre o descobrimento das Terras de Santa Cruz, 1937

O almirante foi também colaborador da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira

 

Bibliografia

ALBUQUERQUE, Luís de, Curso de História da Náutica, Lisboa, Alfa, 1989.

BOLÉO, José de Oliveira, Gago Coutinho e Sacadura Cabral, Lisboa, Sociedade de Geografia, 1972.

CORRÊA, Pinheiro, Gago Coutinho, Precursor da Navegação Aérea, Porto, Portucalense Editora, 1969.

Correia, José Pedro Pinheiro,

LEMOS; Carlos M. Oliveira e, O Almirante Gago Coutinho, Lisboa, Instituto Hidrográfico, 2000.

REIS, Manuel dos, CORTESÃO, Armando, Gago Coutinho Geógrafo, Coimbra, Junta de Investigações do Ultramar, 1970, sep. de Memórias da Academia das Ciências de Lisboa, Tomo XIII, 1969. 

http://cvc.instituto-camoes.pt/ciencia/index1.html





sexta-feira, 8 de maio de 2020

A Mulher na Associação Naval de Lisboa

Artigo escrito para o Anuário de 2016 que depois não foi impresso:


No século XIX a dança começou por ser a único modo da mulher desenvolver alguma actividade física, sendo considerada um ser frágil devia haver uma supremacia das faculdades afectivas sobre as intelectuais  e uma sujeição da sexualidade a uma vocação maternal, por tudo isto a mulher no desporto está aliada à luta contra a discriminação e na base da conquista social. Nos anos 1800 a participação da mulher nas provas desportivas era vista como um divertimento, enfatizando-se a sua beleza e postura corporal mas não se dava importância à força, agilidade e destreza das atletas.
As mulheres já participavam nos Jogos Ingleses a partir de 1770 mas só nos Jogos Olímpicos de 2012 é que existiam praticantes femininos em todas as modalidades olímpicas! Para o Barão Pierre de Coubertin “Uma Olimpíada com mulheres seria impraticável, desinteressante, inestética e imprópria” e continua  “O único herói Olímpico real é o homem adulto individual. Por isso, nada de mulheres ou desportos de equipa” ou ainda “pessoalmente, não aprovo  a participação de mulheres em competições públicas, o que não significa que se devam abster de praticar um grande número de desportos, com a condição de não ser um espectáculo. O seu papel nos jogos olímpicos deveria ser, essencialmente, como nos antigos torneios, coroar os vencedores” . 
Em Portugal e em particular na Associação Naval de Lisboa a participação da mulher no Remo e na Vela é muito tardia. Nas primeiras regatas do Clube a mulher apenas oferecia os prémios para as provas, nomeadamente bordando as Bandeiras de Honra, a mais antiga das quais, para as Guigas, ainda existe e está em exposição na Sede do Clube. Sua Majestade a Rainha D. Maria Pia protectora do clube ofereceu, por diversas vezes Bandeiras de Honra, como prémio para as Regatas da Real Associação Naval. 
No norte do País temos conhecimento de regatas de Remo feminino mais cedo do que no sul, no Jornal do Porto de 29 de Agosto de 1863 lemos sobre uma regata “de barcos remados por mulheres de Avintes” que se realizou na Foz. Estas mulheres eram barqueiras (maganas) que faziam o transporte entre as duas margens do rio nesta localidade. Em Lisboa ou Cascais a primeira manifestação de Remo feminino que encontrámos foi no final do século XIX nas Regatas de Paço de Arcos, mais concretamente a 27 de Setembro de 1896 com “corridas de escaleres tripulados por senhoras”.
Contudo a Vela, em Lisboa, teve um renascer ligeiramente mais cedo com o primeiro Iate timonado por uma senhora a fazer  parte da regata organizada pelos nossos rivais –Real Clube Naval de Lisboa – em 1894, a autora dessa proeza foi a britânica Eleanor Bucknall, esposa do Comodoro daquele clube, mãe do Campeão Olímpico de Remo e vencedor da Boat Race Henry Bucknall,  que timonou a sua Canoa “Mavis” nas Regatas de Paço de Arcos. Apesar do facto, temos contudo conhecimento que a Rainha D. Amélia protectora da Real Associação Naval ia muitas vezes ao leme do seu Iate Lia em passeio.
No livro “150 anos de História” a primeira vez que temos qualquer informação sobre  Remo feminino é em 1983 e sobre os femininos na Vela apenas em 1984 somos informados que neste ano é construído um balneário exclusivamente para senhoras!
Pela minha ligação ao Remo e à ANL tenho conhecimento que nos anos oitenta do século passado várias mulheres representaram o clube e venceram diversos títulos nacionais. Nessa década a ANL sagrou-se campeã nacional  de Double-Skull feminino em1985, 1986 e 1987 tendo em 1985 repartido o título de campeão nacional de Shell de 4 com timoneiro feminino com o Clube Ferroviário de Portugal que segundo o relatório da FPR terminaram ex-áqueo nesse ano. Algumas das responsáveis destas  proezas que me recordo, com a preciosa ajuda do Luís Reis, foram a Ana Romão, Catarina Santos, Maria José Fonseca, Carla Querido, Ana Viegas, Leonor Rodrigues e a Alice.
Em 1988 nos relatórios da FPR entre muitos títulos masculinos temos a informação da vitória no Skiff Juvenil Feminino nos campeonatos nacionais.
Pretendia destacar a remadora Cristina Roque Lino que para mim foi a melhor atleta que representou a ANL em Remo. Queria sublinhar entre as várias vitórias desta atleta a medalha de Prata que venceu nas Regatas Internacionais de Macon de 1990 prova durante a qual tive o privilégio de a acompanhar como treinador. Participou ainda no ano seguinte no Campeonato do Mundo Júnior em Banyoles, Espanha. Com uma grande formação pessoal e desportiva não desmereceu quando, ainda muito jovem, foi desclassificada num Campeonato Nacional depois de vencer destacada a prova, devido a duas colegas numa embarcação terem gritado palavras de incentivo… eram as regras da altura, muito injustas. Apesar disso não desistiu e destacou-se representando sempre muito bem o clube e a selecção nacional.
Em 1992 na secção de Remo dos 75 atletas que representaram o Clube nos vários escalões apenas três eram femininos ( uma sénior, uma júnior e uma infantil). Ainda como treinador da Associação Naval de Lisboa quero realçar no I Campeonato Nacional de Ergómetro, em 1993,  a participação das atletas presentes na prova e que se destacaram, nomeadamente a Filipa Cabaça e a Elsa Rodrigues. Ainda nesse ano a Filipa subiu ao pódio no Campeonato Nacional de Fundo em Crestuma. No ano de 1995 mais duas pupilas minhas, a Inês e a Ana Margarida, representaram condignamente o clube e subiram ao pódio no Campeonato Nacional de Velocidade Shell.
