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sexta-feira, 14 de junho de 2013

Inteligência




Desde muito tempo os cientistas estiveram convencidos que inteligência e cérebro grande tinham relação biunívoca, isto é, um está intrinsecamente ligado ao outro. Se há cérebro grande existe inteligência, se há inteligência esta está relacionada ao tamanho de cérebro. Contudo, essa relação que a muitos parecia óbvia, estava eivada de preconceitos. Como eram europeus brancos que primeiro formularam a teoria, eles naturalmente se achavam mais inteligentes que outros – negros, asiáticos e não brancos de todos os matizes – então convencionaram que seus cérebros eram grandes e suas inteligências brilhantes. Eles tinham certeza que possuíam os maiores cérebros humanos e que as mulheres jamais seriam tão inteligentes quanto os homens porque seus cérebros eram menores. Santo preconceito!
O que a ciência acabou descobrindo efetivamente é que dentro de uma mesma espécie o tamanho cérebro tem pouca importância, porque a variação da inteligência de um indivíduo a outro é muito pequena. Já entre espécies, o tamanho do cérebro pode ser significativo apenas se for medido o peso do cérebro em relação ao corpo do animal, porque, uma parte enorme de qualquer cérebro é dedicada aos detalhes cotidianos da manutenção do corpo – coisas como contrair músculos, mover os intestinos, sentir sensações na pele, eriçar pelos. Amplie o animal e teremos mais território para administrar, mais músculos para acionar, mais pele para monitorar, necessitando, desse modo, mais matéria cinzenta para meramente funcionar. O fato que um veado tem cérebro maior que um rato não significa, necessariamente, que é mais inteligente, porque seu corpo pode pesar milhares de vezes mais, sendo, portanto, mais difícil de administrar.
Diz a ciência, subtraia as partes do cérebro relativas à manutenção do portador e o que resta é a única coisa que interessa, porque os neurônios “extras” podem integrar informações do mundo exterior em abstrações – capacidade que pode ser, grosso modo, uma definição de inteligência. A partir dessa premissa, fez-se um estudo completo do peso cerebral relativo dos vertebrados e descobriu-se que peixes, anfíbios e répteis formavam uma linha crescente num gráfico, mas que aves e os mamíferos formavam uma linha bem mais elevada. Para aqueles que costumam dizer que galinhas não são inteligentes foi um balde de água fria - talvez as galinhas sejam tão inteligentes que se neguem a demonstrar isso. Em outras palavras, um mamífero pode pesar o mesmo que um réptil, mas tem um cérebro dez vezes maior.
O tamanho relativo do cérebro é um indicador seguro do grau de inteligência entre as espécies, mas para definir com certa precisão a diferença entre os mamíferos é necessário apurar melhor essa medição. A ciência reuniu dados suficientes para estabelecer qual o tamanho ideal do cérebro para certa massa corporal. Ou seja, qual o peso médio “devia” ter um cérebro de um mamífero de determinado peso. Então todo peso cerebral que excedesse o peso médio de um animal era fatorado em que porcentagem encontrava-se acima ou abaixo, e a este índice deu-se o nome de QE (quociente de encefalização). Se um animal apresentar um QE de 1, por exemplo, significa que ele tem todo aparato intelectual para levar uma vida padrão de mamífero. Se o QE for maior que 1, ele dispõe de neurônios “livres” para ser “criativo”, se e quando este termo se aplicar àquele mamífero. Não é preciso dizer que o QE humano é de 7,06, índice muitos pontos acima do mamífero em segundo lugar - surpreendentemente o boto tucuxi com QE de 4,56. Quem diria, aquele animal que, segundo uma lenda amazonense, sai da água e engravida moças ribeirinhas é um carinha prá lá de inteligente!
Mas alguns pesquisadores assinalaram que simplesmente ter um conjunto de neurônios “sobrando” não produz automaticamente inteligência. As interações do animal com seu ambiente social são tão importantes quanto um QE alto. Assim, um animal que tenha que correr todos os dias atrás de sua caça tende a ser mais inteligente que aquele animal que simplesmente espera que o alimento chegue até ele. Um sapo contemplativo que espera a mosca entrar no raio de ação de sua pegajosa língua, por certo deverá ser menos inteligente que a lagartixa que embosca insetos na parede.
Contudo devemos lembrar um importante pormenor, os parâmetros que medem a inteligência são todos humanos, ninguém parece lembrar que a “inteligência” de outros animais pode obedecer a outros critérios que nem sequer imaginamos. Então, qualquer número inteligencial que possa surgir desses raciocínios humanos pode não ter qualquer validade quando se mede a inteligência de uma formiga, por exemplo. Já que formigas podem obedecer a medidas diferentes, a escalas métricas dos Himenópteros (olhaí meus estudos de entomologia entrando em ação). Para que as cogitações humanas possam ter verossimilhança, necessário é que o homem deixe de se julgar o centro do universo e admita que cada um no seu quadrado. Ou cada bicho com seu parâmetro. JAIR, Floripa, 22/04/2013

