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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A Cicuta



Sócrates, o ex jogador, amava a medicina, tinha grande amor pelo futebol e pelo fato de ter jogado no Corinthians e ter sido capitão da Seleção brasileira. Sócrates, diferente de seu famoso xará heleno, não foi obrigado a tomar veneno, tomou-o de livre e espontânea vontade. Também, diferente do antecessor, não tomou tudo de uma vez, o foi ingerindo aos pouquinhos durante muito tempo, o que teria acabado com seu fígado e, por fim, pondo em risco sua vida. A todos aqueles que lhe diziam que estava num caminho sem volta, costumava lembrar que todos estamos num caminho sem volta, é só uma questão de tempo, tempo aliás, que não nos é dado o direito de saber a duração. Ele era meio filósofo. Copo na mão, argumentos na boca, alguns dizem que Sócrates bebeu a vida. Sua cicuta tinha gosto do melhor uísque, mas era tão fatal quanto àquela que vitimou o ateniense. Pobre doutor, foi-se justamente no dia em que seu Corinthians do coração sagrou-se campeão. Costumam dizer que ele não tinha a humildade de reconsiderar a sua própria fraqueza frente à bebida, quase que se achava incólume aos males de uma cicuta moderna engarrafada em recipientes chamativos e com certidão de nascimento escocesa.
Por que isto aconteceu? Seu jogo inovador para o Corinthians, atraía a multidão de jovens torcedores. Suas qualidades de líder e sua inteligência, também colaboraram para o aumento de sua popularidade. Na época, comandou uma tal de “Democracia Corintiana”, a qual permitia que os jogadores tivessem uma vida desregrada, desde que esses desvios não influenciassem na qualidade de seu jogo, isto é, jogando bem pode soltar a franga que não tem problema. Temendo algum tipo de mudança no time, os cartolas viam em Sócrates um exemplo público e um condutor de jovens em potencial. Então ele viu-se livre para permitir-se beber e fumar sem provocar alarde na multidão corintiana que pagava seu salário de muitos dígitos. Argumentos médicos e de todos aqueles que desejavam que ele se mantivesse abstêmio, não o convenceram que sua saúde corria perigo. Alguns acusaram-no de beber o futebol que jogara, mas isso não se comprovou, quando ele aposentou-se foi por vontade própria e não por imposição de um futebol medíocre. Aposentado, exerceu o ofício da medicina e não se tem notícia que tenha deixado a desejar como médico. Consta que foi tão bom doutor como foi jogador. Apenas a “cicuta”, pode ter abreviado sua vida como já havia feito com o ilustre filósofo grego. Paz Magrão, assista daí as alegrias do seu Timão. JAIR, 05/12/11.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Infinitudes