Queria também lembrar a remadora Raquel Franca que além de atleta da ANL foi a primeira mulher a exercer como árbitro de Remo, actuando como Juíza em várias regatas do nosso Calendário de Provas.  
Nos anos 80 e 90 do século passado na Secção de Canoagem também praticaram desporto no Clube diversas atletas femininas que não tenho contudo resultados para apresentar, queria no entanto destacar um projecto meritório que poucos conhecem que foi assinado entre a ANL, a Secretaria de Estado do Ambiente e da Juventude  e a Universidade Lusíada coordenado pelo sócio José Félix da qual a nossa sócia, na altura, Ana Nunes fazia parte. O projecto propunha-se efectuar descidas de rio em canoas cedidas pela ANL , nas quais os estudantes dos cursos de Direito, Gestão,  e História daquela Universidade recolheram elementos sobre a situação dos rios portugueses e do meio ambiente circundante. O projecto foi amplamente difundido na imprensa nacional.
No início do século XXI o meu realce vai para a sócia Susana Lusquinhos que serviu o Clube de várias formas ora como funcionária da secretaria ora como atleta de competição, com vários títulos nacionais conquistados e ultimamente colabora com o clube como excelente treinadora onde inicia todos os dias diversos sócios na prática do Remo, graças à sua brilhante formação técnica e humana tornou-se num ícone incontornável da Associação Naval de Lisboa. No Remo de Lazer muitas são as atletas que várias vezes por semana mantêm a sua perfeita linha remando na nossa frota de Yolles, pois não é só em competição que se pratica este belo desporto. Ultimamente com a ajuda do Treinador José Leitão fizemos um apanhado dos mais recentes resultados do Remo Feminino no nosso clube e podemos afirmar que continuamos com uma boa prestação desportiva através das prestações das atletas Madalena Ferreira, Marta Sampaio, Catarina Vieira, Ana Santos e Maria Felício. Na Taça de Portugal de 2014 Madalena Ferreira e Ana Santos conquistaram o segundo lugar em double-skull e nos Campeonatos Nacionais Catarina Vieira, Marta Monteiro, Ana Santos e Madalena Ferreira conquistaram o terceiro lugar no Quadri-skull.
Em 2015 foram Campeãs Nacionais de Yolle 4 as atletas Ana Santos / Madalena Ferreira / Rita Pape / Catarina Vieira e no Campeonato Nacional de Fundo em Quadri.skull  estas atletas conseguiram o pódio. Nos Campeonatos Nacionais a Madalena Ferreira csubiu também ao pódio na prova de Skiff.
Neste ano de 2016 temos já conquistado o título de Campeãs Nacionais de Yolle 4 com as atletas Ana Santos / Catarina Vieira / Marta Sampaio / Maria Felício.
Divagando agora pela secção de Vela gostaria de começar por destacar em 1993 a dupla Teresa e Rita Borges Coutinho que foram Campeãs Nacionais de “420” e representaram Portugal no Mundial da Classe em Itália. Durante a época de 1995 a velejadora Margarida Aguiar sagrou-se Campeã Nacional da Classe “Europe”.  Em 1997 e 1998 Inês Nolasco e Mafalda Barros sagraram-se bicampeãs nacionais da classe 420 Júnior. No ano seguinte Rita Gonçalves e Rita Guerra venceram o mesmo Campeonato Júnior de 420.
No ano do Milénio Marta Lobato venceu o Campeonato Nacional da Classe “Europe e em 2004 a ANL sagrou-se Campeã Nacional de Match Racing Feminino com a equipa composta por Margarida Aguiar, Sara Telhada, Mafalda Barros, Inês Gamito e Diana Neves.
Em 2005 a dupla campeã nacional júnior da classe “420” Rita Rocha e Mariana Lobato representaram Portugal no Mundial da Juventude ISAF que se disputou na Coreia.
Em 2007 a equipa de Match Racing liderada pela atleta Rita Gonçalves e composta por Ana Champalimaud, Mariana Lobato, Ingrid Fortunato e Catarina Costa sagrou-se Campeã Nacional. Ainda a equipa feminina de Match Racing agora patrocinada pela Schroders e com uma equipa base composta por Leme Rita Gonçalves, Trimmer Mariana Lobato, Trimmer Ana Champalimaud, Trimmer Ingrid Fortunato, Trimmer Catarina Costa e Proa Diana Neves, participou no Campeonato Europeu de Match Racing Feminino realizado em St. Quay, França, nos dias 9 a 13 de Setembro de 2008. A participação portuguesa nesta prova coube então à equipa liderada por Rita Gonçalves, velejadora da Associação Naval de Lisboa, e foi constituída por Marta Lobato, Ingrid Fortunato e Mariana Lobato. Esta equipa que teve uma excelente performance em 2007, campeã nacional, em 2008 sagrando-se bi-campeã nacional feminina e alcançando ainda  o 3º lugar do ranking nacional absoluto. Neste mesmo ano participou ainda no ISAF Nations Cup. Em 2009 foi o tricampeonato nacional, as velejadoras que participaram nesse ano foram a Rita Gonçalves ao Leme,  Ingrid Fortunato no Trimmer genoa, Catarina Costa no Trimmer spi e Diana Neves a proa, estiveram também presentes no Campeonato Europeu e na Grand Final da ISAF Nations Cup. Em 2010 para além do Tetra-campeonato de Portugal de Match Racing participaram no Mundial com uma equipa formada pelas velejadoras Rita Goncalves ao Leme, Mariana Lobato em Trimmer Vela Grande/Spi, Ingrid Fortunato no Trimmer estai e Diana Neves a proa, participaram além disso no Campeonato Ibero-americano onde alcançaram um honroso terceiro lugar conquistaram ainda o quinto lugar no Europeu da Classe.
De salientar que a base desta equipa esteve presente nos Jogos Olímpicos de Londres porém nesta altura já não representavam a Associação Naval de Lisboa!!!
Para honrar o desporto feminino e Sua Majestade a Associação Naval de Lisboa instituiu em 2004 o Troféu Rainha D. Amélia, perpétuo com uma prova  aberta a barcos de Cruzeiro que durante a regata sejam governados por Timoneiras. A prova tornou-se já um destaque no Calendário da Vela e S.A.R. a Senhora D. Isabel de Bragança sensibilizou-se com o projecto e na segunda edição da prova distribuiu os prémios às vencedoras.   

























