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quarta-feira, novembro 06, 2019

Discurso directo

Nunca te aconteceu, amável leitor, sentires que aquilo que tens para dizer é urgente e verdadeiro mas que, quando o disseres, nem todos os que te ouvirem vão ficar agradados? É claro que sim, que já te aconteceu, faz parte da vida de todos nós. É a opção entre falar ou ficar calado.

Agora imagina um dado adicional; aqueles que te vão ouvir de nariz torcido têm poder sobre ti. Aqueles que vão sentir as tuas palavras como alfinetes espetados debaixo das unhas podem decidir sobre assuntos que te interessam e podem impedir-te de vires a ser um pouco mais feliz (ou menos infeliz, é como naquela cena do copo meio cheio ou meio vazio).

Vão dizer-te que não se morde a mão que te dá de comer. Pessoalmente respondo: depende.

terça-feira, julho 18, 2017

Liberdade de expressão

Nos tempos que correm, uma opinião pessoal publicamente assumida pode ser fonte de uma enxurrada de insultos, exigências de castigo, uma tremenda dor de cabeça para quem, à partida, nada mais fez do que dizer aquilo que pensa.

Vivemos numa sociedade democrática onde a liberdade de expressão é um dos nossos bens mais preciosos. No entanto a sua utilização sem barreiras é cada vez mais um problema para quem acredita poder fazê-lo.

Há grupos significativos de cidadãos que, sempre que se confrontam com opiniões que consideram reprováveis, em vez de as rebaterem com argumentos pedem de imediato a intervenção repressiva seja dos tribunais, seja de associações de profissionais com o intuito de castigarem aquele que emitiu uma opinião com a qual não concordam. Isto parece-me lamentável.

Se vamos perseguir pessoas por delito de opinião o que resta da nossa dignidade social? 

terça-feira, fevereiro 24, 2009

Mesmo sendo Carnaval...


A notícia aí está. Um misto de anedota inocente e bocarra de mau gosto, boçal no modo e na intenção, fica na fronteira daquilo que é aceitável em época de Carnaval.

A Polícia de Segurança Pública, vulgo PSP, fez uma apreensão notável. Foi em Braga, terra de arcebispos e padres bombistas elevados a heróis nacionais, cidade onde o Libertino passeou o seu esplendor, Braga "A Idolátrica", foi ali, na impoluta capital do Minho, que a PSP apreendeu meia-dúzia de exemplares de um livro que teria na capa "A Origem do Mundo", pintura de Gustave Courbet, emérito artista francês do século XIX, tido como principal representante da corrente designada por Realismo.

Um bracarense menos crescido, tanto cultural quanto politicamente, exigiu que os exemplares que exibiam a tenebrosa tela na capa, fossem imediatamente retirados do campo de visão público. Perante a recusa dos organizadores do evento, o dito guardião da moral foi-se queixar para a esquadra da polícia. A PSP, lenta ou omissa em tantas ocasiões que por vezes até nos esquecemos que é um corpo policial, viu aqui oportunidade para resgatar a sua imagem e avançou pela Feira do Livro em Saldo, a decorrer na Praça da República até ao próximo dia 8 de Março, para resgatar a decência e a moral católica. Sem tremor nem sombra de dúvida (nem mandato judicial) 3 polícias confiscaram os livros em causa com o argumento de se tratar de pornografia exposta em local público. Ora, todos sabemos que isso não pode ser. Pornografia em quiosques de venda de jornais ainda vá que não vá, mas numa Feira do Livro é perversão!

Mesmo sendo Carnaval esta história é mesmo de mau gosto. Basta um parvalhão qualquer torcer o nariz a uma capa de livro para esse livro ser censurado, retirado de circulação e aqueles que o tentam vender ou comprar serem humilhados publicamente? Que porcaria é esta?

