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quarta-feira, novembro 15, 2006

Aventuras mediterrâneas

Estava devendo uma explicação quanto ao belíssimo contrato de 4 SEMANAS que fiz a bordo do Grand Mistral. Ai vai...

Cheguei em Barcelona dia 16 de outubro e não havia ninguém esperando por mim no aeroporto. Me lembro que o porto de Barcelona era longe. Liguei para o escritório em Madrid e mandaram então um agente me buscar. Detalhe que meu vôo de SP pra Lisboa atrasou e em Lisboa chovia canivete no aeroporto, então o vôo para Barcelona atrasou também. O navio saía de Barcelona às 13 horas. Já era meio-dia. O agente chegou e já tinha um brasileiro com ele, o Fabio, que ia trabalhar na recepa, como dizia ele (recepcao). Ao chegarmos no porto, não pude deixar de resmungar "Que banheira véia, rapaz!". Afinal, eu tava vindo de um navio gigantesco e novo em folha pra um vovô de 1999. E resgatado de uma Cia de cruzeiros falida, a antiga Festival Cruises. Enfim...

Já a bordo, procedimentos-padrão de sign-on - preenche papel , entrega passaporte, assina contrato, recebe chave. E então veio uma filipina me receber. Ela já chegou resmungando que eu tinha chegado atrasada, que a pessoa que eu ia substituir já tinha ido embora, e então quem é que ia me explicar tudo... Eu disse a ela que só precisava de alguém que me mostrasse onde arrumar os uniformes, pois já cohecia outros navios, e afinal não poderia ser tão diferente. Mas era! Achar os lugares foi fácil. O difícil foi a situação em que a cabine se encontrava: NOJENTA. Moravam dois caras lá, que tinham desembarcado naquela manhã. UM NOJO, pêlo/cabelo, sabe-lá-Deus o que, por todos os lados. A cortina do banheiro cheia de mofo. O carpete da cabine imundo. Os armários imundos. Consegui com os chineses na lavanderia ao menos um pano. pra dar um tapa na cabine. Forrei todas as gavetas com plástico. Peguei roupa de cama limpa em dose dupla. Já dei um jeitinho no banheiro.

Minha room-mate chegou depois. Era uma cubana. Eu nunca tinha visto cubanos em navios, pois sempre havia trabalhado para Cias americanas, mas a Iberojet era espanhola. Era a primeira vez da menina, e ela estava assustada. Primeiro dia de navio para marinheiro de primeira é um choque... Neguinho corre com você pra tudo que é lado, e você não tem nem tempo de absorver quão minúscula é a cabine, muito menos o caminho pro serviço todos os dias... Já te levam pra lavanderia que sempre é impossível de achar de novo, pra pegar uniformes e roupa de cama e banho. Depois vão te mostrar onde você vai trabalhar, depois onde você vai comer.... E a menina já estava zureta. Eu nem lembro o nome dela...

O primeiro tempinho que tivemos depois de desfazer as malas foi limpar o banheiro. E quando assustamos já era hora de ir trabalhar. Então fui encontrar meu chefe no Bar Office. Fui recebida por um colombiano, o Assist Bar Manager. Ele andou por aí comigo, me levou para ver a adeguinha do restaurante onde eu ia trabalhar. Me apresentou pessoas... E então já fui fazer o trabalho em si, com um cara me ensinando.

A carta de vinhos era novidade pra mim, pois sõ tinha vinhos da Espanha. Eu teria que administrar todo o estoque para os dois restaurantes e ainda servir vinhos no restaurante menor, que depois vim a saber que era o restaurante exclusivo dos passageiros que se hospedavam nas suítes.

Para minha supresa, ao começar o serviço, dei de cara com duas pessoas que haviam trabalhado comigo no Splendour em 2000. O Marcelo, mâitre, e a Erika, que ainda era waitress. Muita coincidência.... E mais um montão de brasileiros - eram quase 150, ou ate mais.