quinta-feira, 22 de junho de 2017


D. Carlos e os Desportos Náuticos



A MONARQUIA E OS DESPORTOS NÁUTICOS

O Remo e a Vela constituíram desde sempre, os passatempos de eleição dos monarcas portugueses, como nos conta o Almirante Celestino Soares nos seus Quadros Navais: Referindo-se a João da Bemposta, filho do infante D. Francisco, Duque de Beja e sobrinho de El Rei D. João V – Este filho do infante era muito dado às cousas do mar, como seu pai, que andava constantemente pelo rio no seu iate, acompanhando os navios de guerra que entravam e saiam; mas não era ele que mostrava gosto pela marinha, era El Rei, que subia a bordo dos navios, era a Rainha, que os ia ver a sair a barra e na falta destes espectáculos divertia-se a passear pelo Tejo nos bergantins reais, seguidos de faluas com atabales, trompas, rebecas e outros instrumentos…”

E mais à frente:
Para se fazer idea deste interesse e quasi paixão pelas cousas do mar vamos resumir os avisos que as gazetas fizeram das viagens de Suas Majestades pelo rio, preferindo o trânsito por água de Belém à Madre de Deus, a Caxias, e outros pontos, ao transporte por terra; …”

Ainda nos quadros navais Celestino Soares escreve que tanto D. João V como D. José,
as suas Rainhas, os príncipes e princesas seus filhos, costumavam assistir ao “caimento” dos navios que eram lançados ao mar depois de construídos e que para se deslocarem do Terreiro do Po a Belém preferiam os Bergantins aos Coches Reais.



A GÉNESE DA VELA E DO REMO DESPORTIVO EM PORTUGAL
A origem do Remo como ptica desportiva em Portugal terá tido o seu início no princípio do século XIX.
Até essa data, o seu exercício estava reservado aos profissionais, sendo contudo conhecidas disputas entre embarcações de transporte de passageiros e entre as guarnições dos navios da Armada Real, as quais despertavam o interesse de multidões que afluíam às margens e aplaudiam com entusiasmo.

A ptica do Remo em Portugal, enquanto desporto organizado, terá começado em 1828 com a fundação do Arrow Club por Abel Power Dagge, os irmãos Pinto Basto e alguns elementos da colónia britânica residente na metrópole, segundo documentos inéditos que nos foram recentemente facultados pela família Dagge.
Do referido acervo documental constavam as actas de fundação de várias associões náuticas, a sua correspondência e deliberações das Assembleias Gerais, assim como merias de Abel Power Dagge, membro fundador da Real Associação Naval e do Clube Naval de Lisboa, quiçá o primeiro desportista náutico a existir em Portugal.

