sábado, dezembro 31, 2011

Fechando o ano de verdade, com chave de ouro...

Eu não ia mesmo postar mais nada, já tinha encerrado as atividades no blog em 2011. Mas ontem ganhei um presentão, por isso preciso dividir.

Esse ano, como já foi dito e redito, foi um ano bem estranho e atípico em termos de clima. A primavera demorou a chegar, quando chegou demorou a esquentar, e quando esquentou, esquentou pacas. Até setembro tivemos domingões ensolarados com temperaturas acima de 20 graus. O inverno demorou a chegar. Há muitos, muitos anos Bodø havia experimentado um Natal sem neve. Mas ela chegou semana passada. Não direi com tudo, porque está ainda bem longe dos 2 metros acumulados que experimentamos em 2010.

E desde ontem temos neve por todos os lados, mas sem nuvens, o céu está aberto. Os dias, a partir do dia 23 (solstício de inverno), começam a ter mais luz, um tiquinho por dia. A gente mal percebe por enquanto. Amanhece 9:30 da manhã, e e por volta de 14:30 o sol volta a se por. E não chega a ficar claro, claro, não. As horinhas de luz são um lusco-fusco, o sol está sempre próximo ao horizonte, e você mora num local montanhoso, capaz de não enxergá-lo mesmo.

 Nessa foto ainda pesquei um avião chegando do sul da Noruega. Ó a luzinha dele acima do telhado do vizinho...

Ontem eu e Lars fomos jantar fora. Ganhei da minha chefe um vale-refeição (sim, aqui é possível comprar um vale-presente num restaurante ou até mesmo uma diária de hotel), ou um gavekort, de vários dígitos pro Bjørk. Então ontem foi o dia de gastá-lo. Nos empanturramos de um extraordinário combinado de sushi e um belo riesling fresco e bem seco. Nem tiramos foto porque estávamos ocupados em comer a bela refeição ao invés de olhar pra ela, e cá pra nós, já ficou cafona tirar fota do que se pede no restaurante pra mostrar pros outros, né...

De lá fizemos um desvio básico ao Picadilly, meu bar favorito em Bodø, por todos os motivos errados, rsrsrs. 

Na volta pra casa, caminhando pelo píer dei de cara com uma aurora boreal mais discretosa, encoberta pelas nuvens. Caminhamos mais uns metros, o vento levou as nuvens mais pro lado, e descobriu uma aurora verde intensa, que cortava todo o céu de Bodø como uma faixa. Ficamos ali uns 5 minutos, admirando o espetáculo, visivel mesmo com as luzes de iodo da cidade e todas as casas mega iluminadas. A aurora dançava como que ao sabor do vento. Dava inclusive pra ver o reflexo dela no mar. Um show. E mesmo com 5, 6 graus negativos, eu não queria ir pra casa!

Tomara que tenha sido um sinal de que 2012 será um belo ano - se ele não acabar, rsrsrs! Feliz ano novo!

domingo, dezembro 18, 2011

Pra fechar o ano

Pois é, nunca tinha deixado de escrever por um mês inteirinho no blog, imagine 2! Mas acontece que a vida não pode ser descrita o tempo todo. Precisa ser vivida. Mais um ano se vai, e olho pra trás só pra descobrir que esse ano passou rápido demais. Ano passado a essas alturas estávamos passando o maior calor em Sampa, com sogra na mala e tudo o mais. 

Cheguei, aceitei minha promoção temporária e sai correndo feito louca sem olhar pra trás - e nem pra frente. Em agosto minha chefe voltou da longa licença médica após uma complicada cirurgia no pé. E eu tirei uns dias de férias e logo pedi demissão do meu antigo cargo no hotel (como chef, tempo integral) e comecei na escola de norueguês para adultos. Achei que seria bem complicado voltar pro porão do navio depois de tê-lo manejado por 7 meses - e tava de saco cheio do esforço físico, minha coluna tava podre (mas foi reparada por maestria por um quiropraxista genial). 

Estava adorando minha vidinha fácil de estudante, indo pra escola de Segunda à Sexta das 8:30 às 14:30 e trabalhando ainda no hotel por volta de 12 horas semanais, das 17 às 21 na recepção. Fiz vários amiguinhos novos na escola. Muita gente diferente de diversos países distantes, e eu nunca tinha tido a oportunidade de conhecer. Diferentes africanos (especialmente da Eritréia e Etiopia), chineses de minoria muçulmana, palestinos, afegãos, paquistaneses... Aprendi norueguês pacas! Mas foram só dois meses. Eu precisava completar a carga horária obrigatória de estudos da língua exigida pela Imigração norueguesa, e depois daí não havia planejado muito o que fazer. Tava começando a pensar onde procurar emprego. Mas a possibilidade de minha chefe não conseguir voltar ao trabalho tava sempre ali batendo na porta, apesar de eu ter resolvido não contar com a possibilidade pra não me desiludir depois.

Então chegou a época dos exames oficiais de norueguês, e ao mesmo tempo convocação oficial da gerente do hotel pra eu retomar a posição da minha chefe, dessa ver em caráter permanente. Fiz o teste de norueguês e comecei no trabalho na semana seguinte. Derramei umas lagriminhas quando tive que me despedir d@s amiguinnh@s da escola. A convivência com eles foi extremamente gratificante. E desde então estou na correria de final de ano, planejamentos operacionais e orçamentários para 2012, planejamento das festas de final de ano, enfim... Sem parar. E tudo isso com apenas 2 semanas de férias-FÉRIAS mesmo. Em maio, e uma semana em agosto, porque as outras duas semanas emque tirei férias do hotel eu comecei na escola.

Sinto como se não tivesse tido tempo pra sentar e refletir em tudo o que aconteceu esse ano. E essa semana foi como se tudo tivesse acabado e eu pudesse fechar um pouco o livro pra pensar sobre o que acabei de ler. 

Quarta feira tivemos um dugnad (tradução bem grotesca: mutirão) com o pessoal da KirkensBymisjon, que é ligada à alguma igreja, ACHO EU, mas que mais importante, é a única forma de suporte aos alcoólatras e viciados em droga na cidade. Eles tem apoio por telefone, organizam encontros e tudo o mais. E nós, junto com o pessoal do Løvold Kafateria (o restaurante mais tradicional de Bodø) e de uma escola de Bodø e uma de Fauske, servimos a esses voluntários e viciados/alcoólatras um almojantar de Natal. O pessoal do Løvold forneceu e preparou a comida, os alunos das escolas serviram a comida (na cozinha) e nós do hotel fomos garçons e demos o restaurante e a decoração. Foi muito bonito. Esses alcoólatras e viciados em Bodø são socialmente marginalizados. Apesar de Bodø ter uma das maiores porcentagens de usuários de heroína em todo o país, a sociedade local, totalmente conservadora (aqui em Bodø o FrP, partidão conservador, de direitona, foi o mais votado nas últimas eleições, enquanto no resto da Noruega ele perdeu vários pontos), lida com o problema simplesmente ignorando-o. Foi lindo, mas exaustivo. 

No dia seguinte começamos nossos festejos de final de ano no hotel. Tivemos dois dias de seminários de planejamento e motivacionais com o pessoal do hotel. Na quinta começamos com um almoço de saunduíches de salmão preparados por mim, atividades em grupo (por departamento), e no fim dei um curso de vinhos. Terminado o curso, os dois refugiados iranianos que trabalham comigo haviam preparado um buffet iraniano pra nós. Jantamos no hotel, e os participantes que quisessem poderiam dormir no hotel. Ao chegar nos seus quartos, eram recebidos por meias de natal com a famigerada tangerina, que é um símbolo do natal por aqui (e eu não sei porque, mas acho que por sazonalidade mesmo), trufas de chocolate feitas por mim, e nozes diversas. Cada meia tinha um bilhetinho pessoal do chefe do participante. Eu agradeci minha equipe pelo trabalho duríssimo ao longo desse ano. Não dormi no hotel, vim pra casa. E foi melhor, pois um pessoal saiu e chegou no hotel detonado 3 da manhã. Uma das moças nem apareceu no dia seguinte. Noruegueses e a cultura alcoólica....

Na Sexta, terminamos as palestras pela manhã, almoçamos buffet de pizza no Peppe´s e depois fomos pra uma corrida organizada por uma empresa especializada. Fomos divididos em grupos e cada grupo recebia um GPS. O GPS apontava a direção do próximo ponto de encontro, em locais diferentes no centro da cidade. Ao chegar em cada ponto, havia competições de destreza (cabo de guerra), trabalho em equipe (um de olhos vendados atravessa um campo de obstáculos guiado pelos companheiros de time) e solução de xaradas. Tava frio, mas foi divertidésimo. Duas horas depois voltamos pro hotel, onde fomos recebidos por shots de Jegermeister e café, pra esquentar. Daí houve a premiação do funcionário do ano (ano passado fui eu,esse ano foi uma recepcionista extraordinária), tomamos champagne e cada um foi pro seu quarto - enquanto eu fui pro bar preparar sangria pra recebeero pessoal mais tarde. 

