segunda-feira, 4 de julho de 2011

O secularismo nos templos barrocos


Certo dia, fui a uma cidade histórica, próxima de onde moro aqui em Minas Gerais, e passando em frente a uma igreja quase tricentenária resolvi entrar para orar um pouco. Dignidade não faltava no templo barroco: retábulos por toda parte, um grande painel da Virgem Maria desenhado no teto da nave central e no do presbitério muito ouro. Realmente, o povo da época se preocupava com a dignidade do edifício.

Encantado com a beleza da igreja, ao entrar, atravessei o corredor central, fiz a genuflexão em direção ao sacrário e ajoelhei em um banco para começar minhas orações. Confesso que muito me distraí durante minhas orações devido a todos aqueles detalhes, mas minha distração se fazia oração perante tanta beleza. Estava em êxtase profundo, era como se estivesse livre de todos os males; uma sensação inexplicável. Porém, qual não foi minha surpresa, quando já quase terminando minhas orações olho para o sacrário e percebo que o conopeu estava puxado e sua portinha aberta. Então fiquei muito intrigado com aquilo, e resolvi perguntar ao zelador que estava de plantão o motivo da Sagrada Eucaristia não estar sendo conservada no sacrário, sua resposta me provocou grande assombro.

Segundo o zelador o pároco teve que tomar a triste decisão de conservar o Santíssimo em sua capelinha, pois muitos turistas freqüentavam a igreja. Mas que problema tem nisso, perguntei. Ele disse que muitas pessoas vêem o edifício não como um templo católico, mas como um museu; entram com roupas decotadas, mascando chicletes e até com chapéus. Fotografam tudo: das imagens históricas, do teto, das paredes, do altar e até do piso, mas esquecem de que Deus está presente na Sagrada Eucaristia e esta é a Sua Casa.

Infelizmente isso acontece na grande maioria das igrejas barrocas mineiras. É uma situação horrível, pois vemos acontecendo aos nossos olhos e nada podemos fazer. Aí vemos até que ponto chegou o secularismo, o Demônio é astuto; tenta usar até o que serve para engrandecer o nome de Deus para nos fazer cair.

Talvez por isso muitas pessoas construam verdadeiros salões em extrema pobreza de dignidade e chamam de igreja nos dias atuais. Mas estão errados, pois Deus merece muito mais que isso. A nós cabe orar e pedir a Santíssima Virgem que nos mostre tudo aquilo que sempre foi sagrado, pois como disse o nosso querido Papa Bento XVI, “aquilo que para as gerações anteriores era sagrado, permanece sagrado e grande também para nós” [1].

[1] Motu Proprio “Summorum Pontificum"

João Carlos Resende

quarta-feira, 29 de junho de 2011

O louco da Judéia




"A pregação da cruz é loucura para os que se perdem, mas para os que são salvos, para nós, ela é força de Deus".
l Coríntios 1,18

Eis que a comitiva do Rei Herodes vai passando perto do Rio Jordão mas a poucos metros dali uma agitação muito forte inquieta o monarca. Um homem, aparentemente louco, vestido com pele de camelo, clama a Herodes que deixe a mulher de seu irmão. Sim, João batista parecia um maluco, pois quem seria capaz de corrigir um soberano real? Imediatamente esse “louco rebelde” é preso.

Mas Herodíades, mulher do irmão de Herodes, não conseguiu o silêncio desejado, João estava preso, mas sua voz continuava viva na cabeça dos pecadores. A consciência não se cala, podemos esconder nossos pecados de qualquer mortal, menos de nós mesmos e de Deus.

Herodíades não teve sossego, pensou que o jeito seria matar João, mas enganou-se ridiculamente, João estava repleto do Espírito Santo e Deus não se cala.

Ainda hoje João grita, grita suplicando conversão, pedindo que abandonemos nossos pecados, nossos erros. Muitos são os que ainda profetizam em nome do Senhor, mas possuímos um coração duro, um coração que não se abre a Palavra de Deus, muitas são as nossas omissões, omissões que João nos ensina a deixar de lado. João era realmente um louco, louco pela verdade, tão louco que por ela derramou seu sangue. Ele sim foi um profeta, pois profeta de verdade não teme nem a morte.

Oh glorioso São João Batista, maior dos profetas antes de Cristo, nos ajude a fazer com que o único medo de nossas vidas seja o medo de deixar de anunciar a verdade!

João Carlos Resende

sábado, 18 de junho de 2011

O que temos imaginado ultimamente?