Segundo José Pontes, no seu livro Quasi um século de desporto, a primeira regata de desportistas amadores oficialmente realizada em Portugal foi de Remo, corria o ano de
1849, promovida por Abel Power Dagge. Logo no ano seguinte, em 1850, este inglês de barbas compridas, coadjuvado por Edward Shirley, Alex Hudson e Alex Hangcock, aproveitaram a estadia da nau britânica Vixen no Tejo para organizar a Primeira Carreira de Barcos à Vela, tendo participado cinco veleiros todos pertencentes aos ingleses.

São lebres, pelo menos a partir de 1852, por ocasião dos festejos anuais de Po de Arcos, as Regatas em barcos à vela e a remos, promovidas pelo Conde das Alcáçovas e por um grupo de aristocratas, alguns deles ligados à Casa Real, e por elementos da colónia inglesa, nomeadamente os que haviam organizado as regatas dois anos antes. A regata de 1853, foi presidida pelo infante D. Luiz que se fez conduzir a bordo do vapor da Marinha Portuguesa Conde de Tojal. Aproveitando a estadia do barco de guerra inglês Odin, fundeado na Baia de Po Arcos, realizou-se uma corrida de remos entre marinheiros portugueses e ingleses. Do programa de 1854, em complemento às Regatas de Vela, constava a participação de duas guigas de 4 remos, tripuladas por “curiosos.



Na sequência destes eventos, foi fundada em 1855 a Real Associação Naval, a mais antiga agremiação desportiva da Península Ibérica e uma das mais antigas do mundo.
D. Luís, pai de D. Carlos, um apaixonado pelo mar, foi destinado por sua mãe à carreira na Armada, tendo comandado o brigue Pedro Nunes e a corveta Bartolomeu Dias. Por morte do seu irmão D. Pedro V, sem descendente, herdou então o reino de Portugal. Ainda como Duque do Porto, presidiu à Reunião no Hotel Bragança que serviu de fundação à Real Associação Naval, tendo inclusive, proposto este nome em vez de Real Yacht Club.











Na Regata do Tejo em 1854 e depois, na primeira prova organizada pela Real Associação Naval, em1856, o Rei D. Pedro V ofereceu um trou em prata. Por mera curiosidade, ambas as competições foram vencidas pela mesma pessoa Frederico Burnay – O barco vitorioso na primeira regata chamava-se Etoile du Nord e na segunda tinha o nome O Mesmo efectivamente tratava-se da mesma embarcação, que tinha sido serrada ao meio pelo dono da Parceria dos Vapores Lisbonenses no seu estaleiro, devido ao facto do seu sócio A. I. G. Netto, depois de uma noite bem bebida, ter solicitado a Frederico Burnay o fim da sociedade e a consequente divisão em dois da embarcação. No dia seguinte o português, de origem belga, um desportista de eleição e como tal um grande gentleman, levou o seu amigo à Parceria e questionou-o sobre qual era a parte que ele desejava da embarcação que fora dividida ao meio. Não se lembrando das palavras ditas na noite anterior e pedindo desculpas ao seu amigo, solicitou a reparação do veleiro que depois de pronto foi rebaptizado de O Mesmo.

Em 28 de Agosto de 1856, aquela associação organizou uma regata em Po de Arcos que constitui a primeira competição regulamentada, organizada por um clube náutico.

A regata da RAN de 1858 contou com a participação do iate Veloz, propriedade de D. Lz, à época Comodoro daquela associação.
A referida embarcação fora construída com base no modelo do Iate Prenda, um barco que havia recebido como oferta de J. Garland, Abel Power Dagge e Simão Aranha, uma cópia, mais pequena é certo, do Iate América que tinha aportado em Lisboa. Alguns anos mais tarde, em 1876, já Rei de Portugal, mandou construir, no Telheiro das Galeotas Reais, o Iate Sirius, embarcação que ficou com o epíteto do mais português de todos os iates, dado que desde a sua concepção a à obra-prima tudo era nacional. Este veleiro pode ser ainda admirado no Museu de Marinha.



Por intermédio da Real Associação Naval, através dos seus ilustres fundadores Abel Power Dagge e o Conde das Alcáçovas, muito ligado à família real, inicia-se o desporto amador em Portugal, motivado pelo notável incremento dos desportos náuticos, nomeadamente da ptica do Remo e da Vela. Só mais tarde chegaram a Ginástica, o Ténis, o Ciclismo e o Futebol.



O interesse despertado pelo «divertimento das regatas», associado ao gosto e predilecção” da Família Real pelos passeios a remos no Tejo, deram lugar em 1861, à formação de dois grupos de remadores. Abel Power Dagge, um dos fundadores da Real Associação Naval e, mais tarde, também fundador do Club Naval de Lisboa, fazia parte de uma das tripulões. Estes dois grupos de amadores remavam também em guigas de
8 remos, construídas propositadamente para esse fim pelos construtores Luís Silvério de Faria e I. C. Dangebau, que se denominavam respectivamente Lusitânia e Germânia. A guiga Lusitânia, construída em 1862, tinha 42 pés de comprimento e 6 de largura, tendo custado 201,600 reis. Segundo os nossos registos, esta guiga deverá ter sido a primeira embarcação desportiva de remo construída em Portugal e por um mestre português. Destes acalorados desafios resulta a fundação, em Lisboa, do Tagus Rowing Club e do Club dos Remeiros Lusitano, dois dos primeiros clubes de remo instituídos em Portugal. Alguns anos mais tarde, a 18 Novembro de 1891, foi instituído o Club Naval de Lisboa, contando-se entre os seus fundadores, os antigos sócios do entretanto extinto Rowing Club (novo nome do Clube dos Remeiros Lusitano).
Com a introdução, em1878, dos primeiros outriggers de 4 remos, o desporto náutico entra num período de notável incremento, manifestado pelo aparecimento de novas agremiões, no aumento de cios e na realização de certames náuticos promovidos por estas colectividades, sendo exemplo disso, as regatas de Po de Arcos e, mais tarde, as regatas de Cascais e as regatas ao longo da muralha da Junqueira.