domingo, 2 de dezembro de 2012

Yraima


A jovem cientista Yraima Moura Lopes Cordeiro é membro da Academia Brasileira de Ciências. Doutora em ciências biológicas, hoje é professora adjunta do Departamento de Fármacos da Faculdade de Farmácia da UFRJ, universidade pela qual se graduou em ciências biológicas / modalidade médica e obteve os títulos de mestre e doutora, Summa cum laude, em química biológica.
Lembrando que a ABC é uma entidade que congrega os melhores e mais expressivos cientistas do país. Em paralelo, poderíamos dizer que a ABC representa para a ciência pátria o que a ABL representa para a literatura brasileira, mas com uma importante ressalva. Enquanto a ABL reúne em sua irmandade esdrúxulas indicações políticas como José Sarney e Marco Maciel, por exemplo, e outras inexplicáveis como Arnaldo Niskier e Ivo Pitanguy, a ABC utiliza critérios estritamente técnicos, de modo que seus membros são todos laureados com, no mínimo, doutorado. Além disso, grande maioria dos velhinhos membros da ABL, se limita a tomar chá nas reuniões modorrentas das quintas feiras e se auto louvar pelas obras que produziu. Enquanto a ABC é conhecida pela atuação firme e produtiva de seus membros nas suas respectivas áreas de trabalho.
Yraima foi uma garotinha perfeitamente normal para época e lugar onde nasceu e cresceu. Nasceu no Rio de Janeiro na década de 70, exatamente dois minutos após sua irmã Naiana, a qual também é doutora, mas em outra área.
O que faz uma garota em tudo normal se tornar sumidade em alguma área? A meu ver, seus pais e o ambiente saudável que a envolveu. Heloisa e Ruy, além de pais convencionais na educação de seus rebentos, sempre foram leitores vorazes e seletivos, na casa deles nunca estiveram ausentes bons livros de todas as áreas, bem como horas regulares de leituras diárias. As gêmeas, e mais o garoto Aimberê que veio depois, tiveram como referência e “habitat” um ambiente em que livros faziam parte do mobiliário e eram lidos e manuseados com familiaridade todos os dias. Assim, quando Yraima ingressou na escola, nunca se sentiu “obrigada” a estudar, nunca achou que livros e estudos eram chaturas pelas quais tinha que passar como um sacrifício de vestal, pelo contrário, a cultura livresca fazia parte de seu DNA familiar e ela nunca teve necessidade se esforçar muito para adquirir conhecimento. Vale lembrar também que sua infância foi povoada de aventuras e seres fantásticos, como gnomos, que habitavam o sítio de seu avô nas noites de verão iluminadas de pirilampos e sonorizadas por grilos e outros terríveis bichos talvez alienígenas que comiam cérebros de crianças. Como se vê, uma infância perfeitamente saudável, que ela, a irmã e o irmão aproveitavam nadando numa piscina natural do sítio, mesmo quando a temperatura invernal desaconselhava essa prática. Aliás, Yraima é exímia nadadora desde praticamente o berço, aprendeu a nadar antes de deixar as fraldas.
As férias quase sempre incluíam dias vividos intensamente em Visconde de Mauá onde rios, cachoeiras e mata atlântica de transição se conjugam na forma de um quase santuário de natureza preservada povoada com gente que sabe respeitá-la.
Pois é, instrumentada com uma infância prenhe de fantasias, espaços e brincadeiras saudáveis; tendo pais disciplinados que davam valor ao hábito da leitura e aos estudos; boa aluna que estudou numa escola montessoriana; tendo facilidade para aprender idiomas – é fluente em várias línguas, inclusive alemão; e tendo gosto pela ciência desde muito cedo, é plausível e compreensível que hoje esteja ente os luminares que compõem o plantel da ABC.
Então, Yraima, ao contrário dos advogados deste Patropi, que ao passar nas provas da OAB passam a se auto intitular “doutores”, como se tivessem defendido alguma tese, é doutora De facto e De Jure, pois defendeu tese frente uma banca, tendo feito pesquisas para seu trabalho até em alemão na própria Alemanha.
Parabéns para essa guria que engrandece a ciência do país e que, por acaso, é minha sobrinha. JAIR, Floripa, 02/12/12. 

