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sábado, 25 de fevereiro de 2017

A Paixão de Jesus Cristo e os divertimentos do carnaval.


Consummabuntur omnia, quae scripta sunt per prophetas de filio hominis — “Será cumprido tudo o que está escrito pelos profetas, tocante ao Filho do homem” (Luc. 18, 31).

Sumário. Não é sem uma razão mística que a Igreja propõe hoje à nossa meditação Jesus Cristo predizendo a sua dolorosa Paixão. A nossa boa Mãe deseja que nós, seus filhos, nos unamos a ela, para compadecermos do seu divino Esposo, e o consolarmos com os nossos obséquios, ao passo que os pecadores, nestes dias mais do que em outros tempos, lhe renovam todos os ultrajes descritos no Evangelho. Quer ela também que roguemos pela conversão de tantos infelizes, nossos irmãos. Não temos por ventura bastantes motivos para isso?

I. Não é sem razão mística que a Igreja propõe hoje à nossa meditação Jesus Cristo predizendo a sua dolorosa Paixão. Deseja a nossa boa Mãe que nós, seus filhos, nos unamos a ela na compaixão de seu divino Esposo, e o consolemos com os nossos obséquios; porquanto os pecadores, nestes dias mais do que em outros tempos, lhe renovam os ultrajes descritos no Evangelho.

Tradetur gentibus — “Ele vai ser entregue aos gentios”. Nestes tristes dias os cristãos, e quiçá entre eles alguns dos mais favorecidos, trairão, como Judas, o seu divino Mestre e o entregarão nas mãos do demônio. Eles o trairão, já não às ocultas, senão nas praças e vias públicas, fazendo ostentação de sua traição! Eles o trairão, não por trinta dinheiros, mas por coisas mais vis ainda: pela satisfação de uma paixão, por um torpe prazer, por um divertimento momentâneo!

Illudetur, flagellabitur et conspuetur — “Ele será mortejado, flagelado e coberto de escarros”. Uma das baixezas mais infames que Jesus Cristo sofreu em sua Paixão, foi que os soldados lhe vendaram os olhos e, como se ele nada visse, o cobriram de escarros, e lhe deram bofetadas, dizendo: Profetiza agora, Cristo, quem te bateu? Ah, meu Senhor! Quantas vezes esses mesmos ignominiosos tormentos não Vos são de novo infligidos nestes dias de extravagância diabólica? Pessoas que se cobrem o rosto com uma máscara, como se Deus assim não pudesse reconhecê-las, não têm pejo de vomitar em qualquer parte palavras obscenas, cantigas licenciosas, até blasfêmias execráveis contra Santo Nome de Deus! — Et postquam flagellaverint, occident eum — “Depois de o terem açoitado, o farão morrer”. Sim, pois se, segundo a palavra do Apóstolo, cada pecado é uma renovação da crucifixão do Filho de Deus, ah! Nestes dias Jesus será crucificado centenas e milhares de vezes.

É exatamente isto que Jesus Cristo quis dizer a Santa Gertrudes aparecendo-lhe num domingo de Qüinquagésima, todo coberto de sangue, com as carnes rasgadas, na atitude do Ecce Homo, e com dois algozes ao lado, os quais lhe apertavam a coroa de espinhos e o batiam sem piedade. Ah! Meu pobre Senhor!

II. Refere o Evangelho em seguida, que, aproximando-se Jesus de Jericó, um cego estava sentado à beira da estrada e pedia esmolas. Ouvindo passar a multidão, perguntou o que era. Sabendo que passava Jesus de Nazaré, apesar de a gente o ralhar, a fim de que se calasse, não cessava de gritar: Jesus, Filho de Davi, tende piedade de mim (1). Por isso mereceu que, em recompensa de sua fé, o Senhor lhe restituísse a vista: Fides tua te salvum fecit — “A tua fé te valeu”.

