Lagoa tranquila refletindo meu rosto,
Como um Narciso às avessas
Não vejo indescritível beleza,
A minha figura só me traz desgosto.
A imagem que ondula nas águas me acusa,
A feiúra é minha alma refletida,
Triste, opaca, arrependida,
Espelho de uma vida confusa.
Errante, fugindo de tudo,
Incapaz de enxergar a beleza do mundo,
Incapaz de entregar-me a um sentimento profundo,
Vivo um destino infecundo,
Fruto de escolhas incertas
Guiadas por meus temores,
Reféns de meus vãos amores,
Vítimas de rígidas metas.
O rosto que a água reflete
E o tempo que já passou
Mostram a mim o que sou,
E o que sinto me perverte.
Sinto asco de mim mesmo,
Culpa descomunal
Ao ver a água matinal
Refletir a vida a esmo.
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