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Sandices vitais



O Homo sapiens desde que pisou no Planeta sentiu necessidade de encontrar explicações para as coisas, sua bisbilhotice é atávica. Sempre atento a tudo que o cerca, com imensa curiosidade que todo animal parece ter, tenta compreender como as coisas funcionam, como se originaram, qual seu lugar na ordem da natureza, que tipo de utilidade podem ter, se os fenômenos existem independentes uns dos outros ou se estão ligados de alguma maneira. Esse questionamento agudo o levou às descobertas, invenções e procedimentos que tornaram a civilização possível e o nascimento das ciências um imperativo categórico. As perguntas não respondidas conduziram às religiões e ao misticismo em caráter menos ou mais provisório dependendo da capacidade da ciência de encontrar as respostas na medida em que evolui. Mais perguntas respondidas correspondem à luz que implode o obscurantismo das superstições. Contudo, ainda que o conhecimento tenha conduzido a humanidade à senda clara de respostas que iluminam, existe uma pergunta por enquanto irrespondível: o que é a vida? Essa indagação permite conjeturas e especulações filosóficas (Cogito, ergo sum, como cogitou Descartes provavelmente com seus botões), místicas, religiosas, metafísicas e fisiológicas, e é sob essa ótica que faço minhas observações.
Afinal, qual a diferença fundamental entre um ser vivo e um aparentemente desprovido de vida ativa como uma pedra, por exemplo? Será que presença ou ausência de movimento presumem vida e não-vida? A faculdade de replicação é suficiente para definirmos quem está vivo e quem não está? Aliás, será que pedra é um ser vivo que tem o período vital tão dilatado, na ordem de bilhões de anos talvez, que nem sequer percebemos que ela está viva? As respostas, se é que existem, com toda certeza não são encontráveis ali na esquina, ou seja, a partir de simples observação das coisas que nos cercam, o que vemos é apenas constatação que existem seres de uma e de outra natureza, não como e porque eles são o que são. A diferença não reside seguramente nos átomos que os constituem.
Não existe qualquer diferença entre os átomos de carbono de nossos corpos e os da ponta do lápis com o qual escrevemos, ou os do diamante que vemos na joalheria; ou entre o ferro que existe em nossas células e o ferro da panela na qual cozinhamos; ou entre o oxigênio de nosso organismo e o da água que nos banhamos, e assim por diante, em qualquer relação com o material de seres vivos e não vivos. Os blocos constituintes básicos – como tijolos de uma construção - de todos os agregados materiais, tanto vivos como não, pensantes ou não, replicantes ou não, são exatamente os mesmos: átomos. Então não é por aí, não existem átomos vivos e átomos inanimados. O que será então que provoca a diferença? A eureca parece ser as combinações entre os átomos: moléculas de arranjos extremamente mais complexos entre os seres vivos e de complexidade menos acentuada entre os não vivos. Só que essa suposição não se sustenta, falta algo: Um rato vivo e um morto tem as mesmas combinações atômicas e moleculares e, no entanto, não são a mesma coisa, a um deles falta vida. Então, como ficamos? Ficamos a ver a navios, para usar uma frase surrada na falta de outra melhor.
Na verdade, essa falha fundamental da ciência, essa fenda indiscreta na couraça do monstro científico, é o rasgo por onde entram as “explicações” dos fundamentalistas religiosos, vale dizer, dos criacionistas. Funciona mais ou menos assim: “Viu como vocês não conseguem explicar? Então nós o faremos: tudo foi criado por uma força superior que sempre existiu e existirá”. Eles admitem que um ser superior soprou num andróide de barro e este criou vida, assim, a vida seria algo fora do alcance da ciência e da compreensão humana. E ainda afirmam que a mulher foi confeccionada a partir da costela do primeiro homem. Não dá pra ser mais néscia essa conclusão. Empurrar com a barriga quando não se sabe a resposta é uma característica de ignorantes que se conformam com suas ignorâncias. Assim, as superstições continuam prosperando em pleno século vinte e um, o que é lamentável. A estupidez de encontrar uma explicação para a criação de vida humana e deixar os outros animais de lado, já é motivo suficiente para mostrar os becos sem saída que os criacionistas inventam.
Já alguns cientistas (apenas alguns, porque a maioria não quer arriscar sua carreira num assunto tão sem definição) acham que conhecem o processo de criação da vida. Chutam que a vida surgiu a partir de um grau de organização da matéria primordial que existia. Conjeturam que processos fortuitos, mas inevitáveis, teriam criado uma espécie de “sopa primeva” que os cientistas crêem ter constituído os oceanos cerca de 3,7 bilhões de anos atrás. As substâncias orgânicas concentravam-se localmente, talvez em gotículas em suspensão, ou espuma que secava nas margens dos mares. Sob a influência da energia dos raios ultravioleta do sol, combinavam-se em moléculas maiores e mais complexas. Pode-se perguntar por que isso não ocorre hoje. Moléculas assim seriam rapidamente absorvidas, degradadas ou devoradas por bactérias e outros seres vivos. Entes que só apareceram tardiamente no planeta. Naqueles tempos as grandes moléculas orgânicas podiam boiar livremente no caldo cada vez mais denso sem serem molestadas. Num dado momento formou-se por acidente, uma molécula notável, uma molécula que podia replicar-se, estava criada a vida. Sandices, essas suposições são baseadas em muitos “ses”: se isto, se aquilo.
Pois é, acredito que absolutamente ninguém racional neste planetinha azul, pode jactar-se de saber a definição definitiva do que é vida sob o ponto de vista fisiológico. Tampouco se pode afirmar que a ciência já tenha desvendado parte desse mistério, que já tenha algum “caminho andado” na direção de onde se encontra as tábuas da verdade sobre a vida. Os avanços das ciências biológicas, cada vez mais, acrescentam palavreado técnico cheio de firulas, mais com intuito de mostrar serviço, mas que confundem mais do que esclarecem sobre o que se sabe a respeito do que é vida e como ela se originou. O mistério continua até o próximo capítulo. JAIR, Floripa, 12/02/12.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Sobre sentidos