D. CARLOS, REI DESPORTISTA SEU CONTRIBUTO NO INCREMENTO DOS DESPORTOS NAUTICOS

A VELA E O REMO

A 28 de Setembro de 1863 nasceu no extinto Município de Belém, no Palácio da Ajuda, D. Carlos de Bragança futuro Rei de Portugal, cientista, diplomata, desportista e um grande Soberano.
Herdou, certamente, de seu pai o gosto pelo mar e pelas coisas náuticas e desde muito cedo mostrou apetência pelo desporto e pelas artes. Excelente pintor, podemos admirar os seus belos desenhos de barcos e das regatas da Real Associação Naval o qual em pequenos blocos de apontamentos desenhava as embarcações que disputavam as provas de Vela e Remo.

Relativamente ao seu primeiro iate, uma oferta de D. Luiz, baptizou-o de Nautilus, demonstrando provavelmente, a sua admiração pela obra de Júlio VerneAs Vinte Mil Léguas Submarinas. O palhabote Nautilus, construído em 1880, no mesmo local do Sirius, foi uma embarcação memovel servindo, anos mais tarde, de escola a muitos amadores da Vela no Clube dos Aspirantes de Marinha e como escola de Vela no Clube Naval de Lisboa, a quem tinha sido entregue pela Marinha Portuguesa depois do
bárbaro assassinato do seu Comodoro.


Em virtude da sua pequena dimensão e apesar de ter alcançado algumas vitórias, nomeadamente, em 29 de Junho de 1885, contra o Yawl Vega, o Nautilus foi relegado para a segunda classe, sendo substituído pelo Aura, um Yawl de 40 toneladas que venceu as regatas de Cascais de 1887 e 1888. Mais tarde D. Carlos adquiriu também os veleiros Corsair, Viking e o Maris Stella.

Na regata da Real Associação Naval de 1889, o Alvor de João António Pinto venceu o Aura de D. Carlos e o Mina de Hermann Moser, tendo D. Carlos oferecido um sextante como pmio. Em 1890, a Real Associação Naval voltou a organizar outra regata em Cascais tendo sido vencedor o Aura do seu Comodoro.

A 1 de Outubro de 1893, já depois da fundação do Clube Naval, a Real Associação Naval organizou uma regata em Cascais na qual competiram o Lia que D. Carlos adquirira nesse ano em Inglaterra, que chegou em primeiro na regata mas devido ao abono que recebia, o Helena de Guilherme Lane foi considerado vencedor. Participaram ainda o Aura, agora propriedade de D. Afonso, o Orion de Dinis de Abreu, o Vega de João Bregaro, o Alda de Ruy D´Orey e o Mina do velho Hermann Moser, que velejava ao leme apesar dos seus provectos 90 anos.

A primeira Corinthian Race (prova em que os timoneiros das embarcações são amadores) realizada em Portugal teve lugar a 8 de Outubro de 1893, na qual participaram D. Carlos ao leme do Lia, José Ribeiro da Cunha timonando o Vega, Guilherme Lane a comandar o seu Helena e ainda o Mina que tinha a dirigi-lo Carlos Schelmick. A prova efectuou-se na Baía de Cascais num triângulo entre Cascais, S. João do Estoril e a Caba do Pato, sensivelmente a 3,5 milhas do Bugio. D. Carlos chegou primeiro à meta mas como o Vega recebia abono do Lia foi considerado o vencedor.

No Centenário de Santo António, a 29 de Junho de 1895, foi organizada uma Regata Internacional de Vela na tentativa de promoção da cidade de Lisboa, tendo sido enviado convite aos principais clube náuticos europeus, convidando-os a inscrever as suas embarcações na prova. Para tal, os pmios eram superiores ao habitual, mas do estrangeiro apenas o cutter Rebelle do Marquês de Torcy se apresentou na Regata contra o Aura e o Lia que foi o vencedor, tendo contudo D. Carlos oferecido o seu pmio ao segundo classificado. Nas provas de remo venceu a Ophélia de D. Carlos, com uma tripulação de cios Real Clube Naval vencendo sete medalhas de Ouro, uma delas faz ainda parte do espólio do Clube Naval de Lisboa.

Em 1896, D. Carlos e D. Amélia passearam-se num escaler de 8 remos durante a Regata de Cascais organizada pela Real Associação Naval na qual competiram nove provas de Remo e seis de Vela. Aquela regata, destacou-se pela grande adesão do público que acorreu à margem para assistir àquele que foi um dos maiores eventos desportivos realizados em Portugal. Nesse dia a vila recebeu seis mil visitantes.