Logo mais nos encontramos no bar do hotel para a sangria, discursos e toda aquela coisa norueguesa, e daí fomos por maravilhos restaurante Smak, onde teríamos um banquete de 5 pratos e pacote de vinhos. Foi ótimo, meus aluninhos pondo em prática o que aprenderam de vinhos... E de lá, bem mais tarde, os mais fortes (e jovens, ou audaciosos!) foram primeiro pra um bar, depois outro. Eu acompanhei, mas dei no pé assim que acenderam as luzes do bar. Foi minha deixa pra sumir. 

Sábado antes de voltar pra casa (nem consegui tomar café da manhã no hotel) passei no Cielo e comprei um milk-shake de chocolate bem doce. Não adiantou. Ainda tava de fogo e passei o dia de ressaca ontem. Mas mesmo assim aliviada, com uma sensação de dever cumprido que fazia tempo não sentia... 

Hoje arrumamos a bendita árvore de natal aqui na sala de casa. O espírito natalino chegou em mim quando tivemos o dugnad, e depois que assisti o episódio de natal de Glee. Mas ele já foi embora. E pra ajudar, nem tem neve aqui. Em pleno Ártico. 19 de dezembro. Nevou uns 10 dias (não seguidos) em Bodø desde meados de novembro. Será o sinal dos tempos pro fim do mundo em 2012? (brincadeira, mas não muita).

Participei de um amigo secreto de Natal com as brasileiras que conheço através do Facebook - algumas eu conheço face a face mesmo. Quem me tirou foi a Daniela Santos-Hansen, que eu conheço pessoalmente. E ela me deu um presente fofo e super pessoal, que eu amei. E eu tirei a Wilqui Dias, que eu também conheço pessoalmente. Fiz ela aparecer aqui em Bodø comk a desculpinha de um café natalino, mas era mesmo praentregar o presente pessoalmente e poder dar um abraço nela. Naquela semana eu também senti o espírito natalino... Muita sorte eu de ter recebido presente de e dado presente pra  meninas que eu sei que são reais!

A todos os meus 2 leitores, um Feliz Natal, ou Boas Festas e um ótimo 2012, repleto de realizações.

sexta-feira, setembro 30, 2011

Um post-foto-tópico, depois de um abençoado e longo verão...

Eu enrolei, enrolei, enrolei pra escrever sobre o tanto de coisas que me aconteceram nessas últimas semanas... Na verdade nem foi enrolação, foi pura falta de oportunidade e tempo. Como muito aconteceu, vou ter que escrever um post em tópicos... Pra tudo tem uma primeira vez.

1) Férias: já havia contado nesse post aqui como ficaria minha vida após as férias. Então, chegando de Lofoten, logo na segunda feira seguinte, comecei minhas aulas de norueguês na escola em tempo integral. Tive férias do trabalho, mas não da escola. Então na primeira semana de aula acabei matando dois dias pra poder ir pro chalé com o Lars na última semana de férias dele. O tempo não tava lá essas coisas, mas pescamos um bocado e deu pra relaxar mais um pouco. E logo depois desse fim de semana alongado, comecei na escola e trabalho de vez.




2) Trabalho: em geral meus turnos no hotel são às segundas, terças e quartas, de 4 a 8 ou de 5 a 9 da noite. Não é muita coisa, mas adicionando às 6 horas que passo na escola na semana, é muita coisa. Sobra tempo pra nada. O cara do bufê pra quem eu tinha mandei um CV nunca me ligou. Acho que meu CV (que eu traduzi pro norueguês com ajuda do Lars e de tradutores on-line assustou um pouco o cara. Eu também não me dei o trabalho de voltar lá no escritório dele, porque no fim das contas não sobraria tempo pra nada mais nessa minha vida além de escola e trabalho.

Apesar de estar trabalhando bem menos, e portanto ter que ter feito uns cortes no orçamento doméstico, estou curtindo a fase de não ter que preocupar com o hotel nas hooras vagas, de não ter neguinho me ligando porque acabou a batata ou não acha o sabão, e de não ter que levantar às 5 da manhã.Uma delícia. E ainda ganhei uma vida social mais agitada e mais independente. Tenho encontrado regularmente meus novos amigos argentinos e chilenos.  (Coincidência - quando Rita, a argentina, me apresentou Titi, a chilena, ela ficou me olhando, olhando... Por fim, veio a pergunta: "Disculpa, pero trabajavas en barcos?" E eu disse que sim, Royal Caribbean, Splendour foi o primeiro, de 1999 a 2001. E ela: "Camila, no te acuerdas de mi?" PQP! Eu não lenbrava dela, porque passamos bem pouco tempo juntas no Splendour. Mas não é muita coincidência? Justo em Bodø?

Falando em vida social, vamos a ela.

3) Vida social: Há uns finais de semana conheci a Wilqui Dias, do blog Memórias de mim mesma. Ela mora perto de Bodø e vem sempre pra cá, e dessa vez eu mandei mensagem pra que ela me ligasse. Lars estava em Lofoten com o pessoal do trabalho, então fui sozinha encontrá-la e o marido dela. Foi muito gostoso o bate-papo, nem vimos o tempo passar. Precisamos marcar mais vezes.


Semana passada andava com uma vontade animal de comer carneiro. Afinal, os bichinhos engordaram o verão todo, e estão no primor de sua forma antes do abate. Comprei logo uma perna inteira e convidei um pessoal. Em cinco quase detonamos a perna toda, de tão boa que ficou... 3 horas de forno.


Recebemos por uns tempos visitas de um gato bem sinistro... Começamos a dar comida e água pro bichinho, e se deixassemos a porta aberta ele bem que entrava em casa. Mas se pelava de medo de nós, era só fazermos um movimento brusco e ele vazava. Já faz umas duas semanas que ele sumiu de novo. Espero que tenha encontrado a casinha dele...



E nessas eu tentei fazer o Lars aceitar o fato de ter um gato, mas parece que a alergia dele não vai permitir mesmo. Na noite  do jantar de carneiro, Rita trouxe a Sofia, a gatinha do amigo chileno que trabalha nos navios da Hurtigruten, a qual ela cuida quando Arturo está embarcado. Sofia é internacional, já morou em 7 cidades em dois países, e é um doce. Lars até se animou com Sofi, mas quando ela foi embora, ele começou a espirrar...

E quando falo de vida social e tals, até parece que ela é agitadésima, neam, mas aqui em Bodø a coisa é devagar mesmo. 
4) Escola - pra isso um dia terei que escrever um post dedicado, pois de tudo que me falaram das escolas por aí, nada fez nenhum sentido! Bodø é uma comunazinha (município em norueguês chama-se komunne) nada progressista em vários sentidos, e o povinho daqui é extremamente conservador. Maaaaas, em termos de escolas, ela é modelo no norte da Noruega. Comecei na classe mais avançada da escola, porque meu noruga falado é bem bom. Mas escrever são outros 500. O povo da minha classe é 10. Tem uma casal da palestina, um casal de uma das minorias na China, 4 da Eritréia, uma etíope, uma somali, uma tailandesa, uma sérvia, um russo, um iraquiano e uma jovenzinha de 18 anos de procedência árabe mas que eu não exatamente de onde ela vem. Todos excelentes, gente boníssima, e la vou eu com minha curiosidade desenfreada em conhecer gente de lugares diferentes... Trabalhei com gente de mais de 50 países nos navios por um longo tempo, então não é novidade pra mim. Mas nunca tinha convivido com nenhum desses povos e todos os dias aprendo algo novo. 

Tenho 3 professoras, todas senhouras norueguesas com excelente formação. São todas professoras de gramática e isso está sendo de uma ajuda tremenda. Usamos o livro Stein på Stein, que é a continuação do livro que usei com a Bjorg em São Paulo. Estou aprendendo horrores. Tanto que consigo trabalhar na recepção do hotel sozinha (mas ainda evito atender telefonemas externos) sem maiores problemas. Em casa tenho praticamente só falado norueguês com o Lars, e até já me atrevi a começar a ler um livro de vinhos em noruga. 

No fim das contas, nem que fosse pra dar aquela destravada primordial na lingua, a escola me está servindo e muito, e eu gostaria muito de terminar o semestre nessa turma, mas pelo visto e pelas novidades que vem pela frente em termos de trabalho, parece que eu só vou poder concluir as 250 horas obrigatórias. Dia 25 de outubro vou fazer Norskprøve 2, que é uma espécie de TOEFL pro norueguês, que tem 3 níveis. A minha classe fará a prova 3, mas eu preciso fazer e ser aprovada na 2 antes de poder fazer a 3. E se meu norueguês melhora cavalarmente a cada dia, não há mais nenhum motivo de preocupação. Um alívio. Abaixo umas fotinhas do passeio que fiz com a escola na segunda semana. Fomos a Kaiservarden, uma montanha na cidade de onde se tem vista de toda a região se o tempo estiver bom. Olha como estava o tempo...







Dá pra ver toda a imensa cidade lá de cima...