O antropocentrismo que rege a conduta, os julgamentos e as opiniões do Homo sapiens em relação ao mundo que o cerca, sem qualquer surpresa, o coloca no alto do pódio e os demais seres a seus pés. Assim, considerando apenas os três reinos elementares, e começando pela base, os reinos da natureza seriam, em ordem de importância, organização e complexidade: mineral, vegetal e animal. Ainda mais, dentro do reino animal existiriam “classes” inferiores por sua simplicidade organizacional, e outras em níveis mais elevados. Bactérias, amebas e vírus estariam na base do mundo dos vivos, os vertebrados compreenderiam os níveis mais elevados, sendo que dentre estes, os mamíferos estariam no segmento superior e o homem ocuparia o lugar mais alto. O homem seria o ápice da criação, criado à imagem e semelhança do Criador.
Dentro da lógica antropocêntrica, ao homem são atribuídos os mais nobres sentimentos e os mais perfeitos sentidos os quais o tornam o único ser antenado com o mundo do qual faz parte, único ser capaz de reagir aos estímulos ambientais. Ninguém ou coisa alguma pode rivalizar com suas percepções, até o sentimento de dor física é negado aos demais animais, muitos cientistas não admitem que cães, ratos e outros bichos inocentes usados em experiências terríveis em laboratórios sofrem com as vivisseções e mutilações a que são submetidos.
Negar sentimentos a outros animais é algo sem sentido, ainda que nem todo mundo que concorda com isso - mas sim a grande maioria dos homens - não tem dúvidas que plantas não possuem qualquer sensibilidade: não sentem dor, não reagem a sons e ao câmbio de ambientes. Uma das poucas exceções, o livro “A vida secreta das plantas” de Peter Tompkins e Christopher Bird, tenta provar o contrário. Trata-se de um relato minucioso das relações físicas, emocionais e espirituais entre as plantas e os diversos ambientes. Os autores demonstram como as plantas, supostamente, são seres sensíveis. Segundo eles, estas memorizam experiências de prazer e dor, sentem afeto e medo e são capazes de comunicar-se com os homens. Parece que essas colocações são um salto muito ousado de “cientistas” que querem somente aparecer sob as luzes do estrelato, mas experimentos com plantas deixam margem a reflexões interessantes.
O botânico americano Cleve Backster, teve uma experiência inusitada com um vegetal, que pode servir para ilustrar o que os autores do livro afirmam. Cleve estava tentado usar um polígrafo – o conhecido detector de mentiras – para determinar o tempo de insuflamento na seiva de um rododentro depois de regá-lo. Colocou os eletrodos do aparelho numa das folhas da planta e o pôs em funcionamento. No momento que se preparava para regá-lo, feriu a mão num beirada do regador. Interrompeu o que estava fazendo e resolveu fazer um curativo no ferimento antes de prosseguir com o teste.
Por acaso, olhou para o visor do polígrafo e se surpreendeu com o que viu. A agulha do aparelho parecia ter detectado um abalo sísmico, movia-se febrilmente sobre o papel de marcação. Assim, sem que tivesse havido qualquer contato entre a mão ferida e a planta, esta estava “sentindo” que algo estava errado. O ferimento havia sido detectado pela planta e o polígrafo estava registrando o “sentimento” dela.
Naturalmente esse evento que está longe de ser o único, gerou uma enorme especulação por parte daqueles que acreditam na sensibilidade fitológica. Para eles, o evento comprovou que o reino vegetal pode demonstrar emotividade. A priori, quem poderia supor a existência de tal fenômeno? Seriam então verdadeiras as estórias que uma azaléia cresceria melhor e mais saudável num ambiente harmonioso do que em um onde há discórdia e brigas? As plantas ficam “alegres” com música suave e demonstram-se melancólicas com ritmos agressivos? E os conselhos de horticultores para que suas plantas cresçam bem: “façam com que elas ouçam música clássica”, não seriam brincadeira? Essas suposições parecem colocar em dúvida o fundamento das classificações do mundo natural. Alguns “cientistas” tentaram dar explicações diante dos resultados de experiência semelhantes à de Cleve. Eis uma delas: os sentidos dos seres humanos não seriam senão um aperfeiçoamento em graus variáveis de um sentido universal onipresente no mundo dos vivos, existindo, ainda que de modo embrionário e genérico, também nas plantas.
Independente do enfoque que se dê ao evento, este é certamente muito interessante. Graças ao polígrafo foi possível registrar as reações dos vegetais em diversas situações bem definidas e, mesmo que o mecanismo desse fenômeno permaneça obscuro, despertou grande interesse em prosseguir os estudos para se chegar a alguma explicação. Por exemplo, a folha de uma planta é perfeitamente insensível a uma imersão em água, mas manifesta uma reação inexplicável quando se aproxima dela a chama de um isqueiro. E essa reação parece indicar que planta se sente ameaçada pela chama.
Num avanço no sentido de desvendar o mistério, a Universidade McGill, de Montreal, Canadá, passou a fazer experimentos psíquicos para intervir no desenvolvimento dos vegetais, seja pela imposição de uma sugestão de crescimento acelerado ou muito lento. Plantas de cevada assim tratadas, apresentam desenvolvimento diferente dos exemplares de controle, sugerindo, dessa forma, que há alguma reação ao tratamento. A prática empregada lembra a hipnose.
Diante dessas demonstrações sugerindo a existência de coisas que ainda não entendemos por trás do comportamento dos vegetais, mesmo porque plantas não possuem sistemas nervosos e muito menos cérebros, é o caso de deixar o ceticismo de lado e se aprofundar nas pesquisas para comprovar ou refutar em definitivo a suposta sensitividade botânica. JAIR, Floripa, 24/08/11.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Sobre ciência



