terça-feira, agosto 16, 2011

Avançando, sempre!

Pois é, nos comentários do penúltimo post, a Pérola (que é amiga da Zildinha, que é a amiga-irmã de minha tia e de vez em quando comenta aqui, e é assim que a gente percebe como o mundo é microscópico, sei lá!) escreveu assim: "Acompanhando seu blog, percebi que qdo as coisas estao ficando meio chatas p vc (trabalho) sempre algo novo aparece! Sortuda e raçuda vc!" Pois é, depois dos últimos acontecimentos, também me dei conta (de novo) de como isso se repete em minha vida.

Vida essa que passou a ser muito pouco planejada, e muito mais vivida, depois de que comecei a confiar no poder do pensamento positivo. Porque eu me entedio com uma facilidade mortal, as coisas que eu passo a dominar não me desafiam mais. E ficam chatas. E antes, quando era imatura, eu jogava a toalha e depois até ficava meio perdidinha até encontrar o próximo barco (literalmente) que me levaria pra outras costas, ainda não exploradas. Depois de mais velha, aprendi que é preciso engolir sapos e aprender a esperar. Quem espera SEMPRE alcança. Eu acredito nesse pensamento com muita força, e não foi o Paulo Coelho nem nenhum livro de auto-ajuda que me ensinou isso, foi a vida mesmo. 

Quando eu quero MUITO que algo aconteça, acaba acontecendo... Foi assim quando por impulso desejei deixar a Royal Caribbean e fui parar num navio espanhol xexelento cruzando no mediterrâneo, e foi lá mesmo que desejei com todas as minhas forças que a Royal me aceitasse de volta menos de dois meses depois e ter então dois barcos brigando pra que eu preeenchesse as vagas que cada um necessitava. Foi aí que fui parar no Freedom of the Seas de volta, e fui promovida 3 vezes em um ano - econheci o Lars. O trabalho de sommelier tava começando a ficar chato, PUM, lá virei eu supervisora, e assim por diante.

Competência, pode até ser, porque eu sou trabalhadora e dedicada sim, mas teve muito o fator hora certa no lugar certo em conexão com as pessoas corretas pra que certa coisa ocorresse. Eu traduzo isso como destino. E até mesmo sorte, como disse a Pérola. 

Eis que agora a história se repete... Cheguei na Noruega sem lenço e sem documento, literalmente. Sem conhecer ninguém que me levasse aos lugares que eu queria. Sem entender patavinas do que essa gente toda falava. E ainda assim, 4 meses depois arrumei não só um emprego, como um emprego fixo e em horário integral, coisa difícil de acontecer. O plano de ir cursar as 300 horas mandatórias de norueguês exigidas pelo Governo eram o único realmente planejado, e viram, logo de cara ele foi pras cucuias.

Dois anos depois, estou eu aqui às voltas com o maldito curso de norueguês. Um tiquinho arrependida por não ter me livrado disso logo. Porque agora que o trabalho encheu o sacooooo, comecei a ficar com medo de que a mudança fosse praticamente impossível sem dominar o idioma. Veja você que sim, eu falo norueguês, me viro, conversei com fornecedores da Noruega inteira por telefone, escrevi e-mails por 7 meses e tudo correu bem. Os locais acham que eu dou no couro muito bem, mas me falta auto-confiança. Não faz parte de mim ter que pensar 8 vezes antes de começar uma conversa, me sinto uma criança indefesa, e isso afeta o desempenho. Mas bem.

Semana passada estava às voltas com minha chefe que voltou da licença médica. Já havíamos entrado em acordo sobre eu ter uma licença de uns 3 meses pra ir cursar o maldito curso obrigatório e terminar essa possível futura pendência com a Imigração. Mas estava me doendo no coração ter que voltar pra cozinha, trabalho que já havia deixado desde que assumi a posição de chefe do departamento. Ô, saco! Mas pra achar outro trabalho integral ia ser bem difícil, andei lendo os anúncios e todas as vagas às quais eu poderia me candidatar eram pra cozinha, e trocar de úmido pra molhado não ia fazer muita diferença.