A par da presença em certames náuticos o Rei D. Carlos dedicou muito do seu tempo à ciência nomeadamente à Oceanografia estudando a costa de Portugal. As suas campanhas oceanográficas no Iate Amélia desenvolveram-se entre 1896 e 1907.


No âmbito das comemorações do Quarto Centenário da Descoberta do caminho marítimo para a Índia, El Rei D. Carlos patrocinou vários eventos desportivos e culturais nos quais se incluíam provas de Remo e Vela, tendo talvez sido o expoente máximo do reinado de D. Carlos a nível desportivo. O Rei encarregou a Sociedade de Geografia de Lisboa de encomendar à Casa Leitão e Irmão a concepção de uma obra de arte, destinada a um pmio perpétuo para regatas internacionais de Vela: a emblemática Ta Vasco da Gama. Foram realizadas quatro edições da Ta tendo, após a morte do monarca, ficado guardada no Clube Naval de Lisboa como que a saudar o seu instituidor.

Na primeira edição da prova, em 1898, organizada em Cascais pela Real Associação Naval, a pedido da Sociedade de Geografia, o Lia de D. Carlos competiu contra o Ketch Caridad de Lord Dunraven, num percurso de quatro balizas colocadas em Cascais,
Ponta de Rana, Caba do Pato e Oitavos. A vitória pertenceu ao barco do Royal Yacht Squadron com um grande avanço em virtude de, na tentativa de vencer, o iate português ter içado todo o pano, do que resultou a perda do mastaréu do traquete, logo no início da corrida e, ao rondar a primeira bóia, ter ficado sem o mastaréu da vela grande, invalidando qualquer hipótese de vencer a regata.

Ainda integradas nas comemorações realizaram-se mais 3 regatas de Vela em Po de
Arcos, com pmios monetários e medalhas de prata.
Nas provas de Remo em Lisboa, saíram vencedoras entre outras a guiga Alice, da Real Associação Naval com sete Medalhas de ouro, a guiga Ophelia de D. Carlos, correndo com sócios do Real Clube Naval com sete medalhas de Vermeil, o outrigger Sado do Clube dos Aspirantes de Marinha e, em Skiff, venceu uma medalha de ouro o Sr. Augusto Seixas no Paulo. Nas provas de Escaleres venceram as embarcações de dois barcos ingleses e um alemão, tendo como premio dez libras esterlinas e medalhas de cobre.
Realizaram-se ainda corridas de Ciclismo para Amadores e Profissionais, Singulares e em Tandem com vitorias de Mário Duarte e Sebastião Herédia, um Concurso de Tiro e diversos eventos culturais nomeadamente um Concurso para um drama histórico comemorativo, Concurso para um quadro histórico comemorativo, Concurso para um projecto de habitões económicas (Lisboa, Porto e Covilhã) , Concurso para um projecto de escultura monumental comemorativa e finalmente um Concurso para decorações. Realizaram-se ainda edições filatélicas e numismáticas destas comemorações.

A segunda edição da Ta Vasco da Gama foi novamente realizada em 1901 pela Real Associação Naval, a pedido do clube inglês que era o seu detentor, demonstrando o seu prestígio e a sua qualidade organizativa mesmo fora do nosso país, saindo vencedor o Yawl Leander de Rupert Guiness que derrotou o Lia de D. Carlos e o Tágide de António Medeiros.

A terceira edição da prova, em 1904, foi realizada pela Liga Naval, que havia sido fundada em 1902.
(Nessa altura a recém criada Liga Naval tentou a fusão do Real Club Naval e da Real Associação Naval com o apoio de Vasconcellos Thompson, tendo-se efectivamente formado duas comissões dos clubes para estudar o assunto, não tendo contudo a proposta de união ido avante).
Mais uma vez o Lia de Sua Majestade se inscreveu nesta prova, tendo o Dinorah, do


Conde de Castro Guimarães, Contra-Comodoro do Real Clube Naval como competidor. Numa edição totalmente nacional, Charles Bleck ao leme do Dinorah, venceu a Ta para o Real Club Naval.
1907 Foi o ano da quarta e ultima edição da Ta Vasco da Gama desta feita ganha por D. Carlos, Comodoro do Real Club Naval que manteve a Ta no clube organizador, correndo no Maris Stella, um barco que o Rei tinha adquirido em 1901.

Para comemorar os aniversários do Rei D. Carlos e da Rainha D.ª Amélia, o Real Club Naval de Lisboa decide realizar as Regatas de Cascais em 29 de Setembro de 1901, a que se seguiram nos anos seguintes, na mesma data, regatas idênticas que se celebrizaram pelo seu esplendor. Podemos ler no Livro de actas da Comissão de
Regatas do Real Club Naval de Lisboa que nesta regata existiram provas disputadas por senhoras da sociedade constituindo, provavelmente, uma das primeiras manifestões
de desporto feminino em Portugal.
Nas provas de Remo, a que suscitava mais interesse era a regata entre as guigas de seis remos pertencentes ao Rei e à Rainha D. Maria Pia (que assistia às regatas a bordo do seu caíque Sirius) as quais competiam entre si, respectivamente a Ophelia e a Vega, sendo esta ultima normalmente timonada pelo Infante D. Afonso. Os remadores eram quase sempre cios da Real Associação e do Real Club Naval, sendo os pmios distribuídos nas instalões do Sporting Clube de Cascais.

