domingo, julho 15, 2012

Agência de viagem não!

Estou aqui sentada no nosso pseudo-escritório em casa, dividindo minha atenção entre ler as baboseiras do Facebook, fazer pedido de hortifruti pro hotel pra amanhã e observar o gatôncio suspirando no cochilo depois de uma sessão escova com o Lars. Então resolvi baixar o Facebook no Android (troquei de telefone OUTRA VEZ depois de perder outro num acidente envolvendo água, muita água) e pra isso precisava reconfigurar minha conta no Google. Daí meio que lembrei que eu tinha um blog.

Desde o falecimento parcial do meu laptop, tenho compartilhado o do Lars. E não é a mesma coisa. Além de tudo, ando tão entretida com a vida real que meio que perdeu a graça ficar vivendo a virtual. Pra completar, por algum motivo que eu não lembro exatamente, troquei a senha do Google e deepois esqueci, por estar usando pouco. Por isso o blog ficou às moscas, sem comentários publicados (ou mesmo moderados). Hoje sentei pra botar as coisas no lugar e achei por bem fazê-lo por aqui também.

Na verdade, eu fiquei bem com vontade de fechar o blog. Porque ando sem tempo pra ele, e as coisas não são mais como antigamente, naqueles dias de nada pra fazer. Vejo um monte de gente se desculpando por falta de tempo pra atualizar o blog e tals. Mas o tempo escasseia de verdade, quem disse que a gente lembra que tem blog???

Daí que quando a gente finalmente abre o tal blog e vai publicar os comentários, percebe que metade deles são de gente que vai mudar/viajar pra Noruega e quer ajuda com informações... Mesmo com o link dizendo que eu não ajudo. Porque não tenho saco e muito menos tempo. Ora bolas, ninguém me ajudou horrores quando vim pra cá, liguei pros lugares, li todos os sites, pedi ajuda do Lars pra traduzir as coisas (ou da professora de norueguês em São Paulo), e fui atrás. Naquela época, nem havia tantos blogs de brasileiras vivendo por aqui. As comunidades do Orkut eram uns ninhos de cobra. Mas mesmo assim eu achei tudo e cheguei aqui na cara e coragem. A Internet torna as pessoas folgadonas, porque ao invés de correr atrás da informação, já sai correndo perguntado pro primeiro bloguinho que aparece. E quando chegar aqui, #comofaz? É preciso aprender a se virar. 

Meus posts já foram escritos com todas as informações necessárias pra que o povo possa ter um degrauzinho inicial, e os posts de viagem dão links de hotel, atrações visitadas e tudo. Acreditam que tem gente que escreve "Oi, vou viajar pra Noruega em _______ e gostaria que você me escrevesse pra me dar informações. Meu e-mail é.......". Pode? Alguma vez eu disse que sou agente de viagem/guia de turismo? Por isso agora mudei o link ali em cima pra PERGUNTAS FREQUENTES, porque acho que a maioria não entende FAQ (e nem deveria, na verdade, porque não é português. Eu removi minha pequena gafe/cafonice e troquei pro portuga bem claro). Será que agora eu me livro?

E, acidez à parte, tem gente que escreve agradecendo porque leu tal post e seguiu a diga de hotel/documentos, etc, e deu tudo certo. Tá vendo como tem gente que consegue?

Mudando de assunto, nos últimos 5 meses (desde a última postagem), nada de novo por aqui. Continuo trabalhado pacas, mas adoro o que faço, acredito na empresa pra qual trabalho, e finalmente me livrei 100% do fantasma da minha ex-chefe (que ainda trabalha no hotel, agora como recepcionista, portanto não tem nada conosco). Minha equipe, composta de 2 filipinas, 1 nigeriano, 2 iranianos, 1 eslovaco, 1 belizenha (essa eu tive que olhar no Google, rsrs), 1 iraquiana (curda, na verdade, mas foi pro Iraque no verão por causa de uma morte na família), 1 norueguesa e eu, nunca foi tão eficiente, trabalhadora e confiável. A porcentagem de ausência por doença no meu departamento hoje é cerca de 2/3 inferior ao que era nos anos anteriores. Moral da história - estrangeiros são mais comprometidos com o trabalho que os nativos. Um norueguês em geral tem uma dorzinha no branco dos olhos e fica 3, 4 dias em casa, enquanto o estrangeiro toma uma aspirina e vai trabalhar. Não que os noruegueses sejam assim folgadões, mas o sistema social ajuda neguinho a ser menos comprometido, pois sabe que se ficar em casa ninguém pode fazer nada, e a empresa ainda tem que pagar o sujeito e se virar pra substituí-lo. Já em outros países menos "desenvolvidos", neguinho falta mais de um dia e nem precisa se dar ao trabalho de voltar.  Sistemas diferentes.

O verão esse ano está assim meia boca, mas aqui ao norte não chove como tem chovido lá pra baixo. Então tem dado pra aproveitar a varanda, a rede brasileira, fazer um monte de churrasco, trabalhar no jardim, e todas as coisas que se faz em massa e coletivamente no verão ártico.. Os locais vão pro jardim com roupitchas pequeninas (mesmo que e temperatura esteja em torno dos 16 graus) expor suas peles de bicho da goiaba ao sol. Incluo-me nessa. Nada como botar as canelas de fora depois de um inverno de botas, ceroulas e meiões de lã!

Fora isso, nossa vida mudou bastante depois da chegada do gatão. Mas é impagável chegar em casa e ter essa figura sentadinha na porta esperando a gente. E Lars, que nem podia falar em gatos, nem parece o mesmo. Um bichinho muda toda a perspectiva. Kjellemann vai conosco pro chalé (chora o caminho todo na gaiolona dele), se diverte horrores, na hora de vir embora ele entra no gaiolão e espera ser colocado no carro. Uma figura.

Pra teminar, muitas horas passadas na cozinha, fazendo montes de comida fresca e deliciosa depois que passamos a assinar uma cesta orgânica. A cada duas semanas, recebo na porta de casa uma cesta com frutas/verduras e batatas. Tudo orgânico, fresco, cheiroso e gostoso. Nossas visitas ao mercado dimunuíram bastante. Passamos a comprar peixe fresco na peixaria e congelar porcionado. Gastamos cerca de 20% a menos com comida a cada mês, e comemos muito melhor, sem agortóxicos e outras melecas. Também recomendo muito, faz bem pro seu corpo e faz bem pra saúde da agricultura familiar - ao menos por aqui. 

Por hora é só. Não sei quando volto por aqui... Mas se houver algo fabuloso pra contar, prometo que apareço!


quarta-feira, fevereiro 15, 2012

Sinal de fumaca

...sem cedilha porque meu computador tá mei pifado e estou usando o do marido. Caramba, mês e meio sem notícia... Vários motivos pra isso: falta de tempo, muito trabalho, gato em casa e uma falta de vontade tremenda de gastar meu rico tempinho disponível com idiotices da internet.

Por partes...

No final de janeiro viajei pra Estocolmo com as outras chefes do hotel mais a operária-padrão de 2011, uma recepcionista. Fomos pra conferência de inverno da Nordic Choice Hotels, que acontece todos os anos, e como dizem os suecos, é uma das maiores firmafest da Escandinávia. Esse anos fomos 2300 participantes. Todos com hotel e refeicões pagas por dois dias. O evento em si acontece num domingo e segunda, mas nós vamos sempre na sexta pra aproveitar o fim de semana. E que aproveitamento! Finalmente dei conta de realmente ver Estocolmo, passear, andar bacarai à pé, comer e beber bem! Chegamos sexta e fomos direto  pro Clarion Collection Hotel Tapto, um hotel lindinho, nosso irmão, mas meio fora de mão. Era o aniversário da chefe de governanca, então fomos almocar no Ostermalm Saluhal, lugar disputadíssimo pelos locais e turistas, a disneilândia da comida local e artesanal. Comi ostras, camarões a lagostins, e tomamos champagne pra celebrar. O clima esse ano foi bem mais leve, pois a nuvem negra de depressão da minha ex-chefe não estava presente! Mais tarde fomos a um pub irlandês em Gamla Stan chamado Wirstroms. Aconselho uma visita a todos que passem por Estocolmo e sintam-se perdidos na Suécia, pois o local é frequentado por todos os estrangeiros que habitam a capital. Os bartenders são irlandeses e qo que parece @ chef també, porque o beef & guinnes stew que comi estava de chorar.