Eis que durante uma reunião entre minhas duas chefes e eu, surgiu a proposta de eu preencher duas vagas abertas no próprio hotel. 1) supervisão do programa ambiental (apenas umas 5 horas ao mês, é apenas revisão e coleta de dados e elaboração de relatórios e propostas de melhoria)  e 2) um posto chamado de "service vakt" , que também não é integral, são cerca de 12 horas na semana, onde ajudarei por todos os lados onde o hotel está atolado, inclusive na recepção, e pra isso vou começar o treinemento na recepção quando voltar das férias. Pra complementar o orçamento, a chefe da cozinha pode me chamar quando alguém ficar doente ou quando acoisa realmente apertar, e ainda por cima podem rolar os bicos no catering com quem trabalhei no casório há duas semanas

Todos os problemas resolvidos. Escola em tempo integral (da qual espero apenas completar minhas horas, não estou esperando avançar horrores no aprendizado do idioma não, que vai ser difícil), trabalho em "meio-período", a possibilidade de voltar a pegar o trabalho da minha chefe SE ela ficar doente de novo (e parece que esse é o plano dela), e se tudo der errado, a tranquilidade de não precisar me afobar pra achar outro emprego assim de cara, podendo escolher, tendo tempo de mandar uns currículos e tal. Viu como tudo se resolve? Não é preciso afobação, é preciso pensar positivo, manter-se positivo, e esperar que as coisas se desenrolem naturalmente.

Amanhã é dia da matrícula na escola, tomara que eu consiga uma vaga. E também vou lá no escritório da empresa de catering levar um CV como prometido.  Também tenho mais uma sessão no quiropraxista milagreiro (minha dor praticamente sumiu, sem Doril!), e logo após saímos com destino a Lofoten e depois uns dias de pesca e catação de frutinhas no chalé. Ahhhhh, como eu esperei com sofreguidão por estas merecidas férias... Endelig!!!!

Note to self: esse post é daqueles pra eu ler de novo, se um dia (ou quando) a esperança estiver curtinha...

quarta-feira, agosto 10, 2011

Alívio imediato - e uma a-hasadinha básica

Então, eu andava numa aflição sem tamanho... Meu visto vencido desde de 27 de julho e nem notícia da UDI (a imigração). Tava com a cabeça cheia de caraminhola, imaginando que meu visto seria negado e eu talvez fosse deportada por não ter cumprido com a obrigação de cursar as malditas 300 horas de norueguês e estudos sociais, blablabla. Exagerda jogada a seus pés, eu sou mesmo exagerada, eu sei... Mas a cabeça da gente é perigosa na criação de neuras. Né? Já tava até perdendo o sono. Somado a esse stress, tem toda a novela no trabalho, que aimeldeus, fica proutrora.

Segundona é dia de baixar True Blood (e assistir, claro), e depois, pra acalmar a sanguinolência toda de TB, eu assisto Glee, a série de TV mais deliciosa de todos os tempos. Alguns acham bobagem. Mas uma historinha de um bando de nerds rejeitados pela escola (no Meio-Oeste americano, diga-se de passagem) que se juntam num grupo musical e se aceitam como são, onde tem o gay, a lésbica, a loira-burra, a chata-de-galocha-chorona-adotada-por-gays, a loira-linda-que-já-foi-horrorosa-e-ainda-por-cima-engravidou, o fortão do futebol, o bonitão cuja família fica pobre-de-marré-de-si na recessão, o delinquente juvenil, os asiáticos, as gordas, a negra, a latina, o deficiente físico (enfim, um mini-retrado da realidade que não se vê nas séries por aí), com um  discurso claro contra discriminação e anti-bullying, a ainda por cima MUSICAL!!!! Tem como ser ruim???

Pois é, meus momentos com Glee são prazerosos com uma boa xícara de café, ou uma barra de chocolate, ou um dia de sol na praia. Precisei falar tudo isso de Glee pra poder explicar que nesta segunda, assisistindo ao penúltimo episódio da segunda temporada, eu caí no choro e não consegui parar. Lars até se assustou, ele sabe que sou manteiga derretida, mas peraí, soluçar vendo Glee? Alguma coisa estava entalada nimim e aquele mágico episódio abriu os portões (ou as comportas?).