Os cientistas formam uma elite diminuta, uma minoria diferenciada, talvez a média de apenas um cientista para cada vinte mil habitantes do Planeta. As idéias, atos e opiniões de um grupo tão pequeno só têm importância devido ao impacto que causam na sociedade em geral. Obviamente, a resposta da sociedade é indispensável para a ciência, uma vez que esta depende da compreensão daquela para que haja dinheiro para custear suas pesquisas e estudos, além do que, o resultado prático das descobertas e invenções resulta sempre em proveito das pessoas comuns. É claro que a ciência só pode continuar a e existir e atuar nos tempos atuais se for aceita por vastos grupos da população. Acabou o tempo que o cientista era aquele abnegado sacerdote do saber que, às suas próprias expensas, empreendia trabalho heróico e muitas vezes não reconhecido, que levava a descobertas e invenções que acabavam vindos em benefício da mesma sociedade que o ignorava.
Contudo, o ponto crucial dessa relação entre o sábio e as pessoas comuns, reside na confiança, sim, o ser humano médio tem que acreditar e aceitar que o homem de ciência é o único ser dotado das características especiais que o tornam passível de deslindar os mistérios do mundo que nos cerca e de equacionar os problemas de modo a torná-los inteligíveis às pessoas comuns.
Mas, tal aceitação está sendo conquistada gradualmente, ao longo dos séculos em batalhas estéreis e desanimadoras. Contudo, a vitória ainda não está completa nem necessariamente é final, bolsões de opiniões anticientíficas ainda persistem e são influentes em pleno século vinte e um. Por exemplo, a medicina alopática – científica, portanto – é rejeitada por parte do público de países ocidentais que professam a tal de Ciência Cristã, o que quer que isso seja; os fundamentalismos cristãos e muçulmanos contestam a geologia e a evolução, acreditam no criacionismo e descrêem nas evidências geológicas que provam a origem antiga da vida no Planeta; as religiões místicas habitam uma fronteira entre ciência e superstição; a astrologia desfruta de tanto prestígio que é difícil de entender o porquê. Esses bolsões que se espraiam pela população são um desafio constante para a ciência. Não é impossível que algum deles venha emergir num futuro não discernível, com elementos de verdade, por enquanto inacessíveis à ciência, pois, como sabemos, a ciência é dinâmica, evolui sempre e não se furta em admitir novas ideias e proposições e aceitá-las como fatos depois de provadas. De qualquer forma, esses movimentos anticientíficos representam no presente um obstáculo para a aceitação espontânea da boa ciência. Mas, o crescimento desta desde o século dezoito até o momento, e a aceitação cada vez mais ampla de suas descobertas, permanece como seu maior trunfo com relação às “crenças” infundadas.Não é estultice supor que no futuro, mais e mais a ciência irá se impondo e deixando menos espaço para a superstição e o misticismo que se arvoram em explicadores de fenômenos os quais não compreendem ao invés de se aterem apenas ao seu departamento: a fé. JAIR, Floripa, 05/08/11.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Sir Isaac Newton