A infinitude é provavelmente a idéia mais profunda e desafiadora com a qual o ser humano pode se deparar. Seja do ponto de vista religioso, filosófico, físico ou matemático, o infinito desafia a capacidade neurônica dos homens. Deus tem poderes infinitos? Como o tempo é algo que não tem fim? Onde acaba o universo? Quantos números há? Estas indagações inquietam a mente do homem e fazem principalmente os matemáticos exaurirem suas teorias, teses, postulados, teoremas, axiomas e proposições na busca de uma resposta que provavelmente não existe.
Quando comecei a ter noção de matemática, lembro-me de ter me perguntado quantos números existem, e me angustiado com a possibilidade de não existir uma resposta ou que essa resposta simplesmente aumentasse o mistério: infinitos. O processo cognitivo do qual nos valemos para entender as coisas, tende a “numerificar” aquilo que não captamos de imediato. Assim, a primeira vista, o infinito nos parece um número desconhecido, mas representado pelo símbolo chamado lemniscata, que se assemelha a um 8 deitado.
Mais profundo se torna o mistério do infinito quando aprendemos que some-se, subtraia-se, multiplique-se ou divida-se qualquer número pelo infinito e este não se altera. E mais, como se fosse pouco, há um número incalculável de infinitos, ou seja, há infinitas infinitudes. É simplesmente assustador existir plural dessa entidade.
A primeira pessoa a se preocupar com o infinito foi o filósofo grego Zenão que viveu no século cinco antes de Cristo. Zenão costumava criar paradoxos para provar que o infinito existia. Depois dele, o cientista que mais se destacou ao encarar o desafio do infinito foi George Cantor, professor da Universidade de Halle na Alemanha. Cantor se envolveu tanto em provar que existiam infinitos maiores que outros, que acabou sendo internado num manicômio onde terminou seus dias como esquizofrênico incurável. Foi uma vítima dessa entidade tanto misteriosa quanto terrível: a infinitude.
Pois bem, e um ser humano comum que não quer provar nada e que apenas pensa a respeito? Eu, esse ser humano comum, me inquieto com algumas propriedades do infinito. Por exemplo: se considerarmos todos os números, podemos facilmente responder que são infinitos, certo? Se considerarmos apenas os números positivos começando do zero, também não é difícil admitir que são infinitos, não é mesmo? No primeiro caso temos uma série aberta, no segundo uma série fechada num extremo, neste caso o zero é o início da série que se perde no infinito. Mas, quantos números decimais existem entre o 1 e o 2, por exemplo? Podem ser contados? A intuição matemática nos diz que não podemos contar esses números, portanto são infinitos. Mas como? Infinito com um começo (1) e um fim (2)? Como é possível confinar algo que não tem fim, que não pode ser medido, dentro de um espaço bem definido? É como dizer para um religioso que Deus é limitado por uma forma da qual não pode sair, da qual não pode se livrar. É como afirmar para um astrônomo que o universo acaba numa margem, que a partir dessa margem nada mais existe. Mas o nada também não é alguma coisa? É como falar para o filósofo que o tempo começa e termina em algum ponto. Depois que o tempo acaba existe o quê? Não tem sentido. Essas questões me angustiam profundamente e procuro respostas em Cantor e outros matemáticos, mas eles se esquivam, preferem teorizar sobre as propriedades das infinitudes e eu continuo a ver infinitos navios. JAIR, Floripa, 26/07/11.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Sobre o Tempo

Para o tempo o universo não é apenas a sua maior criação, é também a última, a derradeira forma material que atesta a própria existência dele, o tempo. Para o tempo, sua existência independe do universo, mas este só existe porque o tempo assim o construiu. Não há contradição, o tempo existe, e, quando criou o universo, estava apenas dando materialidade àquilo que é eterno, àquilo que permanece, que é imanente e não terá fim. Um universo que em todos os aspectos represente a perfeição está em perfeito acordo com o tempo, e se, ainda assim, não tão perfeito for, não faltará tempo para o tempo torná-lo perfeito, à sua feição, à sua perfeição até. Tudo se arranja com tempo, pois tempo não faltará para tal. Ainda que o tempo não tenha idade, a matéria nasce, vive e desaparece, depois dela só haverá o tempo, imutável e soberano fluindo para a eternidade. Quando o tempo do universo houver acabado, o tempo aqui estará, presença viva, para atestar que um dia houve um universo, cujo tempo de existência lhe foi atribuído pelo tempo, não há alternativa intemporal, ou o tempo cria e destrói, ou nada existirá, nunca existirá. Ao homem, diminuta vírgula no meio do imensurável texto do imensurável universo, foi atribuída uma única capacidade que o diferencia dos demais animais: pensar sobre o tempo. Se há angústia que bloqueia a percepção do homem em relação ao universo, é apenas não compreender o tempo, daí tenta defini-lo, tenta contá-lo ou tenta aprisioná-lo nos ponteiros de um relógio. Ó infeliz criatura do tempo, ainda não se deu conta que o onipresente tempo é muito mais poderoso que seus míseros neurônios, dádivas do tempo! JAIR, Floripa, 08/10/10.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