Começou com a demônia da Santana (a atriz  Naya Rivera) cantando Back to Black da Amy Winehouse. Fiquei imaginando se Amy ficou orgulhosa pela homenagem (o episódio foi ao ar nos EU em maio). Chorei, achei lindo.


Continuando o drama (porque esse episódio merecia em Emmy, juro...), vem o funeral da irmã portadora de Downs da monstra Sue Sylvester. O filme preferido dela era "A Fantástica Fábrica de Chocolate" (o original, e está na minha lista de favoritos também), e o funeral foi baseado no filme (só em Glee!). Foi lindo, e triste, triste, triste, falava de perda, de amor, de saudade, de tudo. Quando Sue começou seu discurso, eu embalei e fui até o final do episódio. Consegui UM vídeo decente da música, que não mostra toda a magnitude da coisa...

E como eu sou uma criatura bem pouco objetiva, precisei dessa novelona toda (levei DOIS dias preparando este post...) só pra contar que ANSIEDADE NÃO SERVE PRA NADA... Ontem foi na polícia (onde fica os escritório de imigração), saí do trampo, perdi a consulta com o quiroprático (mais fácil néam?), mofei na fila DUAS horas inteiras. Quando entrei pra perguntar, o tiozão me olhando agarrou um passaporte verdim, veio balançando ele entre dois dedims, e disse que meu caso tinha sido processado e que ele tinha mandado uma carta pra mim ontem (que recebi hoje).

Agora estou eu vistada e passaportada. E com mais uma lição na mochilinha... Afobação e stress no país da burocracia que anda, mesmo que a passos lentos, mas ANDA, não serve de nada! E, claro, quem espera sempre alcança. E quem espera tranquilo ainda por cima ganha mais uns dias de vida pela ausência de stress.

E eu precisava estampar esses momentos de puro gleeter no meu diário!

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Pra quem se recorda do meu último nunca-mais-bye-bye-de-vez show do a-ha ano passado... Não é que domingão que vem os caras vão dar uma pala num concerto em memória às vitimas dos atentados em Oslo? PQP, a gente SE DESPEDIU deles!!! Tá certo, é por uma causa nobre e 110% noruga. Mas vá... 7 meses? O show é só pra convidados, mas vão transmitir ao vivo. Fui.

domingo, agosto 07, 2011

Agarre as oportunidades

Ontem fui trabalhar no casamento de uma ex-recepcionista do hotel. Ela já havia me pedido há tempos que eu cuidade disso e daquilo, e eu como não recuso um desafio disse sim pra tudo. Ao longo dos meses de preparativos, a sogra a convenceu que seria melhor contratar um catering, mas ela ainda assim queria que eu servisse o vinho e ajudasse na produção do bar, etc. Assim que lá fui eu. 

Sem entrar em detalhes sobre o casamento alheio (um casal de noivos muito bonito por sinal), me diverti horrores! Muito bom sair um pouco da rotina e conhecer gente. O dono do catering estava lá, muito gentil por sinal, e a filha estva trabalhando também. Levei Samira, a iraniana (minha protegida, rsrsrs) porque precisávamos de mais alguém pra ajudar. Eram 70 convidados. A festa foi no refeitório no departamento de trânsito (tipo o Detran noruega), que é enorme, e eles alugam pra festas. O local é um refeitório, com cara de refeitório, mas com uma bela vista do fjord, e ontem o por do sol às 10 e pico da noite estava divino. Ebba (o apelido na noiva) deu uma sorte imensa pois o dia estava fantástico ontem. 

E além de ver como funciona o catering, descobri também como funciona um típico casório noruga, já que nunca havia ido a um, e o meu foi muito menor, sem cerimônia mesmo. Os discursos, a coisa de o povo começar a bater com a colher nas taças no meio da refeição e os noivos terem que se levantar e se beijar pra calar as massas (rsrsrs), os presentes, e o micro bolinho de casamento, porque cada convidado traz um bolo (???????? A mesa de bolo tinha uns 10 bolos, todos feitos pelas convidadas). 