Como exemplo de ciência pura nada melhor que a mecânica celeste, o grande modelo de ciência através do tempo. A história começa com Copérnico em 1543 que, no seu leito de morte, desvendou para o mundo a primeira cópia de seu longo trabalho De Revolutionibus. Os movimentos aparentes dos corpos celestes tinham sido observados e mapeados por milhares de anos antes, como padrões de esferas transparentes dentro de esferas transparentes, de ciclos e epiciclos para justificar uma teoria que colocava a Terra no centro do universo. Copérnico havia demonstrado que a maior parte da confusão se devia a posição equivocada da qual os eventos celestes eram observados. Ele colocou o Sol na posição central com os seis planetas, então conhecidos, em torno dele em órbitas circulares. A figura resultante era mais simples e convincente.
O polonês Copérnico foi sucedido pelo alemão Kepler, o qual encampou o sistema de Copérnico, mas quebrou o molde de ciclos e epiciclos que haviam sobrevivido da teoria do polaco. Kepler refutou as antigas harmonias e colocou em seu lugar as leis que levam seu nome. O mais importante que resultou das leis de Kepler: Os planetas, disse ele, se movimentam em órbitas elípticas, tendo o Sol em de seus focos, de tal forma que linha traçada do centro do planeta ao centro do Sol recobre áreas iguais em tempos iguais. Afirmando, dessa maneira, que os planetas se movimentam mais rápidos quando estão próximos do Sol e mais lentos quando distantes. As leis de Kepler prenunciavam as descobertas de Newton. Mas, antes de Newton, ainda temos o passo gigantesco dado por Galileu. Ele fez experiências com corpos em queda livre e descobriu que objetos com pesos diferentes caíam com a mesma velocidade. A trajetória das balas de canhão e a queda dos corpos também foram estudadas por Galileu. Ele demonstrou que a curva descrita pelos projéteis é um arco de parábola e que os corpos caem em movimento uniformemente acelerado. Segundo as biografias romanceadas do cientista, ele teria realizado um experimento que desmoralizou definitivamente a “física” aristotélica. Subindo ao alto da torre de Pisa, deixou cair, no mesmo instante, dois corpos esféricos de volumes e massas diferentes: uma bala de mosquete e outra de canhão. Contra as expectativas dos acadêmicos aristotélicos, que apostavam na vitória da bala de canhão e na derrota do cientista, os corpos chegaram rigorosamente juntos ao chão. Ele foi o primeiro a formular o resultado de suas experiências em termos matemáticos. Galileu e Kepler se correspondiam e trocavam figurinhas, porém jamais conjeturaram que as leis que tinham descoberto eram oriundas do mesmo fenômeno. Ambos já haviam falecido há muitos anos quando Newton descobriu essa relação.
Um século já havia passado da morte de Copérnico quando Newton nasceu, e quase meio século depois ele publicou seu Principia. O livro colocou, pela primeira vez, toda mecânica celeste sob uma lei matemática. Da queda de uma maçã na Terra ele derivou as revoluções da lua e relacionou com todas as leis que Kepler havia estabelecido para os demais corpos celestes. Tal descoberta completou o progresso intelectual começado por Copérnico há 150 anos. Newton reconheceu que devia suas descobertas aos cientistas que o precederam e, para homenageá-los, cunhou a sentença: "Se vi mais longe foi por estar de pé sobre ombros de gigantes".
A visão medieval do Universo era de um lugar com amplitude suficiente para acomodar a Terra com uma cúpula de estrelas servindo como tampa a uma distância conveniente. Essa confortável posição para a Terra agora estava ruindo. A Terra tinha sido arrancada do centro das coisas e relegada a uma posição periférica desimportante. A Terra, reduzida a uma partícula giratória ente milhões de outros corpos, mergulhou numa insignificância depressiva. Ao mesmo tempo, aquilo que circundava o homem ficou subordinado às mesmas leis que regiam o Universo. Não mais havia acaso, leis matemáticas governavam os fenômenos da vida, desde o cosmo até o interior dos átomos. Fácil perceber que o antropocentrismo também havia ruído como um castelo de cartas.
Foi assim que Sir Isaac Newton transformou radicalmente a perspectiva do Homo sapiens, e as pessoas sentiram, com certo exagero é claro, que a ciência havia elucidado os mistérios do Universo. Quando Newton faleceu muitas homenagens foram-lhe prestadas e recebeu a suprema honra de ser sepultado em Westminster com presença e reverência de grandes figuras do império onde o Sol nunca se punha. A Universidade de Cambridge erigiu uma estátua do cientista com a inscrição “Newton qui ingenio humanam gentem superavit” (“Newton aquele que mentalmente ultrapassou a humanidade”).
Bem além das fronteiras da ciência, a descoberta de Newton determinou o método em todos os campos de pensamento. Ainda mais, a rigorosa avaliação científica das leis de Newton progredia velozmente. Durante os cem anos que se seguiram à sua morte, os maiores matemáticos da época se engajaram no aprofundamento de suas leis. D’Alembert, Lagrange, Laplace e Hamilton, cada um por seu lado, revelou a profundidade e a elegância dessas leis.
E não foi tudo, quase ao mesmo tempo, uma outra grande transformação na mecânica teve origem na nova concepção de Einstein sobre tempo e espaço. As leis de Newton sobre gravidade e movimento foram combinadas num arranjo que veio incluir também as leis de forças elétricas descobertas anteriormente por Maxwell. Conclusões com riquezas de detalhes tem sido, deste então, tiradas da nova mecânica que, tudo indica, irá prosseguir moldando nossa visão de Universo cada vez mais. Newton construiu alicerces sólidos sobre os quais os cientistas que vieram a seguir podem construir um edifício consistente e durável.
Concluindo, a civilização como a conhecemos é fruto das descobertas, invenções, adaptações e conhecimentos do passado. Nada do que existe no presente está desvinculado das conquistas do tempo pretérito, nossa realidade está atrelada indissoluvelmente ao que o homem construiu ou desenvolveu na marcha de conquista do Planeta nos primórdios. Sob esse aspecto, Newton construiu nosso presente. JAIR, Floripa, 05/08/11.

terça-feira, 29 de março de 2011

A Biosfera


Para alcançar o nível de equilíbrio dinâmico no qual se encontra o Planeta hoje, foi preciso milhões de anos para que este se configurasse e pudesse oferecer condições para o desenvolvimento da vida. Estima-se que a vida na Terra surgiu a 3,5 bilhões de anos.