O Tempo constrói


Digamos que antes de tudo só existia o vácuo absoluto e o tempo, depois, por algum processo ainda desconhecido, surgiu um universo em expansão. Centenas de milhões de anos foram gastos no processo de produção dos elementos necessários para a confecção das estrelas; após a morte e a explosão de uma estrela, foi preciso mais tempo ainda para a incorporação desses elementos até formarem um planeta como a Terra, por exemplo. Só depois do Planeta formado, com as condições ideais, surgiu a vida de alguma forma ainda não conhecida. Portanto, devemos admitir que para que haja tempo para construção dos seres vivos, o universo terá que ter bilhões de anos, ou seja, terá que ter muito tempo.
Olhar para o firmamento e contemplar a abóbada com milhares de estrelas visíveis e milhões de outras imagináveis, deveria nos dar a dimensão exata de nossa pequenez; deveria nos fazer sentir o grão de poeira insignificante que somos; deveria lembrar que não somos os senhores ou controladores daquilo que vemos ou podemos imaginar; deveria nos ensinar que existe uma entidade, e somente uma, que define a existência ou não de tudo, o inescrutável tempo.
Tudo que vemos deveria inspirar não somente o exercício da humildade, mas nos obrigar a reverenciar a entidade dona absoluta do destino, o tempo. De fato, o tempo é a única entidade que permanecerá depois de nós, depois das coisas, depois do Universo, depois de tudo. Podemos deduzir que o tempo tudo construiu e a tudo suplantará, ele próprio é imune ao tempo.
A natureza é prova viva de quanto o tempo pode criar, de que ele tem um objetivo, no qual nos incluímos, somos uma criatura do tempo. Criador fecundo, o tempo assegura a existência de tudo até quando não houver mais tempo na existência dos seres e das coisas quando, então, a vida, as coisas e próprio Universo deixarão de existir, então restará apenas o vácuo absoluto e o tempo, depois, por algum processo ainda desconhecido... JAIR, Floripa, 23/06/10.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Ensaio sobre a Guerra


"Bellum omnium contra omnes"

Vejamos um conceito bem acadêmico de guerra: “Guerra é uma disputa entre nações ou estados, realizada pela força, quer para a defesa, com intuito de vingar insultos e corrigir erros, visando ampliação do comércio, objetivando aquisição de território, para a obtenção e estabelecimento de superioridade e/ou domínio de um sobre o outro, ou para finalidade inconfessável; conflito armado de poderes soberanos; declarados e hostilidades abertas”.
Qualquer que seja o motivo que resulte em guerra, a verdade é que o estado de guerra subverte a estabilidade das comunidades envolvidas no conflito, deteriora a estrutura da sociedade e traz insegurança, seja no nível individual seja para a coletividade.
O estado de guerra determina o rompimento dos valores éticos que norteiam a conduta cívica dos homens; abole os princípios religiosos que pregam o perdão e a oferta da outra face ao ofensor; detona as leis e costumes que punem aquele que mata; esgarça o tecido social de modo a torná-lo roto, sem coesão.
De maneira geral, abala não só a relação de uns com outros, mas a noção de espaço e tempo. Explico, o espaço físico se torna local de insegurança ou de refúgio de acordo com as condições reinantes. O tempo passa a ser fator de incerteza, não se sabe o que acontecerá amanhã e, em alguns casos, o vai acontecer daqui a minutos.
Entrar em estado de guerra é, na verdade, adentrar um mundo paralelo, uma zona cinzenta onde comportamentos antes reprováveis, e valores antes invioláveis, passam a ser normais os primeiros e desprezados os segundos. Quem nunca matou e tem a convicção religiosa do pecado que isso representa e a noção social de crime passível de punição, passa a ter carta branca para fazê-lo, sem maiores consequências. Matar seu semelhante deixa de ser crime para se tornar um dever ou uma missão, e não matar passa a ser traição. A lógica se inverte e a mente do indivíduo entra em choque.
O fim da proibição de assassinato (crime maior) acarreta a tolerância implícita com estupros, violações e roubos (crimes menores), dentro da concepção: Nós contra Eles. Eles são aqueles os quais se pode matar, violentar e roubar sem punição. Não importa que “Eles” sejam os amigos ou os inocentes de ontem, a propaganda se encarregou de demonizá-los, de modo que hoje são nossos inimigos. Todo estado de guerra é precedido de propaganda que estabelece quem é o inimigo, porque é inimigo e o que fazer para livrar-se dele. Não importa que a razão e a verdade sejam manipuladas, isso apenas comprova que quando o conflito começa, “a verdade é a primeira vítima”.
O medo, que antes era um conceito vago ou uma realidade apenas pressentível diante de eventos que gerassem insegurança física, emocional ou social, agora passa a ser uma entidade viva e palpável, uma presença angustiante que causa estresse e se imiscui pelos interstícios mais banais da vida diária. O medo interfere na fisiologia humana, tira o sono e o apetite, causa palpitação, contrai os músculos e diminui o metabolismo, pessoas acometidas de medo crônico, embora tendam a comer em demasia em função da ansiedade, não digerem com eficiência e emagrecem, crianças submetidas a medo constante deixam de crescer, têm diarréia, pesadelos e tornam-se irritadiças. Medo é uma espécie de desconforto existencial extremo que não tem tratamento, não tem como evitar ou lenir, e acomete a todos mentalmente sãos, só os insanos lhe estão imunes, só os alienados lhe são indiferentes.
A morte é o único evento absolutamente inevitável e que alcança a totalidade dos seres vivos, mas nós, ocidentais de cultura judaico-cristã, não temos familiaridade com ela; não consta no curso do dia-a-dia de nossas vidas quaisquer práticas, cultos ou ritos que visem enquadrá-la num entendimento racional. Temos pavor dela e tentamos ignorá-la como se não existisse, como se fôssemos viver para sempre. Claro que essa atitude pode ser explicada pelo terror que alguma coisa tão definitiva e irrefragável causa a mentes pensantes, cujo funcionamento só é possível enquanto vida houver. Contudo, o estado de guerra traz a morte para dentro e casa, por assim dizer. A morte passa a “dividir espaço” com as coisas do dia-a-dia, ela se torna presente e opressiva, não há como escapar de sua inevitável possibilidade a qualquer momento. Ela é apavorante e traz terror para a vida dos inocentes da comunidade em guerra.
Conquanto nos últimos dois mil anos a humanidade só esteve em paz nuns poucos cem anos, o estado de guerra não pode ser considerado, sob o ponto de vista social ou emocional, um estado “normal”, não é algo que os seres humanos assimilam e convivem sem traumas, o estado de guerra é uma anomalia. O homem, ao guerrear contraria seu instinto de sobrevivência, ou seja, ele mata seres de sua espécie que poderiam dar seguimento à perpetuação; que poderiam ser elos férteis na corrente genealógica do Homo sapiens; ao eliminar seus semelhantes está, de certa maneira, se auto-eliminando, eliminando a própria humanidade. Hobbes tinha razão, “Homo homini lupus” (O homem é o lobo do homem), não tenhamos dúvida. JAIR, Floripa, 21/06/10.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