Sabado foi dia de passeio a pé, depois de trocarmos de hotel. Fomos pro Clarion Hotel Stockholm, uma beleza de hotel, e extremamente bem localizado. Almoco em Gamla Stan, caminhada por meia cidade, e a noite encontramos o povo dos Clarion Collection de Tromsø, Harstad e Trondheim pra ir jantar no Wallmans, mesmo local do ano passado, onde fui obrigada a assistir um show de garcons cantando Abba enquanto tentava engolir meu bife. Esse ano foi bem mais divertido, me surpreendi com as mudancas que fizeram no conteudo do show. E a comida estava espetacular. Depois foi toooooooodo mundo pro bar do hotel e a coisa comecou a ficar mei pesada, então como boa funcionária que sou (afinal, é festa da firrrma, né?), fui dormir.

Domingo comecaram as palestras no Globen Arena. A noite teve uma festanca pra todos os participantes no Clarion Hotel Sign, um desbunde de hotel de design. Quem quiser ver um tiquim pode xeretar aqui. Segunda, mais palestras e a cerimônia de premiacao. Um dos operários-padrão de toda a Nordic Choice foi um cozinheiro de um Quality Hotel em Fredrikstad, que fez uma horta orgânica do telhado do hotel! I heart!

Terca voltamos pra Bodøcity e dia seguinte foi dia de trabalho. Muito trabalho, por sinal.

No fim de semana seguinte fui pra Trondheim, também a trabalho. Fiquei no Clarion Collection Grand Olav, onde encontrei outros 3 chefes de A&B pra uma reunião explicando mudancas no conceito do depto, e um workshop, onde fizemos juntos o buffet de jantar do Grand Olav. Terca fomos tomar café da manhã do Rica Nydelven, o melhor café da manhã de toda a Noruega, ano após ano. Premio merecido, mas baralho, era comida demais! E cara pacas. Não, não somos e nem queremos ser aquele tipo de hotel!

E um fato muito, muito inusutado e inesperado... Na terca, meu voo saia tarde de Værnes, e o chef de Tromsø estava no mesmo voo TRD-BOO-TMS. Então fomos dar um rolezinho no centro antes de pegar o busão. E o Per Ivar (o chef de Tromsø) queria comprar um presente pro filho. Precisava achar uma loja de brinquedos, e resolvemos perguntar pra alguém na rua. Dentre todas as probabilidades, paramos a primeira moca que passava. Ele comecou a falar com ela em noruga, mas quando eu vi o rostinho dela, ja larguei, em noruga, posso perguntar uma coisa? E mudei pro portuga: Você é a Raquel? e ela Camila? O momento foi tão Twilight Zone que ficamos sem saber o que dizer direito! Mas olha o que é a transmissão de pensamento, eu pensei pacas nela porque sabia que ela mora ao lado do Grand Olav... Eu e Per Ivar fomos até Bodø no avião falando disso! Raquel, eu volto com calma pra gente refazer esse encontro direitinho, com direito a um café ou, quem sabe, uma(s) cerveja(s)!

E a última novidade, quando estava eu faceira em Estocolmo almocando em Gamla Stan, toca meu telefone e era o pessoal da associacao protetora dos animais de Bodø, conhecida na Noruega como Dyrebeskyttelsen. Lars e eu havíamos há tempos nos voluntariado pra ser lar temporário de gatos, já que a entidade não possui ainda um abrigo próprio. Eles ainda estavam desetruturados, por isso não nos deram retorno por muito tempo. Mas no comeco desse ano eles conseguir acertar todos os detalhes, entao antes de Estocolmo vieram aqui em casa pra assinar um contrato. E alguns dias depois ligaram pra avisar que havia um gato sem lar.

Na segunda em que eu estava em Trondheim, Kjell Nusse, o gatucho que já veio pra nós com esse nome escabroso (onde já se viu dar nome de gente pra bicho? No Pantanal isso era a moooorte. A menos que seja um nome menos comum... Enfim...), chegou em casa. Lars sozinho, e nós sem ter certeza se Lars era aleérgico a gatos ou não. O gato estava tomando antibióticos porque estava sendo tratado de uma infeccao na patinha. Kjell Nusse foi encontrado na rua e depois de meses, recolhido por uma vovó. Ela não deu conta de cuidá-lo, e aí entramos nós.

Kjell está conosco há três semanas, já nos conquistou - especialmente ao Lars, que era meio avesso a gatos. Ontem foi ao veterinário ser castrado, vacinado e microchipado. O Dyrebeskyttelsen desistiu de procurar por seus donos, e hoje recebi um telefonema de que há já uma pessoa interessada em adotá-lo. Vai ser triste deixá-lo ir, mas o sentimento de dever cumprido fala mais alto, e depois dele poderemos fazer o mesmo por muitos outros gatos.

Porque minha resolucao de ano novo era deixar de apenas falar, e comecar a fazer algo pelos outros. Passei a contribuir com a Unicef mensalmente, e abrigando os prestamos um grande servico aos bichinhos abandonados ou perdidos. Ficam umas fotas de Kjell...



A mesa da cozinha, o escritório e o banheiro são dele! Tirei a toalha de mesa e tentei de tudo, mas é o local mais alto da casa...

sábado, dezembro 31, 2011

Fechando o ano de verdade, com chave de ouro...

Eu não ia mesmo postar mais nada, já tinha encerrado as atividades no blog em 2011. Mas ontem ganhei um presentão, por isso preciso dividir.

Esse ano, como já foi dito e redito, foi um ano bem estranho e atípico em termos de clima. A primavera demorou a chegar, quando chegou demorou a esquentar, e quando esquentou, esquentou pacas. Até setembro tivemos domingões ensolarados com temperaturas acima de 20 graus. O inverno demorou a chegar. Há muitos, muitos anos Bodø havia experimentado um Natal sem neve. Mas ela chegou semana passada. Não direi com tudo, porque está ainda bem longe dos 2 metros acumulados que experimentamos em 2010.

E desde ontem temos neve por todos os lados, mas sem nuvens, o céu está aberto. Os dias, a partir do dia 23 (solstício de inverno), começam a ter mais luz, um tiquinho por dia. A gente mal percebe por enquanto. Amanhece 9:30 da manhã, e e por volta de 14:30 o sol volta a se por. E não chega a ficar claro, claro, não. As horinhas de luz são um lusco-fusco, o sol está sempre próximo ao horizonte, e você mora num local montanhoso, capaz de não enxergá-lo mesmo.

 Nessa foto ainda pesquei um avião chegando do sul da Noruega. Ó a luzinha dele acima do telhado do vizinho...

Ontem eu e Lars fomos jantar fora. Ganhei da minha chefe um vale-refeição (sim, aqui é possível comprar um vale-presente num restaurante ou até mesmo uma diária de hotel), ou um gavekort, de vários dígitos pro Bjørk. Então ontem foi o dia de gastá-lo. Nos empanturramos de um extraordinário combinado de sushi e um belo riesling fresco e bem seco. Nem tiramos foto porque estávamos ocupados em comer a bela refeição ao invés de olhar pra ela, e cá pra nós, já ficou cafona tirar fota do que se pede no restaurante pra mostrar pros outros, né...

De lá fizemos um desvio básico ao Picadilly, meu bar favorito em Bodø, por todos os motivos errados, rsrsrs. 

Na volta pra casa, caminhando pelo píer dei de cara com uma aurora boreal mais discretosa, encoberta pelas nuvens. Caminhamos mais uns metros, o vento levou as nuvens mais pro lado, e descobriu uma aurora verde intensa, que cortava todo o céu de Bodø como uma faixa. Ficamos ali uns 5 minutos, admirando o espetáculo, visivel mesmo com as luzes de iodo da cidade e todas as casas mega iluminadas. A aurora dançava como que ao sabor do vento. Dava inclusive pra ver o reflexo dela no mar. Um show. E mesmo com 5, 6 graus negativos, eu não queria ir pra casa!

Tomara que tenha sido um sinal de que 2012 será um belo ano - se ele não acabar, rsrsrs! Feliz ano novo!

domingo, dezembro 18, 2011

Pra fechar o ano

Pois é, nunca tinha deixado de escrever por um mês inteirinho no blog, imagine 2! Mas acontece que a vida não pode ser descrita o tempo todo. Precisa ser vivida. Mais um ano se vai, e olho pra trás só pra descobrir que esse ano passou rápido demais. Ano passado a essas alturas estávamos passando o maior calor em Sampa, com sogra na mala e tudo o mais. 

Cheguei, aceitei minha promoção temporária e sai correndo feito louca sem olhar pra trás - e nem pra frente. Em agosto minha chefe voltou da longa licença médica após uma complicada cirurgia no pé. E eu tirei uns dias de férias e logo pedi demissão do meu antigo cargo no hotel (como chef, tempo integral) e comecei na escola de norueguês para adultos. Achei que seria bem complicado voltar pro porão do navio depois de tê-lo manejado por 7 meses - e tava de saco cheio do esforço físico, minha coluna tava podre (mas foi reparada por maestria por um quiropraxista genial). 