Em retrospectiva, dá para descrever os eventos que marcaram a formação do Planeta e de seus habitantes, os seres vivos. Consolidação da Terra a partir de restos de estrelas há aproximadamente 4,5 bilhões de anos, nesse período o planeta era extremamente quente equivalente a uma imensa bola de fogo e, claro, não abrigava forma alguma de vida. Passados milhões de anos a Terra entrou em um processo de resfriamento gradativo que originou uma fina camada de rocha em toda a superfície. Com as mudanças ocorridas na temperatura do planeta, que foi se resfriando, foi expelida do interior do Planeta uma imensa quantidade de gases e vapor de água. Esse processo fez com que os gases formassem a atmosfera e o vapor de água favoreceu o surgimento das primeiras precipitações, um longo tempo de chuva – milhões anos, na verdade - ocasionaram a formação dos oceanos primitivos.

A constituição dos oceanos foi fundamental para o surgimento da vida no Globo, pois esta, por tudo que se sabe, apareceu no meio aquático. Infere-se que surgiram primeiramente bactérias e algas monocelulares, isso há cerca de 3,5 bilhões de anos. Essas primeiras formas de vida foram precursoras que criaram condições para o surgimento de outros seres. Surgiram então, os invertebrados multicelulares dentre eles medusas, em seguida trilobites, caracóis e estrela-do-mar, além disso, desenvolveram plantas tais como as algas verdes, todos os seres vivos desse momento habitavam ambientes marinhos.

Os animais terrestres tiveram sua origem a partir do momento que algumas espécies de peixes saíram da água dando origem aos anfíbios e posteriormente aos répteis, aves e mamíferos. Há aproximadamente quatro milhões de anos surgiram os ancestrais dos seres humanos. Esse mesmo homem que hoje domina o Planeta cuidou de desenvolver as teorias que explicam a complexidade da vida inserida no ambiente que lhe é favorável. A esse ambiente que compreende desde o fundo dos oceanos até alguns quilômetros acima da superfície da Terra, ambiente que abriga a totalidade dos seres vivos, o homem denominou Biosfera.

Em 1980 ao custo de US $ 150 milhões desembolsado pelo magnata do petróleo do Texas, Edward Bass, foi iniciada a construção da Biosfera II, concebida como uma réplica hermética do ambiente da Terra (Biosfera I). São 72 milhões de pés cúbicos de ar aprisionados em uma estrutura geodésica a qual contém cinco biomas, abrangendo um “oceano” com 3,4 milhões de litros, uma floresta tropical, um deserto, áreas agrícolas e um habitat humano, isso tudo incluindo plantas, animais e variados seres que normalmente habitam esses ambientes, como as bactérias, fungos e outros microorganismos.

A idéia foi sugerida pelos primeiros designers e gestores interessados em viagens espaciais e na possibilidade de colonizar a Lua ou Marte. Ao construir a Biosfera II e isolarem pessoas no interior, esperavam entender os problemas que surgem da vida em um sistema fechado. Foi assim que em 1991, um grupo de oito pessoas, voluntárias de várias partes do Planeta, se dispuseram a viver dentro daquela “Terra” por dois anos.

As pessoas que foram selecionadas para serem biosferianos e viver dentro da Biosfera II, durante dois anos de encerramento vieram de sete países diferentes. Todos com habilidades diferentes, as quais, segundo se supunha, seriam complementares de tal forma que somadas permitiriam a sobrevivência do grupo sem recursos externos. Fora isso, vários anos de treinamento os tornaram proficientes em seus próprios campos, bem como teriam adquirido conhecimentos sobre as habilidades dos outros.

A primeira “colônia” de biosferianos (4 mulheres e 4 homens) entrou Biosfera II em 26 de setembro de 1991. Os membros da tripulação permaneceram lá dentro dois anos, apesar de vários problemas, incluindo produtividade agrícola limitada, acúmulo de dióxido de carbono e proliferação de formigas. Sua permanência encerrou-se em 26 de setembro de 1993. Depois de um período de transição de um mês, um segundo grupo de sete biosferianos (5 homens e 2 mulheres) entrou na estrutura geodésica. Infelizmente, após uma série de problemas sociais e físicos desenvolvidos, o projeto logo sofreu o desdém científico e ridicularização pública de gente sem noção antes que os experimentos fossem suspensos em 1994. Desde então, não há grupos residentes que vivam no interior da Biosfera II, e nenhum ser humano deverá habitá-la num futuro planejado.

