Quinta-feira saímos em direção ao chalé em Styrkesnes. Anders, o cunhado, foi conosco. A esposa dele com os dois filhos e a sogra já estavam lá. Saímos com a promessa de um
no Sábado, além de um grillfest, ou outra pitoresca festinha de verão num local pequeno...
Pois bem. Já na quinta, após nosso almojantar, fomos visitar a vizinha de chalé. Ela também estava com a família toda visitando, e Lars e Anders encontraram alguns amigos de infância. O que era pra ser uma visita rápida acabou durando horas - cerveja, depois vinho, depois torta de ruibarbo com sorvete, e na hora que abriram uma garrafa de conhaque, eu corri! Isso porque já eram duas da manhã. O melhor de tudo é que havi, entre as visitas, os cachorros das visitas, um deles um labrador preto enorme chamado Nemo.
Na sexta, eu e Lars saímos pra uma caminhada, levando conosco Nemo, o cachorro, pois a vizinha estava visitando - enquanto o irmão e sobrinhos saíram pra pescar... Subimos a montanha, tava um mormaço, e o mato seco que dói por causa da falta de chuvas. E insetos, milhões de insetos irritantes e que picam muito doído. Fui devorada viva! No caminho encontamos
multebær, a frutinha amarelinha típica daqui, e
blåbæer, ou blueberries, por todos os lados nos campos. Sogra disse que em duas semanas já poderemos começar a colhê-las. Há ainda outras frutinhas de bosque, inclusive framboesa, mas essas vão levar mais tempo. Tomara que chova um pouco por lá, pra elas amadurecerem...
Pescaria enorme a do irmão do Lars, vários bacalhaus e vários
sei. Descemos pra praia pra ajudar a limpar os peixes - na verdade eu olhei as crianças, fomos procurar caranguejo, enquanto eles limpavam os peixes. O almoço foi uma bela peixada típica da Noruega -
sei em postas cozido, servido com batatas cozidas,
flatbrød e sour cream (rømme). O tempo mudou, e nesse dia choveu um pouquinho, então à noite ficamos em casa, tomando vinho e assistindo The Tudors, depois uma edição especial de um festival de jazz de Montreal em homenagem a Leonard Cohen - fabuloso!
Sábado após o café da manhã fomos de carro pra tal feira de produtores. Estava esperando algo muito genial, e na verdade havia pouca coisa. Muito artesanato. Mas ainda assim, consegui comprar 1,1 kg de bacalhau seco - e artesanal, feito pelo próprio pescador - por menos de R$30, mel orgânico sem filtragem e sem pasteurização (o mel fica uma pasta esbranquiçada, e fica sempre sólido, pois a cera e tudo o mais estão ali no mesmo pote. O sabor é divino, dá pra sentir as flores locais!), e um pote de geléia de cítricos (laranja, limão, grapefruit). Havia morangos belíssimos, mas estavam caros. A sogra comprou pra nós
flatbrød artesanal, comemos
vaffler e voltamos pra casa - quer dizer, pro chalé. (PARENTESES: fazia tempo que eu estava promentendo um post sobre a Disneylândia das linguiças, mas passou muito tempo e acabou ficando fora de contexto, então aqui uma pequena explicação - começo de junho fomos a uma feira em Fauske, e havia vários stands de produtos artesanais da região, sendo um deles um produtor de linguiças locais. Deixo claro que aqui na Noruega ainda não vi linguiça de verdade, nem importada. Ou é algo tipo salsicha, com a carne processada, ou é algo tipo salame, que são curados. Pois bem, esse stand em Fauske tinha salames, de tudo quanto era cor e tipo... De alce, de rena, e até de veado. Simples, ou com sabores - blueberry, cebola ou alho, por exemplo, sendo a com blueberry com menos gordura. Havia chorizos à lá espanhola, e até pepperonis. Passamos ali algum tempo provando - sim, a mulher dava provinhas! - até que resolvemos comprar uma de alce com cebola, seca a frio na montanha, e uma de rena, simples. Oh, tristeza, porque agora é dificílimo acha-las outra vez. Eu até guardei os rótulos com os telefones dos produtores. E nessa mesma feira compramos
lefse também artesanal, um com manteiga e canela, outro com queijo marrom - e queijo marrom, um dia, terá seu prórpio post, no outro blog. Pra fechar parenteses, agora, a cada possibilidade de feira de fazendeiros eu anseio pelos salames exóticos...)
À tarde eu e Lars saímos pra pescar. O irmão dele e a família foram embora, pois o tempo tinha piorado mesmo, tava friozinho. E o mar tava viradinho, mas ainda assim conseguimos dois
sei e um bacalhau pequeno, suficientes para o almojantar. Então eu preparei os peixes - inteiros. Aqui existe uma certa tendência a limpar o peixe de modo que se joga fora grande parte dele e sobram só os filezinhos. Acho um desperdício, especialmente quando o peixe não é grande. Então eu os preparo inteiros mesmo. Coloco cebola dentro da barriga, com sal e pimenta, cubro com sal, pimenta e ponho um tolete de manteiga. Pra finalizar, boa dose de suco de limão, ou vinho branco, que foi o que eu usei nesse caso. Tudo embrulhado em papel alumínio, e levado à churrasqueira. Peixe recém pescado, cozido em seus prórpios sucos... Tem coisa melhor? Ui, a sogra (que estava um pouco descrédula com o meu método) adorou.