Enfim, foi bastante trabalho entre servir e limpar mesas de uma refeição de três pratos, servir vinho, café e conhaque, depois lavar tudo e colocar tudo de volta. Nessa altura os caras do catering (detalhe, dos 4 chefs, 3 não eram noruegueses e não falavam norueguês) vieram se despedir (porque eu e Samira estávamos contratadas pela noiva),  eu fiz algo que nunca antes na vida havia feito (minha mãe sabe disso!)... Apertei a mão do cara, pedi um cartão de visitas, ele disse que não tinha. Perguntei se tinham um site, ele disse que não e perguntou porque, eu lhe disse que queria lhe entregar um currículo, já que a partir de setembro vou trabalhar menos horas no hotel por conta da escola (SE eu conseguir vaga), e tinha vontade de trabalhar com eles, se eles usassem extras... O cara abriu um sorrisão, apertou minha mão de novo e me disse pra eu passar no escritório que fica ali (me explicando) e que seria um prazer trabalhar comigo.

Fiz um bico e de quebra consegui outros! Estou animadíssima, e agora ainda menos aflita pelo fato de deixar meu emprego 100% pra ficar com 30%, por exemplo, pelo menos por uns meses, que foi o acertado com minha chefe, até eu dar um chega nessa história maldita de escola pentelha...

No final da noite, eu estava saindo do local da festa e iria caminhar até o centro (uns 10 minutos), mas um convidado passou e me ofereceu carona. "Me diga onde mora e eu te levo..." Disse que ia ao centro, aceitei de bom grado a carona porque o vento tava frio, e quase me belisquei. Noruegueses não são o povo de maior gentileza no mundo em relação a essas coisas. 

No centro me encontrei com minha amiga argetina, fomos a ao Picadilly, meu local preferido. Foi muito agradável, mas no final da noite presenciamos o auge da falta de gentileza norueguesa, especialmente depois das duas da manhã num bar... Uma véia bebaça brigando com o bartender uruguaio, sendo que ela estava errada, havia pago um drink a menos e ficava no balcão xingando o pobre bartender de ladrão. Se eu fosse ele (um uruguaio), teria mandado a véia à merda! Mas a técnica dele era melhor. Ele fingia que não a escutava!

Ah, e também foi a primeira vez que pedalei da cidade pra casa com umas biritas na cabeça... Cheguei salva!

quinta-feira, agosto 04, 2011

Nem tudo está perdido

Então, eu ia falar tudoaomesmotempoagora no post anterior, depois que terminei meu desabafo me dei conta de que as notícias mais leves não cabiam ali...

Parece que esse verão durou um ano, dado o caos e comoção no trabalho. Quem trabalha, ou um dia já trabalhou, na área de turismo, vai compreender exatamente o que digo. Quem não é da área pode apenas imaginar o desepero e a alergia de gente que acabamos contraindo depois de um certo tempo. No meu caso, lá se vão mais de 17 anos na área. Uma área em que você trabalha mais quando os outros estão se divertindo. Onde não há feriados, os finais de semana são em dias úteis, blablabla. 