Se quisermos agradar ao Senhor, eis aí o que também nós devemos fazer. Imitemos a fé daquele pobre cego, e neste tempo de desenfreada licença, enquanto os outros só pensam em se divertir com prazeres mundanos, procuremos estar, mais que de ordinário, diante do Santíssimo Sacramento. Não nos importemos com os escárnios do mundo, lembrando-nos do que diz São Pedro Crisólogo. Qui iocari voluerit cum diabolo, non poterit gaudere cum Christo — “Quem quiser brincar com o demônio, não poderá gozar com Cristo”. Quando nos acharmos em presença de Jesus no tabernáculo, peçamos-lhe luz para detestarmos as ofensas que o magoam tão profundamente. Peçamos-lhe não somente para nós mesmos, senão também para tantos irmãos nossos desviados: Domine, ut videam — “Senhor, fazei-me ver”.

Amabilíssimo Jesus, Vós que sobre a cruz perdoastes aos que Vos crucificaram, e desculpastes o seu horrendo pecado perante o vosso pai, tende piedade de tantos infelizes que, seduzidos pelo Espírito da mentira, e com o riso nos lábios, vão neste tempo de falso prazer e de dissipação escandalosa, correndo para a sua perdição. Ah! Pelos merecimentos de vosso divino sangue, não os abandoneis, assim como mereceriam, Reservai-lhes um dia de misericórdia, em que cheguem a reconhecer o mal que fazem e a converter-se. — Protegei-me sempre com a vossa poderosa mão, a fim de que não me deixe seduzir no meio de tantos escândalos e não venha a ofender-Vos novamente. Fazei que eu me aplique tanto mais aos exercícios de devoção, quanto estes são mais esquecidos pelos iludidos filhos do mundo. “Atendei, Senhor, benigno às minhas preces, e soltando-me das cadeias do pecado, preservai-me de toda a adversidade.”(2) † Doce Coração de Maria, sêde minha salvação.


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1. Luc. 18, 38.
2. Or. Dom. curr.


(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 279 - 282.)
Créditos: Blog São Pio V

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Aparecida, uma devoção genuinamente popular


Nossa Senhora da Conceição Aparecida é um farol luminoso sobre a altíssima vocação do povo brasileiro: a vocação à santidade.


No chamado prólogo do Evangelho de São João, o apóstolo amado faz a seguinte afirmação acerca dos seguidores de Cristo: "Mas a todos aqueles que o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus" (Jo 1, 12-13). Nestas palavras acertadas do evangelista, alguns teólogos viram, com razão, o fundamento para a fé na virgindade perpétua de Maria e na sua imaculada conceição [1]. De fato, Jesus, o primogênito de Deus, não nasceu do sangue de Maria, nem da vontade de sua carne, mas sim de um desígnio todo espiritual da vontade salvífica de Deus.

A piedade popular, "verdadeira expressão da atividade missionária espontânea do povo de Deus", soube acolher esses privilégios de Nossa Senhora, celebrando-os, ao longo da história da Igreja, de modos variados e singelos [2]. No Brasil, isso se torna particularmente evidente no belíssimo testemunho dos romeiros de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, título concedido à pequena imagem milagrosa da Virgem Maria, cujo tricentenário de sua descoberta por três simples pescadores, em 1717, comemora-se neste ano. Com essa santa devoção, os brasileiros exprimem a sua total confiança na intercessão da Virgem Santíssima, de quem o povo desta terra é especial devedor.

A devoção à Mãe Aparecida é genuinamente popular. Ela não se origina em uma aparição mística de Maria, como em Lourdes ou em Fátima, mas do amor e da confiança filial de pobres devotos. Como expressou-se o papa São João Paulo II na sua primeira visita ao Brasil, "os templos materiais aqui erguidos são sempre obra e símbolo da fé do povo brasileiro e do seu amor para com a Santíssima Virgem" [3]. Não se trata de uma demonstração ostentosa de poder; trata-se, antes, de uma resposta ao auxílio perpétuo da Virgem Maria a esta nação.