IMAGINANDO O TEMPO


Imaginemos o inescrutável, o inelutável e o resoluto, estaremos imaginando o TEMPO.

Concebamos o imperturbável e o insensível, estaremos concebendo o TEMPO.
Olhemos o infinito, o imensurável e estaremos olhando o TEMPO.
Invoquemos o absoluto, estaremos invocando o TEMPO.
Admitamos a eternidade, estaremos admitindo o TEMPO.
Conjeturemos a imensidão do Universo, estaremos conjeturando o TEMPO.
Acreditemos na perenidade, estaremos acreditando no TEMPO.
Esperemos a vitaliciedade, estaremos esperando o TEMPO.
Apostemos da sapiência da natureza, estaremos apostando no TEMPO.
Aceitemos a evolução como resposta à existência da vida, estaremos aceitando o TEMPO.
Aproveitemos o presente, lembremos o passado e aguardemos o futuro, estaremos vivendo o TEMPO, porque TEMPO é vida.
JAIR, Floripa, 28/05/10.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

CONTEMPLANDO O TEMPO


A coisa mais misteriosa e esplêndida que podemos imaginar é o TEMPO. Ele é fonte e motor de toda experiência humana concebível e vai até muito além, vai onde nossa imaginação abandona a fronteira do palpável e do visível, e contempla o apenas presumível, o etéreo. Ninguém e nenhuma coisa escapam à sua inclemência e sua obtusa regularidade que a tudo limita e em tudo influi, desde a coesão íntima das partículas subatômicas até a complexa mecânica dos conglomerados galácticos. Àqueles que se recusam quedar-se extasiados à sua força propulsora que, literalmente, move montanhas; e formular sua extrema admiração por essa “entidade” ubíqua e poderosa, dela não conseguirão esquivar-se, não lhes resta senão serem, como todos os demais, tratados com a imparcialidade e insensibilidade de sua marcha constante rumo ao infinito, pois o TEMPO não discrimina, não escolhe e não redime. Estas são pessoas mortas, seus olhos e suas mentes estão fechados para aquilo que é a mais formidável e drástica demonstração de inexorabilidade; para a beleza suprema só perceptível através da mente permeável à estética transcendente, se esta existe.