Ainda volto com fotos do final de verão, começo de outono. Verão que aliás foi excelente e longuíssimo por aqui. Começou a esquentar cedo em junho (na primavera a neve também foi cedo), e foi quente e seco. Talvez por isso a safra de mirtilos tenha sido tão terrível por aqui. Não se encontrou muitas blåbær em nenhum canto por aqui. Em compensação, havia muito multebær (framboesas polares), muito mesmo... Julho e agosto também  foram bem quentes, choveu moderadamente, e o outono mesmo só deu as caras por esses dias. Acho que por uns 8 finais de semana seguidos, os Domingos todos foram de muito sol e altas temperaturas...

Quando estive em Oslo no começo da semana (pra um treinamento do hotel, treinamento esse que aconteceu inteirinho em noruga. Mas também, o povo lá em Oslo fala um norueguês tão mais fácil de entender!) vi uma matéria no jornal local que as lavouras de cenoura e batata, entre outras, tinham sido quase todas perdidas pelo excesso de chuva. Por aqui, o verão foi tão bom que as cenouras cresceram bem além da média, virando supercenouras!

sexta-feira, setembro 02, 2011

Lofoten, o lugar mais lindo do mundo... parte 2

Depois da festança da noite anterior, dormimos até sair fumaça do colchão e por conta disso perdemos o café da manhã. Então fomos pra praça, achamos uma deli deliciosa onde uma senhora tirava bolos e pãezinhos de dentro do forno. Muitos produtos orgânicos. Comemos um omelete com salada, um pão delicioso e um suco de maçã orgânico de chorar. Depois fomos dar uma olhada numa outra galeria de arte, Lars queria conhecer mais obras de Dagfinn Bakke, de quem ele comprou uma gravura em Saltstraumen há uns anos atrás. Mas o fato era de que na galeria dele só tinha trabalhos de outros artistas! Não gostamos de nada e fomos buscar o carro, porque o dia estava lindo, e saímos com destino a Henningsvær. O caminho de Svolvær até lá já é de chorar. Praias desse naipe:

Um vento do cão, mas ô vontade de sair correndo e tchigurf!

Seguimos pela estrada estreita com um busão sueco na nossa frente. Henningsvær é um espetáculo de lugar. Parece um vilarejo do século 19 que não avançou no tempo. Tem uma mega galeria de arte com três andares, sendo um deles apenas com óleos do século 19 e começo do século 20, um andar com arte contemporânea e a exibição muda periodicamente, e no último andar fotografias. Há também um "espetáculo multimídia", como eles anunciam, de meia hora de duração e acontece de hora em hora. Nada mais é que um dvd que eles passam num telão, mas vale a pena. Do jeito que Lofoten é um lugar espetacular no verão, imagino que também o seja no inverno e na primavera... Esses picos monumentais com neve e a luz cor de rosa do por do sol é uma imagem que eu pago dinheiro pra ver ao vivo... 

Em Henningsvær há também um restaurante extremamente recomendado, o Fiskekroken, mas não ficamos entusiasmadíssimos com o cardápio. Além disso, as ruas estavam cheirando a kanellbolle saído do forno, e meu nariz seguiu o rastro, claro. Chegamos a um ateliê de velas (!) que também era um café daqueles extremamente simpáticos, cheio de coisas também orgânicas pra vender. Há também várias lojinhas que vendem cosinhas pra casa, sabonetes caseiros e franceses (pois é, não precisava, mas eram fabulosos e carésimos).


Ó a cara de satisfação da gorda prestes a cravar os dentes no trem quentinho...

De bucho cheio e tendo visto toda a vila, voltamos pra nossa base. Ficamos com vontade de ir comer num restaurante chamado Borsen Spiseri. O cardápio era matador, tradicional, é herança cultural da Noruega. Fica num hotel numa ilha em frente a Svolvær. Mas o danado só abria às 5, e quando chegamos lá disseram que pra quem não tivesse reserva, só a partir das 9! Desistimos. O restaurante do nosso hotel também era renomado, mas um prato custava mais de 300 coroas! Desistimos e fomor comer (uma merda de comida) no Bacalao, nosso pit stop diário para drinks e a cerveja mais deliciosa da Noruega, feita pela Mack, claro (acho ascervejas da Mack excelentes, a fábrica fica em Tromsø). Obs - o Bacalao não serve pra comida, só pra um drink eventual... Não perca tempo.

Mas de lá fomos fazer uma turistada clássica... Em Lofoten, claro, também há um bar de gelo, chamado Magic Ice. Nada nos moldes dos de Estocolmo ou Copenhagen, mas muuuuuuuito melhor! Maior e mais divertido, cheio de esculturas de gelo contando a vida em Lofoten. Ficamos ali uns 20 minutos, ficou muito frio depois disso, mas se alguém visitar Svolvær, deve incluir esse item na lista, é super divertido!

Saímos de lá com o por do sol lindo, e fomos pro bar do nosso hotel. Passamos o resto da noite lá. Fomos dormir um pouco mais cedo. E lá pelas 3 da manhã o alarme de incêndio do hotel disparou. Em 5 minutos, bombeiros e polícia a postos. Num rorbu vizinho, uns locais estavam dando uma festcheennha... Sabe-se o que fizeram, mas levou 20 looongos e dolorosos minutos pro alarme ser desligado. 

Dia seguinte nubladão, pegamos a estrada cerca de 11:30. Só havia duas barcas de Moskenes, às 14, outra às 21! Dirigimos sem parar de Svolvær a Moskenes, mas pra nossa surpresa a fila de carros pra balsa estava enorme. E esperamos. Éramos os últimos da fila. Se não coubéssemos, ou esperaríamos até as 14, ou voltaríamos pra cima pra pegar outra barca de outro local até Steigen, e dirigir 3 horas de Steigen pra Bodø, chegando mais cedo. Então, faltando 3 carros, o cobrador avisou que não caberíamos. Lars virou o carro, mas teve que parar pra eu usar o banheiro no posto turístico. Nesse intervalo, sobrou um lugar estranho na balsa e o cobrador chamou a gente de volta. Disse que não custava tentar. Foi uma manobra danada pro Lars enfiar seu furgão véio na balsa, mas deu pra fechar a porta dela certinho!


Chovia, tempo ruim, mas o mar estava um tapete. Viemos meia viagem sentados no chão do saguão, tão apinhada que estava a balsa. Mas aí a chuva deu trégua e sentamos no deck. Perto de Bodø, 4 golfinhos deram o ar da graça. Mas cadê que a gente alcança catar a máquina em tempo...
Chegamos bem cansados, mas bem felizes. Pena que foram só 4 dias... Faltou ver e fazer um montão de coisas, inclusive comer bacalhau, mesmo num logar onde até as tampas dos bueiros tem um bacalhau estampado. Mas comprei bacahau seco pra trazer pra casa. Faltou um safari de orcas e águias marinhas, um passeio de barquinho de borracha até Trollfjorden... Fica prometido o retorno breve.

Abaixo um slide show com música e tudo! Tem uns 13 minutos de duração, e música, portanto abaixe o volume se não quiser música, aumente se quiser uma musiquinha dinamarquesa. É minha primeira criação do gênero, portanto seja paciente! Boa viagem...





quinta-feira, setembro 01, 2011

Lofoten, o lugar mais lindo do mundo...

Tô cheia de coisas pra contar, mas o tempo é curto e minha vida não acontece na frente do computador - especialmente agora! Por isso, vamos começar pelo começo: as férias em Lofoten. Pra se ter uma idéia, em 4 dias eu tirei 650 fotos. Isso porque só fez sol um dia.

Pra quem nunca ouviu falar (como é possível eu não sei), Lofoten é uma península com várias ilhas, exatamente em frente a Nordland e Troms, começando na altura de Bodø. Tanto que pro sul de Lofoten,  o ponto de partida é Bodø. Há vôos direto pra Leknes (25 min) ou Svolvær (30 min), dois Hurtigruta por dia pra Stamsund e Svolvær (cercade 3 1/2 horas), e uma barca várias vezes ao dia pra Moskenes (4 horas). Resolvemos tomar a barca. Tanto na barca como nos Hurtigruta é possível levar o carro (mas atenção aos Hurtigruta, tem um deles, mais vovozinho, que não leva carros, chama-se M/S Lofoten e viaja aos sábados sentido sul). Entre Lofoten e o continente tem uma porção de mar que chamam de Vestfjorden, e é um lugar bastante especial. Povoado por golfinhos, águias marinhas e até baleias orca, se você der muita sorte. Também é um lugar de paisagem muito especial, com diversas montanhas de mais de mil metros de altura que despencam no mar. Assim é Lofoten, assim é Kjerringøy, assim são os fjords na região de Salten, ao redor de Bodø. Pode não ser tão popular como as atrações turísticas lá do sul (Preikestolen, Geiranger), mas também são de outro mundo, e melhor, não é tão apinhado de turista como lá pra baixo (com exceçãode Lofoten, claro), e ainda por cima chove bem menos! Tenho que fazer a propaganda pra que os amigos que ainda não se atreveram a vir me ver nos confins do mundo se animem...