E é desse testemunho de fidelidade que se pode colher a mensagem de Nossa Senhora ao Brasil. Embora ela não tenha se manifestado por meio de uma visão mística, manifestou-se, porém, nos inúmeros favores que há 300 anos ela concede aos seus filhos brasileiros. Isso exige, por sua vez, uma atitude de conversão e de penitência, como nas outras devoções marianas. Em Fátima ou em Aparecida, o papel da Virgem Maria na Igreja sempre será o de cooperadora na salvação dos homens; ela "nos aponta as vias da Salvação, vias que convergem todas para Cristo, seu Filho, e para a sua obra redentora" [4].

A Igreja sempre entendeu a piedade popular como "uma certa sede de Deus, que somente os pobres e os simples podem experimentar" [5]. Aí está a razão de a Virgem Santíssima apresentar-se no Brasil por meio da imagem que hoje veneramos. Ela quis despertar no peito do próprio camponês essa sede mais intensa, essa consciência de que, sem a presença de Cristo em nossas vidas, nada podemos fazer, senão pecar e destruir. Nossa Senhora da Conceição Aparecida é um farol luminoso sobre a altíssima vocação do povo brasileiro: a vocação à santidade.

Com efeito, não podemos deixar de mencionar os inúmeros perigos que rondam a fé do povo brasileiro e põem em xeque essa sua vocação à santidade. De muitos modos, o inimigo de Jesus e de Maria procura falsear a genuína fé católica, promovendo sincretismos nocivos, que descaracterizam o verdadeiro culto mariano. Ao mesmo tempo, o avanço agressivo das seitas procura afugentar os fiéis do colo de Maria, conduzindo-os a uma falsa teologia da prosperidade, que barateia o Evangelho de Cristo com promessas de bem-estar econômico. Foi pensando nisso que São João Paulo II chamou a atenção dos bispos para protegerem a piedade popular dos brasileiro: "Estou certo de que os Pastores da Igreja saberão respeitar esse traço peculiar, cultivá-lo e ajudá-lo a encontrar a melhor expressão, a fim de realizar o lema: chegar 'a Jesus por Maria'" [6].

Desde o início da devoção à Mãe Aparecida, o traço característico mais marcante dos romeiros era a recitação conjunta do rosário. Do mais simples ao mais nobre, todos se curvavam perante a imperatriz do Brasil para rezar piedosamente o Santo Terço. Nas aparições em Lourdes e em Fátima, por sua vez, é justamente a récita diária do Rosário a oração recomendada pela Virgem aos pequenos videntes. Percebe-se, portanto, o quão necessária é essa oração tradicional para a conversão das almas. Nossa Senhora não insistiria tanto neste ponto se não fosse algo de especial importância. Nesta ocasião dos 300 anos, temos de repetir a súplica do papa São João Paulo II: "Quem dera renascesse o belo costume – outrora tão difundido, hoje ainda presente em algumas famílias brasileiras – da reza do terço em família" [7].

Ninguém pode negar o estado de calamidade no qual se encontra o Brasil. É chegada a hora, destarte, de voltarmos nossos olhares para a Senhora Aparecida e suplicarmos a tão urgente conversão de nosso país. Ela também deseja que seu Coração Imaculado triunfe nestas terras de Santa Cruz!

Por Equipe Christo Nihil Praeponere

Referências
Cf. Introdução ao Evangelho de São João. BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada: Santos Evangelhos. Trad. de José A. Marques. Braga: Edições Theologica, 1985.
Papa Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, 24 de nov. 2013, n. 122.
São João Paulo II, Homilia, 4 de jul. 1980.
Ibidem.
Papa Paulo VI, Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, 8 de dez. 1975, n. 48.
São João Paulo II, Homilia, 4 de jul. 1980.
Ibidem.