Estava adorando minha vidinha fácil de estudante, indo pra escola de Segunda à Sexta das 8:30 às 14:30 e trabalhando ainda no hotel por volta de 12 horas semanais, das 17 às 21 na recepção. Fiz vários amiguinhos novos na escola. Muita gente diferente de diversos países distantes, e eu nunca tinha tido a oportunidade de conhecer. Diferentes africanos (especialmente da Eritréia e Etiopia), chineses de minoria muçulmana, palestinos, afegãos, paquistaneses... Aprendi norueguês pacas! Mas foram só dois meses. Eu precisava completar a carga horária obrigatória de estudos da língua exigida pela Imigração norueguesa, e depois daí não havia planejado muito o que fazer. Tava começando a pensar onde procurar emprego. Mas a possibilidade de minha chefe não conseguir voltar ao trabalho tava sempre ali batendo na porta, apesar de eu ter resolvido não contar com a possibilidade pra não me desiludir depois.

Então chegou a época dos exames oficiais de norueguês, e ao mesmo tempo convocação oficial da gerente do hotel pra eu retomar a posição da minha chefe, dessa ver em caráter permanente. Fiz o teste de norueguês e comecei no trabalho na semana seguinte. Derramei umas lagriminhas quando tive que me despedir d@s amiguinnh@s da escola. A convivência com eles foi extremamente gratificante. E desde então estou na correria de final de ano, planejamentos operacionais e orçamentários para 2012, planejamento das festas de final de ano, enfim... Sem parar. E tudo isso com apenas 2 semanas de férias-FÉRIAS mesmo. Em maio, e uma semana em agosto, porque as outras duas semanas emque tirei férias do hotel eu comecei na escola.

Sinto como se não tivesse tido tempo pra sentar e refletir em tudo o que aconteceu esse ano. E essa semana foi como se tudo tivesse acabado e eu pudesse fechar um pouco o livro pra pensar sobre o que acabei de ler. 

Quarta feira tivemos um dugnad (tradução bem grotesca: mutirão) com o pessoal da KirkensBymisjon, que é ligada à alguma igreja, ACHO EU, mas que mais importante, é a única forma de suporte aos alcoólatras e viciados em droga na cidade. Eles tem apoio por telefone, organizam encontros e tudo o mais. E nós, junto com o pessoal do Løvold Kafateria (o restaurante mais tradicional de Bodø) e de uma escola de Bodø e uma de Fauske, servimos a esses voluntários e viciados/alcoólatras um almojantar de Natal. O pessoal do Løvold forneceu e preparou a comida, os alunos das escolas serviram a comida (na cozinha) e nós do hotel fomos garçons e demos o restaurante e a decoração. Foi muito bonito. Esses alcoólatras e viciados em Bodø são socialmente marginalizados. Apesar de Bodø ter uma das maiores porcentagens de usuários de heroína em todo o país, a sociedade local, totalmente conservadora (aqui em Bodø o FrP, partidão conservador, de direitona, foi o mais votado nas últimas eleições, enquanto no resto da Noruega ele perdeu vários pontos), lida com o problema simplesmente ignorando-o. Foi lindo, mas exaustivo. 

No dia seguinte começamos nossos festejos de final de ano no hotel. Tivemos dois dias de seminários de planejamento e motivacionais com o pessoal do hotel. Na quinta começamos com um almoço de saunduíches de salmão preparados por mim, atividades em grupo (por departamento), e no fim dei um curso de vinhos. Terminado o curso, os dois refugiados iranianos que trabalham comigo haviam preparado um buffet iraniano pra nós. Jantamos no hotel, e os participantes que quisessem poderiam dormir no hotel. Ao chegar nos seus quartos, eram recebidos por meias de natal com a famigerada tangerina, que é um símbolo do natal por aqui (e eu não sei porque, mas acho que por sazonalidade mesmo), trufas de chocolate feitas por mim, e nozes diversas. Cada meia tinha um bilhetinho pessoal do chefe do participante. Eu agradeci minha equipe pelo trabalho duríssimo ao longo desse ano. Não dormi no hotel, vim pra casa. E foi melhor, pois um pessoal saiu e chegou no hotel detonado 3 da manhã. Uma das moças nem apareceu no dia seguinte. Noruegueses e a cultura alcoólica....

Na Sexta, terminamos as palestras pela manhã, almoçamos buffet de pizza no Peppe´s e depois fomos pra uma corrida organizada por uma empresa especializada. Fomos divididos em grupos e cada grupo recebia um GPS. O GPS apontava a direção do próximo ponto de encontro, em locais diferentes no centro da cidade. Ao chegar em cada ponto, havia competições de destreza (cabo de guerra), trabalho em equipe (um de olhos vendados atravessa um campo de obstáculos guiado pelos companheiros de time) e solução de xaradas. Tava frio, mas foi divertidésimo. Duas horas depois voltamos pro hotel, onde fomos recebidos por shots de Jegermeister e café, pra esquentar. Daí houve a premiação do funcionário do ano (ano passado fui eu,esse ano foi uma recepcionista extraordinária), tomamos champagne e cada um foi pro seu quarto - enquanto eu fui pro bar preparar sangria pra recebeero pessoal mais tarde. 

Logo mais nos encontramos no bar do hotel para a sangria, discursos e toda aquela coisa norueguesa, e daí fomos por maravilhos restaurante Smak, onde teríamos um banquete de 5 pratos e pacote de vinhos. Foi ótimo, meus aluninhos pondo em prática o que aprenderam de vinhos... E de lá, bem mais tarde, os mais fortes (e jovens, ou audaciosos!) foram primeiro pra um bar, depois outro. Eu acompanhei, mas dei no pé assim que acenderam as luzes do bar. Foi minha deixa pra sumir. 

Sábado antes de voltar pra casa (nem consegui tomar café da manhã no hotel) passei no Cielo e comprei um milk-shake de chocolate bem doce. Não adiantou. Ainda tava de fogo e passei o dia de ressaca ontem. Mas mesmo assim aliviada, com uma sensação de dever cumprido que fazia tempo não sentia... 

Hoje arrumamos a bendita árvore de natal aqui na sala de casa. O espírito natalino chegou em mim quando tivemos o dugnad, e depois que assisti o episódio de natal de Glee. Mas ele já foi embora. E pra ajudar, nem tem neve aqui. Em pleno Ártico. 19 de dezembro. Nevou uns 10 dias (não seguidos) em Bodø desde meados de novembro. Será o sinal dos tempos pro fim do mundo em 2012? (brincadeira, mas não muita).

Participei de um amigo secreto de Natal com as brasileiras que conheço através do Facebook - algumas eu conheço face a face mesmo. Quem me tirou foi a Daniela Santos-Hansen, que eu conheço pessoalmente. E ela me deu um presente fofo e super pessoal, que eu amei. E eu tirei a Wilqui Dias, que eu também conheço pessoalmente. Fiz ela aparecer aqui em Bodø comk a desculpinha de um café natalino, mas era mesmo praentregar o presente pessoalmente e poder dar um abraço nela. Naquela semana eu também senti o espírito natalino... Muita sorte eu de ter recebido presente de e dado presente pra  meninas que eu sei que são reais!

A todos os meus 2 leitores, um Feliz Natal, ou Boas Festas e um ótimo 2012, repleto de realizações.

sexta-feira, setembro 30, 2011

Um post-foto-tópico, depois de um abençoado e longo verão...

Eu enrolei, enrolei, enrolei pra escrever sobre o tanto de coisas que me aconteceram nessas últimas semanas... Na verdade nem foi enrolação, foi pura falta de oportunidade e tempo. Como muito aconteceu, vou ter que escrever um post em tópicos... Pra tudo tem uma primeira vez.

1) Férias: já havia contado nesse post aqui como ficaria minha vida após as férias. Então, chegando de Lofoten, logo na segunda feira seguinte, comecei minhas aulas de norueguês na escola em tempo integral. Tive férias do trabalho, mas não da escola. Então na primeira semana de aula acabei matando dois dias pra poder ir pro chalé com o Lars na última semana de férias dele. O tempo não tava lá essas coisas, mas pescamos um bocado e deu pra relaxar mais um pouco. E logo depois desse fim de semana alongado, comecei na escola e trabalho de vez.