Resolvemos tomar a barca num horário peculiar: 4:30 da manhã. 1)Mais vazia, 2)chegaríamos lá com bom tempo, podendo parar em vários pontos turísticos entre Moskenes e Svolvær, já que o check in no hotel que reservamos não seria antes das 15h - em geral é assim por aqui. A viagem levou 4 horas cravadas, e o mar tinha ondas enoooormes, mas não havia vento, então o navio balançou um pouco, mas suavemente. Mas eu dormi. Como muitos caminhoneiros (como o próprio Lars já fez muito) usam o serviço de barca, elas tem um saguão (não é permitido fazer o trajeto no carro, obviamente) com lanchonete e sofás em que é possível se espichar se não houver muita gente. Até levamos travesseiro. Saímos de Bodø com tempo parcialmente nublado e chegamos em Moskenes com um solzinho gostoso. Na saída da barca encontramos nosso vizinho de chalé fazendo um bico de cobrador. Só aqui mesmo...

Depois de uns bons bocejos e uns tapas na cara pra espantar a soneira, começamos a jornada. Quando me dei conta de onde estava, precisei catar o queixo no chão do carro. Não importa quantas vezes você possa ter visto fotos ou imagens de um lugar, é sempre diferente ao vivo. E com Lofoten é ainda mais diferente, porque as dimensões ali são monumentais, especialmente ao sul, onde estão as montanhas mais altas... De Moskenes a Svolvær calculamos 4 horas, são duas de estrada, mais todas as paradas...


Estávamos com uma vontade tremenda de tomar um café, então paramos no primeiro vilarejo. Era cedo, cerca de 9 da manhã, e nos demos conta de que TODAS as lojas estavam fechadas até as 10. Era uma quinta feira... Achamos uma lojinha de souvenirs aberta e entramos. A dona, uma vovó muito simpática, logo puxou prosa. Perguntou de onde eu era porque meu sotaque era diferente. Disse que Brasil, começa a conversa, o que te traz tão longe, etc. Lars conta que trabalhavamos num navio, blablabla, aí o povo fica ainda mais curioso. Chegou o marido, mais prosa, tomamos um café pavoroso, e eu acabei comprando um peixe de pelúcia pensando que era bacalhau (no fim é um salmão!) pra mandar pro meu sobrinho. A conversa ficou longa, conseguimos nos desvencilhar, não sem antes ouvir as dicas de passeio do vovô.

Por conta disso achamos essa praia... Apesar do  vento (uma gaivota estava praticamente parada no ar batendo asas como louca sem sair do lugar, morri de rir), sempre me ocorre arrancar a roupa e sair correndo pra um tchibum, porque isso parece Tahiti e não Ártico. Aí penso na temperatura da água, brrrrrrr.

Próxima parada, Vikten, onde fica uma oficina de vidro soprado. O lugar é famoso por aqui, chama-se Lofoten Design, e seus itens, carésimos, são bem cobiçados. Entretando, me decepcionei horrores. Não estava esperando nenhum cristal Baccarat, mas algo parecido com o que se encontra em Veneza e Murano. Não era. Era um trabalho com muito pouco refinamento pra custar o que custa. Uns peixes de vidro, depois vários vasos e pratos de enfeite, não gostei de nada. Só da arquitetura do local. Ficamos só uns 10 minutos ali, e seguimos pra Leknes.

A essa altura estávamos varados de fome, então resolvemos parar pra café, comida e banheiro, claro. Achamos um super-hiper-mega gigante shopping center, e ao redor dele haviam cafés e uma padaria. Da padaria saía um cheiro de danish (aqueles pães doces de massa folheada recheados de creme ou geléia e cobertos de glacê, um pecado) recém saído do forno. Ali mesmo paramos, tomamos outro café pavoroso, comemos um delicioso e fresquinho danish, fomos ao banheiro do shopping, compramos algumas coisas pra viagem e seguimos em frente. 

De Leknes pra Borg, onde fica o famoso museum viking Lofotr. Pra esse lugar vale parar pra uma visita guiada. Tudo ali é réplica, com base em escavações feitas ao longo de muitos anos. O museu foi construído em 1995. Há uma casa viking totalmente mobiliada, um ferreiro e um navio. Aprendi coisas novas sobre os vivkings... Na minha cabeça não estava claro se os vikings daqui tinham ido pra Islândia ou se foi o contrário. Mas confirmei o fato de que eles saíram daqui pra lá, por que? Por causa do cristianismo, ora bolas. Sempre eles! A Islândia era terra de ninguém e lá eles poderiam ser "free to be you and me", ao passo que os cristãos exigiram que houvesse apenas um rei e os vikings não gostaram dessa história. Descobri também que chifre em capacete de viking é tudo mentira! É um mito que tem muito a ver com os bárbaros alemães, disse o guia. Em nenhum capacete viking encontrado nem na Dinamarca, nem na Suécia nem na Noruega tinha chifres, uma vez que o inimigo poderia agarrar o sujeito pelos chifres e derrubá-lo com muito mais facilidade. Além de tudo isso, as Sagas vikings foram narradas pela elite, que era apenas quem podia se dar ao luxo de ter um capacete, já que o ferro era artigo de alto luxo por ser caro. Então os mais simples preferiam ter uma espada. Claro.

Naquelas épocas também o trabalho doméstico era bem definido. Mulheres no fogão, costurando, limpando e os homens caçando, brincando de espada (não resisto à piada, perdão) etc. Se uma mulher quisesse aprender as tarefas masculinas, sem problemas, afinal, quando a homarada ia pras batalhas eram elas quem ficavam pra trás e tinham que se virar em casa. Maaaaas, se um cara quisesse aprender a costurar, aiaiaiai! Era expulsão do clã. Sexismo desde aqueles tempos. Vale muito a visita pra conhecer um pouco dessa história toda. No alto verão existem várias atividades, e tem ainda o festival viking todos os anos. Deixo aqui um vídeo alheio que ilustra bem a coisa toda...

De lá deveríamos ter parado em Eggum, um vilarejo com uma praia fenomenal e um forte construído pelos alemães na Segunda Guerra. Deixamos de lado porque demoramos demais em Borg. E agora estávamos AZUIS de fome. Pelo caminho, uma grande desvantagem. Pra achar um lugar pra comer foi um sufoco, nem as lojas de conveniência nos postos de gasolina existem em abundância, só mesmo em Leknes.

Finalmente avistamos uma placa que dizia "comida caseira a 500 m". Paramos. Um lugar muito simples, bem tradicional das beiras de estrada aqui do norte. No cardápio, língua de bacalhau frita, halibut frito, peixe frito (mais barato que halibut, ou kveite, ou alabote em português, mas no Brasil se diz halibut, e aliás não é um peixe comum por lá), ensopado de carneiro, lapskaus (um prato tradicional que consiste de batatas, cenouras e carne seca de ovelha/carneiro, cozido por bastante tempo. Come-se com pão sueco ou flatbrød) e por fim, guisado de baleia. Claro, em Lofoten se encontra a maioria dos baleeiros ainda na ativa na Noruega. Tava em dúvida entre língua de bacalhau e lapskaus, mas Lars quis a baleia, claro. Acabei pedindo peixe frito. Estava tudo uma verdadeira delícia. Mesmo com um montão de conflitos internos e me sentindo uma grande hipócrita, provei o prato do Lars e estava sensacional!


Barriga cheia, saco cheio de estrada, chegamos em Svolvær por volta de cinco da tarde, O tempo a esta altura já estava completamente fechado, nubladão, e chovia. Não muito, mas uma chuva fina e chata, estilo São Paulo. Fomos direto pro hotel.

Uma coisa que é importante saber sobre Lofoten é que há um meio de hospedagem bem distinto por ali, não estou segura se ainda existem rorbus em algum outro local da Noruega. Rorbu são essas casinhas vermelhas que ficam na beirinha d´água e aparecem em todas as fotos de Lofoten,e desde o século 19 serviam de acomodação pra os pescadores que vinham em bandos trabalhar em Lofoten na temporada. A temporada de pesca acontece no inverno, de dezembro a abril. Dentro de cada uma dessas cabanas ficavam às vezes toda a tripulação de um barco de pesca. Em tempos mais modernos os rorbus antigos de Lofoten foram transformados em hotéis. Existem quartos ou suítes, e em geral há cozinha também. O hotel que ficamos só tem rorbus, de diferentes categorias. O hotel faz parte de uma associação chamada De Historiske. Os hotéis membros ou estão em edifícios históricos ou em locais de relevância cultural. O nosso, em Svolvær, era o Anker Brygge. Não é barato, mas vale muito a pena.

Depois de um providencial banho, saímos pra cidade. A vida noturna em Svolvær não é lá essas coisas. Paramos no Bacalao, um barzão todo gerido por suecos, todo mundo trabalhando ali era sueco. Ali descobrimos a melhor cerveja norueguesa que já tomei, admiramos o tráfego de turistas italianos e alemães (hordas deles, mesmo no meio de agosto), vimos o Hurtigruta da hora chegar e sair, mas bateu o cansaço. Fomos pro hotel, mas a música que ouvimos ao passar pelo bar nos fez entrar, e ali ficamos mais um par de horas. Comemos camarões fresquinhos, e tomamos mais um par de cervejas.

