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terça-feira, junho 16, 2009

The End of the Line - O Filme

Parece que a tendência, como diz a Regina Casé, é a de espalhar informação a respeito das eminentes catástrofes climáticas que se aproximam. Aproveitando o Dia do Meio Ambiente e o Dia dos Oceanos, vários filmes de conteúdo digamos assim educativo estão sendo lançados. Já comentei sobre o Home. Agora é a vez do "The End of the Line", ou o fim da linha. Este trata da saúde dos oceanos e das políticas de pesca na mundo todo.

Clipes do filme podem ser assistidos via Babelgum. Vale a pena. Mas estão em inglês. Entretanto, tenho certeza de que este chega aos cinemas, pois o grupo realizador não aparenta ser sem fins lucrativos, já que escolheram o Festival de Sundance para lança-lo.

O filme é baseado num livro de mesmo nome, escrito pelo repórter investigativo Charles Clover. Foi filmado durante dois anos através do planeta, e trata dos problemas gerados pelapesca indiscriminada, mas também de apontar soluções que seriam simples e realizáveis para reverter o desaparecimento de peixes dos oceanos e rios.

Em 2005, quando estive no Aquarium of the Bay, in São Francisco, recebi folhetos de uma organização chamada The Seafood Watch Alliance. Tenho até hoje um pequeno guia de bolso que diz quais peixes são ok de se comer em que épocas do anos, quais são pescados com discernimento, quais beiram o desaparecimento na região. O atum de barbatana azul (blue fin) é um deles.

Deve ter gente lendo e pensando: "Primeiro essa doida diz pra comermos menos carne, agora vem dizer que peixe também não pode?" Na verdade ninguém, nem os realizadores do filme, está dizendo que as pessoas parem de comer peixe. Apenas que exijam saber a procedência do peixe, digamos assim, como a Abras está fazendo com a carne (vide este post). O site divulga um widget para você entrar com o nome do peixe e eles te dão uma ficha técnica. Não custa nada tentar comprar peixe digamos, certificado, não é? Apenas o atum deve ser boicotado, principalmente o enlatado, eu acredito. Esses sim são em grande maioria massacrados sem escrúpulos.

Neste aspecto tenho a consciência tranquila... Aqui na Noruega, durante o verão temos pescado nosso peixe. Respeitamos tamanho, devolvendo os menorzinhos à água. Nada mais verde, não é? Além do que, a Noruega está entre um dos pioneiros - e exemplo - no mundo em manejo dos oceanos.

"Três pesquisadores da Universidade da Colúmbia Britânica (Canadá) e da Universidade do Rio Grande (EUA), em conjunto com a WWF, estudaram como os grandes países pesqueiros obedecem às regulamentações das Nações Unidas para pesca responsável, o Código de Conduta da FAO (Food and Agriculture Organization). Noruega e Islândia atendem melhor o Código de Conduta talvez pelo fato da economia destas nações ser tão dependente da pesca. A Noruega também tem tradição em seguir melhor as linhas estabelecidas pela ONU. A WWF aponta que a proibição do descarte de peixes (aqueles já pescados, depois jogados fora porque não atendem ao padrão) é uma das diferenças principais entre estes dois países e o restante." fonte: Seafood from Norway

A Noruega também é líder em manejo de fazendas de peixe, especialmente salmão. Poucos peixes no mundo poderiam ter tanta qualidade quanto os peixes de criação da Noruega. Desde o estágio das ovas há controle rigoroso da saúde dos peixes. As fazendas se tornaram uma paisagem típica ao longo da costa norueguesa, como mostra a cena final de créditos do filme Home.

Há problemas gerados pelas fazendas, como os animais que escapam das fazendas e ameaçam os peixes selvagens através do cruzamento das espécies. Entretanto, ainda há estudos sendo realizados.

DESABAFO que estava escrito foi removido porque, visitando o blog novamente, percebi que a idéia que a autora queria expressar era diferente do que eu compreendi. Então, ficam aqui as desculpas públicas...

domingo, maio 24, 2009

Bacalhauzão

Este será outro post longo... Quinta-feira foi feriado (Kristi himmelfartsdag, ou a Ascensão de Cristo??? Só sei que são contados 40 dias após a Páscoa para este feriado, e que era feriado na Alemanha, outro país prostestante luterano). E como na sexta foi o aniversário do Lars, ele pediu ao chefe para emendar. Lá fomos nós para o chalé... Saímos de Bodø na quinta cedo, com tempo bom. Algumas nuvens no céu, mas sol. Chegando lá, já acendemos a churrasqueira e nos prostamos na varanda, comendo linguiça e tomando um traguinho.