sábado, 14 de novembro de 2015

O segredo para viver a castidade - Padre Paulo Ricardo


I. Introdução

Todos os homens, segundo a vontade de Deus, são chamados à santidade e à plenitude do amor (cf. 1Ts 4, 3) [1]. Nem todos, porém, são obrigados a possuir atualmente um grau incomum de caridade, a dos perfeitos, pois embora devamos, cada um segundo suas possibilidades e preparação de espírito, afastar-nos de tudo quanto ofenda a Deus e viver habitualmente em estado de graça, a apenas alguns é dado alcançar, pela observância efetiva dos três conselhos evangélicos, uma perfeição de super-rogação, "que se dá quando nos unimos a Deus excedendo o nosso estado e apartando o coração de todos os bens temporais" [2]. Tendo, pois, em vista que o sacerdote secular, por força de sua ordenação e ministério, deve tender a tal grau de perfeição e configuração a Nosso Senhor Jesus Cristo [3], queremos abordar na Direção Espiritual de hoje os meios práticos para se viver a talvez mais singela e delicada das virtudes [4] que ornam a alma sacerdotal: a castidade, pela qual nos associamos à pureza dos anjos e à plena entrega de Cristo à Igreja.

Malgrado se dirijam sobretudo aos que vêm se preparando para as sagradas ordens, as orientações e diretivas aqui apresentadas podem aplicar-se também às noviças e a todos os católicos—solteiros ou casados—, que, como no-lo exige a moral cristã, têm de viver a sua sexualidade de forma madura e integrada, guardando-se a si próprios como templos do Espírito Santo (cf. 1Co 6, 19) e dons preciosos para um futuro casamento. Esperamos assim que estes pequenos conselhos, livres de especulações demasiado teológicas, sirvam tanto a seminaristas e jovens sacerdotes empenhados em viver generosamente sua vocação quanto aos casais católicos, cuja vida matrimonial às vezes lhes exige períodos mais ou menos longos de abstinência sexual [5].

II. Algumas orientações práticas

A manualística tradicional costuma enumerar uma série de meios ou, para usar uma expressão corrente, remédios contra a concupiscência, isto é, o apetite desordenado por prazeres, quer digam respeito à alimentação (gula), quer às propriedades genésicas do corpo (luxúria). Mortificação ativa, combate à ociosidade, fuga das ocasiões de pecado, meditação dos castigos eternos, devoção à Santíssima Virgem são, dentre outras tantas, as armas que os autores mais comprovados e fiéis à espiritualidade católica nos indicam e sugerem [6]. Queremos, contudo, apresentar dois recursos fundamentais que, embora nem sempre mencionados pelos tratados de ascética, demonstram como o caminho para se conservar e fortalecer a castidade é, na verdade, bastante simples e eficaz, se tivermos aquela "decidida determinação" dos que desejam pertencer total e indivisamente a Deus [7].

1. Mudar nossa visão de homem. — A primeira grande dificuldade com que deparamos ao longo desse percurso deriva, em parte, da mentalidade que os media, o cinema e os programas televisivos têm ajudado a construir; trata-se, com efeito, de uma concepção incompleta e unilateral de "homem", reduzido à esfera da animalidade e restrito às urgências mesquinhas e egoístas de um suposto "instinto sexual" a que se deve dar vazão a todo e qualquer custo. Acostumamo-nos, pois, a ver no homem casto um tipo de "doente", um apático assexual ou alguém efeminado, "mal resolvido". Até mesmo entre os jovens, cuja insegurança e falta de bons modelos paternos talvez expliquem o fenômeno, vive-se um certo preconceito em relação à figura do "virgem": aquele rapaz que não teve ainda sua primeira "experiência sexual" seja por timidez, seja por valores morais os quais receia sejam conhecidos dos colegas. Antes sinal de inocência e pureza espiritual, nestes nossos dias a virgindade tornou-se para muitos jovens, meninos e meninas, motivo de vergonha e de chacota.

