Sempre me considerei uma pessoa muito corajosa. Quando pequena subia em árvores muito altas, desafiando o coração acelerado. Tinha sempre uma resposta na ponta da língua para a minha mãe, independente do tapa que tomaria em seguida. Na adolescência, mesmo com certa timidez, falava muito, não tinha vergonha de ler em voz alta, me posicionar na sala de aula e sempre emitir minhas opiniões. Tudo bem, confesso, tinha medo de escuro e quando morria alguém não conseguia dormir sozinha.
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No início de minha juventude participei de movimentos sociais e organizações que ainda viviam sob o medo da ditadura militar. Apesar de nunca ter particpado de movimentos muito radicais confesso que morria de medo de ser presa. Ficava horrorizada ao ouvir os relatos dos ex prisioneiros políticos, as torturas...
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Nunca deixei os movimentos sociais e a luta por uma sociedade mais justa. Entretanto o tempo de me apaixonar, namorar chegou e algum tempo o medo de ficar sozinha, não encontrar o meu grande amor me acompanhou.
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Enfm encontrei um grande amor e com ele tive filhos e então os medos se multiplicaram em proporções gigantescas. Exageros a parte, devo dizer que primeiro tive medo de perdê-los (os filhos) ainda na barriga. Depois que nasceram tinha medo de que não conseguissem respirar. Quando não comiam eu tinha medo, quando não dormiam direito eu ficava apavorada e quando choravam eu chorava junto.
Como serei mãe para sempre sinto que para sempre terei medo e que eles são o limite da minha coragem. Tanto para mais como para menos. Posso, por eles, vencer todos os medos, como também por eles, posso senti-los todos. Medo da violência vitimá-los, medo de que não sejam felizes, que fiquem doentes, que não consigam trabalho, que não se saiam bem nos estudos, que não sejam bons profissionais, medo que sofram... Ai quanto medo ainda tenho, mas quanta coragem me envolve!
Vitor e Vinícius em Dezembro de 1996