O que se depreende desse experimento, fora os ganhos decorrentes das descobertas em virtude do confinamento de seres humanos, é que deu certo apesar das opiniões azedas de muitos cientistas e da mídia afirmarem o contrário. Deu certo, não somente porque os voluntários tenham sobrevivido durante dois anos; não somente porque hoje o projeto desativado deu lugar a um campo experimental de genética e lugar de cursos e conferências sobre novos ramos da ciência. Deu certo porque mostrou aos homens que não é só reproduzir as condições ambientais do planeta que, imediatamente, tudo passa a funcionar como a natureza o faz. Deu certo porque a ciência descobriu que apesar de todas as coisas estarem nos seus lugares, havia um fator que foi negligenciado e era basilar, compulsório mesmo, para se reproduzir as condições exatas do Planeta. Esse fator se chama TEMPO. A Terra levou bilhões de anos para atingir o equilíbrio que conhecemos, e não será em meros dois anos que vamos criar um ambiente que terá condições de suportar vida humana com o mínimo necessário para sustentar um organismo tão complexo e suas não menos complexas interações como o meio que o cerca. Talvez não sejamos o organismo mais requintado do Planeta, mas a natureza só permitiu que surgíssemos depois que a evolução tivesse atingido um nível no qual pudéssemos viver sem necessidades maiores que aquelas disponíveis no Planeta. Como exercício mental, arrisco dizer que se o experimento fosse conduzido sem tempo determinado para seu término, dentro de alguns milhares de anos talvez, aí sim teríamos uma Biosfera II perfeitamente equilibrada abrigando alguma variedade humana e de outros seres que evoluíram naquelas condições. Ilhas isoladas como Galápagos e Austrália provam que se houver tempo suficiente, espécies novas podem se desenvolver. Como sempre, o apressadinho Homo sapiens não previu essa possibilidade e tentou queimar etapas, e a caríssima e promissora experiência que se propunha a provar certas teorias acabou indo, como a proverbial vaca, para o brejo. JAIR, Floripa, 28/02/11.

domingo, 24 de outubro de 2010

Sobre a vida



A maravilhosa ciência substituiu a ignorância e a superstição e, ao longo dos séculos, através de métodos e movida pela curiosidade, conseguiu encontrar respostas para a maioria das perguntas que inquietavam o Homo sapiens na sua marcha rumo à civilização. Quase tudo, a seu tempo, foi, aos poucos, sendo equacionado, medido, pesado, calculado, observado, descoberto, inventado, descrito, formulado e adicionado ao modus vivendi do homem nas suas lidas diárias neste planetinha azul. Assim, a biologia, a astronomia, a física, a química, a medicina, a metalurgia e tantas outras matérias se incorporaram à sociedade de tal forma que o homo moderno nem se dá conta do quantum de tecnologia que o cerca.

A história e o progresso tudo devem à ciência e a suas respostas, contudo, no meio das indagações humanas existe uma área na qual a ciência continua exatamente como há milhares de anos, quando o homem adquiriu consciência de si próprio e percebeu que havia a seu redor coisas animadas e inanimadas, ou seja, percebeu a existência da vida. Decorrente da percepção da vida, a pergunta, não apenas retórica ou filosófica que ele se fazia era: O que é vida? Pois é, de lá para cá, mesmo depois de a ciência ter percorrido o caminho que levou os primeiros humanos à Lua; de ter descoberto e domesticado a energia atômica; de ter conquistado os ambientes mais inóspitos do Planeta; de ter desenvolvido a eletrônica de modo espantoso; e de ter prolongado a vida dos humanos a níveis impensáveis há um século, a resposta para o que é vida biológica continua não existindo tal como quando foi formulada.

Afinal, qual a diferença fundamental entre um ser vivo e um inanimado? A resposta com toda certeza não é encontrável a partir de simples observação das coisas que nos cercam, o que vemos é apenas constatação que existem seres de uma e de outra natureza, não como e porque eles são o que são. A diferença não reside seguramente nos átomos que os constituem. Não existe qualquer diferença entre os átomos de carbono de nossos corpos e os da ponta do lápis com o qual escrevemos, ou os do diamante que vemos na joalheria; ou entre o ferro que contemos e o da panela na qual cozinhamos; ou entre o oxigênio de nosso corpo e o da água que nos banhamos, e assim por diante, em qualquer relação com o material de seres vivos e não vivos. Os blocos constituintes básicos de todos os agregados materiais, tanto vivos como não, pensantes ou não, são exatamente os mesmos: átomos. Então não é por aí, não existem átomos vivos e átomos inanimados. O que será então que provoca a diferença? A resposta parece ser as combinações entre os átomos, moléculas de arranjos extremamente mais complexos entre uns e outros. Só que essa suposição não se sustenta: Um pássaro vivo e um morto têm as mesmas combinações atômicas e moleculares e, no entanto, não são a mesma coisa, a um deles falta vida.

A superstição primitiva que apaziguou a angústia humana quando não havia respostas, criou a suposição que havia uma força invisível, presente, perturbadora e inexplicável a qual passou a ser chamada de Shiva, Deus, Tupã, Rá, Zeus, Adonai, Alá ou de “nove bilhões de nomes diferentes” (Arthur C. Clarke), que criara a vida para a qual não havia explicação científica. Assim, na medida em que as chaves da ciência iam abrindo as portas do conhecimento que ilumina, as trevas da origem da vida continuaram refratárias a quaisquer fontes de luzes. E as religiões somente consolam o coração, jamais satisfazem a mente, desdenham de fatos e provas que não coincidam com seus dogmas. E a ciência, apesar do empenho, ao invés de respostas, encontrou apenas um muro instransponível cuja solidez aumentou a crise existencial do homem. É legítimo supor que se a humanidade estiver habitando o Planeta daqui a milhares de anos, ainda estará buscando, buscar a resposta vai se tornar a última fronteira para a ciência, se essa fronteira será ultrapassada não cabe especular, o futuro pertence ao tempo e este dispõe de todo o tempo concebível e até inimaginável. JAIR, Floripa, 24/10/10.