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quarta-feira, 19 de maio de 2010

O sol é dominante, como uma tocha lá no alto!

O sol é dominante, como uma tocha lá no alto
Os jatos cruzam ao seu lado
e os foguetes saltam feitos sapos
A paz não é mais preciosa
A loucura circula como lírios em volta da lagoa...

Os artistas pintam suas cores
vermelhas, verdes e amarelas
Os poetas rimam sua solidão
Os músicos morrem de fome
Os escritores erram o alvo
Mas não os pelicanos, não as gaivotas
Os pelicanos mergulhas
Sobem, arrepeiados, quase mortos
Com peixes radiativos em seus bicos
O céu se acende de vermelho
As flores desabocham como sempre
mas cobertas de uma fina poeira de combústivel e cogumelos
Cogumelos envenenados


E em milhões de alcovas, os amantes se entrelaçam
Perdidos e doentes como a paz
Não podemos acordadar?
Temos de continuar, amigos
A morrer enquanto dormimos?

Texto: Charles Bukowski
Imagem: Fotos do escritor Charles Bukowski

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Sempre em frente!


Se vai tentar, siga em frente.
Se não, nem comece.
Isso pode significar perder namoradas, esposas, família, trabalho.
E talvez a cabeça.
Pode significar ficar sem comer por três dias...
Pode significar congelar no banco de um parque.
Pode significar cadeia.
Pode significar caçoadas e desolação.
A desolação é o presente.
O resto é uma prova de vossa paciência.
Do quanto realmente quis fazer.
E farei, apesar do menosprezo.
E será melhor do que qualquer coisa que possa imaginar.
Se for tentar, vá em frente.
Não há outro sentimento como esse.
Ficará sozinho com os deuses.
E as noites serão quentes.
Levará a vida com um sorriso perfeito.
É a única luta que vale a pena.

Poema de Charles Bukowski

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Entranhas...coração...