No nosso hotel, atendemos cerca de 5000 pessoas em 7, 8 semanas. Claro, era o que carregava meu último navio em semana e meia, mas o navio tinha 152 mil toneladas e 1800 cabines. O hotel tem 96 apartamentos... Como também já havia dito, me detonei de tanto trabalhar no começo do verão, cheguei a levar 19 dias seguidos sem folga. Estava exaaaausta e minha tolerância a seres humanos vai se esvaindo com o passar dos dias, e as mesmas perguntas cretinas sendo repetidas ao infinito. Não é culpa do coitado que pergunta, pois lá sabia ele que a ignorância dele assolava outros 316 passageiros... Sim, é sarcasmo. E sim, não é culpa do turista se a máquina de café tem um botão escrito CAPPUCCINO, LATTE, ESPRESSO, CAFE, etc. Eles ficam ali plantadões zoiando a máquina, apertando tudo que NÃO Épra ser apertado, e depois de 19 tentativas pedem ajuda. A situação se agrava quando há um (ou dois, ou às vezes três) ônibus lotados de cidadãos da terceira ou quarta idade. Eu em geral sou paciente. Tenho o quíntuplo de paciência com idosos do que tenho por exemplo com crianças-peste ou pré-adolescentes endiabrados. Piora ao triplo quando são vovôs-turistas-mal-educadésimos. Os vovôs noruegueses (ônibus de noruegueses) são os campeões da falta de educação nessa época do ano, seguidos dos italianos e russos (que devem viajar em orçamento e carregamconsigo TUDO que esteja pregado). No rank dos educadinhos, por incrível que pareça, estão os franceses, seguidos dos alemães (mais inacreditável ainda). 

Há quem ouse levantar seus dedinhos pra me apontar e dizer que eu estou generalizando. Ainda por cima eu, que tenho ÓDIO de generalizações. Mas ao lidar com turistas "a granel" por quase a metade de minha vida, eu acho que tenho PhD. Posso generalizar turista o quanto eu quiser.

Então, tem horas em que a gente rola de rir com as presepadas deles, noutras a gente quer mais é chorar. Numa manhã em que um ônibus inteiro roubou café da manhã sem pagar (sabe a trouxinha de comida enroladinha no guardanapo?), eu constrangida fui comentar com minha chefe, que me contou que em dois andares haviam desparafusado quadros dos corredores e levado embora! Ladrões de arte barata de hotel!!! Ou quando um dia um guia desceu à recepção com uma lumináriana mão. A recepcionista já se preparou... Então o guia fala : "Seria possível vocês mandarem esta luminária de volta ao hotel Artikus (um hotel de nossa rede)? Meu passageiro roubou e o recepcionista de lá telefonou durante a noite. Tive que bater de quarto em quarto até que me devolvessem... Desculpem o transtorno...". Imagina a vergonha!!!!! E isso tudo na Europa, aquela que alguns ainda insistem em dizer que é o lugar MAIS CIVILIZADO do mundo, huahauhauhauahaua!

Depois de todo esse carnaval, eu achava que ia acabar parando numa cadeira de rodas. As dores nas costas estavam pavorosas e certos dias eu nem conseguia dormir. Já tinha me decidido a pedir demissão, afinal minha chefe volta semana que vem e aí acaba-se a minha vida de chefe, eu volto a ser operária-padrão. Graças a nossa senhora da bicicletinha, diga-se de passagem, porque ser empregador na Noruega pode ser um pesadelo, mas isso é assunto pra outro post...

Ai fui ao médico pra saber o tamanho do estrago. Fui no meu fastlege, o equivalente a um "médico da família". O ugandense (falei certo?)... Depois de muuuuuuita lenga-lenga, ele bota as cartas na mesa: "Mas o que eu posso fazer or você hoje? Você quer sykemelding (licença por doença) ou remédios pra dor?" E eu disse que queria fazer outros exames, e ele me mandou caminhar e me exercitar. Talvez seja a maneira dele de me dizer que eu preciso perder peso, captei a mensagem. Mas não resolveu meu problema. Paguei as 137 coroas (40 e poucos reais) de consulta e saí dali mei tristonha... Sentei-me na net e revirei Bodø atrás de um orto, mas tá, quem disse que aqui o sistema de saúde particular é como no Brasil? Não... Só existe ortopedista no hospital, e você precisas er encaminhado por seu fastlege, e se o bendit@ não achar seu caso grave, pode esperar até 8 meses. 

Antes do verão eu tinha feito umas 5 sessões de acupuntura. Um sonho, muito relaxante, me ajudou à beça com o maxilar travado (meu dentista em SP havia sugerido), mas não ajudou com as dores. Então resolvi ceder a todas as sugestões e ir me consultar com um quiropraxista (e se tiver errado, foi tudo culpa do santo Google, pois eu só sabia o nome desse troço em inglês e espanhol).