Aqui já estamos com 24 horas de luz. O sol desaparece no horizonte apenas para sair novamente alguns metros mais ao ladinho... Então fica muito fácil perder a noção de tempo - achamos que eram umas 6 da tarde, e eram 9 da noite. Tava friozinho, parecia que o tempo tava querendo mudar. Assistimos uma tvzinha e desmaiamos. O duro é com esta luz toda, a passarada não dorme a noite! Eles tiram umas sonecas, mas a piação na floresta se extende pela "noite" toda! E eu tenho uma dificuldade danada pra dormir. Se eu apagar, tudo bem. Mas se acordar de noite com sede ou para banheiro, tem sido duro voltar a dormir. Demora.... O sol brilhando, os passarinhos cantando... Mas espero acostumar logo! Aqui em casa o quarto tem percianas que escurecem bem, mas no chalé é pior. Enfim... Fica uma fotinho do nosso vizinho barulhento. A espécia em norueguês é Svartvhit Fluesnapper (pega-mosca preto e branco). Canta que é uma beleza, ainda mais agora, época de namoro de passarinhos!



Despertamos na sexta, - aniversário do Lars - tomamos café e descemos o morro. Primeiro fomos até a vila comprar salada de batata (industrializada, tenho horror, mas esta é uma delícia!) e um bolinho pro Lars, só prá não passar em branco. De lá fomos até a casa de barcos. Tava sol, mas um vento bem gelado. Lars me levou para conhecer uma praia mais ao norte no fjord, mais ou menos uma hora. Mas o vento tava bravo, e além disso estávamos mais perto do mar aberto, então as ondas estavam de bom tamanho. E o barco tava balançando bem. A praia é bem bonita, mas a temperatura ainda não permite nem aproximação! Não passa pela cabeça botar um traje de banho e deitar na areia com 10 graus e sensação térmica de 5 por causa do vento.

E então nos pusemos a pescar... Desta vez levamos só uma cer eja prá cada um - assim a vontade de ir no banheiro é menor! Mas tava duro. Pegamos vários sei outra vez, mas devolvemos a maioria porque estavam pequenos. Pegamos também um bacalhau pequeno. Tava super preso no anzol, tinha a cor alaranjada, e fedia horrores! Podre mesmo, claro que voltou pra água. Logo mais farei uma pausa para o bacalhau). Selecionamos 4 sei de bom tamanho, e nos demos por vencidos. O vento estava muito gelado, até Lars tava congelando. Até fomos limpar os peixes no pier porque tava mais protegido do vento.

Temperei e assei dois peixes - a melhor sensação do mundo é comer o peixe que você pesca! Comemos bem, com salada de batata e salada de folhas. Algumas cervejas depois, decorei o bolinho do Lars com morangos, ele assoprou uma velinha, e ficamos na varanda até que começou a esfriar. É mais gostoso então sentar perto do aquecedor.

E lá fomos, batalhar pra achar algo na televisão, já que os canais via satélite ainda não tinham voltado apesar da reclamação. A tv NRK, a maior empresa de comunicação do país, tem 3 canais. Passam muito lixo, mas o canal NRK2 passa muitos documentários. Só neste feriado, na sexta vimos um sobre o Stephen Hawking (eita sujeito maravilhoso esse! Faz tempo que crio coragem pra ler "Uma breve história do tempo" mas acabo desistindo...), outro sobre o "Summer of Love" em São Francisco em 67 - os hippies de São Francisco, os Coquettes, maravilhoso - um sobre o Clint Eastwood e um sobre o (pasmem) Jader Barbalhos e o escândalo da Sudam! Sério mesmo... Então parei de ter preconceito contra a tv norueguesa, apesar dos reality show horrorosos que eles produzem (e olha que eu gosto de um reality, hein).

Sábado, o dia amanheceu cinzento, com um mormacinho. Imaginamos que lá embaixo no mar estaria frio, então nos previnimos. Vesti macacão de esqui (se chama bobledress), gorro, botina de neve, enfim, toda a parafernália. Lars idem. Chegando lá embaixo, não ventava tanto quanto ontem. Encontramos um vizinho retornando da pescaria, que deu dicas de um local cheio de peixe. Então saímos em direção ao sul desta vez. O mar estava mais calmo também. Lars pilotava os anzóis e eu manobrando o barco - pesca-se melhor com o barco em movimento. Demorou um pouco, mas dali a pouco, Lars puxava a linha e os 6 anzóis tinham peixe. A maioria pequeno demais, então devolvemos. Aí veio outro bacalhau alaranjado. Fiz Lars esticar o bicho pra foto. E aí vem a PAUSA DO BACALHAU