Eu era um jovem, passando fome, bebendo e tentando ser escritor. Fazia a maior parte das minhas leituras na Biblioteca Pública de Los Angeles, no centro da cidade, e nada do que eu lia tinha a ver comigo ou com as ruas ou com as pessoas que me cercavam. Parecia que todo mundo estava fazendo jogos de palavras, que aqueles que não diziam quase nada eram considerados excelentes escritores. O que escreviam era uma mistura de sutileza, técnica e forma, e era lido, ensinado, ingerido e passado adiante. Era uma tramóia confortável, uma Cultura-de-Palavra muito elegante e cuidadosa. Era preciso voltar aos escritores russos pré-Revolução para se encontrar alguma aventura, alguma paixão. Havia exceções, mas estas exceções eram tão poucas que a leitura delas era feita rapidamente, e você ficava a olhar para fileiras e fileiras de livros extremamente chatos com séculos para se recorrer, com todas as suas vantagens, os modernos não chegavam a ser muito bons. Eu tirava livro após livro das estantes. Por que ninguém dizia algo? Por que ninguém gritava? Tentei outras salas na biblioteca. A seção de religião era apenas um vasto pantanal... para mim. Entrei na de filosofia. Encontrei alguns alemães amargos que me animaram por algum tempo, depois passou. Tentei matemática, mas a alta matemática era exatamente como a religião: me escapava. O que eu precisava parecia estar ausente por toda a parte. Tentei geologia e a achei curiosa mas, no fim, não sustentável. Encontrei alguns livros sobre cirurgia e gostei deles: as palavras eram novas e as ilustrações maravilhosas. Apreciei e memorizei particularmente a operação do cólon. Então larguei a cirurgia e voltei à grande sala dos escritores de romances e de contos (quando havia suficiente vinho barato para beber
eu nunca ia à biblioteca). Uma biblioteca era um bom lugar para se estar quando você não tinha nada para comer ou beber e a senhoria estava à procura de você e do aluguel atrasado. Na biblioteca, pelo menos, você podia usar os 4 toaletes. Eu via um bom número de outros vagabundos ali, a maioria dormindo sobre os livros. Eu continuava dando voltas na grande sala, tirando livros das estantes, lendo algumas linhas, algumas páginas, e depois os colocando de volta. Então, um dia, puxei um livro e o abri, e lá estava. Fiquei parado de
pé por um momento, lendo. Como um homem que encontrara ouro no lixão da cidade, levei o livro para uma mesa. As linhas rolavam facilmente através da página, havia um fluxo. Cada linha tinha sua própria energia e
era seguida por outra como ela. A própria substância de cada linha dava uma forma à página, uma sensação de algo entalhado ali. E aqui, finalmente, estava um homem que não tinha medo da emoção. O humor e
a dor entrelaçados a uma soberba simplicidade. O começo daquele livro foi um milagre arrebatador e enorme para mim. Eu tinha um cartão da biblioteca. Tomei o livro emprestado, levei-o ao meu quarto, subi à minha cama e o li, e sabia, muito antes de terminar, que aqui estava um homem que havia desenvolvido uma maneira peculiar de escrever. O livro era Pergunte ao pó e o autor era John Fante. Ele se tornaria uma influência no meu modo de escrever para a vida toda. Terminei Pergunte ao pó e procurei outros livros de Fante na
biblioteca. Encontrei dois: Dago Red e Espere a primavera, Bandini. Eram da mesma ordem, escritos das entranhas e do coração. Sim, Fante causou um importante efeito sobre mim. Não muito depois de ler esses livros, comecei a viver com uma mulher. Era uma bêbada pior do que eu e tínhamos discussões violentas, e
freqüentemente eu berrava para ela: "Não me chame de filho da puta! Eu sou Bandini, Arturo Bandini!"
Fante foi meu deus e eu sabia que os deuses deviam ser deixados em paz, a gente não batia nas suas portas. No entanto, eu gostava de adivinhar onde ele teria morado em Angel's Flight e achava possível que
ainda morasse lá. Quase todo dia eu passava por lá e pensava: é esta a janela pela qual Camilla se arrastou? E é aquela a porta do hotel? É aquele o saguão? Nunca fiquei sabendo. Trinta e nove anos depois, reli Pergunte ao pó. Vale dizer, eu o reli neste ano e ele ainda está de pé, como as outras obras de Fante, mas esta é a minha favorita, porque foi minha primeira descoberta da mágica. Existem outros livros além de Dago Red e Espere a primavera, Bandini. São Full of Life e The Brotherhood of the Grape. E, neste momento, Fante tem um romance em andamento, Sonhos de Bunker Hill. Por meio de outras circunstâncias, finalmente conheci o autor este ano. Existe muito mais na história de John Fante. É uma história de uma terrível sorte e de um terrível destino e de uma rara coragem natural. Algum dia será contada, mas acho que ele não quer que eu a conte aqui. Mas deixem-me dizer que o jeito de suas palavras e o jeito do seu jeito são o mesmo: forte, bom e caloroso.

E basta. Agora este livro é seu.
Charles Bukowski
5-6-1979
Charles Bukowski em prefácio de Pergunte ao pó de John Fante.

sábado, 15 de agosto de 2009

Lembranças quebradas


eles continuam a escrever
a despejar poemas –
jovens rapazes e professores universitários
mulheres que bebem vinho toda a tarde
enquanto os maridos trabalham,
eles continuam a escrever
com os mesmos nomes nas mesmas revistas
cada ano a escreverem pior,
publicam colectâneas de poesia
e despejam mais poemas
parece um concurso
é um concurso
mas o prémio é invisível.

eles não escrevem nem contos nem ensaios
nem romances
apenas
despejam poemas
todos parecidos com os dos outros
e cada vez menos originais,
e alguns dos rapazes cansam-se e desistem
mas os professores nunca desistem
e as mulheres que bebem vinho toda a tarde
nunca, mas mesmo nunca, desistem
e chegam outros rapazes com novas revistas
e há troca de cartas entre poetas e poetisas
alguns chegam a foder
e tudo é exagerado e aborrecido.

quando os poemas saem
eles reescrevem-nos
e enviam-nos para a próxima revista na lista,
e fazem leituras
todas as que conseguem fazer
a maior parte de borla
na esperança que alguém repare neles
que alguém os aplauda
lhes reconheça o talento
os felicite
eles estão convencidos da sua genialidade
há muito poucas dúvidas,
e muitos vivem no Grande Porto ou Grande Lisboa,
e as suas caras são como os poemas que escrevem:
semelhantes,
e conhecem-se uns aos outros e
reúnem e odeiam e admiram e escolhem e expulsam
e continuam a despejar mais poemas
mais e mais poemas
mais e mais poemas
o concurso dos pasmados:
tap tap tap, tap tap, tap tap tap, tap tap…



Um poema cruel de de Bukowski


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