"O heroísmo nunca foi, nem o será, coisa comum, e a santidade não se concebe sem heroísmo..." Pe. Reginald Garrigou-Lagrange, O.P.[1]

Tive a graça de descobrir por um "acaso providencial" a obra "As 3 Idades da Vida Interior" [2] do grande teólogo Pe. Garrigou-Lagrange, O.P., nela ele mostra - baseado nos grandes doutores da Igreja sobre o tema de ascese e mística - como as "almas simples" podem ascender na sua vida espiritual. Ele divide essa "ascensão" em 3 etapas ou idades, que são a via purgativa (dos principiantes), a via iluminativa (dos adiantados) e a via unitiva (dos perfeitos).

Explicando sobre a primeira etapa, a via purgativa, ele diz que devemos mortificar nossos sentidos externos e internos para que prossigamos para segunda etapa, a via iluminativa. Quando pensamos no que são nossos sentidos logo vem a nossa mente os sentidos externos, a visão, a audição, o tato, o paladar e o olfato, mas pouco sabemos sobre os nossos sentidos internos, que devem ser mortificados tanto ou mais que os externos, são eles: O sentido comum (sensus communis), a via cogitativa, a memória e a imaginação [3]. É nesse ponto específico que eu repito a pergunta do título: O que temos imaginado ultimamente? Será que mortificamos nossa imaginação também?

A imaginação é a capacidade que temos de criar uma nova imagem na mente a partir das imagens que já temos na memória, por isso imaginação. Quando nós não mortificamos nossa imaginação somos induzidos facilmente ao pecado, pois a imagem dos pecados que cometemos estão retidas na nossa memória, pode ser que tenhamos pecado apenas uma vez em certa matéria e estejamos pecando centenas de vezes por continuarmos a imaginar aquela situação acontecida.

Exemplificando, a situação de pecado causa uma situação de prazer momentânea, isso tende a que aquela imagem criada na situação fique recorrente na memória - por isso os pecados contra a castidade talvez sejam os que nos causam mais danos a imaginação, por acarretar um prazer acentuado - e o fato de nós consentirmos em ficar pensando nela novamente, não nos esforçarmos muito para "desviarmos" nosso pensamento para algo sadio, principalmente para a oração, acarreta um novo pecado.

O que temos imaginado ultimamente? Nessa obra o padre Garrigou-Lagrange diz que a vida interior consiste em estarmos sempre com nossa alma direcionada pra Deus, primeiramente pelos nossos pensamentos e depois pelas nossas ações. No que temos pensado? Imaginamos as maravilhas eternas ou os prazeres terrenos e passageiros? Quando nos fazemos essa pergunta vemos o quanto somos pequenos e atrelados a nossas paixões e o quanto Deus é misericordioso por querer salvar esses vasos de barro.

Que Nossa Senhora, vaso espiritual e honorífico cuide desses seus pobres filhos.

Tiago Martins da Silva

[1] As 3 Idades da Vida Interior – Pe. Reginald Garrigou-Lagrange

[2] A obra completa - altamente recomendada - se encontra nesse link. O padre Garrigou-Lagrange foi professor de Karol Wojtyła , nosso Beato João Paulo ll, isso já dispensa comentários.

[3] Recomendo um texto excelente sobre o tema nesse link.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

A mais bela flor de Deus

A mais bela flor brotada da palavra de Deus é a Virgem Maria. (Papa Bento XVl) [1]

Deus mostra-nos sua Beleza através das criaturas e não há coisa mais bela do que a face de Maria, como dizia o Papa João Paulo ll “... com Maria contemplamos o rosto de Cristo”. [2]

No rosto de Nossa Senhora vemos a beleza verdadeira, uma beleza simples, meiga e inocente, mas que ao mesmo tempo é imponente pois a santidade impõe respeito, uma beleza na qual quando a admiramos nos vem uma sensação de paz, conforto e proteção.

O nosso mundo venera uma “beleza” que é totalmente contrária, uma beleza que é extravagante, provocativa e desrespeitosa, provocativa porque tende nosso olhar ao que é luxurioso e nos cega quanto ao que é belo de verdade, desrespeitosa porque o vulgar não respeita a si mesmo então não pode esperar respeito dos outros, e tudo aquilo que é vulgar nos cega a enxergarmos a beleza real escondida atrás de cada ser humano.

Um exemplo disso é que ninguém consegue olhar para uma pessoa que está chamando a atenção com algo luxurioso e ao mesmo tempo pensar nas possíveis virtudes que ela possa vir a ter, citando as palavras do Pe. Paulo Ricardo “... quando alguém vê uma mulher nua sambando num carro alegórico ele não pensa: “olha, que mulher inteligente e caridosa, que pessoa boa”, e sim pensa em algo pecaminoso”. [3]

Quando nos encantamos somente com a beleza da criatura nos esquecemos do Criador, enquanto que a beleza de Nossa Senhora sempre nos remete a Ele.
Nossa feição se torna bela de acordo com a beleza de nossa vida, então contemplar e conseqüentemente viver as virtudes de Maria seria o antídoto para a resolução desses problemas, por que quando se vive uma vida bela, lutando pela santidade, aos poucos nossa feição vai mudando, tomando formas dessa beleza simples, meiga e inocente como vemos nas faces dos santos e principalmente na face da Santa Mãe de Deus, uma feição de quem está e estará sempre em paz, mesmo em meio as tempestades.