Dia seguinte tomamos café da manhã (meio que ordinário pelo preço do hotel, mas os pães eram divinos!) e pegamos o carro em direção a Kabelvåg, um "bairro" há uns 20 km de Svolvær. Lá fica Storvågan, onde há um hotel e restaurante bem tradicionais, e um "complexo" que envolve um aquário (sou apaixonada por aquários, visito todos que posso!), um museu estilo Kjerringøy, com casas preservadas e móveis antigos, e a galeria de um artista plástico famoso chamado Kaare Espolin Johnson. Começamos pelo aquário. Um lado meu fica tristérrimo de ver os bichinhos (mesmo peixes) presos num tanque. Lá eles tem três lontras e três focas, sendo uma delas um bebê de 6 meses. Além disso, há um tanque com cada tipo de peixe encontrado no mar daqui (exceto os de profundidade, como uer, kveite e breiflabb - monkfish - porque eles não tem um tanque pressurizado). Olhamos o tanque de salmão, o de bacalhau e steinbit, o de skrei, o das trutas, todos os crustáceos, um barato (aqui tem uma fotinho de todos os nossos habitantes marinhos conhecidos). Tava cheio de criança, claro, e num certo ponto, um senhor muito amável veio avisar a todos que as focas estavam sendo alimentadas. Fomos assistir, mas eu fico me doendo de pena, coitadinhas... Mas as crianças amaram. Depois as lontras.

E daí resolvemos avançar, e fomos à galeria. Eu não conhecia esse artista e fiquei impressionadíssima com as gravuras dele. Ele foi um ilustrador famoso, tem vários livros ilustrados por ele. E ele captura toda a atmosfera dessa região, que ainda vive bastante da indústria da pesca. Aquelas montanhas além da imaginação, encontrando esse mar que tirou muitas e muitas vidas, pescadores e seus barcos, a fronteira com a Rússia... Pra quem gosta de arte, vale dar uma olhada no site dele só pra ver as obras. Compramos uma gravurinha avulsa por 500 coroas. A enquadrada custava 1500! Compramos um "Trollfjord".

Por fim passamos ao museu (e se você compra ingresso pros 3 ao mesmo tempo saem mais barato que comprar separado, e você não precisa visitar os três no mesmo dia). Pudemos ver um mercado antigo, uma casa decorada, e o melhor de tudo, um autêntico rorbu à lá antigamente. Tem também uns barcos de pesca antigos, com motores do século 19... O melhor desse museu foi um mini-documentário que assistimos sobre faróis antigos e as famílias que cuidavam deles quando eles ainda não eram automatizados.

Nessa altura do dia o tempo estava horroroso, chovia, e fomos embora dar uma descansada. Mais à noitinha tínhamos uma reserva no restaurante Du Verden, do chef Roy Magne Berglund, de quem eu já havia falado aqui. Esse chef e um empresário dono de vários restaurantes e empreendimentos aqui em Bodø entraram em sociedade, e pra minha decepção, os menus do Du Verden e do Bryggeri Kaia são unificados. A única diferença é que o Du Verden serve sushi e pizza. Afe maria, que falta de originalidade. Mas enfim, o restaurante era encantador, o serviço, dos melhores que recebi em todos os lugares que fui aqui nesse país (nosso garçon, claro, era indiano). Atacamos de sushi de entrada e um prataço de frutos do mar para duas pessoas. Tava tudo gostoso, a experiência no geral foi boa e valeu a fortuna que deixamos pra trás. 

Depois de um belo jantar, ainda fomos dar umas bandas, mas pra nenhuma surpresa, nada de mais acontecendo na cidade. Então fizemos um bom bar hopping, e terminamos a noite no bar do nosso hotel. Havia música ao vivo e uma recepção de casamento rolando tudoaomesmotempoagora! E o povo que cuida do bar é excelente, o melhor grupo de bartenders que já vi por essas terras... Os primeiros que não olharam pra mim como se eu fosse louca quando eu pedi um Long Island Iced Tea no balcão. Esses não só sabiam o que era como prepararam com perfeição. E ainda recomendaram ao Lars um Lynchburg Lemonade. What???? Nota mil. Fomos dormir de pileque. Forte.

Agora percebi que o post ficou longuíssimo, então vou fazer em duas partes. Essa acaba por aqui. O slide show com muuuuitas fotos fica pro próximo!

terça-feira, agosto 16, 2011

Avançando, sempre!

Pois é, nos comentários do penúltimo post, a Pérola (que é amiga da Zildinha, que é a amiga-irmã de minha tia e de vez em quando comenta aqui, e é assim que a gente percebe como o mundo é microscópico, sei lá!) escreveu assim: "Acompanhando seu blog, percebi que qdo as coisas estao ficando meio chatas p vc (trabalho) sempre algo novo aparece! Sortuda e raçuda vc!" Pois é, depois dos últimos acontecimentos, também me dei conta (de novo) de como isso se repete em minha vida.

Vida essa que passou a ser muito pouco planejada, e muito mais vivida, depois de que comecei a confiar no poder do pensamento positivo. Porque eu me entedio com uma facilidade mortal, as coisas que eu passo a dominar não me desafiam mais. E ficam chatas. E antes, quando era imatura, eu jogava a toalha e depois até ficava meio perdidinha até encontrar o próximo barco (literalmente) que me levaria pra outras costas, ainda não exploradas. Depois de mais velha, aprendi que é preciso engolir sapos e aprender a esperar. Quem espera SEMPRE alcança. Eu acredito nesse pensamento com muita força, e não foi o Paulo Coelho nem nenhum livro de auto-ajuda que me ensinou isso, foi a vida mesmo. 

Quando eu quero MUITO que algo aconteça, acaba acontecendo... Foi assim quando por impulso desejei deixar a Royal Caribbean e fui parar num navio espanhol xexelento cruzando no mediterrâneo, e foi lá mesmo que desejei com todas as minhas forças que a Royal me aceitasse de volta menos de dois meses depois e ter então dois barcos brigando pra que eu preeenchesse as vagas que cada um necessitava. Foi aí que fui parar no Freedom of the Seas de volta, e fui promovida 3 vezes em um ano - econheci o Lars. O trabalho de sommelier tava começando a ficar chato, PUM, lá virei eu supervisora, e assim por diante.

Competência, pode até ser, porque eu sou trabalhadora e dedicada sim, mas teve muito o fator hora certa no lugar certo em conexão com as pessoas corretas pra que certa coisa ocorresse. Eu traduzo isso como destino. E até mesmo sorte, como disse a Pérola. 

Eis que agora a história se repete... Cheguei na Noruega sem lenço e sem documento, literalmente. Sem conhecer ninguém que me levasse aos lugares que eu queria. Sem entender patavinas do que essa gente toda falava. E ainda assim, 4 meses depois arrumei não só um emprego, como um emprego fixo e em horário integral, coisa difícil de acontecer. O plano de ir cursar as 300 horas mandatórias de norueguês exigidas pelo Governo eram o único realmente planejado, e viram, logo de cara ele foi pras cucuias.

Dois anos depois, estou eu aqui às voltas com o maldito curso de norueguês. Um tiquinho arrependida por não ter me livrado disso logo. Porque agora que o trabalho encheu o sacooooo, comecei a ficar com medo de que a mudança fosse praticamente impossível sem dominar o idioma. Veja você que sim, eu falo norueguês, me viro, conversei com fornecedores da Noruega inteira por telefone, escrevi e-mails por 7 meses e tudo correu bem. Os locais acham que eu dou no couro muito bem, mas me falta auto-confiança. Não faz parte de mim ter que pensar 8 vezes antes de começar uma conversa, me sinto uma criança indefesa, e isso afeta o desempenho. Mas bem.

Semana passada estava às voltas com minha chefe que voltou da licença médica. Já havíamos entrado em acordo sobre eu ter uma licença de uns 3 meses pra ir cursar o maldito curso obrigatório e terminar essa possível futura pendência com a Imigração. Mas estava me doendo no coração ter que voltar pra cozinha, trabalho que já havia deixado desde que assumi a posição de chefe do departamento. Ô, saco! Mas pra achar outro trabalho integral ia ser bem difícil, andei lendo os anúncios e todas as vagas às quais eu poderia me candidatar eram pra cozinha, e trocar de úmido pra molhado não ia fazer muita diferença.

Eis que durante uma reunião entre minhas duas chefes e eu, surgiu a proposta de eu preencher duas vagas abertas no próprio hotel. 1) supervisão do programa ambiental (apenas umas 5 horas ao mês, é apenas revisão e coleta de dados e elaboração de relatórios e propostas de melhoria)  e 2) um posto chamado de "service vakt" , que também não é integral, são cerca de 12 horas na semana, onde ajudarei por todos os lados onde o hotel está atolado, inclusive na recepção, e pra isso vou começar o treinemento na recepção quando voltar das férias. Pra complementar o orçamento, a chefe da cozinha pode me chamar quando alguém ficar doente ou quando acoisa realmente apertar, e ainda por cima podem rolar os bicos no catering com quem trabalhei no casório há duas semanas

Todos os problemas resolvidos. Escola em tempo integral (da qual espero apenas completar minhas horas, não estou esperando avançar horrores no aprendizado do idioma não, que vai ser difícil), trabalho em "meio-período", a possibilidade de voltar a pegar o trabalho da minha chefe SE ela ficar doente de novo (e parece que esse é o plano dela), e se tudo der errado, a tranquilidade de não precisar me afobar pra achar outro emprego assim de cara, podendo escolher, tendo tempo de mandar uns currículos e tal. Viu como tudo se resolve? Não é preciso afobação, é preciso pensar positivo, manter-se positivo, e esperar que as coisas se desenrolem naturalmente.