Segunda feira lá fui eu. Abre a porta do enorme consultório, com uma secretária viking e sapatos abandonados no foyer, um viking de 3 km de altura. Eu sou baixinha, a família do meu marido é baixa. O cara era ENOOOOORME. Jovem e simpático, e adorou o fato de eu ter perguntado se podia falar em inglês porque saberia explicar melhor os sintomas. Assim ele disse que poderia treinar um pouco o inglês dele. 

Tiramos um mega radiografia de corpo inteiro, fomos de volta pro consultório. Ele "leu" a radiografia comigo, disse que havia problemas, mas que não eram graves. Disse que meus quadris estavam tortos, e tudo isso por causa da lesão que sofri ano passado, carregando peso. Então me deitou na maca, me torceu, me deu um puxão, ouvi um croc de um lado. Repetimos do outro lado. Depois tive que ficar (very uncomfortable) de quatro num aparelho estranho, e ele deu um apertão no meio da minha coluna, a coisa estralou do pescoço ao cóccix (Ô, PALAVRA LAZARENTA!!! Tail bone é bem mais fácil...), e voilá, a dor se foi... Assim. Num apertão!

Ontem voltei, levei mais 4 apertões na coluna, e ele disse que em 4 a 6 sessões eu estarei bouinha. A dor, de 10, passou a 2. Incrível. E agora nem mais vou acabar numa cadeira de rodas, nem vou ter que pedir demissão do trabalho que me exaure mas do qual eu gosto tanto. Nem tudo está perdido...

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Mudando de assunto, mas não poderia deixar passar... Hoje meu paizinho faria 65 anos. Muitos beijos e que ele esteja em paz...
Essa música deslumbrante é o tema de um dos filmes preferidos dele. de acordo com a mama. Seguindo a tradição, essa é pra você, papi.

terça-feira, agosto 02, 2011

Pequenas reflexões

(Comentários para esta postagem estão desabilitados porque na verdade isso é uma desopilada de fígado, não uma conversa. Não quero saber o que os outros pensam sobre o assunto, sinceramente. Chega dessa história. Alerta - escrevi uma porção de palavrões!)

Sobre o atentado terrorista em Oslo no final de julho, preferi não falar nada. A tragédia é tão imensa que fala por si, portanto, foi absolutamente desnecessário comentar o assunto. O silêncio é mais sensato. Especialmente porque, no auge acalorado do momento, é fácil apontar dedos e falar merda, como eu vi muit@s fazendo naquele fim de semana. As investigações esclareceram (e ainda estão esclarecendo) o caso, e talvez pelo inesperado da coisa o choque tenha sido ainda maior. 

Porque, né, convenhamos, no nosso Brasil merdas dessa altura (talvez de outro naipe) acontecem todos os dias. Conversando com minha mãe, ela me contou como a coisa tá feia em São Paulo. O sobrinho, filho, seilá, de uma conhecida, de 24 anos, foi atropelado na Vila Madalena por uma playboyzinha rica e bêbada ao volante. Não vira notícia. Nas periferias de SP chacinas e matanças acontecem a todo o momento, mas não viram notícia. A ONU decretou fome (em inglês, famine, que siginifica que a coisa lá passou de feia há muito tempo) na Somália, e as imagens que vem de lá não viram notícia, afinal, não é "novidade" fome e miséria na África. O mundo está desmoronando na frente dos nossos olhos, mas as pessoas se recusam a enxergar. Porque a realidade é cruel, então é mais fácil passar ao largo, consumindo desenfreadamente, tacando tudo no lixo sem separar nada, comendo comida com quilos de agrotóxicos e agentes cancerígenos, e desperdiçando água até não poder mais. Mas aí um tarado maníaco racista de merda faz o que fez e o mundo fica estarrecido. Não entendo...

