Mostrar mensagens com a etiqueta instalação. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta instalação. Mostrar todas as mensagens

09 dezembro 2007

Work ("Lavoro/Lavorare")


Christine Hill "Minutes" 2007

"Minutes", catálogo produzido para acompanhar a instalação na Bienal de Veneza.


....my concerns are with holding onto that which we value. ...How people define and present themselves. Which character traits we strive to maintain. These are presented here in a portable form ‹ Taking The Show on the Road, as it were. The volksboutique Trunk Show serves as a physical manifestation of the way my mind is structured, and offers a glimpse into the greater collection of ephemera and relics that populate my workspace and my life...

13 outubro 2006

"Em Torno"






"homem do lixo"
Nuno Ramalho e Renato Ferrão
Caixote do lixo no lado esquerdo do canteiro central à entrada do jardim do palácio de cristal, Instalação

Em tempos, um homem mudo e velho vendia jornais na entrada do palácio. Dizia-se que perdera a fala de um momento para o outro e o próprio sempre se escusou a dizer, por escrito ou outro meio, o que lhe sucedera. Era eu ainda novo quando um antigo guarda do parque me satisfez a curiosidade acerca daquela figura triste que à entrada me chamava a atenção.
O caso dera-se no principio do Verão, uma tarde após o almoço num dos bancos do jardim. Um estudante frequentador da biblioteca adormeceu enquanto lia os classificados de um jornal. Ao acordar com as folhas revolvidas no rosto teve a sensação que algumas horas haviam passado. Certo que perdera o dia e sentindo-se incómodo na situação, levantou-se entorpecido do corpo e olhando para a folha impressa que deslizava do colo para os pés. Intuitivo, agachou-se para a recuperar e com espanto, reparou que na secção de necrologia, entre todos os rostos se apresentava também o seu. Passou incrédulo os olhos pela habitual condolência e leu o seu nome. Fixou confuso durante algum tempo o inequívoco retrato. Atordoado com a singularidade dos acontecimentos, resolveu esquecer para assim se conservar. Decidiu abalar e enfiou rapidamente o jornal num cesto para papéis quando pela abertura, uma voz que não lhe soou de todo estranha o devolveu á inquietação: “ser é ser retratado” ouviu. Com as pernas a tremer verificou que não conseguia largar o jornal ou recolher o braço que agora sentia rígido, o esforço do movimento parecia envolver ainda mais para dentro, como se qualquer tentativa fosse um passo para ser engolido. Sentindo-se refém na situação inquiriu o cesto nas suas intenções, ao que este retorquiu com a estranha afirmação proferida momentos antes, para de seguida propor que a remoção da sua imagem na necrologia lhe custaria a voz. O estudante não reflectiu ante a estranha imobilidade que lhe magoava o braço, cedendo á proposta viu-se livre com as folhas de jornal na mão. Procurando ansioso o seu retrato, foi com alivio que não se identificou com qualquer daquelas fotografias.
Feliz com o desfecho do bizarro episódio, caminhou tranquilizando-se até perceber que não conseguira vociferar a satisfação que o invadira instantes antes e foi nessa altura que ouviu por trás de si, do interior do cesto de papéis, a sua própria voz: “ser é ser-se ouvido”.
Renato Ferrão (texto e voz)