Invocamos os títulos de Nossa Senhora que nos remetem a sua grande beleza e dignidade pra que interceda por nós a seu Filho que é a Beleza Infinita.
Santa Maria, rosa mística, casa de ouro, estrela da manhã, Mãe puríssima, rogai por nós. Amém.

Tiago Martins da Silva

[1] Oração do Angelus – 06/12/2009
[2] Cum Maria contemplemur Christi vultum - Mensagem do papa João Paulo II para o 25º Dia Mundial das Missões 19 de outubro de 2003.
[3] Pe. Paulo Ricardo de Azevedo Júnior – padrepauloricardo.org

segunda-feira, 14 de março de 2011

Quaresma: Tempo de jejum, esmola e oração



Tendo os fiéis se despedido da carne, no carnaval, começa a quaresma. Quaresma vem de quadragesima, palavra latina usada para designar os quarenta dias que antecedem a Páscoa. A quaresma tem início na quarta-feira de cinzas e termina na quinta- feira da Semana Santa (Ceia do Senhor). A quaresma é um tempo penitencial, por isso a cor litúrgica é o roxo. Na Liturgia, omitimos o Glória a Deus nas Alturas e o Aleluia da aclamação ao Evangelho. Os guardamos para cantar na Vigília da Páscoa.

O período é reservado para a reflexão, o recolhimento, a conversão espiritual. Ou seja, o católico deve se aproximar de Deus visando o crescimento espiritual. Para tanto, a Igreja nos convida a nos retirar das agitações, a ter a mesma atitude de Jesus nas tentações do deserto: o jejum para a gula, a esmola para a avareza e a oração para a glória vã (Cf. Lc 4, 1-13). O jejum é obrigatório para o fiel católico na quarta- feira de Cinzas e na sexta-feira Santa, nas demais sextas-feiras do ano, que também são penitenciais, recomenda-se a abstinência da carne ou pode ser substituída por alguma obra de piedade, entretanto, pode-se fazer jejum em qualquer dia da semana, desde que não seja domingo, nem solenidade. Pode-se abdicar de algum apego como forma de penitência, pode ser doce, refrigerante, algum condimento ou “capricho” na comida, algumas horas de TV, de internet, de sono... Enfim, pode-se abrir mão de algo em vista da sua união com Deus.

Segundo o CCE*, no número §2462 A esmola dada aos pobres é um testemunho de caridade fraterna; é também uma prática de justiça que agrada a Deus. A esmola entendida pela Igreja é Obra de Misericórdia compreendida em obras corporais e espirituais; as corporais são: dar de comer a quem tem fome; dar de beber a quem tem sede; vestir os nus; dar pousada aos peregrinos; visitar os presos; enterrar os mortos. As obras espirituais são: instruir (ensinar os que não sabem); aconselhar (dar bons conselhos aos que necessitam); consolar (aliviar o sofrimento dos aflitos); confortar (fortalecer os angustiados e abatidos); perdoar (as injustiças de boa vontade); suportar com paciência (as adversidades e fraquezas do próximo).

Lembremos que a oração é o nosso diálogo com Deus, é nossa comunhão com Ele; sem a oração nossa vida espiritual morre e não damos a Deus aquilo que lhe é devido, ou seja, não honramos o mandamento de amar a Deus sobre todas as coisas. Tudo isso é uma purificação, uma preparação para a vinda de Cristo Ressuscitado! Nas palavras do próprio Cristo, (...) ninguém põe vinho novo em odres velhos. (Mc 2, 22), é preciso nos preparar pra esse grande acontecimento! Toda a penitência católica é baseada na nossa relação com o Esposo. Enquanto somos odres velhos, não somos capazes de conter o Vinho Novo. Enquanto não houver uma conversão, uma mudança de vida, não estaremos preparados para estar com o Esposo. Ora, neste momento estamos nos preparando para celebrar a Páscoa do Senhor. Por um acaso podemos fazê-lo se ainda somos odres velhos?

Que esta indagação nos faça refletir sobre a nossa preparação para a vinda de Cristo. Salve Maria!

*Catechismus Catholicae Ecclesiae

Joyce Maria Alves Rocha

sexta-feira, 4 de março de 2011

Onde estariam os demônios nos dias de carnaval?