Saber que ele é imperturbável e absoluto nos dá a correta medida de nossa insignificância, de nossa transitoriedade. O Universo ao TEMPO tudo deve, pois ele é a quarta dimensão da matéria, sem ele nada existiria e nada teria razão de existir. O TEMPO simplesmente é, nada lhe perturba o andamento resoluto e pertinaz elevado a potência infinita. JAIR, San Diego, 10/05/10.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

O NASCIMENTO DA CIÊNCIA

A jornada da ciência desde suas origens começou a 2500 anos, no local que se convencionou chamar de Ásia Menor. Não que outras civilizações não tenham existido antes, por milhares de anos as civilizações do Egito e da Mesopotâmia existiram e deixaram um legado de objetos e construções que perduram até hoje, apenas esses povos não se preocuparam em cogitar o que existiria além do horizonte conhecido. Quando os estudiosos decodificaram os escritos e artefatos desses povos verificaram que se tratava de listas de afazeres cotidianos, certificados de propriedades de terras e registro da vida de seus soberanos, nada que indicasse teorias científicas ou pensamento abstrato. Mesmo que admiremos a grandiosidade das pirâmides, nada sabemos sobre suas construções, a tecnologia empregada não foi preservada em escritas hieroglíficas, mas as guerras travadas e o dia-a-dia dos Faraós o foram. Já com os gregos a coisa era bem diferente. Comerciantes e navegadores, em função dos negócios eram permeáveis a ideias novas e viam o mundo de modo bastante original, concebiam um universo diferente da imagem aceita tradicionalmente. Os povos antigos não tinham capacidade de síntese mental para interpretar a natureza, então aceitavam o mundo que os cercava como o viam, até porque o ato de sobreviver lhes tomava tanto tempo que pouco lhes sobrava para cogitações abstratas. Para eles uma rocha era uma rocha, uma flor era uma flor e uma estrela era uma estrela, nada mais. A partir do século sexto antes de Cristo, diversos filósofos gregos formularam audazes especulações sobre o mundo natural. Tales supôs que a fonte original de todas as coisas fosse a água, substância da qual todos os elementos teriam surgido.


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Enquanto isso, Pitágoras e seus discípulos, manipulando os números, inventaram os fundamentos da geometria. Pitágoras via a matemática como regendo a mecânica universal. O Sol, a Lua, os planetas e as estrelas moviam-se lá no alto em esferas transparentes em perfeita sincronia. Ele também achava que a Lua brilhava porque refletia a luz do Sol. A geometria tornou-se tão importante que Platão, quando fundou a primeira universidade, colocou na entrada: “Que entrem apenas geômetras”. Ainda que Platão nos tenha legado a esdruxularia chamada Atlântida, foi o filósofo que mais insistiu no método do pensamento, na forma correta de enfrentar o problema e encontrar a solução por dedução lógica. Outra ideia grega de profundas implicações para o nascimento da ciência foi o “Atomismo”. Proposta por Leucipo, foi desenvolvida por Demócrito. Supunha que ao reduzir-se um objeto, através de cortes sucessivos, a pó, chegava-se na substância do objeto: algo irredutível que ele chamou de átomo. Embora saibamos que o átomo não é indivisível, a ideia que tudo que existe é composto por átomos persiste até nossos dias como uma certeza tão absoluta quando pode ser dois mais dois igual a quatro. O Atomismo deu azo à especulação sobre haver vida fora da Terra. Anaxágoras achava que os demais corpos celestes eram feitos das mesmas matérias que existiam na Terra, então por que não acreditar que poderia se desenvolver vida extra terrena? Demócrito foi mais longe, teorizando que na Lua existiam montanhas e vales e que a Via láctea era um aglomerado de estrelas. Aristarco, presumindo que o brilho da Lua era reflexo do Sol, usou a sombra curva da Terra durante um eclipse lunar para medir o tamanho da Lua e da Terra. É de Aristarco também a primeira teoria heliocêntrica, isto é, que o Sol é orbitado pela Terra e não o contrário. Arquimedes chegou a usar o modelo heliocêntrico de Aristarco para calcular a quantidade de matéria do Universo numa obra chamada “O contador de areia”. Claro que essas ideias radicais nem sempre eram aceitas, o mais das vezes eram vistas como ameaça a ordem social e seus formuladores tratados como subversivos. Pitágoras e seus discípulos foram perseguidos no território grego por manter um “culto” em que a matemática era um código secreto. Anaxágoras foi banido por irreverência, ao afirmar que o Sol era tão grande como a Grécia. Hipácia, a geômetra, foi esquartejada, acusada de intrigas políticas. O pensamento grego estava muito à frente de sua tecnologia. Eles não tinham, infelizmente, ferramentas para testar suas teorias e hipóteses. Entretanto, seu instinto precoce de pensar o Universo na sua complexidade e formular conjeturas a respeito de sua forma atual, como também de seu passado, foi a mola mestra que impulsionou o pensamento humano na direção da boa ciência. No frigir dos ovos, tudo que se descobriu, formulou, inventou, teorizou ou se compôs em nome da ciência, veio da semente grega que nos ensinou a pensar. JAIR, Floripa, 06/01/10.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