Pra encurtar a história, a galera que trabalhava comigo era na maioria latina. Havia um indiano, três brasileiros, um cubano, e o resto tudo colombiano. E este povo, exceto os 3 brasileiros, não gostou do fato de a Cia ter trazido uma pessoa tão "inexperiente" para fazer o serviço, sendo que eles poderiam ter promovido alguém do time. Enfim, começou o esquema de sabotagem, diz-que-disse, tudo apoiado pelo Assist. Bar Manager da Colombia que nao ia com a minha cara. E tudo isso à parte, eu trabalhava almoço e jantar todos os dias, tendo direito a um almoço livre. por cruzeiro. Então dava pra sair muito pouco nos portos. E em cima de tudo isso, o crew bar fechava às 2 da manha, e você não podia sair de lá com cerveja pra tomar na cabine. E muito menos comprar bebida nos portos e trazer pro navio. Isso era normal nas outras Cias que eu havia trabalhado. Lembro de um episódio em que comprei em Livorno uma garrafa de Sassicaia - um vinho italiano RARO e CARO - para a minha pequena coleção, e tomaram de mim na entrada. Ate aí tudo bem, eu sabia que não poderia levar o vinho para a cabine, que ele seria confiscado e devolvido no meu último dia. Mas aí era um merda de um guarda indiano (precisava ser dessa raça, né? Vejam meus postsde 2001!) quem pegou a garrafa e todo, mas TODO dia ele me via e vinha me dizer que eles tinham tomado o meu vinho na noite anterior. E eu pensando naqueles oficiais com um Sassicaia nas mãos, dava até arrepio, meu vinhozinho que eu paguei tão baratinho (1oo euros, comparando com os 3000 reais que ele vale aqui no Braza, já viu, né?)....Pesadelos.

O Bar Manager, meu chefe, que era finlandês, não queria saber de nada, só de encher a cara na discoteca do navio. Era o colombiano que mandava em tudo...

E pra terminar, eles me haviam prmetido salário em Euros, pago em cash, etc. E na minha primeira semana o fod** da empresa veio a bordo pra COMUNICAR os tripulantes que a partir do próximo ano os salários passariam a ser pagos em DOLAR, e muito possivelmente em Reais quando o navio estivesse fazendo a temporada brasileira. Entao eu tive aquele velho pensamento: Ai, o que eu vim fazer aqui? Nesta mesma noite mandei um e-mail a RCCL, dizendo que queria voltar. Eles levaram + ou - uma semana pra me achar um lugar e perguntaram se eu poderia embarcar na semana seguinte em Miami. Eu disse que estava em Barcelona, precisava de uns 15 dias pra sair dali e arrumar a passagem pra Miami. Então eu esperei uma semana mais antes de pedir demissão, senão eu sabia que ia ser tratada "diferente" pela equipe. E eles continuavam ferrando minhas folgas, sumindo com vinho pra depois jogar a culpa em mim, e eu QUIETA. Então uma semana depois, quando já tinha a grana da passagem de volta, eu pedi as contas. O dinheiro que recebi nas últimas duas semanas serviu pra pagar a passagem de volta justamente porque quebrei o contrato e a Cia não cobre a despesa nestes casos.

Dubrovnik, Coratia Valetta, Malta
Mas voltei ao Brasil com novos portos "na bagagem" - alguns deles não conhecia, como Malta, uma ilha no Mediterrâneo que era um dos lugares mais lindos que já havia visto, a Tunísia, a Croácia e a Grécia. Também tenho muito boa lembrança dos brasileiros que deixei por lá, muito divertidos, alguns bem determinados, outros enganados como eu. Fora a lembrança dos colombianos, nem tudo foi tão mal assim. Afinal, foram 4 semanas de "férias" no mediterrâneo! Com amigos ótimos...

Corfu, Grecia
E alguns dias depois estaria novamente em Miami, em frente ao Freedom of the Seas, depois de todas as despedidas já feitas e de ter jurado que jamais voltaria lá...