Daí a necessidade de retificarmos nossa visão de homem. De fato, todos os cristãos, revestidos de Cristo pelo Batismo (cf. Gl 3, 27), são chamados a "orientar a sua afetividade na castidade" [8] segundo as circunstâncias particulares em que o Senhor os colocou. Por isso, o primeiro e principal modelo de vida para todos os fiéis deve ser o próprio Jesus Cristo, de cuja fidelidade e entrega total ao Pai temos de participar e nos tornar sinais vivos e visíveis. Também os grandes santos celibatários não só podem como devem ser para nós exemplo e inspiração de pureza: São José, esposo castíssimo de Nossa Senhora e pai nutrício de Jesus; São João Maria Vianney, o cura d'Ars e padroeiro dos sacerdotes; São Felipe Néri, o santo da alegria; São Pio de Pietrelcina, presbítero e confessor—eis aí varões que deixaram gravados na história exemplos de verdadeira hombridade e de uma profunda e bem vivida castidade por amor ao Reino dos Céus e às almas. São lírios cuja alvura, "que até os mais pequenino inseto mancha e desfeia" [9], folgaríamos de poder imitar.

A sexualidade destes homens fora a tal ponto ordenada a Deus, que é de todo impossível imaginá-los sexualmente excitados. Não porque fossem, como hoje se diz, "impotentes" ou "reprimidos", mas porque os seus corações abrasavam-se por um amor maior: um amor tão ardente a Deus e à Igreja, que em seus peitos não havia lugar para nenhuma solicitação da carne, para nenhuma armadilha da sensualidade. A imagem destes santos, que na mais absoluta continência e renúncia aos gozos do mundo foram afetivamente maduros e perfeitamente livres, contrasta de modo flagrante com a triste figura do astro pornô, do "predador de mulheres", de um homem, enfim, cuja alma, de tão saturada que está de sexo e prazer, vai-se incapacitando dia a dia para atos genuínos de amor autêntico, sincero, generoso.

Esse, portanto, é o primeiro passo a dar: formar uma visão correta e sóbria de homem e masculinidade. Feito isto, poderemos com constância e paciência evangelizar o nosso "inconsciente" rebelde que, devido à herança do pecado, quer a toda hora nos convencer de que não fazer sexo é sinônimo de fracasso. Leiamos e meditemos a vida dos santos, que resplandecem no céu da Igreja e nos ensinam como o homem deve portar-se diante do Pai.

2. Combater os maus pensamentos. — Quando houvermos definido que tipo de homem queremos ser, teremos, é óbvio, de recorrer aos meios conducentes à realização deste ideal. A segunda precaução que devemos tomar nesta luta, portanto, consiste em evitarmos toda e qualquer forma de pecado sexual, quer o ato nos pareça ou não grave. Como nos lembra o ensinamento tradicional dos teólogos a este respeito, deve-se ter sempre presente que no campo da sexualidade não existe parvidade de matéria [10]: um olhar, uma palavra, um toque, o consentimento o mais breve possível a um pensamento impudico por si só já constitui um pecado tão grave e desordenado quanto o próprio ato sexual pecaminoso. "Todo aquele que olha para uma mulher com desejo libidinoso", diz Nosso Senhor, "já cometeu adultério com ela em seu coração" (Mt 5, 27-28). Ao comprar a simples cobiça carnal (um pecado à primeira vista sem tanta importância) ao adultério (talvez o pecado de que mais sofram as famílias e a sociedade de hoje), foi Deus mesmo quem nos revelou o grande cuidado que devemos ter nesta área.

Sem nos impor nenhum fardo, com este ensinamento Jesus traz ao homem uma grande liberdade e segurança, porque sinaliza que o caminho para a verdadeira pureza exige um esforço, por assim dizer, pequenino: combater os maus pensamentos no momento mesmo em que despontam na imaginação. Temos, pois, de os cortar pela raiz, impedindo-os de crescer e se agigantar. Daí se percebe que, além de evitar as ocasiões, um dos melhores remédios contra a luxúria é reagir pronta e imediatamente às sugestões da carne. Peçamos a Deus um espírito resoluto e determinado a evitar que o mais singelo, ligeiro e "inocente" pensamento se desenrole e desencadeie um processo fisiológico de excitação que, então sim, demandará de nós forças muito maiores, uma luta decerto mais intensa e ferina (algo de todo evitável se nos houvéssemos precavido desde o começo). Donde também se depreende a urgência com que se deve procurar um confessor caso se tenha consentido e regozijado já nestes primeiros assaltos. Feliz aquele que os esmagar contra a rocha ainda nenéns (cf. Sl 137 [136], 9), incapazes de produzir maiores males!