Depois de pesquisar a Internet a história do porque não se pesca bacalhau nos meses que não tem a letra R, apenas encontrei que isso é um mito antigo. O pai do Lars nasceu numa ilha não muito longe de Styrkesnes, e o avô do Lars era pescador. Então creio que o antigo mito foi passado de geração em geração. As fontes "seguríssimas" da Internet garantem que o bacalhau pode ser comido ao longo do ano. Porém, o mito tem uma relação com o sabor do bacalhau no verão, que pode mudar, pois literalmente os peixes têm ovas, e maior conteúdo de água no corpo. Então eles não são tão carnudos como no verão. Esta declaração é dada por um inspetor nacional de pesca... Entretanto, desta vez eu entendi porque o mito... O primeiro bacalhau que Lars tirou da água, pequeno, cheirava a merda, esgoto, lixão, sei lá... Quase vomitei... E tinha umacor bem peculiar alaranjada... O segundo não fedeu tanto, mas Lars cheirou a boca dele, e eu também... Merda de novo! Veja a foto

Não sei se pela foto dá prá perceber a diferença de coloração... Veja a ilustração do NY Times. Eu jamais ia querer comer algo que cheirasse daquele jeito! Então concluí que, se só no verão estes bacalhaus menores fedem assim, deve ter alguma relação com a cadeia alimentar no fjord no verão. Estes bacalhaus menores vivem mais próximos da superfície. Segundo Lars, nesta época do ano os bacalhaus adultos estão no Mar de Barents.

Mas enfim, eu tava bem desapontada com esta história toda. Afinal, em abril é muito frio e os dias são curtos. Em agosto recolhem os barcos da água nesta parte da Noruega, então quando raios é que eu pescar um bacalhauzão??? Explicada a história, fiquei em paz com a esperança de pegar um halibutão ou um sei de tamanho decente... CONTINUANDO O POST (E O BACALHAU)

Até que Lars me grita para parar o barco porque ele pegou um grande. E puxa daqui, puxa dali, e pusta bacalhauzão saiu d´água. Peguei a câmara pra tirar foto. A âncora da linha de pesca fisgou o bicho pelo queixo. Ele provavelmente nem foi morder a isca, tava simplesmente nadando por ali quando de repente algo vem por baixo dele e o prende! Fico com dó (ainda) dos peixes quando a gente puxa eles da água e tira o anzol... Depois eles ficam se debatendo... Mas acho que depois acostuma. Então, olha só nosso bacalhau...



Então, Lars olhando pro bichão, me pergunta "Você não acha que a cor dele está normal?" E eu disse que sim, e que ainda por cima ele não estava fedendo... Então, Lars abriu o bocão do peixe e deu aquela cheiradona. Cheirou perto das guelras... "Você acha que deveríamos focar com ele?" (Neste momento, um tiozinho que pescava próximo de nós ligou o motor e foi embora. Acho que ele viu nosso peixe e ficou bravo!) E disse ao Lars que se ele achava que o peixe tava bom, por mim, beleza! E lá se foi nosso monstro pro balde!

Lars disse que já pescou maiores! Mas o importante pra mim era saber que sim, era possível pegar um bom bacalhau na primavera. A explicação provável: este era um bacalhau de águas mais profundas...

Além disso, eu ainda peguei uma leva de sei e fomos prá casa com uns quase 10kg de peixe!
Lars limpou os peixes, e as aves marinhas se colocando a postos para abocanhar um pedacinho. Lembramos imediatamente das gaivotas de "Procurando Nemo" (Mine, mine!). Foi divertido...



Em casa, Lars disse que quem sabia limpar bem o bacalhau era a mãe dele. Disse a ele 'Xá comigo!' Ele desconfiou no início, mas disse a ele "Estudei para ser Chef prá que? Meu diploma ia servir pra algo um dia!" Meus professores do Senac iam ficar orgulhosos de mim, especialmente o Oscar Izumi, de Cozinha Japonesa. Aprendi horrores, e ali, numa mesa improvisada e com três facas cegas consegui fazer dois belos filés de bacalhau com uns 1,5 kg cada!

Já tenho vários planos pra cada pedacinho deste primeiro bacalhau, que incluem a lembrança de um bacalhau fresco que comi em Barcelona, nas Ramblas... Ai, ai!

E depois de tanto trabalho, e de trocar de roupa, terminamos o dia com um churrasquinho de alce, vinho, depois um irish coffe...

E o bolo improvisado do Lars...


Ah, e iniciei Lars às delícias de True Blood. Ainda bem que ele gostou! Agora precisamos assinar o canal que exibirá a segunda temporada!

Volto em breve, pois amanhã irei ao Helsesenter de Bodø fazer o exame de tuberculose obrigatório para imigrantes, conforme cartinha que recebemos há duas semanas! Vou sozinha!