Claro que foi trágico e estarrecedor, mas meio que tava demorando pra algo assim acontecer, o difícil seria imaginar que aconteceria na Noruega. País chamado errôneamente de pacífico/pacifista pela imprensa e público em geral. Porque como quem tem %& tem medo, perdoem a expressão, a Noruega sabe que tem uma população minúscula, e portanto um exército menor ainda, e em caso de guerra (eles ainda são um povo bem traumatizado pela II Guerra), se algum gigante (como a Rússia, de quem eles tinham um pavor horrível) atacasse, babau Noruega. Por isso eles fazem parte da Otan, realizam exercícios aqui na minha região (onde vivemos com F16s voando sobre nossas cabeças o tempo todo), e mandaram, sem ter nada a ver com isso, tropas para o Afeganistão (e depois choraram horrores a morte de 4 soldados ano passado), e pra Líbia. Os moços que foram pra Líbia saíram direto daqui, e dormiram no meu hotel na véspera. Pacífico não, que o buraco é mais embaixo. O jeito é estar em conformidade com o bloco "poderoso" do planeta, custe o que custar. Sem falar na onda contra imigração/imigrantes que vem aumentando na Noruega e na Europa toda, e as propostas dos partidos de direita, vergonhosas. Sem imigrantes a Noruega se extinguirá, só não vê quem não quer (ou quem é racista de merda e usa a desculpa de ser contra imigração como fachada)...

Mas uma coisa que faz com que os noruegueses (e talvez os suecos e dinamarqueses, e talvez os finlandeses possam ser incluídos nesse grupo) serem noruegueses é a batalha constante por uma sociedade justa, de inclusão, com uma população que age corretamente. O  que faz dos noruegueses noruegueses é a barraquinha que vende batata na beira da estrada, onde a batata e o potinho pra pôr o dinheiro, e uma plaquinha com o preço ficam ali, sozinhos, e o povo para, põe o dinheiro no potinho e pega apenas a batata pela qual pagou. Outro exemplo legal, e num texto excelente sobre o mesmo assunto aqui. E por isso, o mundo chamou a Noruega de inocente e ingênua. E a forma de viver aqui não tem nada de inocente ou ingênua. Talvez eles vivam numa realidade paralela, se comparando com outros lugares do mundo, mas se a sociedade hoje é assim, é porque se lutou e muito pra isso. E isso não é inocência, é caráter, que é ensinado de geração a geração... 

Nas demonstrações contra o terror e de apoio aos sobreviventes, eles se mostraram iguaizinhos, com a mesma força de caráter. Como que dizendo pro tarado-doente que cometeu o crime que ele não conseguiu quebrá-los. O rei e a rainha na rua, no meio do povo, com um mínimo de proteção. O príncipe e princesa (que perdeu um familiar na ilha) também circularam livremente por vários locais, como fazem em geral. O PM se ergueu como um gigante, e se portou de maneira exemplar. Chorou em público, apertou mãos, abraçou parentes. Em cada localidade em que houve algum tipo de manifestação houve um membro do governo presente. Isso é raro e está longe de ser ingênuo. Pode ser eleitoreiro, pode ter interesses políticos no gesto (afinal vai começar mais uma campanha), mas não é inocente e ingênuo, baralho! É preciso parar de enxergar a Noruega como Wonderland...

E é só isso que eu tenho a dizer sobre o assunto, Me recuso a dar qualquer tipo de publicidade pro maníaco demente que cometeu o crime. E que a Europa acorde pra onda de ódio que está ameaçando se levantar como uma destruidora tsunami. Preconceito é uma merda, racismo é pior e mais perigoso (tem aqui outro excelente texto sobre isso). A humanidade já assistiu como isso pode terminar. Por isso aprenda: não discrimine, não faça piadas com o assunto e nem ria delas. Aceite a diversidade ética e cultural, PRINCIPALMENTE se você é imigrante. Assim você se aproxima mais dos princípios que os escandinavos vem defendendo há tempos.

E pra terminar, se você é brasileir@, assista ao vídeo abaixo (reserve cerca de 1 hora de seu tempo, é belo!) e pensará 10 vezes antes de abrir a boca pra falar de imigrantes... Seu sangue é imigrante!

Somos São Paulo [We Are São Paulo]. 6 bilhões de Outros from GoodPlanet on Vimeo.