VIVENDO


Uma das mais aceitas definições de vida estabelece que viver é sentir o mundo a sua volta, é interagir com as coisas, pessoas, animais, fenômenos e eventos quem compõe o universo no qual estamos inseridos. Essas definições sempre envolvem a conexão do indivíduo com o ambiente através dos sentidos: visão, audição, olfato, paladar e tato, nada mais. E, claro, visto que é exatamente essa interação que nos permite agir sobre e sentir a ação do ambiente sobre nós, não há qualquer dúvida: quem sente vive e, obviamente, quem vive está sentindo. Uma pedra, por exemplo, de acordo com esse conceito, não vive, não interage com o ambiente, não atua sobre ele e não consta que um odor, uma luz ou um som façam-na reagir. Pelo menos não neste Planeta, e não num espaço temporal humanamente perceptível. Uma pedra apenas ocupa um lugar no tempo e no espaço. É normal no “nosso” ambiente, concebermos possível o mundo somente se todos os sentidos estiverem envolvidos nas percepções, ao faltar um ou mais sentidos ao indivíduo é comum sentirmos pena e o classificarmos de deficiente auditivo ou visual, por exemplo. O que deve ser constrangedor para quem sofre a discriminação e que, além disso, tem que compartilhar seu mundo “limitado” com mundo “amplo” das pessoas que o cercam. No meu entender, dispor de menos sentidos para perceber o mundo não diminui o contato, não limita o alcance ou a intensidade da percepção, muda apenas o modo de fazê-lo. Façamos um exercício de fantasia, imaginemos um mundo sem sons, sem luz, sem formas, sem variações de temperatura e sem gosto. Como é apenas produto de nossa imaginação, podemos concebê-lo dessa forma e acrescentar que os odores mais variados ainda existiriam. O vento traria do mar, das matas e dos desertos os aromas mais diversos, misturados com cheiro de gasolina, terra molhada, grama recém aparada, flores murchas, pão fresquinho, borracha aquecida, casca de árvore, ferro fundido, tinta velha, vapor de cozinha, lixo industrial, oxidação e mil outros cheiros eloquentes e expressivos. Ainda assim haveria vida, ainda assim seria um mundo de elevado interesse, mesmo porque, suprimidos os outros estímulos sensoriais, os perfumes e eflúvios se tornariam mais eminentes e importantes. Equivale dizer que a ausência de estímulos aos outros sentidos concentraria nossa atenção no olfato de forma a torná-lo extremamente exacerbado, e, desse modo, assumir o valor de todos os sentidos somados. Arrisco-me a dizer que a vida continuaria tão rica, notável e diversificada como antes e ainda digna de ser desfrutada tão intensamente e de forma tão prazerosa como se todos os sentidos estivessem envolvidos no processo. Enxergaríamos e ouviríamos tudo a nossa volta com o olfato agudo, nada deixando de usufruir da vida. O olfato nos criaria um quadro mental tridimensional de tal sorte vivo e diverso que seríamos seres vivendo uma existência perfeitamente normal. JAIR, Floripa, 25/10/09.