Entre 1901 e 1905, o Real Club Naval organizou regatas em Cascais, contando sempre com a assistência de Sua Majestade o Rei D. Carlos, a bordo do Iate Lia ou do Amélia, eventos amplamente divulgados na imprensa da época, nomeadamente no Jornal O Sport” de 21/07/1902:
- (...) A natureza, querendo hontem galardoar os esfoos de um punhado de rapazes que n´esta terra ainda se interessam pelo sport náutico, vestiu-se de gala e deu-lhes tudo o que era necessário para esse fim: vento fresco para as corridas de vela; brisa suave
para os espectadores encalmados; lux difusa para os amadores photograficos – que eram bastantes, – e mar de leite para as regatas de remos. Isto posto, vamos ao resultado
d´essa bela festa. Sua Magestade El-Rei assistiu a toda a regata, de bordo do Iate Lya, pertencente a sua augusta esposa. O lindo barco arvorava o distinctivo do Real Club Naval de Lisboa. (...) .

Também em 1902, por iniciativa de Charles Bleck, importaram-se de Inglaterra barcos de uma nova classe de racers, os Bulb-Keels. Mediam 7 metros e eram uns barquinhos muito bonitos e velozes, lia-se na edição de 22 de Setembro de 1902 do DN. Vieram o Geisha para o Conde de Castro Guimarães, o Náiade para Charles Bleck, o Laura para José Libanio Ribeiro da Silva e o Nadedja para El Rei D. Carlos.
Efectuaram-se várias regatas nas quais devido à equivalência das embarcações e ao sistema de marcação de pontos em que se somavam as diversas corridas, a destreza do timoneiro se destacava. Acresce que as velas eram numeradas, facto que provocava grande efeito no público que seguia as regatas com grande entusiasmo.
Efectuaram-se corridas a 13 e a 29 de Junho, a 25 de Julho e a 24 de Agosto. Na última regata, realizada a 21 de Setembro, em Cascais, o Nadedja de D. Carlos foi declarado o vencedor, tendo como pmio uma concha de prata, oferta da rainha D. Maria Pia, igualmente aficionada dos desportos náuticos. O conde de Castro Guimarães ofereceu também um barómetro aneróide como pmio. Nos anos seguintes realizaram-se mais regatas desta classe e a maioria das vezes o barco de D. Carlos era o vencedor.


Ainda no ano de 1902, um dos mais profícuos em disputas náuticas, a Comissão de Regatas de Leixões, dirigida por Alberto Kendall, organizou a primeira Regata Oceânica realizada em Portugal.
Para a organização do evento, pediu apoio ao Real Clube Naval, utilizando o seu
Regulamento de Provas e contando, para a fiscalização da prova, com os seus dirigentes: Joaquim Leotte, como júri de chegada, e Vasconcellos Thompson que foi dar a largada ao porto de Leixões.
No âmbito dos preparativos da regata, a Comissão de Regatas de Leixões em carta dirigida ao RCN, datada de 29 de Agosto de 1902, escreve: “ agradecemos a boa vontade com que esse Club nos auxiliou n’ésta nossa primeira tentativa para a introdução de Corridas de vela no norte do paiz. …”
O Lia de D. Carlos e de D. Amélia inscreveu-se na prova, facto que deixou penhoradíssima a Comissão de Regatas como refere na mesma carta: “ (…) Foi com verdadeiro enthusiasmo que recebemos a notícia telegraphica que S.M. a Rainha se dignou abrilhantar as nossas festas mandando o seu palhaboteLia a Leixões, pelo que a Comissão está penhoradíssima. (…).
A mesma comissão decidiu que se o Lia vencesse, enviaria a Lisboa emissários para entregar pessoalmente o trou, intenção que é referida na carta, de 6 de Setembro desse ano, dirigida ao Real Clube Naval: Se por ventura o Lia de S. M. a Rainha ganhar o primeiro pmio pedimos vénia para podermos mandar uma comissão fazer a entrega a S. M. (…) .
A prova teve que ser adiada de 9 para 10 de Setembro devido ao mau tempo. Foi efectivamente vencida pelo Lia que chegou no dia 12 a Cascais, vencendo um par de serpentinas de prata. As outras embarcações o Helena, o Zephyr, o Vivandiére, o Dinorah e o Diana tiveram que voltar para ts, não aguentando o mau estado do mar. Combinaram efectuar outra regata entre eles, tendo largado no dia 14, à excepção do Zephyr, numa prova que se revelou bastante renhida, da qual saiu vencedor o Diana de Talone que venceu apenas com uma diferença de 2 minutos e quarenta e cinco segundos, tendo com pmio um par de castiçais de prata. (…)
Em 1903 e 1904 as edições da Regata contaram sempre com a vitória do Lia, iate de
Suas Majestades.

Em 1905 a regata Leixões – Cascais foi realizada a 23 de Outubro, tendo desta vez sido organizada pelo recém-criado Gmio do Sport Náutico do Porto, e contou com o patrocínio do Rei D. Carlos que ofereceu o premio para as regatas do dia anterior na capital nortenha.