2) Trabalho: em geral meus turnos no hotel são às segundas, terças e quartas, de 4 a 8 ou de 5 a 9 da noite. Não é muita coisa, mas adicionando às 6 horas que passo na escola na semana, é muita coisa. Sobra tempo pra nada. O cara do bufê pra quem eu tinha mandei um CV nunca me ligou. Acho que meu CV (que eu traduzi pro norueguês com ajuda do Lars e de tradutores on-line assustou um pouco o cara. Eu também não me dei o trabalho de voltar lá no escritório dele, porque no fim das contas não sobraria tempo pra nada mais nessa minha vida além de escola e trabalho.

Apesar de estar trabalhando bem menos, e portanto ter que ter feito uns cortes no orçamento doméstico, estou curtindo a fase de não ter que preocupar com o hotel nas hooras vagas, de não ter neguinho me ligando porque acabou a batata ou não acha o sabão, e de não ter que levantar às 5 da manhã.Uma delícia. E ainda ganhei uma vida social mais agitada e mais independente. Tenho encontrado regularmente meus novos amigos argentinos e chilenos.  (Coincidência - quando Rita, a argentina, me apresentou Titi, a chilena, ela ficou me olhando, olhando... Por fim, veio a pergunta: "Disculpa, pero trabajavas en barcos?" E eu disse que sim, Royal Caribbean, Splendour foi o primeiro, de 1999 a 2001. E ela: "Camila, no te acuerdas de mi?" PQP! Eu não lenbrava dela, porque passamos bem pouco tempo juntas no Splendour. Mas não é muita coincidência? Justo em Bodø?

Falando em vida social, vamos a ela.

3) Vida social: Há uns finais de semana conheci a Wilqui Dias, do blog Memórias de mim mesma. Ela mora perto de Bodø e vem sempre pra cá, e dessa vez eu mandei mensagem pra que ela me ligasse. Lars estava em Lofoten com o pessoal do trabalho, então fui sozinha encontrá-la e o marido dela. Foi muito gostoso o bate-papo, nem vimos o tempo passar. Precisamos marcar mais vezes.


Semana passada andava com uma vontade animal de comer carneiro. Afinal, os bichinhos engordaram o verão todo, e estão no primor de sua forma antes do abate. Comprei logo uma perna inteira e convidei um pessoal. Em cinco quase detonamos a perna toda, de tão boa que ficou... 3 horas de forno.


Recebemos por uns tempos visitas de um gato bem sinistro... Começamos a dar comida e água pro bichinho, e se deixassemos a porta aberta ele bem que entrava em casa. Mas se pelava de medo de nós, era só fazermos um movimento brusco e ele vazava. Já faz umas duas semanas que ele sumiu de novo. Espero que tenha encontrado a casinha dele...



E nessas eu tentei fazer o Lars aceitar o fato de ter um gato, mas parece que a alergia dele não vai permitir mesmo. Na noite  do jantar de carneiro, Rita trouxe a Sofia, a gatinha do amigo chileno que trabalha nos navios da Hurtigruten, a qual ela cuida quando Arturo está embarcado. Sofia é internacional, já morou em 7 cidades em dois países, e é um doce. Lars até se animou com Sofi, mas quando ela foi embora, ele começou a espirrar...

E quando falo de vida social e tals, até parece que ela é agitadésima, neam, mas aqui em Bodø a coisa é devagar mesmo. 
4) Escola - pra isso um dia terei que escrever um post dedicado, pois de tudo que me falaram das escolas por aí, nada fez nenhum sentido! Bodø é uma comunazinha (município em norueguês chama-se komunne) nada progressista em vários sentidos, e o povinho daqui é extremamente conservador. Maaaaas, em termos de escolas, ela é modelo no norte da Noruega. Comecei na classe mais avançada da escola, porque meu noruga falado é bem bom. Mas escrever são outros 500. O povo da minha classe é 10. Tem uma casal da palestina, um casal de uma das minorias na China, 4 da Eritréia, uma etíope, uma somali, uma tailandesa, uma sérvia, um russo, um iraquiano e uma jovenzinha de 18 anos de procedência árabe mas que eu não exatamente de onde ela vem. Todos excelentes, gente boníssima, e la vou eu com minha curiosidade desenfreada em conhecer gente de lugares diferentes... Trabalhei com gente de mais de 50 países nos navios por um longo tempo, então não é novidade pra mim. Mas nunca tinha convivido com nenhum desses povos e todos os dias aprendo algo novo. 

Tenho 3 professoras, todas senhouras norueguesas com excelente formação. São todas professoras de gramática e isso está sendo de uma ajuda tremenda. Usamos o livro Stein på Stein, que é a continuação do livro que usei com a Bjorg em São Paulo. Estou aprendendo horrores. Tanto que consigo trabalhar na recepção do hotel sozinha (mas ainda evito atender telefonemas externos) sem maiores problemas. Em casa tenho praticamente só falado norueguês com o Lars, e até já me atrevi a começar a ler um livro de vinhos em noruga. 

No fim das contas, nem que fosse pra dar aquela destravada primordial na lingua, a escola me está servindo e muito, e eu gostaria muito de terminar o semestre nessa turma, mas pelo visto e pelas novidades que vem pela frente em termos de trabalho, parece que eu só vou poder concluir as 250 horas obrigatórias. Dia 25 de outubro vou fazer Norskprøve 2, que é uma espécie de TOEFL pro norueguês, que tem 3 níveis. A minha classe fará a prova 3, mas eu preciso fazer e ser aprovada na 2 antes de poder fazer a 3. E se meu norueguês melhora cavalarmente a cada dia, não há mais nenhum motivo de preocupação. Um alívio. Abaixo umas fotinhas do passeio que fiz com a escola na segunda semana. Fomos a Kaiservarden, uma montanha na cidade de onde se tem vista de toda a região se o tempo estiver bom. Olha como estava o tempo...







Dá pra ver toda a imensa cidade lá de cima...

Ainda volto com fotos do final de verão, começo de outono. Verão que aliás foi excelente e longuíssimo por aqui. Começou a esquentar cedo em junho (na primavera a neve também foi cedo), e foi quente e seco. Talvez por isso a safra de mirtilos tenha sido tão terrível por aqui. Não se encontrou muitas blåbær em nenhum canto por aqui. Em compensação, havia muito multebær (framboesas polares), muito mesmo... Julho e agosto também  foram bem quentes, choveu moderadamente, e o outono mesmo só deu as caras por esses dias. Acho que por uns 8 finais de semana seguidos, os Domingos todos foram de muito sol e altas temperaturas...

Quando estive em Oslo no começo da semana (pra um treinamento do hotel, treinamento esse que aconteceu inteirinho em noruga. Mas também, o povo lá em Oslo fala um norueguês tão mais fácil de entender!) vi uma matéria no jornal local que as lavouras de cenoura e batata, entre outras, tinham sido quase todas perdidas pelo excesso de chuva. Por aqui, o verão foi tão bom que as cenouras cresceram bem além da média, virando supercenouras!

sexta-feira, setembro 02, 2011

Lofoten, o lugar mais lindo do mundo... parte 2

Depois da festança da noite anterior, dormimos até sair fumaça do colchão e por conta disso perdemos o café da manhã. Então fomos pra praça, achamos uma deli deliciosa onde uma senhora tirava bolos e pãezinhos de dentro do forno. Muitos produtos orgânicos. Comemos um omelete com salada, um pão delicioso e um suco de maçã orgânico de chorar. Depois fomos dar uma olhada numa outra galeria de arte, Lars queria conhecer mais obras de Dagfinn Bakke, de quem ele comprou uma gravura em Saltstraumen há uns anos atrás. Mas o fato era de que na galeria dele só tinha trabalhos de outros artistas! Não gostamos de nada e fomos buscar o carro, porque o dia estava lindo, e saímos com destino a Henningsvær. O caminho de Svolvær até lá já é de chorar. Praias desse naipe:

Um vento do cão, mas ô vontade de sair correndo e tchigurf!

Seguimos pela estrada estreita com um busão sueco na nossa frente. Henningsvær é um espetáculo de lugar. Parece um vilarejo do século 19 que não avançou no tempo. Tem uma mega galeria de arte com três andares, sendo um deles apenas com óleos do século 19 e começo do século 20, um andar com arte contemporânea e a exibição muda periodicamente, e no último andar fotografias. Há também um "espetáculo multimídia", como eles anunciam, de meia hora de duração e acontece de hora em hora. Nada mais é que um dvd que eles passam num telão, mas vale a pena. Do jeito que Lofoten é um lugar espetacular no verão, imagino que também o seja no inverno e na primavera... Esses picos monumentais com neve e a luz cor de rosa do por do sol é uma imagem que eu pago dinheiro pra ver ao vivo... 