Há no entanto algumas pessoas cujo pecado não é gerado aos poucos, de tentação em tentação, de imagem em imagem; mas que, ao contrário, partem diretamente para consumar o ato. São como que impelidas a pecar num movimento irresistível, impetuoso. Nestes casos, o problema concentra-se não tanto na parte concupiscível da alma quanto na irascível; tais pessoas não padecem, a rigor, de um problema de luxúria em sentido estrito. Para elas, o gozo sexual serve antes de pretexto ou válvula de escape, uma forma de sublimar venereamente todo um feixe denso de frustrações, de tristezas ou desânimos. Quase sempre incapazes de suportar com alegria as cruzes cotidianas, as almas com este perfil expressam por meio de uma sexualidade desgovernada e não raro violenta toda a sua amargura e o seu desgosto. Por isso, deve-se-lhes ensinar o sentido e o valor do sofrimento cristão. Lembremo-nos de que todo ato sexual desregrado supõe, no fundo, uma certa disposição ao egoísmo e uma indisposição a amar verdadeiramente. Ora, sabemos que é pelo sofrimento que Deus prova e faz crescer o nosso amor por Ele e pelos demais. Se o celibato, com efeito, é um caminho de amor e de renúncia (cf. Lc 9, 23), as dores e os sofrimentos que o acompanham devem também ser acolhidos e aceitos com amor e generosidade.

A terapia espiritual mais eficaz para quem sofre deste problema será o exercício da paciência. Além de considerar os excelentes efeitos do sofrimento (reparação dos pecados e santificação da alma), pode-se crescer na vivência alegre e cristã das agruras diárias (a) pelo cumprimento fiel e pontual de todos os nossos deveres, apesar dos inconvenientes ou chateações que eles porventura nos causem; (b) pela aceitação resignada das cruzes que o Senhor nos envia; (c) pela prática sóbria e sensata de algumas mortificações voluntárias, que um diretor espiritual saberá recomendar e orientar; (d) pela preferência esforçada e habitual da dor ao prazer nas várias situações do dia [11].

III. Por que o celibato, afinal?

Antes de encerrarmos esta Direção Espiritual, gostaríamos de acenar à razão fundamental que dá sentido e peso a tudo quanto dissemos aqui. Aos olhos do mundo, o celibato é um contrassenso; renunciar ao mais natural e irresistível dos prazeres, uma loucura. Deus porém "ama a magnanimidade dos que, de uma só vez, dão tudo." [12] Ele nos chama, pois, a seguir o Seu santo e imaculado Cordeiro aonde quer que vá (cf. Ap 14, 4), não só na integridade do espírito como também na da carne [13]. A radicalidade do entregar tudo por amor a Cristo, do fazer de si uma oblação agradável a Deus, deve ser vivida não como imposição de uma instituição "castradora", como um fardo disciplinar que muito a contragosto nos vemos obrigados a arrastar pela vida. Trata-se, ao contrário, de uma escolha fundamental pelo amor, e por um amor que se abraça livremente, porque se deseja corresponder ao Amor de Quem nos amou primeiro. O ideal que nos deve inspirar neste caminho de entrega e renúncia não deve ser outro senão aquela altíssima dignidade a que Deus nos quer elevar: ser santo! fazer da própria vida e do próprio corpo uma "homenagem voluntária da criatura ao seu Deus"! [14] Escolher a castidade é, pois, um ato de sincero amor, "não na sua expressão sentimental e afetiva, mas no que nele há de mais verdadeiro, de mais profundo, de mais operoso, na doação completa e absoluta de si mesmo" [15].