Amanhã é dia da matrícula na escola, tomara que eu consiga uma vaga. E também vou lá no escritório da empresa de catering levar um CV como prometido.  Também tenho mais uma sessão no quiropraxista milagreiro (minha dor praticamente sumiu, sem Doril!), e logo após saímos com destino a Lofoten e depois uns dias de pesca e catação de frutinhas no chalé. Ahhhhh, como eu esperei com sofreguidão por estas merecidas férias... Endelig!!!!

Note to self: esse post é daqueles pra eu ler de novo, se um dia (ou quando) a esperança estiver curtinha...

quarta-feira, agosto 10, 2011

Alívio imediato - e uma a-hasadinha básica

Então, eu andava numa aflição sem tamanho... Meu visto vencido desde de 27 de julho e nem notícia da UDI (a imigração). Tava com a cabeça cheia de caraminhola, imaginando que meu visto seria negado e eu talvez fosse deportada por não ter cumprido com a obrigação de cursar as malditas 300 horas de norueguês e estudos sociais, blablabla. Exagerda jogada a seus pés, eu sou mesmo exagerada, eu sei... Mas a cabeça da gente é perigosa na criação de neuras. Né? Já tava até perdendo o sono. Somado a esse stress, tem toda a novela no trabalho, que aimeldeus, fica proutrora.

Segundona é dia de baixar True Blood (e assistir, claro), e depois, pra acalmar a sanguinolência toda de TB, eu assisto Glee, a série de TV mais deliciosa de todos os tempos. Alguns acham bobagem. Mas uma historinha de um bando de nerds rejeitados pela escola (no Meio-Oeste americano, diga-se de passagem) que se juntam num grupo musical e se aceitam como são, onde tem o gay, a lésbica, a loira-burra, a chata-de-galocha-chorona-adotada-por-gays, a loira-linda-que-já-foi-horrorosa-e-ainda-por-cima-engravidou, o fortão do futebol, o bonitão cuja família fica pobre-de-marré-de-si na recessão, o delinquente juvenil, os asiáticos, as gordas, a negra, a latina, o deficiente físico (enfim, um mini-retrado da realidade que não se vê nas séries por aí), com um  discurso claro contra discriminação e anti-bullying, a ainda por cima MUSICAL!!!! Tem como ser ruim???

Pois é, meus momentos com Glee são prazerosos com uma boa xícara de café, ou uma barra de chocolate, ou um dia de sol na praia. Precisei falar tudo isso de Glee pra poder explicar que nesta segunda, assisistindo ao penúltimo episódio da segunda temporada, eu caí no choro e não consegui parar. Lars até se assustou, ele sabe que sou manteiga derretida, mas peraí, soluçar vendo Glee? Alguma coisa estava entalada nimim e aquele mágico episódio abriu os portões (ou as comportas?).

Começou com a demônia da Santana (a atriz  Naya Rivera) cantando Back to Black da Amy Winehouse. Fiquei imaginando se Amy ficou orgulhosa pela homenagem (o episódio foi ao ar nos EU em maio). Chorei, achei lindo.


Continuando o drama (porque esse episódio merecia em Emmy, juro...), vem o funeral da irmã portadora de Downs da monstra Sue Sylvester. O filme preferido dela era "A Fantástica Fábrica de Chocolate" (o original, e está na minha lista de favoritos também), e o funeral foi baseado no filme (só em Glee!). Foi lindo, e triste, triste, triste, falava de perda, de amor, de saudade, de tudo. Quando Sue começou seu discurso, eu embalei e fui até o final do episódio. Consegui UM vídeo decente da música, que não mostra toda a magnitude da coisa...

E como eu sou uma criatura bem pouco objetiva, precisei dessa novelona toda (levei DOIS dias preparando este post...) só pra contar que ANSIEDADE NÃO SERVE PRA NADA... Ontem foi na polícia (onde fica os escritório de imigração), saí do trampo, perdi a consulta com o quiroprático (mais fácil néam?), mofei na fila DUAS horas inteiras. Quando entrei pra perguntar, o tiozão me olhando agarrou um passaporte verdim, veio balançando ele entre dois dedims, e disse que meu caso tinha sido processado e que ele tinha mandado uma carta pra mim ontem (que recebi hoje).

Agora estou eu vistada e passaportada. E com mais uma lição na mochilinha... Afobação e stress no país da burocracia que anda, mesmo que a passos lentos, mas ANDA, não serve de nada! E, claro, quem espera sempre alcança. E quem espera tranquilo ainda por cima ganha mais uns dias de vida pela ausência de stress.

E eu precisava estampar esses momentos de puro gleeter no meu diário!

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Pra quem se recorda do meu último nunca-mais-bye-bye-de-vez show do a-ha ano passado... Não é que domingão que vem os caras vão dar uma pala num concerto em memória às vitimas dos atentados em Oslo? PQP, a gente SE DESPEDIU deles!!! Tá certo, é por uma causa nobre e 110% noruga. Mas vá... 7 meses? O show é só pra convidados, mas vão transmitir ao vivo. Fui.

domingo, agosto 07, 2011

Agarre as oportunidades

Ontem fui trabalhar no casamento de uma ex-recepcionista do hotel. Ela já havia me pedido há tempos que eu cuidade disso e daquilo, e eu como não recuso um desafio disse sim pra tudo. Ao longo dos meses de preparativos, a sogra a convenceu que seria melhor contratar um catering, mas ela ainda assim queria que eu servisse o vinho e ajudasse na produção do bar, etc. Assim que lá fui eu. 

Sem entrar em detalhes sobre o casamento alheio (um casal de noivos muito bonito por sinal), me diverti horrores! Muito bom sair um pouco da rotina e conhecer gente. O dono do catering estava lá, muito gentil por sinal, e a filha estva trabalhando também. Levei Samira, a iraniana (minha protegida, rsrsrs) porque precisávamos de mais alguém pra ajudar. Eram 70 convidados. A festa foi no refeitório no departamento de trânsito (tipo o Detran noruega), que é enorme, e eles alugam pra festas. O local é um refeitório, com cara de refeitório, mas com uma bela vista do fjord, e ontem o por do sol às 10 e pico da noite estava divino. Ebba (o apelido na noiva) deu uma sorte imensa pois o dia estava fantástico ontem. 

E além de ver como funciona o catering, descobri também como funciona um típico casório noruga, já que nunca havia ido a um, e o meu foi muito menor, sem cerimônia mesmo. Os discursos, a coisa de o povo começar a bater com a colher nas taças no meio da refeição e os noivos terem que se levantar e se beijar pra calar as massas (rsrsrs), os presentes, e o micro bolinho de casamento, porque cada convidado traz um bolo (???????? A mesa de bolo tinha uns 10 bolos, todos feitos pelas convidadas). 

Enfim, foi bastante trabalho entre servir e limpar mesas de uma refeição de três pratos, servir vinho, café e conhaque, depois lavar tudo e colocar tudo de volta. Nessa altura os caras do catering (detalhe, dos 4 chefs, 3 não eram noruegueses e não falavam norueguês) vieram se despedir (porque eu e Samira estávamos contratadas pela noiva),  eu fiz algo que nunca antes na vida havia feito (minha mãe sabe disso!)... Apertei a mão do cara, pedi um cartão de visitas, ele disse que não tinha. Perguntei se tinham um site, ele disse que não e perguntou porque, eu lhe disse que queria lhe entregar um currículo, já que a partir de setembro vou trabalhar menos horas no hotel por conta da escola (SE eu conseguir vaga), e tinha vontade de trabalhar com eles, se eles usassem extras... O cara abriu um sorrisão, apertou minha mão de novo e me disse pra eu passar no escritório que fica ali (me explicando) e que seria um prazer trabalhar comigo.

Fiz um bico e de quebra consegui outros! Estou animadíssima, e agora ainda menos aflita pelo fato de deixar meu emprego 100% pra ficar com 30%, por exemplo, pelo menos por uns meses, que foi o acertado com minha chefe, até eu dar um chega nessa história maldita de escola pentelha...

No final da noite, eu estava saindo do local da festa e iria caminhar até o centro (uns 10 minutos), mas um convidado passou e me ofereceu carona. "Me diga onde mora e eu te levo..." Disse que ia ao centro, aceitei de bom grado a carona porque o vento tava frio, e quase me belisquei. Noruegueses não são o povo de maior gentileza no mundo em relação a essas coisas. 

No centro me encontrei com minha amiga argetina, fomos a ao Picadilly, meu local preferido. Foi muito agradável, mas no final da noite presenciamos o auge da falta de gentileza norueguesa, especialmente depois das duas da manhã num bar... Uma véia bebaça brigando com o bartender uruguaio, sendo que ela estava errada, havia pago um drink a menos e ficava no balcão xingando o pobre bartender de ladrão. Se eu fosse ele (um uruguaio), teria mandado a véia à merda! Mas a técnica dele era melhor. Ele fingia que não a escutava!