sábado, 24 de outubro de 2009

IMORTALIDADE


Não é estultice afirmar que o homem faz absolutamente tudo a seu alcance para chegar à imortalidade. Parece que todas as grandes indagações filosóficas, imposições religiosas com suas promessas de vida após a morte e as conquistas científicas se fazem em função apenas de conhecer até onde é possível manter a chama da existência viva. São quatro os caminhos que o homem segue para tornar-se imortal: marcando o Planeta e o curso da história através de construções como projetos arquitetônicos de monta, de obras de arte como composições musicais, livros, peças teatrais, pinturas e esculturas que tornem permanente o êthos do autor; pela observância dos ritos da religião que salvará sua alma para sempre; investindo fortemente na ciência pois acredita que de suas descobertas poderão surgir meios de conservar a matéria do qual é feito; e, de forma quase compulsória, transferindo sua herança genética para a geração seguinte, confiando que a perpetuação da espécie se traduz na sua própria imortalidade. Pelo caminho religioso as pessoas se acham confortadas por crerem que suas almas estarão salvas em algum shangrilá alhures, para onde elas migrarão depois de desencarnarem, se as regras estabelecidas tiverem sido seguidas. O conceito da vida eterna está resumido no pensamento: "Só existe uma única idéia suprema sobre a terra: o conceito da imortalidade da alma humana; todas as outras idéias profundas pelas quais os homens vivem não passam de extensão dela”. Contudo, como a matéria da qual é feito o nosso corpo é perecível, se decompõe, o homem tem esperança que viver para sempre deve ser possível, mas por outros meios. Que meios seriam esses? A criogenia parece ser a resposta para os cienticifistas juramentados, os quais acreditam que a ciência, no passo que evolui atualmente, terá todas as respostas para as mortes dentro de alguns anos. Não importa quantos anos, congelam seus corpos a temperaturas de – 190ºC na esperança de serem “ressuscitados” quando a ciência tiver encontrado a cura para as doenças que os matou. A criogenia é isso, uma espécie de aposta na loteria da imortalidade, cujo prêmio seria uma nova vida. E os demais, pessoas normais, aqueles que não acreditam e não apostam na criogenia, o que fazem? A pergunta pode parecer retórica, mas tem fundamento, porque desde que o homem surgiu no Planeta tem a mesma preocupação que o homem atual, o qual se tiver muito dinheiro, pode dispor da opção criogênica. Pois é, segundo Richard Dawkins, os genes, aquelas unidades fundamentais da hereditariedade, contém mensagens pétreas, isto é, que não podem ser apagadas, que estabelecem métodos e meios para se perpetuarem, são os “genes egoístas”. Nossos genes egoístas, numa espécie de “imperativo categórico kantiano”, nos obrigam a transmiti-los e, por tabela, nos perenizarmos através de nossos descendentes. O impulso de ter filhos está relacionado à esperança de imortalidade, ainda que vicária. A reprodução é um dos absolutos da existência humana e, com certeza, de todos os seres vivos. Deixar de reproduzir-se de maneira voluntária é contrariar o imperativo gravado a fogo nos genes, é nadar contra a corrente da imortalidade que move a evolução rumo ao “vir a ser” num futuro muito além do ciclo vital que nos envolve. A evolução é o veículo da vida que viaja através da morte até a imortalidade. JAIR, Floripa, 24/10/09.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

VERTEDOURO


Etéreo e ubíquo verte, num jorro copioso, a totalidade das criaturas sem nada ter ingerido, sem prévia deglutição do mais ínfimo átomo que seja. Cria do amálgama de pó virtual, a matéria, a luz e o pensamento. Este, o único que tenta dimensioná-lo, convertê-lo à razão, contudo, sem jamais compreendê-lo na sua plenitude, sem jamais equacioná-lo em forma de teorema ao alcance de mentes matemáticas. Pródigo na virtude de criar esbanja crueldade que, com indiferença, aplica às coisas que criou de forma a retorná-las ao pó de onde vieram; coisas que nasceram e acabam como começaram. Sabe, sem esforço de pensar, tudo, do infinitesimal ao imensurável; transcende a finitude do perceptível e se perde na amplidão onde apenas a imaginação alcança; desdenha sentimentos, idéias e a própria vida; perene, não possui início e não terá fim, existiu antes e existirá depois. É a gênese do universo e só poderá ser vislumbrado no exato microponto onde o infinito cruza com o eterno. É o TEMPO. JAIR, Floripa, 24/08/09.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A QUARTA DIMENSÃO