Os exemplos de censura merdosa e mesquinha, originada pela ignorância boçal das autoridades, surgem de vez em quando para nos recordarem que o poder é exercido por seres com muitas limitações, seres exactamente como nós (ou talvez nem tanto) e que precisam, também eles, de ser metidos na ordem. Estes polícias deviam ser castigados pela sua ignorância estupidificante. Como mostram uma falta de cultura que envergonha muitos ignorantes por esse país fora, os polícias envolvidos nesta anedota de mau gosto deveriam ser obrigados a frequentar um curso intensivo de História da Arte do século XIX. Talvez perante uma Vénus de Antonio Canova se sentissem mais sossegados e pudessem compreender a atitude arrasadora de Courbet ao pintar "A Origem do Mundo".
Já depois de ter publicado este post chegaram notícias frescas sobre o desenrolar do "caso". Ler aqui e também aqui para saborear a delícia de tanta bondade revestida com estupidez caramelizada. Um bom-bom de portugalidade pura! Purinha mesmo, como só a Santa Maria.

domingo, maio 20, 2007

Pornografia, violência e... tabaco

Cena imprópria mostrando Cruella De ville agarrada a uma boquilha com cigarro aceso na ponta
Não sei se ria ou se torça o nariz. Leio no jornal a notícia de que a Motion Picture Association of America vai começar a ter em conta na classificação etária dos filmes o facto de terem ou não cenas onde apareçam personagens a fumar. Um actor a fumar será considerado equivalente a um actor que arranque as tripas à dentada ou outro que se agarre com unhas e dentes às mamas da parceira de cena.
Num país onde uma criança com 10 meses de idade foi recentemente autorizada a ter licença de uso e porte de arma por não haver um limite estipulado por lei, fumar em cena será equivalente a estripar, matar, violar ou mostrar o sexo em exposição indecente. Não há limites!
Se a medida for aplicada e a classificação de todos os filmes for revista teremos, como faz notar o jornalista, os 101 Dálmatas para maiores de 16, por haver mais do que uma indecente cena de fumo com a indecorosa Cruella De Ville a chupar voluptuosamente a ponta de uma boquilha.
Se o ridículo matasse...

sábado, fevereiro 18, 2006

Comentário (Olaio)


Na sequência do comentário que deixaste no "100 Cabeças" quero apenas dizer-te que os pruridos islâmicos causados por eventuais ofensas à superioridade da sua visão religiosa me causam náuseas. Da mesma forma, as (pouco) discretas manobras da Opus Dei contra a versão cinematográfica do Código da Vinci, são provas de que o monstro de intolerância prepotente das religiões está apenas adormecido. Qualquer pretexto serve a estes animais para saírem da toca e virem abocanhar-nos as canelas.
Nesta história dos cartoons não tenho dúvidas de que há um aproveitamento perigoso e premeditado de certas forças obscurantistas que tentam dividir o Ocidente naquilo que ainda tem de puro e defensável que é o desejo de liberdade conseguido através da separação clara entre religião e estado.
Não me comovem os gemidos rancorosos dos mullahs e outros que tais, tal como não me comovem os gemidos dos padrecas da Opus Dei. Pessoas que não respeitam a liberdade alheia (que não respeitem a sua própria é lá com eles mesmo que seja masoquismo) não merecem o meu respeito. Daí que a reacção exagerada e orquestrada da "rua" árabe contra o Ocidente de uma forma geral, encapotada pela "crise dos cartoons" me ponha de pé atrás e mãos à frente, em posição defensiva.
O que me cheira a petróleo são latidos como os do Freitas, ou da Administração Bush, que querem parecer anjinhos no meio da trovoada. Metem um bocadinho de nojo.
Os árabes foram invadidos, humilhados, derrotados, etc.? Azarucho! Afinal de contas também já tiveram a sua Era e não consta que tenham sido tão mansos como os cordeiros quando dominaram a Península Ibérica (para só dar um exemplo). A História não morreu. Isso é treta pós-moderna para consumo de Yuppies enfadados com o quotidiano da empresa. A História está aí, perante os nossos olhos, em todo o seu horrível esplendor! Só que nós temos consciência de que estamos a vivê-la e, do "outro lado", os fanáticos religiosos nem sequer aceitam que tal coisa exista (vê só a interpretação iraniana do Holocausto!).
Para eles só existe "O" livro. Eu cá ainda ontem estive a ler O Homem Aranha.
Um abraço.

(na imagem o Rato Mickey é representado como um evangelista, à maneira dos manuscritos iluminados da Idade Média... elucidativo, não?)

Rui Silvares