Ah, e também foi a primeira vez que pedalei da cidade pra casa com umas biritas na cabeça... Cheguei salva!

quinta-feira, agosto 04, 2011

Nem tudo está perdido

Então, eu ia falar tudoaomesmotempoagora no post anterior, depois que terminei meu desabafo me dei conta de que as notícias mais leves não cabiam ali...

Parece que esse verão durou um ano, dado o caos e comoção no trabalho. Quem trabalha, ou um dia já trabalhou, na área de turismo, vai compreender exatamente o que digo. Quem não é da área pode apenas imaginar o desepero e a alergia de gente que acabamos contraindo depois de um certo tempo. No meu caso, lá se vão mais de 17 anos na área. Uma área em que você trabalha mais quando os outros estão se divertindo. Onde não há feriados, os finais de semana são em dias úteis, blablabla. 

No nosso hotel, atendemos cerca de 5000 pessoas em 7, 8 semanas. Claro, era o que carregava meu último navio em semana e meia, mas o navio tinha 152 mil toneladas e 1800 cabines. O hotel tem 96 apartamentos... Como também já havia dito, me detonei de tanto trabalhar no começo do verão, cheguei a levar 19 dias seguidos sem folga. Estava exaaaausta e minha tolerância a seres humanos vai se esvaindo com o passar dos dias, e as mesmas perguntas cretinas sendo repetidas ao infinito. Não é culpa do coitado que pergunta, pois lá sabia ele que a ignorância dele assolava outros 316 passageiros... Sim, é sarcasmo. E sim, não é culpa do turista se a máquina de café tem um botão escrito CAPPUCCINO, LATTE, ESPRESSO, CAFE, etc. Eles ficam ali plantadões zoiando a máquina, apertando tudo que NÃO Épra ser apertado, e depois de 19 tentativas pedem ajuda. A situação se agrava quando há um (ou dois, ou às vezes três) ônibus lotados de cidadãos da terceira ou quarta idade. Eu em geral sou paciente. Tenho o quíntuplo de paciência com idosos do que tenho por exemplo com crianças-peste ou pré-adolescentes endiabrados. Piora ao triplo quando são vovôs-turistas-mal-educadésimos. Os vovôs noruegueses (ônibus de noruegueses) são os campeões da falta de educação nessa época do ano, seguidos dos italianos e russos (que devem viajar em orçamento e carregamconsigo TUDO que esteja pregado). No rank dos educadinhos, por incrível que pareça, estão os franceses, seguidos dos alemães (mais inacreditável ainda). 

Há quem ouse levantar seus dedinhos pra me apontar e dizer que eu estou generalizando. Ainda por cima eu, que tenho ÓDIO de generalizações. Mas ao lidar com turistas "a granel" por quase a metade de minha vida, eu acho que tenho PhD. Posso generalizar turista o quanto eu quiser.

Então, tem horas em que a gente rola de rir com as presepadas deles, noutras a gente quer mais é chorar. Numa manhã em que um ônibus inteiro roubou café da manhã sem pagar (sabe a trouxinha de comida enroladinha no guardanapo?), eu constrangida fui comentar com minha chefe, que me contou que em dois andares haviam desparafusado quadros dos corredores e levado embora! Ladrões de arte barata de hotel!!! Ou quando um dia um guia desceu à recepção com uma lumináriana mão. A recepcionista já se preparou... Então o guia fala : "Seria possível vocês mandarem esta luminária de volta ao hotel Artikus (um hotel de nossa rede)? Meu passageiro roubou e o recepcionista de lá telefonou durante a noite. Tive que bater de quarto em quarto até que me devolvessem... Desculpem o transtorno...". Imagina a vergonha!!!!! E isso tudo na Europa, aquela que alguns ainda insistem em dizer que é o lugar MAIS CIVILIZADO do mundo, huahauhauhauahaua!

Depois de todo esse carnaval, eu achava que ia acabar parando numa cadeira de rodas. As dores nas costas estavam pavorosas e certos dias eu nem conseguia dormir. Já tinha me decidido a pedir demissão, afinal minha chefe volta semana que vem e aí acaba-se a minha vida de chefe, eu volto a ser operária-padrão. Graças a nossa senhora da bicicletinha, diga-se de passagem, porque ser empregador na Noruega pode ser um pesadelo, mas isso é assunto pra outro post...

Ai fui ao médico pra saber o tamanho do estrago. Fui no meu fastlege, o equivalente a um "médico da família". O ugandense (falei certo?)... Depois de muuuuuuita lenga-lenga, ele bota as cartas na mesa: "Mas o que eu posso fazer or você hoje? Você quer sykemelding (licença por doença) ou remédios pra dor?" E eu disse que queria fazer outros exames, e ele me mandou caminhar e me exercitar. Talvez seja a maneira dele de me dizer que eu preciso perder peso, captei a mensagem. Mas não resolveu meu problema. Paguei as 137 coroas (40 e poucos reais) de consulta e saí dali mei tristonha... Sentei-me na net e revirei Bodø atrás de um orto, mas tá, quem disse que aqui o sistema de saúde particular é como no Brasil? Não... Só existe ortopedista no hospital, e você precisas er encaminhado por seu fastlege, e se o bendit@ não achar seu caso grave, pode esperar até 8 meses. 

Antes do verão eu tinha feito umas 5 sessões de acupuntura. Um sonho, muito relaxante, me ajudou à beça com o maxilar travado (meu dentista em SP havia sugerido), mas não ajudou com as dores. Então resolvi ceder a todas as sugestões e ir me consultar com um quiropraxista (e se tiver errado, foi tudo culpa do santo Google, pois eu só sabia o nome desse troço em inglês e espanhol).

Segunda feira lá fui eu. Abre a porta do enorme consultório, com uma secretária viking e sapatos abandonados no foyer, um viking de 3 km de altura. Eu sou baixinha, a família do meu marido é baixa. O cara era ENOOOOORME. Jovem e simpático, e adorou o fato de eu ter perguntado se podia falar em inglês porque saberia explicar melhor os sintomas. Assim ele disse que poderia treinar um pouco o inglês dele. 

Tiramos um mega radiografia de corpo inteiro, fomos de volta pro consultório. Ele "leu" a radiografia comigo, disse que havia problemas, mas que não eram graves. Disse que meus quadris estavam tortos, e tudo isso por causa da lesão que sofri ano passado, carregando peso. Então me deitou na maca, me torceu, me deu um puxão, ouvi um croc de um lado. Repetimos do outro lado. Depois tive que ficar (very uncomfortable) de quatro num aparelho estranho, e ele deu um apertão no meio da minha coluna, a coisa estralou do pescoço ao cóccix (Ô, PALAVRA LAZARENTA!!! Tail bone é bem mais fácil...), e voilá, a dor se foi... Assim. Num apertão!

Ontem voltei, levei mais 4 apertões na coluna, e ele disse que em 4 a 6 sessões eu estarei bouinha. A dor, de 10, passou a 2. Incrível. E agora nem mais vou acabar numa cadeira de rodas, nem vou ter que pedir demissão do trabalho que me exaure mas do qual eu gosto tanto. Nem tudo está perdido...

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Mudando de assunto, mas não poderia deixar passar... Hoje meu paizinho faria 65 anos. Muitos beijos e que ele esteja em paz...
Essa música deslumbrante é o tema de um dos filmes preferidos dele. de acordo com a mama. Seguindo a tradição, essa é pra você, papi.

terça-feira, agosto 02, 2011

Pequenas reflexões

(Comentários para esta postagem estão desabilitados porque na verdade isso é uma desopilada de fígado, não uma conversa. Não quero saber o que os outros pensam sobre o assunto, sinceramente. Chega dessa história. Alerta - escrevi uma porção de palavrões!)

Sobre o atentado terrorista em Oslo no final de julho, preferi não falar nada. A tragédia é tão imensa que fala por si, portanto, foi absolutamente desnecessário comentar o assunto. O silêncio é mais sensato. Especialmente porque, no auge acalorado do momento, é fácil apontar dedos e falar merda, como eu vi muit@s fazendo naquele fim de semana. As investigações esclareceram (e ainda estão esclarecendo) o caso, e talvez pelo inesperado da coisa o choque tenha sido ainda maior. 

Porque, né, convenhamos, no nosso Brasil merdas dessa altura (talvez de outro naipe) acontecem todos os dias. Conversando com minha mãe, ela me contou como a coisa tá feia em São Paulo. O sobrinho, filho, seilá, de uma conhecida, de 24 anos, foi atropelado na Vila Madalena por uma playboyzinha rica e bêbada ao volante. Não vira notícia. Nas periferias de SP chacinas e matanças acontecem a todo o momento, mas não viram notícia. A ONU decretou fome (em inglês, famine, que siginifica que a coisa lá passou de feia há muito tempo) na Somália, e as imagens que vem de lá não viram notícia, afinal, não é "novidade" fome e miséria na África. O mundo está desmoronando na frente dos nossos olhos, mas as pessoas se recusam a enxergar. Porque a realidade é cruel, então é mais fácil passar ao largo, consumindo desenfreadamente, tacando tudo no lixo sem separar nada, comendo comida com quilos de agrotóxicos e agentes cancerígenos, e desperdiçando água até não poder mais. Mas aí um tarado maníaco racista de merda faz o que fez e o mundo fica estarrecido. Não entendo...