Em Henningsvær há também um restaurante extremamente recomendado, o Fiskekroken, mas não ficamos entusiasmadíssimos com o cardápio. Além disso, as ruas estavam cheirando a kanellbolle saído do forno, e meu nariz seguiu o rastro, claro. Chegamos a um ateliê de velas (!) que também era um café daqueles extremamente simpáticos, cheio de coisas também orgânicas pra vender. Há também várias lojinhas que vendem cosinhas pra casa, sabonetes caseiros e franceses (pois é, não precisava, mas eram fabulosos e carésimos).


Ó a cara de satisfação da gorda prestes a cravar os dentes no trem quentinho...

De bucho cheio e tendo visto toda a vila, voltamos pra nossa base. Ficamos com vontade de ir comer num restaurante chamado Borsen Spiseri. O cardápio era matador, tradicional, é herança cultural da Noruega. Fica num hotel numa ilha em frente a Svolvær. Mas o danado só abria às 5, e quando chegamos lá disseram que pra quem não tivesse reserva, só a partir das 9! Desistimos. O restaurante do nosso hotel também era renomado, mas um prato custava mais de 300 coroas! Desistimos e fomor comer (uma merda de comida) no Bacalao, nosso pit stop diário para drinks e a cerveja mais deliciosa da Noruega, feita pela Mack, claro (acho ascervejas da Mack excelentes, a fábrica fica em Tromsø). Obs - o Bacalao não serve pra comida, só pra um drink eventual... Não perca tempo.

Mas de lá fomos fazer uma turistada clássica... Em Lofoten, claro, também há um bar de gelo, chamado Magic Ice. Nada nos moldes dos de Estocolmo ou Copenhagen, mas muuuuuuuito melhor! Maior e mais divertido, cheio de esculturas de gelo contando a vida em Lofoten. Ficamos ali uns 20 minutos, ficou muito frio depois disso, mas se alguém visitar Svolvær, deve incluir esse item na lista, é super divertido!

Saímos de lá com o por do sol lindo, e fomos pro bar do nosso hotel. Passamos o resto da noite lá. Fomos dormir um pouco mais cedo. E lá pelas 3 da manhã o alarme de incêndio do hotel disparou. Em 5 minutos, bombeiros e polícia a postos. Num rorbu vizinho, uns locais estavam dando uma festcheennha... Sabe-se o que fizeram, mas levou 20 looongos e dolorosos minutos pro alarme ser desligado. 

Dia seguinte nubladão, pegamos a estrada cerca de 11:30. Só havia duas barcas de Moskenes, às 14, outra às 21! Dirigimos sem parar de Svolvær a Moskenes, mas pra nossa surpresa a fila de carros pra balsa estava enorme. E esperamos. Éramos os últimos da fila. Se não coubéssemos, ou esperaríamos até as 14, ou voltaríamos pra cima pra pegar outra barca de outro local até Steigen, e dirigir 3 horas de Steigen pra Bodø, chegando mais cedo. Então, faltando 3 carros, o cobrador avisou que não caberíamos. Lars virou o carro, mas teve que parar pra eu usar o banheiro no posto turístico. Nesse intervalo, sobrou um lugar estranho na balsa e o cobrador chamou a gente de volta. Disse que não custava tentar. Foi uma manobra danada pro Lars enfiar seu furgão véio na balsa, mas deu pra fechar a porta dela certinho!


Chovia, tempo ruim, mas o mar estava um tapete. Viemos meia viagem sentados no chão do saguão, tão apinhada que estava a balsa. Mas aí a chuva deu trégua e sentamos no deck. Perto de Bodø, 4 golfinhos deram o ar da graça. Mas cadê que a gente alcança catar a máquina em tempo...
Chegamos bem cansados, mas bem felizes. Pena que foram só 4 dias... Faltou ver e fazer um montão de coisas, inclusive comer bacalhau, mesmo num logar onde até as tampas dos bueiros tem um bacalhau estampado. Mas comprei bacahau seco pra trazer pra casa. Faltou um safari de orcas e águias marinhas, um passeio de barquinho de borracha até Trollfjorden... Fica prometido o retorno breve.

Abaixo um slide show com música e tudo! Tem uns 13 minutos de duração, e música, portanto abaixe o volume se não quiser música, aumente se quiser uma musiquinha dinamarquesa. É minha primeira criação do gênero, portanto seja paciente! Boa viagem...





quinta-feira, setembro 01, 2011

Lofoten, o lugar mais lindo do mundo...

Tô cheia de coisas pra contar, mas o tempo é curto e minha vida não acontece na frente do computador - especialmente agora! Por isso, vamos começar pelo começo: as férias em Lofoten. Pra se ter uma idéia, em 4 dias eu tirei 650 fotos. Isso porque só fez sol um dia.

Pra quem nunca ouviu falar (como é possível eu não sei), Lofoten é uma península com várias ilhas, exatamente em frente a Nordland e Troms, começando na altura de Bodø. Tanto que pro sul de Lofoten,  o ponto de partida é Bodø. Há vôos direto pra Leknes (25 min) ou Svolvær (30 min), dois Hurtigruta por dia pra Stamsund e Svolvær (cercade 3 1/2 horas), e uma barca várias vezes ao dia pra Moskenes (4 horas). Resolvemos tomar a barca. Tanto na barca como nos Hurtigruta é possível levar o carro (mas atenção aos Hurtigruta, tem um deles, mais vovozinho, que não leva carros, chama-se M/S Lofoten e viaja aos sábados sentido sul). Entre Lofoten e o continente tem uma porção de mar que chamam de Vestfjorden, e é um lugar bastante especial. Povoado por golfinhos, águias marinhas e até baleias orca, se você der muita sorte. Também é um lugar de paisagem muito especial, com diversas montanhas de mais de mil metros de altura que despencam no mar. Assim é Lofoten, assim é Kjerringøy, assim são os fjords na região de Salten, ao redor de Bodø. Pode não ser tão popular como as atrações turísticas lá do sul (Preikestolen, Geiranger), mas também são de outro mundo, e melhor, não é tão apinhado de turista como lá pra baixo (com exceçãode Lofoten, claro), e ainda por cima chove bem menos! Tenho que fazer a propaganda pra que os amigos que ainda não se atreveram a vir me ver nos confins do mundo se animem...

Resolvemos tomar a barca num horário peculiar: 4:30 da manhã. 1)Mais vazia, 2)chegaríamos lá com bom tempo, podendo parar em vários pontos turísticos entre Moskenes e Svolvær, já que o check in no hotel que reservamos não seria antes das 15h - em geral é assim por aqui. A viagem levou 4 horas cravadas, e o mar tinha ondas enoooormes, mas não havia vento, então o navio balançou um pouco, mas suavemente. Mas eu dormi. Como muitos caminhoneiros (como o próprio Lars já fez muito) usam o serviço de barca, elas tem um saguão (não é permitido fazer o trajeto no carro, obviamente) com lanchonete e sofás em que é possível se espichar se não houver muita gente. Até levamos travesseiro. Saímos de Bodø com tempo parcialmente nublado e chegamos em Moskenes com um solzinho gostoso. Na saída da barca encontramos nosso vizinho de chalé fazendo um bico de cobrador. Só aqui mesmo...

Depois de uns bons bocejos e uns tapas na cara pra espantar a soneira, começamos a jornada. Quando me dei conta de onde estava, precisei catar o queixo no chão do carro. Não importa quantas vezes você possa ter visto fotos ou imagens de um lugar, é sempre diferente ao vivo. E com Lofoten é ainda mais diferente, porque as dimensões ali são monumentais, especialmente ao sul, onde estão as montanhas mais altas... De Moskenes a Svolvær calculamos 4 horas, são duas de estrada, mais todas as paradas...


Estávamos com uma vontade tremenda de tomar um café, então paramos no primeiro vilarejo. Era cedo, cerca de 9 da manhã, e nos demos conta de que TODAS as lojas estavam fechadas até as 10. Era uma quinta feira... Achamos uma lojinha de souvenirs aberta e entramos. A dona, uma vovó muito simpática, logo puxou prosa. Perguntou de onde eu era porque meu sotaque era diferente. Disse que Brasil, começa a conversa, o que te traz tão longe, etc. Lars conta que trabalhavamos num navio, blablabla, aí o povo fica ainda mais curioso. Chegou o marido, mais prosa, tomamos um café pavoroso, e eu acabei comprando um peixe de pelúcia pensando que era bacalhau (no fim é um salmão!) pra mandar pro meu sobrinho. A conversa ficou longa, conseguimos nos desvencilhar, não sem antes ouvir as dicas de passeio do vovô.