Conta-se uma história que na Idade Média um monge pediu em suas orações que ele pudesse ver o mundo espiritual, que pudesse enxergar os anjos. Essa graça lhe foi concedida então logo viu seu anjo da guarda e se pôs a dialogar com ele pelo caminho. Logo viram uma grande cidade na qual havia um demônio em sua entrada, o anjo lhe disse que ele guardava a cidade pois ali havia muito pecado.

Andando mais, chegaram e entrada do mosteiro e viram que havia uma nuvem negra sobre eles, o anjo lhe disse que era uma legião de demônios que estavam ali para tentar aqueles monges que buscavam uma vida santa. O anjo lhe explicou que na cidade o demônio já não tinha mais “serviço” a ser feito, o povo já havia aceitado a vida proposta por ele enquanto no mosteiro os monges batalhavam pela santidade de vida.

Respondendo a pergunta: Ora, nesses dias os demônios estão nos retiros, nas casas em que as pessoas só querem descansar, atrapalhando aqueles que se preparam para quaresma, enfim, tentando aqueles que ainda lutam contra ele.

Por mais que ele nos tente, nos induza a algo, a decisão de pecar ou não é sempre nossa. Quem já tomou a decisão de se entregar a algum desses acontecimentos carnavalescos onde a promiscuidade é comum, já havia aceitado as tentações a muito tempo, ele só vai aproveitar a propícia situação para consuma-las. O carnaval é como a cidade que é guardada por apenas um demônio por que ali o serviço já foi feito.

Que Nossa Senhora nos dê força nos momentos de provação e nos encaminhe ao seu Filho.

“Nestes dois últimos dias de carnaval, conheci um grande acúmulo de castigos e pecados. O Senhor deu-me a conhecer num instante os pecados do mundo inteiro cometidos nestes dias. Desfaleci de terror e, apesar de conhecer toda a profundeza da misericórdia divina, admirei-me que Deus permita que a humanidade exista”
. (Santa Faustina Kowalska diz: Diário, 926).

P.S.: Aconselho a ouvirem o curso de “Terapias das doenças espirituais”, ministradas pelo Pe. Paulo Ricardo de Azevedo e disponível em áudio nesse link. Como o próprio nome já diz elas nos ajudam a lutar contra as tentações e a crescer em nossa vida espiritual.

Tiago Martins da Silva

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O dom do remorso


“Concede-me, ó Deus, que o meu coração dirija-te a Ti para que ao falhar sinta remorsos por meus pecados e jamais desista de me redimir”. [1]

Essa expressão de S. Tomás de Aquino, tirada de uma oração, é muito estranha aos nossos ouvidos, é comum ouvirmos a expressão “eu não me arrependo de nada do que fiz na vida”, ou algo parecido remetendo que a pessoa não sentiu remorso pelo erro cometido.

Isso é sinal de uma sociedade de mentalidade infantil, pois como dizia o Venerável Papa João Paulo ll “o homem se torna adulto quando sabe diferenciar o bem do mal”, [2] o homem moderno tem o pecado da preguiça espiritual ainda mais acentuado.
Isso é mais uma consequência do relativismo, onde cada um define a sua opinião como verdade e não se faz o mínimo de esforço para “ir de encontro”, viver de acordo com a Verdade Absoluta, que é Deus.

Vivendo sem Deus o homem perde o sentido, começa a mentir pra ele mesmo, dizendo que o veneno do pecado é algo bom, já que sem Deus é ele quem decide o que é o bem e o que é o mal.

Só se vive em paz - mesmo em meio as tribulações - na luta constante pela conversão pessoal, só há conversão quando se admite o erro, só se admite o erro quando há a dor pelo bem perdido. O remorso pelo pecado cometido é um dom que Deus nos dá para nos reaproximarmos Dele, se não sentíssemos essa dor viveríamos mais cegos ainda na situação de pecado.

Pedro negou Cristo 3 vezes, mas sentiu essa dor e se arrependeu, foi perdoado e a ele ainda foi dada a missão de guiar a Igreja. Deus sempre espera o nosso arrependimento para que possa nos dar dons ainda maiores, e vivendo em direção a Deus sempre lutando pela graça, um dia chegaremos à Graça maior, o Reino dos Céus.

Que Nossa Senhora nos guie a misericórdia de seu Filho e Deus nos dê a graça de sempre dirigir nosso coração ferido a Ele, principalmente no Sacramento da Confissão.

Tiago Martins da Silva


[1] S. Tomás de Aquino – Oração para organizar a vida
[2] Venerável Papa João Paulo ll – Encíclica Fides et Ratio
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