Claro que foi trágico e estarrecedor, mas meio que tava demorando pra algo assim acontecer, o difícil seria imaginar que aconteceria na Noruega. País chamado errôneamente de pacífico/pacifista pela imprensa e público em geral. Porque como quem tem %& tem medo, perdoem a expressão, a Noruega sabe que tem uma população minúscula, e portanto um exército menor ainda, e em caso de guerra (eles ainda são um povo bem traumatizado pela II Guerra), se algum gigante (como a Rússia, de quem eles tinham um pavor horrível) atacasse, babau Noruega. Por isso eles fazem parte da Otan, realizam exercícios aqui na minha região (onde vivemos com F16s voando sobre nossas cabeças o tempo todo), e mandaram, sem ter nada a ver com isso, tropas para o Afeganistão (e depois choraram horrores a morte de 4 soldados ano passado), e pra Líbia. Os moços que foram pra Líbia saíram direto daqui, e dormiram no meu hotel na véspera. Pacífico não, que o buraco é mais embaixo. O jeito é estar em conformidade com o bloco "poderoso" do planeta, custe o que custar. Sem falar na onda contra imigração/imigrantes que vem aumentando na Noruega e na Europa toda, e as propostas dos partidos de direita, vergonhosas. Sem imigrantes a Noruega se extinguirá, só não vê quem não quer (ou quem é racista de merda e usa a desculpa de ser contra imigração como fachada)...

Mas uma coisa que faz com que os noruegueses (e talvez os suecos e dinamarqueses, e talvez os finlandeses possam ser incluídos nesse grupo) serem noruegueses é a batalha constante por uma sociedade justa, de inclusão, com uma população que age corretamente. O  que faz dos noruegueses noruegueses é a barraquinha que vende batata na beira da estrada, onde a batata e o potinho pra pôr o dinheiro, e uma plaquinha com o preço ficam ali, sozinhos, e o povo para, põe o dinheiro no potinho e pega apenas a batata pela qual pagou. Outro exemplo legal, e num texto excelente sobre o mesmo assunto aqui. E por isso, o mundo chamou a Noruega de inocente e ingênua. E a forma de viver aqui não tem nada de inocente ou ingênua. Talvez eles vivam numa realidade paralela, se comparando com outros lugares do mundo, mas se a sociedade hoje é assim, é porque se lutou e muito pra isso. E isso não é inocência, é caráter, que é ensinado de geração a geração... 

Nas demonstrações contra o terror e de apoio aos sobreviventes, eles se mostraram iguaizinhos, com a mesma força de caráter. Como que dizendo pro tarado-doente que cometeu o crime que ele não conseguiu quebrá-los. O rei e a rainha na rua, no meio do povo, com um mínimo de proteção. O príncipe e princesa (que perdeu um familiar na ilha) também circularam livremente por vários locais, como fazem em geral. O PM se ergueu como um gigante, e se portou de maneira exemplar. Chorou em público, apertou mãos, abraçou parentes. Em cada localidade em que houve algum tipo de manifestação houve um membro do governo presente. Isso é raro e está longe de ser ingênuo. Pode ser eleitoreiro, pode ter interesses políticos no gesto (afinal vai começar mais uma campanha), mas não é inocente e ingênuo, baralho! É preciso parar de enxergar a Noruega como Wonderland...

E é só isso que eu tenho a dizer sobre o assunto, Me recuso a dar qualquer tipo de publicidade pro maníaco demente que cometeu o crime. E que a Europa acorde pra onda de ódio que está ameaçando se levantar como uma destruidora tsunami. Preconceito é uma merda, racismo é pior e mais perigoso (tem aqui outro excelente texto sobre isso). A humanidade já assistiu como isso pode terminar. Por isso aprenda: não discrimine, não faça piadas com o assunto e nem ria delas. Aceite a diversidade ética e cultural, PRINCIPALMENTE se você é imigrante. Assim você se aproxima mais dos princípios que os escandinavos vem defendendo há tempos.

E pra terminar, se você é brasileir@, assista ao vídeo abaixo (reserve cerca de 1 hora de seu tempo, é belo!) e pensará 10 vezes antes de abrir a boca pra falar de imigrantes... Seu sangue é imigrante!

Somos São Paulo [We Are São Paulo]. 6 bilhões de Outros from GoodPlanet on Vimeo.



domingo, julho 10, 2011

Tô viva (esfolada, mas viva), e Minha Vida Segundo o a-ha

Daniela começou, eu peguei a rabiola e copiei. Coube direitinho. Pra quem é fã como eu, entende que vai também do siginicado das músicas, não apenas dos títulos... Minha vida através de músicas do a-ha...

Você é homem ou mulher? White Dwarf
Descreva-se: Mother Nature Goes to Heaven
Como você se sente? Less than Pure
Descreva o local onde você vive atualmente: Case Closed on Silver Shore
Se você pudesse ir a qualquer lugar, onde você iria? Foot of the Mountain
Sua forma de transporte preferido: Start the Simulator
Seu melhor amigo: We're Looking for the Whales
Você e seu melhor amigo são: Sunny Mystery
Qual é o clima? The Sun Never Shone That Day
Se sua vida fosse um programa de TV, o que seria chamado? The Sun Always Shines on TV
O que é vida para você? Soft Rains of April e Stay on These Roads
Seu relacionamento: You are The One
Seu medo: Scoundrel Days
Qual é o melhor conselho que você tem a dar: There's Never a Forever Thing e Out of the Blue Comes Green
Pensamento do Dia: Cosy Prisons
Meu lema: Don't do me any favors

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Brincadeiras à parte, a coisa aqui ficou feia por umas semanas. É que passei semanas preparando um esquema de trabalho pro verão inteiro, e na hora H, na boca do gol, um sujeito desistiu e resolveu ir pra Espanha, e minha cozinheira sérvia entrou com licença médica 100%. Ou seja, fiquei capenga duma perna e um braço. Nos últimos minutos do segundo tempo da prorrogação eu consegui contratar uma filipina FABULOSA e dois irmãos iranianos também muito pé de boi pra trabalhar. Mesmo assim, precisei eu mesma cobrir vários turnos que ficaram descobertos, além de ter que cobrir a preparação de comida todos os dias, já que o outro cozinheiro fixo esteve de férias por três semanas. Trabahei 19 dias seguidos sem folga. uma loucura. Mas agora estabilizamos...

No verão servimos cerca de 3000 refeições pra turistas europeus que cruzam o continente de busão. E são 3, 4 ônibus por noite, isso até final de julho. Metade já foi. Sobrevivi. Afinal, trabalhei MUITOS anos em navios, ficando 6 meses a bordo cada vez e trabalhando TODO SANTO DIA. Nossa durabilidade é 200% maior que a dos locais, que vira e mexe ficam dodói. Dói o branco do olho, a sobrancelha, o cotovelo, cada hora é uma coisa, ô povo que adora se encostar... Ser empregado na Noruega é uma maravilha, mas ser empregador é um pesadelo, pois as mãos ficam totalmente amarradas. Se um sujeito é Zé Doente, não há nada que se possa fazer, e é preciso viver com o encosto. O governo paga pra Zé Doente ficar em casa, mas o empregador sofre com não poder contratar alguém pro lugar do Zé Doente que não seja em caráter de substituto. Daí fica bem difícil encontrar mão de obra qualificada que queira ficar só de substituto. Foi o que aconteceu comigo agora, achei um chef eslovaco fenomenal, mas ele não quis ficar porque queria um trabalho fixo, que eu não podia oferecer a ele, porque a minha Zefa Doente está intitulada a ter seu emprego de volta assim que fique boa - leve o tempo que levar.

Por isso estou bem feliz com o fato de deixar de ser chefe e voltar ao meu emprego de antes. Porque a licença médica de 8 meses da minha chefe termina agora em Agosto, e ela volta pro seu emprego, e eu pro meu. Se algum Zé Doente atacar, não é problema meu. Além do que, se eu ficar doente (que a coluna tá cada vez pior), é minha vez de me tratar e ter meu emprego garantido na volta. E tudo graças ao imposto altíssimo que eu pago todo mês. Coisas de país que cuida do Bem Estar Social.

Esse foi meu primeiro fim de semana livre em três semanas, e hoje é nosso aniversário de casamento. Fez um calor dos Pólos essa semana, mas obviamente alegria de pobre dura pouco e agorinha começou a chover, pra fazer a segundona ainda mais espetacular!

Minhas plantas esse ano estão que estão, meus brotos de ervilha viraram uma floresta amazônica, e metade foi devorada e a outra metade está dando flores. Muito sol, churrasco, mariscos cozidos no vinho branco e outras comidas de verão. 

Só dando um alou pra dizer que ainda respiro - trabalho, mas respiro.