Depois do almoço, foi necessária uma siesta... Lá pelas 9:30 da noite fomos encontrar os vizinhos pro tal grillfest. Eu imaginei uma festinha bem pequena, como
o festival de verão de Landegode, mas foi ledo engano... Pra começar, o local da festa ficava a uns três km de distância de casa. E todo mundo vai à pé! Claro, "se beber, não dirija!" é levado a sério aqui. E lá fomos em caravana, andando devagar, sobe morro, desce morro. No meio do caminho, um pit stop pra aquecer os motores, afinal, estava frio pra burro... E tome conhaque, vodka, aquavit, o que a vizinhada tivesse nos bolsos! Qual não foi minha surpresa quando a sogra sacou um conhaque de dentro da jaqueta! Abaixo, a vista do pit stop, e a festa ficava onde estão as casinhas ao longe.
Ao chegarmos no local, havia muita gente, já embriagada, e uma porção de adolescentes. Eu detesto adolescente, e eles estavam muito bêbados. Antes de entrar na festa! Lá dentro, havia de tudo... Vovós empertigadas com seus terninhos brancos (!!! Afinal, é verão!), pescadores bebuns, e até duas mocinhas brasileiras que não falavam nem uma palavra de inlgês e muito menos de norueguês, e que estavam sendo tratadas como dois cachorrinhos pelo povo, dois brinquedinhos, de colo em colo, literalmente... Aliás, como coincidência pouca é bobagem, uma delas estava atracada com um rapaz que usava uma jaqueta da Royal Caribbean. Eu até quis ir falar com eles, mas mudei de idéia, sinceramente - e Lars também não estava muito afim de se envolver com eles... Tava na cara que eram pessoas que não tinham nada em comum conosco, mas eu senti um pouco de pena delas (as mocinhas brasileiras) no início. Depois pensei bem, e concluí que cada um com seus problemas - as pessoas tem livre arbítrio e se colocam nas situações que desejam pra si... Deixei pra lá - depois de ler tanta besteira nas comunidades de brasileiros na Noruega do Orkut, de gente que muitas vezes nem português consegue escrever direito, achei que me envolver com as meninas poderia "um dia voltar e me morder na bunda" como dizem os americanos.
Enfim, quando pararam de vender cerveja lá pelas 2 da manhã e a sogra e a amiguinha dela partiram, disse ao Lars que era a nossa deixa pra ir embora também. Havia muito pouca gente que não cambaleava... E fomos, cheios de coragem, enfrentar 3 km de morro, quando mais ou menos na metade do caminho passa um carro, e é a nossa vizinha, que nos deu carona!!! Yey!!!! A sogra nos esperava com um lanchinho, e fomos dormir.
Domingão, a sogra tava com uma idéia fixa de ir a uma igreja que fica num vilarejo dentro do fjord, a mais ou menos uma hora de barco. Por sorte, o dia amanheceu belíssimo, sem uma nuvem no céu. Fizemos sanduíches, levamos água e suco, e lá fomos nós. Vimos no caminho um ninho de águia marinha, o mar estava calmo... Chegando lá, me deparo com um lugar belíssimo, super bucólico e pitoresco. A igreja é de 1664, e nela há um crucifixo que foi fabricado em Limoges, na França, no século 12. A construção é de toras de madeira, típica de Nordland (o Estado onde vivo). Conta a lenda que os homens que ocuparam a terra (preciso descobrir quem eram) atiraram uma tora de madeira no fjord, e onde ela batesse na praia eles construiriam a igreja. A comunidade é mínima e a igreja só realiza missas duas vezes ao ano - e domingo era uma dessas vezes. Até a rede de TV NRK estava lá gravando um programa. E enquanto a sogra assistia a missa, eu e Lars encontramos um cachorro da raça que queremos (
elkhound, a raça típica da Noruega, e caçador de alces), exploramos os arredores e fomos à praia - considerada a mais bonita da região. No caminho, a natureza se revelava a cada passo - nas flores selvagens, mais belas que qualquer flor de cultivo, nos pássaros e insetos, ou nas dramáticas montanhas que terminam no mar... Imagina morar num lugar assim...
Na volta, paramos pra pescar... A sogra pescou um bacalhauzão de uns 4 kilos, e me pediu pra preparar um almojantar pra ela, que ela queria experimentar o bacalhau fresco de um jeito diferente. Pescamos também dois
sei, e ela pediu pra eu fazê-los do mesmo jeito de sábado e chamou um dos vizinhos pro almojantar. Além do peixe, comemos também churrasco de alce. Depois da comida, uma descansadinha, assistimos ao último capítulo de John Adams e fomos dormir cedo.
Segunda, o Lars foi trabalhar ao norte de Styrkesnes, e eu passei o dia com a sogra. Fomos à praia, tentamos nadar - mas a água é tão fria que chega a doer os ossos, apesar de estar quente e do sol torrar a gente... Queimei o rosto - e meus pés, pois fui caminhar de havaianas - eita, que brasileiro não perde as manias! Fora as picadas de mutuca e mosquito pelo caminho, mas volto a dizer que tudo tem seu preço. E o de viver no paraíso é esse! À noite a sogra me levou até um hotel na estrada principal, e Lars nos encontrou lá. Comemos um sanduba, nós voltamos pra Bodø, e ela pro chalé, onde fica até sexta. Sexta no jantar ela vem comer bolinhos de bacalhau aqui em casa... E fomos convidados pra um fim de semana em Lofoten no início de agosto... Não vejo a hora!
Ah! Caso alguém se pergunte o porque do surreal no título... É que a minha Noruega é surrealmente linda!