23 fevereiro 2008

15 fevereiro 2008

"...a escada simboliza todas as coisas..."

…A ascensão celeste pela subida cerimonial de uma escada fazia provavelmente parte de uma iniciação órfica. Em todo o caso voltamos a encontrá-la na iniciação mitríaca. Nos Mistérios de Mithra, a escada (climax) cerimonial tinha 7 degraus, sendo cada degrau feito de um metal diferente. Segundo Celso (Origines, Contra Celsun, VI, 22), o primeiro degrau era de chumbo e correspondia ao “céu” do planeta Saturno, o segundo de estanho (Vénus), o terceiro de bronze (Júpiter), o quarto de ferro (Mercúrio), o quinto de “liga de moeda” (Marte), o sexto de prata (Lua), o sétimo de ouro (Sol) . O oitavo degrau, diz-nos Celso, representa e esfera de estrelas fixas. Subindo esta escada cerimonial, o iniciado percorria efectivamente os sete céus elevando-se até ao Empíreo – tal como se subia ao ultimo céu escalando os sete andares da ziqqurat babilónica ou se atravessavam as diferentes regiões cósmicas pelos terraços do templo Barabudur que constituía em si próprio…uma Montanha Cósmica e uma imago mundi...

…a escada contém um simbolismo extremamente rico sem deixar de ser perfeitamente coerente; ela representa plasticamente a ruptura de nível que torna possível a passagem de um modo de ser a um outro; ou, colocando-nos no plano cosmológico, que torna possível a comunicação entre Céu, Terra e Inferno. É por isso que a escada e a escalada desempenham um papel considerável tanto nos ritos e mitos de iniciação como nos ritos funerários, para não falar nos ritos de entronização real ou sacerdotal, ou dos ritos de casamento. Ora, sabe-se que o simbolismo da escalada e dos degraus se encontra com muita frequência na literatura psicanalítica, o que define que estamos perante um comportamento arcaico da psiqué humana e não perante um criação ”histórica”, uma inovação devida a um certo momento histórico (digamos o Egipto arcaico ou a Índia védica, etc.). Contentemo-nos com um único exemplo de redescoberta espontânea deste simbolismo primordial.

Julien Green nota no seu Diário de 4 de Abril de 1933: Em todos os meus livros a ideia do medo ou de qualquer outra emoção um pouco forte parece ligada de maneira inexplicável a uma escada. Apercebi-me disso ontem, quando passava em revista todos os romances que escrevi…(seguem-se as referências). Pergunto-me como pude eu repetir tantas vezes este efeito sem dar por isso. Em criança sonhava que me perseguiam numa escada. Minha mãe sofreu dos mesmos temores na sua juventude; talvez tenha permanecido em mim um pouco disso…
Sabemos hoje por que motivo a ideia de medo, no escritor francês está ligada à imagem de uma escada e por que razão todos os acontecimentos dramáticos por ele descritos ao longo da sua obra – amor, morte, crime – tiveram lugar numa escada.
A escalada ou a ascensão simboliza o caminho para a realidade absoluta; e, na consciência profana, a aproximação desta realidade provoca um sentimento ambivalente de medo e de alegria, de atracção e de repulsa, etc. As ideias de santificação, de morte, de amor e de libertação estão implicadas no simbolismo da escada. Com efeito, cada um destes modos de ser representa a abolição da condição humana profana, isto é, uma ruptura de nível ontológica: através do amor, da morte, da santidade, do conhecimento metafísico, o homem passa, como o diz a Brihadâranyaka Upanisad, do irreal à realidade.

Mas, é preciso que não se esqueça, a escada simboliza todas as coisas porque se supõe erguer-se num “centro”, porque torna possível a comunicação entre s diferentes níveis do ser, porque, enfim, não é mais do que a concretização de uma forma concreta da escada mítica, da liana ou do fio de aranha, da Árvore Cósmica ou do Pilar universal que ligam as três zonas cósmicas.

Mircea Eliade, Imagens e Símbolos, Lisboa, Arcádia, 1979

13 fevereiro 2008

10 fevereiro 2008

09 fevereiro 2008

The brown lady

Indre Shira, “The brown lady”, 1936
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07 fevereiro 2008

Toe upon toe

Gerhard Richter, Ema (Nude on a Staircase),1966

Nude Descending a Staircase
Toe upon toe, a snowing flesh,
A gold of lemon, root and rind,
She sifts in sunlight down the stairs
With nothing on. Nor on her mind.

We spy beneath the banister
A constant thresh of thigh on thigh--
Her lips imprint the swinging air
That parts to let her parts go by.

One-woman waterfall, she wears
Her slow descent like a long cape
And pausing, on the final stair
Collects her motions into shape.
X. J. Kennedy

04 fevereiro 2008

Desequilibrio

Alfred Hitchcock, Blackmail, 1929, (fotograma)

Alfred Hitchcock, Vertigo, 1958, (fotograma)

30 janeiro 2008

"...follow the stairs a little further..."

G. B. Piranesi Carceri d"invenzione, Plate XIV 1st state, 1745

Many years ago, when I was looking over Piranesi’s, Antiquities of Rome, Mr. Coleridge, who was standing by, described to me a set of plates by that artist, called his Dreams, and which record the scenery of his own visions during the delirium of a fever. Some of them (I describe only from memory of Mr. Coleridge’s account)represented vast Gothic halls, on the floor of which stood all sorts of engines and machinery, wheels, cables, pulleys, levers, catapults, &c. &c., expressive of enormous power put forth and resistance overcome. Creeping along the sides of the walls you perceived a staircase; and upon it, groping his way upwards, was Piranesi himself: follow the stairs a little further and you perceive it come to a sudden and abrupt termination without any balustrade, and allowing no step onwards to him who had reached the extremity except into the depths below. Whatever is to become of poor Piranesi, you suppose at least that his labours must in some way terminate here. But raise your eyes, and behold a second flight of stairs still higher, on which again Piranesi is perceived, but this time standing on the very brink of the abyss. Again elevate your eye, and a still more aërial flight of stairs is beheld, and again is poor Piranesi busy on his aspiring labours; and so on, until the unfinished stairs and Piranesi both are lost in the upper gloom of the hall. With the same power of endless growth and self-reproduction did my architecture proceed in dreams. In the early stage of my malady the splendours of my dreams were indeed chiefly architectural; and I beheld such pomp of cities and palaces as was never yet beheld by the waking eye unless in the clouds.

Thomas de Quincey, Confessions of an English Opium-Eater (1821-22)

M.C. Escher, Convex and Concave, 1955

28 janeiro 2008

Descendo escadas

Eadweard Muybridge, "Descending stairs and turning around", 1884-85


Marcel Duchamp, Nu descendant un escalier nº 2, 1912


Eliot Eliofson, Duchamp descending a staircase, photograph from Life Magazine (1952)


Hans Richter, "Dreams That Money Can Buy" , 1947


Bill watterson, Calvin and Hobbes