Aproveitando o apoio e beneplácito do seu Comodoro, Sua Majestade El Rei D. Carlos, o Clube Naval de Lisboa cresceu e difundiu os Desportos Náuticos pelo País abrindo secções e Postos Náuticos em Azambuja, Cascais, Trafaria, Luanda, Lourenço Marques, Portimão, Lagos, Pedrouços e Funchal. Estas delegões evoluíram mais tarde para os actuais clubes existentes nestas localidades.
Em 1904, a pedido do director do CNL, Joaquim Leotte, a Associação Naval de Lisboa, o Clube Naval de Lisboa, o Clube de Aspirantes de Marinha e o extinto Clube Naval Madeirense instituíram a Ta Lisboa em Remo como Campeonato de Portugal, Ta ainda hoje em competição, constituindo a prova desportiva mais antiga do nosso país.
A primeira regata foi realizada a 29 de Maio, tendo lugar ao longo da muralha da
Junqueira, entre as docas de Santo Amaro e do Bom Sucesso.
A Real Associação Naval, o Real Club Naval de Lisboa, o Club dos Aspirantes de
Marinha e o Club Naval Madeirense, promulgam as Bases da Convenção, ao mesmo


tempo que aprovam o primeiro regulamento de regatas de Remo que estabelece as bases para a regulamentação das corridas de embarcações de Remo.
A Convenção tinha como fim último promovero desenvolvimento do rowing portuguez, a ela se devendo o pido desenvolvimento que o Remo atingiu nos anos que se lhe seguiram.



Nas festas da Arrábida, em Setúbal, o Rei D. Carlos promoveu, assistiu e ofereceu o pmio para as regatas de Remo que se realizaram a 1 de Julho de 1906, nas quais participaram todos os clubes da capital, o Antigo Círio de Nossa Senhora da Arrábida, a canhoneira Vouga e o vaso de guerra Bérrio. Realizaram-se também competições de Vela e de Natação. As provas do ano anterior haviam contado com o patrocínio de El Rei que tinha, inclusive, aprovado pessoalmente o Programa das Regatas, inscrevendo na regata de Remo os escaleres do Iate Amélia. As regatas de 1905 iniciaram-se com uma prova à vela entre a Junqueira e Setúbal.







A MOTONÁUTICA E A NATAÇÃO
Em 1906, na Natação, outra modalidade náutica muito apreciada pelo monarca, organizou-se a primeira prova de meia milha marítima, que teve lugar a 14 de Outubro no Alfeite, realizada pelo Real Gimnasium Club Português com o patrocínio e oferta de uma Ta por parte de D. Carlos, na qual se sagrou vencedor Rumsey, pertencente à colónia inglesa residente no Porto.



A partir de 1907 começaram a vulgarizar-se os barcos a gasolina e, como sempre, o Rei D. Carlos foi um dos impulsionadores das novas embarcações, adquirindo o Usona com motor Lozier. Juntamente com o Rei converteram-se à nova modalidade o Conde de Gimenez e Molyna, o Conde de Castro Guimarães, Fernando Anjos, Mariano Cardoso, Alfredo Bleck e George Norton entre outros. A primeira prova a motor oficialmente realizada, de que temos conhecimento, foi organizada pelo Real Clube Naval, a 29 de Setembro, em Cascais com o patrocínio e vitória de D. Carlos.

O REGICÍDIO E A PROCLAMAÇÃO DA RÉPUBLICA
A partir do bárbaro assassinato de D. Carlos e do Príncipe D. Luiz Filipe, a Vela e o Remo perderam muita visibilidade, em grande parte devido à sua ligação à Casa Real e também mercê dos atritos e corte de relões entre a Real Associação Naval e o Real Clube Naval, derivado das contendas das regatas de Remo, em especial da Ta Lisboa, que motivava a mudança de atletas entre estes clubes e o Clube Naval Madeirense, tendo mesmo proporcionado um duelo em Cascais entre Alberto Totta e Carlos Sá Pereira, e a destruição, numa zaragata, da Cervejaria Jansen, no Cais do Sod, na
sequência de um empate entre as guigas Alice e Eleanora, nas Regatas do Centenário de Santo António. Esta desavença entre os dois maiores clubes náuticos portugueses só terminou com um jantar organizado por Mauperrin Santos, Presidente do Comité Olímpico Português, em que estiveram presentes os Presidentes dos dois clubes desavindos, já muito depois da implantação da república, em 1912.


A proclamação da República teve pois repercussões nos Desportos Náuticos, sobretudo na Vela, com o desaparecimento dos Yachts Reais. Consequentemente, os clubes apadrinhados pela Família Real sofreram um duro revés. Pom, lentamente, conseguem reagir reformando os respectivos estatutos, ao mesmo tempo que diversificam a sua acção, tornando-se mais eclécticos, criando secções com diferentes modalidades desportivas, a par de uma intensa actividade cultural e social, patente na organização de festivais náuticos e na promoção de passeios à vela e a remos que movimentam grande número de cios, respectivas famílias e despertam o interesse da sociedade da época.


Só depois, no Estado Novo, através da Mocidade Portuguesa é que a Vela e o Remo voltaram a ter os níveis de participação desportiva e organizativa existente na altura do Reinado de D. Carlos, o que demonstra o quanto os Desportos Náuticos devem a uma das maiores figuras do nosso Portugal, que coma agora a ser recordada como um grande Rei, cuja capacidade democrática é ainda rara no nosso tempo.