Ao contrário do que possa parecer, antes de ser considerado recurso literário vazio, ou expressão de efeito para ilustrar conversa pseudo científica, a quarta dimensão é uma realidade, é um fato incontestável. Imaginemos um objeto qualquer definido dentro das três dimensões clássicas, altura, largura e profundidade, mas sem duração, sem o intervalo de tempo que determine seu início e término; o mesmo se aplica a um evento também, é impossível imaginar a vida sem nascimento e sem morte no final, por exemplo. Ao se considerar um ser que não passou pela vida tempo algum, não se pode afirmar que viveu, portanto, nunca existiu. Se não começa e não termina, não existe. Tão óbvia é esta afirmação que é difícil até concebê-la. Sejam eventos ou coisas, não há possibilidade de existirem sem duração, portanto, o tempo é uma dimensão fundamental na existência de coisas ou eventos, ainda que, admissível, em tese, coisas com apenas duas dimensões como um desenho no papel, onde a profundidade não tem importância, só sendo consideradas largura e altura. Esse mesmo desenho para existir tem que ter intervalo entre o momento de sua criação até o dia em que for apagado ou destruído de outra maneira, daí podermos afirmar que a quarta dimensão, o TEMPO, é até mais importante que as outras. O TEMPO é, sem qualquer possibilidade de contestação, a quarta dimensão da totalidade das coisas, já que sem duração, sem o intervalo entre o “Big bang” e o fim dos tempos, o universo, na prática, passa a ser uma impossibilidade. JAIR, Floripa, 03/09/09.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

INEXORABILIDADE


O definhar da vida e o degradar das coisas inanimadas é a marca cabal da passagem do TEMPO que, como um mago, conduz com precisão absoluta o movimento uniforme de tudo que existe rumo ao fim insondável. Esse mesmo tempo que foi a gênese de todos os entes que povoam o universo, e que, inexorável, destrói suas criações de cuja matéria formará novas vidas e novas coisas, de átomos a estrelas. Implacável, o tempo soma as partes, diminui espaços, divide a matéria e multiplica seres. O tempo criou a matemática, a geografia e a história; o tempo é maestro invisível da graciosa dança passiva dos astros no espaço imensurável; assim como, condutor imparcial da vida terrena, desde a bactéria microscópica até a imensa baleia azul; passando pelas espécies da ordem dos primatas na qual se enquadra o pretensioso bípede humano. Permanente, cruel e radical, contempla o infinito com a intimidade e segurança de quem o criou e dele ri, como um pai satisfeito ri do filho que mal despontou na vida. Nada o intimida ou incomoda dentro da realidade a qual gerou com naturalidade de quem criou, num notável Big Bang, milhões de bilhões de coisas num piscar de estrela, ou num átimo de trilhonésimo de segundo. A emoção, a paixão, a vida e a morte não passam por ele, não pertencem ao acervo de seus adventos, nada significam, na medida em que são apenas sentimentos e eventos de entes que não tem a marca da inexorabilidade, a qual só ao tempo pertence. JAIR, Floripa, 25/08/09.

domingo, 23 de agosto de 2009

A CORNUCÓPIA DO UNIVERSO


Como um deus generoso, transborda na natureza todos os entes que criou do nada, sem preocupar-se em saber, em sentir, em ter, indiferente. Ancho, dadivoso, solene e vasto, compreende cada grão de areia do deserto e cada estrela do universo. Traz no bojo, a sabedoria do eterno e vaga insensível sem apegar-se ao material, ignorando até a simples existência das coisas; transfigura-se no zero absoluto dos seres para quem nele pensa ou tem a veleidade de tentar compreendê-lo. Nada sobra quando ele se vai, mesmo porque, nada existiria sem ele e nada faria sentido na sua ausência, se esta fosse possível. Da vida, que a ele deve sua existência, nada exige e nem se dá ao exercício de encorajá-la ou exaltá-la como se importância tivesse além de existir, apenas. Dos seres que criou não tem a menor comiseração ou ressente-se se estes o desconjuram e a ele atribuem suas desgraças e mazelas. Desloca-se reto, obtuso, obstinado, sempre para frente, em velocidade constante rumo ao absoluto, onde só ele reinará pela eternidade. Ele é a cornucópia do universo, ele é o TEMPO. JAIR, Floripa, 23/08/09.

sábado, 22 de agosto de 2009

TEMPO


Há, sem dúvida, entre a ciência e os demais saberes filosóficos ou não, um acordo tácito no qual tudo é discutível, quaisquer coisas ou princípios se encontram abertos às dúvidas e questionamentos, o próprio infinito é, em princípio, uma abstração cuja realidade virtual depende de acreditarmos na sua existência. A única e inquestionável “entidade” é o TEMPO, ao qual não se pode atribuir adjetivos e é inconjugável; sua existência independe de nós, de nossa mente, de nossa fé e até do universo; o tempo é a alma imortal de todas as coisas; o tempo é o fio condutor universal que mantém a coesão do átomo até o aglomerado galáctico. Se o tempo deixar de existir ninguém notará, porquanto não haverá ninguém para notar. JAIR, Floripa, 22/08/09.