Por conta disso achamos essa praia... Apesar do  vento (uma gaivota estava praticamente parada no ar batendo asas como louca sem sair do lugar, morri de rir), sempre me ocorre arrancar a roupa e sair correndo pra um tchibum, porque isso parece Tahiti e não Ártico. Aí penso na temperatura da água, brrrrrrr.

Próxima parada, Vikten, onde fica uma oficina de vidro soprado. O lugar é famoso por aqui, chama-se Lofoten Design, e seus itens, carésimos, são bem cobiçados. Entretando, me decepcionei horrores. Não estava esperando nenhum cristal Baccarat, mas algo parecido com o que se encontra em Veneza e Murano. Não era. Era um trabalho com muito pouco refinamento pra custar o que custa. Uns peixes de vidro, depois vários vasos e pratos de enfeite, não gostei de nada. Só da arquitetura do local. Ficamos só uns 10 minutos ali, e seguimos pra Leknes.

A essa altura estávamos varados de fome, então resolvemos parar pra café, comida e banheiro, claro. Achamos um super-hiper-mega gigante shopping center, e ao redor dele haviam cafés e uma padaria. Da padaria saía um cheiro de danish (aqueles pães doces de massa folheada recheados de creme ou geléia e cobertos de glacê, um pecado) recém saído do forno. Ali mesmo paramos, tomamos outro café pavoroso, comemos um delicioso e fresquinho danish, fomos ao banheiro do shopping, compramos algumas coisas pra viagem e seguimos em frente. 

De Leknes pra Borg, onde fica o famoso museum viking Lofotr. Pra esse lugar vale parar pra uma visita guiada. Tudo ali é réplica, com base em escavações feitas ao longo de muitos anos. O museu foi construído em 1995. Há uma casa viking totalmente mobiliada, um ferreiro e um navio. Aprendi coisas novas sobre os vivkings... Na minha cabeça não estava claro se os vikings daqui tinham ido pra Islândia ou se foi o contrário. Mas confirmei o fato de que eles saíram daqui pra lá, por que? Por causa do cristianismo, ora bolas. Sempre eles! A Islândia era terra de ninguém e lá eles poderiam ser "free to be you and me", ao passo que os cristãos exigiram que houvesse apenas um rei e os vikings não gostaram dessa história. Descobri também que chifre em capacete de viking é tudo mentira! É um mito que tem muito a ver com os bárbaros alemães, disse o guia. Em nenhum capacete viking encontrado nem na Dinamarca, nem na Suécia nem na Noruega tinha chifres, uma vez que o inimigo poderia agarrar o sujeito pelos chifres e derrubá-lo com muito mais facilidade. Além de tudo isso, as Sagas vikings foram narradas pela elite, que era apenas quem podia se dar ao luxo de ter um capacete, já que o ferro era artigo de alto luxo por ser caro. Então os mais simples preferiam ter uma espada. Claro.

Naquelas épocas também o trabalho doméstico era bem definido. Mulheres no fogão, costurando, limpando e os homens caçando, brincando de espada (não resisto à piada, perdão) etc. Se uma mulher quisesse aprender as tarefas masculinas, sem problemas, afinal, quando a homarada ia pras batalhas eram elas quem ficavam pra trás e tinham que se virar em casa. Maaaaas, se um cara quisesse aprender a costurar, aiaiaiai! Era expulsão do clã. Sexismo desde aqueles tempos. Vale muito a visita pra conhecer um pouco dessa história toda. No alto verão existem várias atividades, e tem ainda o festival viking todos os anos. Deixo aqui um vídeo alheio que ilustra bem a coisa toda...

De lá deveríamos ter parado em Eggum, um vilarejo com uma praia fenomenal e um forte construído pelos alemães na Segunda Guerra. Deixamos de lado porque demoramos demais em Borg. E agora estávamos AZUIS de fome. Pelo caminho, uma grande desvantagem. Pra achar um lugar pra comer foi um sufoco, nem as lojas de conveniência nos postos de gasolina existem em abundância, só mesmo em Leknes.

Finalmente avistamos uma placa que dizia "comida caseira a 500 m". Paramos. Um lugar muito simples, bem tradicional das beiras de estrada aqui do norte. No cardápio, língua de bacalhau frita, halibut frito, peixe frito (mais barato que halibut, ou kveite, ou alabote em português, mas no Brasil se diz halibut, e aliás não é um peixe comum por lá), ensopado de carneiro, lapskaus (um prato tradicional que consiste de batatas, cenouras e carne seca de ovelha/carneiro, cozido por bastante tempo. Come-se com pão sueco ou flatbrød) e por fim, guisado de baleia. Claro, em Lofoten se encontra a maioria dos baleeiros ainda na ativa na Noruega. Tava em dúvida entre língua de bacalhau e lapskaus, mas Lars quis a baleia, claro. Acabei pedindo peixe frito. Estava tudo uma verdadeira delícia. Mesmo com um montão de conflitos internos e me sentindo uma grande hipócrita, provei o prato do Lars e estava sensacional!


Barriga cheia, saco cheio de estrada, chegamos em Svolvær por volta de cinco da tarde, O tempo a esta altura já estava completamente fechado, nubladão, e chovia. Não muito, mas uma chuva fina e chata, estilo São Paulo. Fomos direto pro hotel.

Uma coisa que é importante saber sobre Lofoten é que há um meio de hospedagem bem distinto por ali, não estou segura se ainda existem rorbus em algum outro local da Noruega. Rorbu são essas casinhas vermelhas que ficam na beirinha d´água e aparecem em todas as fotos de Lofoten,e desde o século 19 serviam de acomodação pra os pescadores que vinham em bandos trabalhar em Lofoten na temporada. A temporada de pesca acontece no inverno, de dezembro a abril. Dentro de cada uma dessas cabanas ficavam às vezes toda a tripulação de um barco de pesca. Em tempos mais modernos os rorbus antigos de Lofoten foram transformados em hotéis. Existem quartos ou suítes, e em geral há cozinha também. O hotel que ficamos só tem rorbus, de diferentes categorias. O hotel faz parte de uma associação chamada De Historiske. Os hotéis membros ou estão em edifícios históricos ou em locais de relevância cultural. O nosso, em Svolvær, era o Anker Brygge. Não é barato, mas vale muito a pena.

Depois de um providencial banho, saímos pra cidade. A vida noturna em Svolvær não é lá essas coisas. Paramos no Bacalao, um barzão todo gerido por suecos, todo mundo trabalhando ali era sueco. Ali descobrimos a melhor cerveja norueguesa que já tomei, admiramos o tráfego de turistas italianos e alemães (hordas deles, mesmo no meio de agosto), vimos o Hurtigruta da hora chegar e sair, mas bateu o cansaço. Fomos pro hotel, mas a música que ouvimos ao passar pelo bar nos fez entrar, e ali ficamos mais um par de horas. Comemos camarões fresquinhos, e tomamos mais um par de cervejas.

Dia seguinte tomamos café da manhã (meio que ordinário pelo preço do hotel, mas os pães eram divinos!) e pegamos o carro em direção a Kabelvåg, um "bairro" há uns 20 km de Svolvær. Lá fica Storvågan, onde há um hotel e restaurante bem tradicionais, e um "complexo" que envolve um aquário (sou apaixonada por aquários, visito todos que posso!), um museu estilo Kjerringøy, com casas preservadas e móveis antigos, e a galeria de um artista plástico famoso chamado Kaare Espolin Johnson. Começamos pelo aquário. Um lado meu fica tristérrimo de ver os bichinhos (mesmo peixes) presos num tanque. Lá eles tem três lontras e três focas, sendo uma delas um bebê de 6 meses. Além disso, há um tanque com cada tipo de peixe encontrado no mar daqui (exceto os de profundidade, como uer, kveite e breiflabb - monkfish - porque eles não tem um tanque pressurizado). Olhamos o tanque de salmão, o de bacalhau e steinbit, o de skrei, o das trutas, todos os crustáceos, um barato (aqui tem uma fotinho de todos os nossos habitantes marinhos conhecidos). Tava cheio de criança, claro, e num certo ponto, um senhor muito amável veio avisar a todos que as focas estavam sendo alimentadas. Fomos assistir, mas eu fico me doendo de pena, coitadinhas... Mas as crianças amaram. Depois as lontras.

