Vocês sabem que eu gosto de versejar, e devem ter notado que busco em meus versinhos respeitar o ritmo e a música, ou seja, a métrica e a rima. E me embalava ingenuamente numa doce ilusão, acreditando que isso era ser romântico... até que a Si, destruidora de sonhos, demoliu implacavelmente minha fantasia, numa matéria seca, competente e irretorquível, que ela publicou no seu Balaio, sem a mínima consideração pelos sentimentos de tantos poetas menores, como eu...
Passo a palavra à destruidora:
"Quanto ao aspecto formal, a literatura romântica se apresenta totalmente desvinculada dos padrões e normas estéticas do Classicismo. O verso livre, sem métrica e sem estrofação, e o verso branco, sem rima, caracterizam a poesia do romantismo".
Em outro trecho, ela cita Gonçalves de Magalhães - o romantismo na visão de um autor romântico:
"Quanto à forma, isto é , a construção, por assim dizer, material das estrofes, nenhuma ordem seguimos; exprimindo as idéias como elas se apresentam, para não destruir o acento da inspiração; além de que , a igualdade de versos, a regularidade das rimas, e a simetria das estrofes produz uma tal monotonia que jamais podem agradar.”
Peço perdão aos meus leitores pela monotonia das minhas rimas e pela cadência repetitiva de meus versos "clássicos". Mas, pensando bem, a Si, coitada, não tem culpa... a culpa é dos luminares da Literatura, que insistem em delimitar fronteiras, dar nomes às tendências, classificar estilos e separar espécimes paradigmáticos, espetando-os em alfinetes como cadáveres secos de insetos numa exposição de entomologia.
Bem, eu ainda estou vivo, não pretendo metamorfosear-me em borboleta e recuso-me a ser espetado para análise ou classificação. Mas tenho inveja da Simone; ela ora é uma poetisa louca e apaixonada, e de repente - não mais que de repente, como quem troca de chapéu - transforma-se na mestra literária competente e equilibrada, subordinando-se docilmente à necessária sistematização didática. Benza Deus...
E como poetisa, a Si se define como romântica:
“Meu verso é liso e escorrega entre meus dedos até chegar à pauta, na volátil e impudente forma de se expor: versos brancos sem cerimônias clássicas. Deslizo o meu eu, conflitando com o resto de tudo, sem coerência, proibido, sem o certo e o errado, sem consciência social, sem bandeira e sem religião.
"Minha escrita é meu ópio! É meu bem, meu mal e a minha cura, é a saudade da infância, é o amor do homem, minha pátria e meu herói.
"Escrevo em fuga, em idas e vindas.
"Escrevo a vida como quem morre.”
Si Fernandes.
Vivendo e aprendendo... ainda bem que eu tenho algumas poesias em versos brancos.
Sim, acho que sou - só um pouquinho - romântico...
Mas quero homenagear aqui os poetas românticos modernos mais chegados à nossa "Turma do Blog" - o Moisés, o Everson, a Lu, o Sergio, a Neca e tantos outros - inclusive a própria Si:
AOS ROMÂNTICOS
Que voe, livre e solto, o teu verso,
Sem as peias do metro e da rima,
Liberto de prisões, de falsa estima,
Rebelde, insubmisso e disperso;
E fique o meu verso acorrentado
Qual Prometeu em sua luta ingente,
Que, por trazer o fogo à humana gente
Por Zeus foi ao suplício condenado.
Mas soem juntas nossas vozes fortes
Que a mensagem é uma só, inteira:
Cantemos a poesia - a verdadeira;
Pois nossos versos não são como insetos
Que numa tábua sejam espetados,
Ou sejam sob a lente examinados.
E seja a verdadeira poesia
(A que rasga rótulos e imagens,
Que ri-se da sintaxe e zomba do vernáculo
E desespera os classificadores)
Seja tão livre que, querendo, possa
Trancar-se na gaiola escolhida
E jogar fora a chave da prisão;
Ou, preferindo, voe pelos ares,
Cantando sem padrões elementares,
Sem rima e metro - porém com paixão!
Que voe, livre e solto, o teu verso,
Sem as peias do metro e da rima,
Liberto de prisões, de falsa estima,
Rebelde, insubmisso e disperso;
E fique o meu verso acorrentado
Qual Prometeu em sua luta ingente,
Que, por trazer o fogo à humana gente
Por Zeus foi ao suplício condenado.
Mas soem juntas nossas vozes fortes
Que a mensagem é uma só, inteira:
Cantemos a poesia - a verdadeira;
Pois nossos versos não são como insetos
Que numa tábua sejam espetados,
Ou sejam sob a lente examinados.
E seja a verdadeira poesia
(A que rasga rótulos e imagens,
Que ri-se da sintaxe e zomba do vernáculo
E desespera os classificadores)
Seja tão livre que, querendo, possa
Trancar-se na gaiola escolhida
E jogar fora a chave da prisão;
Ou, preferindo, voe pelos ares,
Cantando sem padrões elementares,
Sem rima e metro - porém com paixão!