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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Livro Também é Obra de Arte

No dia que voltei ao trabalho recebi, no Centro de Documentação, um Missal Romano de 1908 para o acervo do nosso Museu. Apesar de ter pouco mais de 100 anos (há livros mais antigos e até mais importantes)  a beleza de sua encadernação e impressão nos obriga a conservá-lo.

A capa em madeira, forrada com tecido de algodão é ornamentada com cantoneiras e enfeites em renda de ferro e pedras. As pedras desse livro podem ser ametista, mas necessito de uma avaliação mais profissional para afirmar. Até o Renascimento os livros eram guardados deitados e não em pé como vemos hoje nas estantes. Então a pedra incrustrada, nesse caso, protegia a capa do livro porque o deixava acima da superfície.

A ametista é uma pedra muito usada em ornamentos religiosos. Sua cor está associada a penitência, a piedade  e a humildade. Na Idade Média acreditavam que essa pedra encorajava o celibato e  ela se tornou símbolo da espiritualidade. Por isso muitos paramentos da Igreja Católica foram ornamentados com a ametista.

No século XV surgiu a imprensa e o livro foi muito difundido. A encadernação tomou  importância de obra de arte  e seu mercado cresceu muito deixando de ser uma exclusividade dos monges. Foi um tempo em que cresceram os ateliês privados de encadernações.

O livro que recebi foi impresso em 1908, como mostro na foto acima,  em Latim,  na Europa. No enchimento da contra capa encontrei papeis escritos em alemão. Encontra-se bem conservado,  porém com vestígios de umidade. O próximo passo será higienizar todas as sua partes (capa, lombada, páginas), procurar todas as informações possíveis a respeito dessa obra (tipo de material usado na impressão e encadernação, tipo de papel, para que e onde serviu, como chegou aqui),  fazer pequenos reparos e só então colocá-lo nas prateleiras (protegido por vidros) de exposição do Museu Arquidiocesano para apreciação pública.

 
Há ilustrações belíssimas em muitas de suas páginas. Considero importante que o povo veja um livro que foi usado nas Missas até antes do Concílio Vaticano II no início da década de 1960.

Está perfeita, apesar da péssima foto que fiz, a douração em suas bordas. Esse tipo de capa ainda era feita por artesãos no final do século XIX. Portanto é bem possível que alguém tenha encomendado um trabalho desse no início do século XX a um especialista em encadernação.

 Lendo e estudando sobre o assunto percebo que ainda preciso aprender tanto. Mas agora é arregaçar as mangas, calçar as luvas e mãos a obra, literalmente.

Fontes:

BECK, Ingrid - Manual de Conservação de Documentos. Arquivo Nacional, Rio de Janeiro, 1985
Funart, Rio, 1988;CASTELLO BRANCO, Zelina - Encadernação História e Técnica. Editora Hucitec, São Paulo, 1978.