E daí resolvemos avançar, e fomos à galeria. Eu não conhecia esse artista e fiquei impressionadíssima com as gravuras dele. Ele foi um ilustrador famoso, tem vários livros ilustrados por ele. E ele captura toda a atmosfera dessa região, que ainda vive bastante da indústria da pesca. Aquelas montanhas além da imaginação, encontrando esse mar que tirou muitas e muitas vidas, pescadores e seus barcos, a fronteira com a Rússia... Pra quem gosta de arte, vale dar uma olhada no site dele só pra ver as obras. Compramos uma gravurinha avulsa por 500 coroas. A enquadrada custava 1500! Compramos um "Trollfjord".

Por fim passamos ao museu (e se você compra ingresso pros 3 ao mesmo tempo saem mais barato que comprar separado, e você não precisa visitar os três no mesmo dia). Pudemos ver um mercado antigo, uma casa decorada, e o melhor de tudo, um autêntico rorbu à lá antigamente. Tem também uns barcos de pesca antigos, com motores do século 19... O melhor desse museu foi um mini-documentário que assistimos sobre faróis antigos e as famílias que cuidavam deles quando eles ainda não eram automatizados.

Nessa altura do dia o tempo estava horroroso, chovia, e fomos embora dar uma descansada. Mais à noitinha tínhamos uma reserva no restaurante Du Verden, do chef Roy Magne Berglund, de quem eu já havia falado aqui. Esse chef e um empresário dono de vários restaurantes e empreendimentos aqui em Bodø entraram em sociedade, e pra minha decepção, os menus do Du Verden e do Bryggeri Kaia são unificados. A única diferença é que o Du Verden serve sushi e pizza. Afe maria, que falta de originalidade. Mas enfim, o restaurante era encantador, o serviço, dos melhores que recebi em todos os lugares que fui aqui nesse país (nosso garçon, claro, era indiano). Atacamos de sushi de entrada e um prataço de frutos do mar para duas pessoas. Tava tudo gostoso, a experiência no geral foi boa e valeu a fortuna que deixamos pra trás. 

Depois de um belo jantar, ainda fomos dar umas bandas, mas pra nenhuma surpresa, nada de mais acontecendo na cidade. Então fizemos um bom bar hopping, e terminamos a noite no bar do nosso hotel. Havia música ao vivo e uma recepção de casamento rolando tudoaomesmotempoagora! E o povo que cuida do bar é excelente, o melhor grupo de bartenders que já vi por essas terras... Os primeiros que não olharam pra mim como se eu fosse louca quando eu pedi um Long Island Iced Tea no balcão. Esses não só sabiam o que era como prepararam com perfeição. E ainda recomendaram ao Lars um Lynchburg Lemonade. What???? Nota mil. Fomos dormir de pileque. Forte.

Agora percebi que o post ficou longuíssimo, então vou fazer em duas partes. Essa acaba por aqui. O slide show com muuuuitas fotos fica pro próximo!

terça-feira, agosto 16, 2011

Avançando, sempre!

Pois é, nos comentários do penúltimo post, a Pérola (que é amiga da Zildinha, que é a amiga-irmã de minha tia e de vez em quando comenta aqui, e é assim que a gente percebe como o mundo é microscópico, sei lá!) escreveu assim: "Acompanhando seu blog, percebi que qdo as coisas estao ficando meio chatas p vc (trabalho) sempre algo novo aparece! Sortuda e raçuda vc!" Pois é, depois dos últimos acontecimentos, também me dei conta (de novo) de como isso se repete em minha vida.

Vida essa que passou a ser muito pouco planejada, e muito mais vivida, depois de que comecei a confiar no poder do pensamento positivo. Porque eu me entedio com uma facilidade mortal, as coisas que eu passo a dominar não me desafiam mais. E ficam chatas. E antes, quando era imatura, eu jogava a toalha e depois até ficava meio perdidinha até encontrar o próximo barco (literalmente) que me levaria pra outras costas, ainda não exploradas. Depois de mais velha, aprendi que é preciso engolir sapos e aprender a esperar. Quem espera SEMPRE alcança. Eu acredito nesse pensamento com muita força, e não foi o Paulo Coelho nem nenhum livro de auto-ajuda que me ensinou isso, foi a vida mesmo. 

Quando eu quero MUITO que algo aconteça, acaba acontecendo... Foi assim quando por impulso desejei deixar a Royal Caribbean e fui parar num navio espanhol xexelento cruzando no mediterrâneo, e foi lá mesmo que desejei com todas as minhas forças que a Royal me aceitasse de volta menos de dois meses depois e ter então dois barcos brigando pra que eu preeenchesse as vagas que cada um necessitava. Foi aí que fui parar no Freedom of the Seas de volta, e fui promovida 3 vezes em um ano - econheci o Lars. O trabalho de sommelier tava começando a ficar chato, PUM, lá virei eu supervisora, e assim por diante.

Competência, pode até ser, porque eu sou trabalhadora e dedicada sim, mas teve muito o fator hora certa no lugar certo em conexão com as pessoas corretas pra que certa coisa ocorresse. Eu traduzo isso como destino. E até mesmo sorte, como disse a Pérola. 

Eis que agora a história se repete... Cheguei na Noruega sem lenço e sem documento, literalmente. Sem conhecer ninguém que me levasse aos lugares que eu queria. Sem entender patavinas do que essa gente toda falava. E ainda assim, 4 meses depois arrumei não só um emprego, como um emprego fixo e em horário integral, coisa difícil de acontecer. O plano de ir cursar as 300 horas mandatórias de norueguês exigidas pelo Governo eram o único realmente planejado, e viram, logo de cara ele foi pras cucuias.

Dois anos depois, estou eu aqui às voltas com o maldito curso de norueguês. Um tiquinho arrependida por não ter me livrado disso logo. Porque agora que o trabalho encheu o sacooooo, comecei a ficar com medo de que a mudança fosse praticamente impossível sem dominar o idioma. Veja você que sim, eu falo norueguês, me viro, conversei com fornecedores da Noruega inteira por telefone, escrevi e-mails por 7 meses e tudo correu bem. Os locais acham que eu dou no couro muito bem, mas me falta auto-confiança. Não faz parte de mim ter que pensar 8 vezes antes de começar uma conversa, me sinto uma criança indefesa, e isso afeta o desempenho. Mas bem.

Semana passada estava às voltas com minha chefe que voltou da licença médica. Já havíamos entrado em acordo sobre eu ter uma licença de uns 3 meses pra ir cursar o maldito curso obrigatório e terminar essa possível futura pendência com a Imigração. Mas estava me doendo no coração ter que voltar pra cozinha, trabalho que já havia deixado desde que assumi a posição de chefe do departamento. Ô, saco! Mas pra achar outro trabalho integral ia ser bem difícil, andei lendo os anúncios e todas as vagas às quais eu poderia me candidatar eram pra cozinha, e trocar de úmido pra molhado não ia fazer muita diferença.

Eis que durante uma reunião entre minhas duas chefes e eu, surgiu a proposta de eu preencher duas vagas abertas no próprio hotel. 1) supervisão do programa ambiental (apenas umas 5 horas ao mês, é apenas revisão e coleta de dados e elaboração de relatórios e propostas de melhoria)  e 2) um posto chamado de "service vakt" , que também não é integral, são cerca de 12 horas na semana, onde ajudarei por todos os lados onde o hotel está atolado, inclusive na recepção, e pra isso vou começar o treinemento na recepção quando voltar das férias. Pra complementar o orçamento, a chefe da cozinha pode me chamar quando alguém ficar doente ou quando acoisa realmente apertar, e ainda por cima podem rolar os bicos no catering com quem trabalhei no casório há duas semanas

Todos os problemas resolvidos. Escola em tempo integral (da qual espero apenas completar minhas horas, não estou esperando avançar horrores no aprendizado do idioma não, que vai ser difícil), trabalho em "meio-período", a possibilidade de voltar a pegar o trabalho da minha chefe SE ela ficar doente de novo (e parece que esse é o plano dela), e se tudo der errado, a tranquilidade de não precisar me afobar pra achar outro emprego assim de cara, podendo escolher, tendo tempo de mandar uns currículos e tal. Viu como tudo se resolve? Não é preciso afobação, é preciso pensar positivo, manter-se positivo, e esperar que as coisas se desenrolem naturalmente.

Amanhã é dia da matrícula na escola, tomara que eu consiga uma vaga. E também vou lá no escritório da empresa de catering levar um CV como prometido.  Também tenho mais uma sessão no quiropraxista milagreiro (minha dor praticamente sumiu, sem Doril!), e logo após saímos com destino a Lofoten e depois uns dias de pesca e catação de frutinhas no chalé. Ahhhhh, como eu esperei com sofreguidão por estas merecidas férias... Endelig!!!!

Note to self: esse post é daqueles pra eu ler de novo, se um dia (ou quando) a esperança estiver curtinha...

quarta-feira, agosto 10, 2011

Alívio imediato - e uma a-hasadinha básica

Então, eu andava numa aflição sem tamanho... Meu visto vencido desde de 27 de julho e nem notícia da UDI (a imigração). Tava com a cabeça cheia de caraminhola, imaginando que meu visto seria negado e eu talvez fosse deportada por não ter cumprido com a obrigação de cursar as malditas 300 horas de norueguês e estudos sociais, blablabla. Exagerda jogada a seus pés, eu sou mesmo exagerada, eu sei... Mas a cabeça da gente é perigosa na criação de neuras. Né? Já tava até perdendo o sono. Somado a esse stress, tem toda a novela no trabalho, que aimeldeus, fica proutrora.

Segundona é dia de baixar True Blood (e assistir, claro), e depois, pra acalmar a sanguinolência toda de TB, eu assisto Glee, a série de TV mais deliciosa de todos os tempos. Alguns acham bobagem. Mas uma historinha de um bando de nerds rejeitados pela escola (no Meio-Oeste americano, diga-se de passagem) que se juntam num grupo musical e se aceitam como são, onde tem o gay, a lésbica, a loira-burra, a chata-de-galocha-chorona-adotada-por-gays, a loira-linda-que-já-foi-horrorosa-e-ainda-por-cima-engravidou, o fortão do futebol, o bonitão cuja família fica pobre-de-marré-de-si na recessão, o delinquente juvenil, os asiáticos, as gordas, a negra, a latina, o deficiente físico (enfim, um mini-retrado da realidade que não se vê nas séries por aí), com um  discurso claro contra discriminação e anti-bullying, a ainda por cima MUSICAL!!!! Tem como ser ruim???

Pois é, meus momentos com Glee são prazerosos com uma boa xícara de café, ou uma barra de chocolate, ou um dia de sol na praia. Precisei falar tudo isso de Glee pra poder explicar que nesta segunda, assisistindo ao penúltimo episódio da segunda temporada, eu caí no choro e não consegui parar. Lars até se assustou, ele sabe que sou manteiga derretida, mas peraí, soluçar vendo Glee? Alguma coisa estava entalada nimim e aquele mágico episódio abriu os portões (ou as comportas?).

Começou com a demônia da Santana (a atriz  Naya Rivera) cantando Back to Black da Amy Winehouse. Fiquei imaginando se Amy ficou orgulhosa pela homenagem (o episódio foi ao ar nos EU em maio). Chorei, achei lindo.


Continuando o drama (porque esse episódio merecia em Emmy, juro...), vem o funeral da irmã portadora de Downs da monstra Sue Sylvester. O filme preferido dela era "A Fantástica Fábrica de Chocolate" (o original, e está na minha lista de favoritos também), e o funeral foi baseado no filme (só em Glee!). Foi lindo, e triste, triste, triste, falava de perda, de amor, de saudade, de tudo. Quando Sue começou seu discurso, eu embalei e fui até o final do episódio. Consegui UM vídeo decente da música, que não mostra toda a magnitude da coisa...

E como eu sou uma criatura bem pouco objetiva, precisei dessa novelona toda (levei DOIS dias preparando este post...) só pra contar que ANSIEDADE NÃO SERVE PRA NADA... Ontem foi na polícia (onde fica os escritório de imigração), saí do trampo, perdi a consulta com o quiroprático (mais fácil néam?), mofei na fila DUAS horas inteiras. Quando entrei pra perguntar, o tiozão me olhando agarrou um passaporte verdim, veio balançando ele entre dois dedims, e disse que meu caso tinha sido processado e que ele tinha mandado uma carta pra mim ontem (que recebi hoje).

Agora estou eu vistada e passaportada. E com mais uma lição na mochilinha... Afobação e stress no país da burocracia que anda, mesmo que a passos lentos, mas ANDA, não serve de nada! E, claro, quem espera sempre alcança. E quem espera tranquilo ainda por cima ganha mais uns dias de vida pela ausência de stress.

E eu precisava estampar esses momentos de puro gleeter no meu diário!

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Pra quem se recorda do meu último nunca-mais-bye-bye-de-vez show do a-ha ano passado... Não é que domingão que vem os caras vão dar uma pala num concerto em memória às vitimas dos atentados em Oslo? PQP, a gente SE DESPEDIU deles!!! Tá certo, é por uma causa nobre e 110% noruga. Mas vá... 7 meses? O show é só pra convidados, mas vão transmitir ao vivo. Fui.

domingo, agosto 07, 2011

Agarre as oportunidades

Ontem fui trabalhar no casamento de uma ex-recepcionista do hotel. Ela já havia me pedido há tempos que eu cuidade disso e daquilo, e eu como não recuso um desafio disse sim pra tudo. Ao longo dos meses de preparativos, a sogra a convenceu que seria melhor contratar um catering, mas ela ainda assim queria que eu servisse o vinho e ajudasse na produção do bar, etc. Assim que lá fui eu. 

Sem entrar em detalhes sobre o casamento alheio (um casal de noivos muito bonito por sinal), me diverti horrores! Muito bom sair um pouco da rotina e conhecer gente. O dono do catering estava lá, muito gentil por sinal, e a filha estva trabalhando também. Levei Samira, a iraniana (minha protegida, rsrsrs) porque precisávamos de mais alguém pra ajudar. Eram 70 convidados. A festa foi no refeitório no departamento de trânsito (tipo o Detran noruega), que é enorme, e eles alugam pra festas. O local é um refeitório, com cara de refeitório, mas com uma bela vista do fjord, e ontem o por do sol às 10 e pico da noite estava divino. Ebba (o apelido na noiva) deu uma sorte imensa pois o dia estava fantástico ontem. 

E além de ver como funciona o catering, descobri também como funciona um típico casório noruga, já que nunca havia ido a um, e o meu foi muito menor, sem cerimônia mesmo. Os discursos, a coisa de o povo começar a bater com a colher nas taças no meio da refeição e os noivos terem que se levantar e se beijar pra calar as massas (rsrsrs), os presentes, e o micro bolinho de casamento, porque cada convidado traz um bolo (???????? A mesa de bolo tinha uns 10 bolos, todos feitos pelas convidadas). 

Enfim, foi bastante trabalho entre servir e limpar mesas de uma refeição de três pratos, servir vinho, café e conhaque, depois lavar tudo e colocar tudo de volta. Nessa altura os caras do catering (detalhe, dos 4 chefs, 3 não eram noruegueses e não falavam norueguês) vieram se despedir (porque eu e Samira estávamos contratadas pela noiva),  eu fiz algo que nunca antes na vida havia feito (minha mãe sabe disso!)... Apertei a mão do cara, pedi um cartão de visitas, ele disse que não tinha. Perguntei se tinham um site, ele disse que não e perguntou porque, eu lhe disse que queria lhe entregar um currículo, já que a partir de setembro vou trabalhar menos horas no hotel por conta da escola (SE eu conseguir vaga), e tinha vontade de trabalhar com eles, se eles usassem extras... O cara abriu um sorrisão, apertou minha mão de novo e me disse pra eu passar no escritório que fica ali (me explicando) e que seria um prazer trabalhar comigo.

Fiz um bico e de quebra consegui outros! Estou animadíssima, e agora ainda menos aflita pelo fato de deixar meu emprego 100% pra ficar com 30%, por exemplo, pelo menos por uns meses, que foi o acertado com minha chefe, até eu dar um chega nessa história maldita de escola pentelha...

No final da noite, eu estava saindo do local da festa e iria caminhar até o centro (uns 10 minutos), mas um convidado passou e me ofereceu carona. "Me diga onde mora e eu te levo..." Disse que ia ao centro, aceitei de bom grado a carona porque o vento tava frio, e quase me belisquei. Noruegueses não são o povo de maior gentileza no mundo em relação a essas coisas. 

No centro me encontrei com minha amiga argetina, fomos a ao Picadilly, meu local preferido. Foi muito agradável, mas no final da noite presenciamos o auge da falta de gentileza norueguesa, especialmente depois das duas da manhã num bar... Uma véia bebaça brigando com o bartender uruguaio, sendo que ela estava errada, havia pago um drink a menos e ficava no balcão xingando o pobre bartender de ladrão. Se eu fosse ele (um uruguaio), teria mandado a véia à merda! Mas a técnica dele era melhor. Ele fingia que não a escutava!

Ah, e também foi a primeira vez que pedalei da cidade pra casa com umas biritas na cabeça... Cheguei salva!