Recomendação
A.V. 48: «Virgindade e Espiritualidade», de 9 mai. 2013.
R. C. 145: «Qual é a origem do celibato sacerdotal?», de 7 dez. 2012.
Referências
Cf. Concílio Vaticano II, Constituição Dogmática "Lumen Gentium", de 21 nov. 1964, n. 39 (AAS57 [1965] 44; DS 4165).
Santo Tomás de Aquino, Super Philipenses, c. 3, l. 2; Sum. Th. II-II, q. 184, a. 2, ad 3. V. também R. Garrigou-Lagrange, La Santificación del Sacerdote. Trad. esp. de Generoso Gutiérrez. 2.ª ed., Madrid: Patmos, 1956, p. 59.
Id., pp. 89-100.
Cf. Santo Tomás de Aquino, Sum. Th. II-II, q. 151, a. 1, resp.
Cf. Paulo VI, Carta Encíclica "Humanæ Vitæ", de 25 jul. 1968, n. 21 (AAS 60 [1968] 496); São João Paulo II, Teologia do Corpo: O Amor Humano no Plano Divino. Trad. port. de José E. C. de Barros Carneiro. São Paulo: Ecclesiæ, 2014, p. 581, n. 1; Conselho Pontifício para a Família,Sexualidade Humana: Verdade e Significado. 7.ª ed., São Paulo: Paulinas (col. "A Voz do Papa", vol. 148), 2009, pp. 24-26, nn. 20-21.
V., e. g., Antonio R. Marin, Teologia de la Perfeccion Cristiana. 4.ª ed., Madrid: BAC, 1962, pp. 333-337, n. 180; J. Ribet, L'Ascétique Chrétienne. 6.ª ed., Paris: Ancienne Librarie Poussielgue, J. de Girdod (ed.), 1913, pp. 126-132. Cf. Catecismo da Igreja Católica (CIC), 2340.
Cf. Santa Teresa d'Ávila, Caminho de Perfeição, c. XXI, n. 2. In: Escritos de Teresa de Ávila. Trad. port. de Adail U. Sobral et al. São Paulo: Loyola, 2001, p. 363.
CIC, 2348.
Francisco Spirago, Catecismo Católico Popular. Trad. port. de Artur Bivar. 3.ª ed., Lisboa: União Gráfica, 1938, vol. 2, p. 453.
Cf. Resposta do S. Ofício, de 11. fev. 1661 (DS 2013): "Dado que nas coisas que se referem ao sexo nunca há levidade da matéria (parvitas materiæ) [...]"; Petrus Dens, Theologia ad Usum Seminariorum. Mechliniæ, typis P.-J. Hanicq, 1828, vol. 1, p. 406.
Cf. Antonio R. Marin, op. cit., pp. 342-346, n. 183.
Pe. Leonel Franca, "O Primeiro Passo no Caminho da Santidade", in: Alocuções e Artigos(Obras Completas, vol. 5, t. 2). Rio de Janeiro: Agir, 1954, p. 423 (grifo nosso).
Cf. Santo Tomás de Aquino, Sum. Th. II-II, q. 152, a. 5, ad 3.
Pe. Leonel Franca, op. cit., p. 420.
Id., ibid.

A todos que AINDA conservam a Fé - Pe. Rodrigo Maria






Caríssimos irmãos, diante da situação dramática na qual se encontra o nosso mundo; tendo diante de nossos olhos o aumento da iniquidade, o avanço do mal, a destruição dos valores, a perda da Fé e o esfriamento da caridade, somos impelidos a perguntar: até quando isso continuará? O que podemos fazer para que tudo isso mude, para que o mal seja superado e o amor volte a prevalecer? O que fazer para que Jesus seja mais conhecido, amado e adorado por todos?

Na verdade Deus já nos deu a resposta! Em meio a esta batalha espiritual o Senhor mesmo estabeleceu sua estratégia para esmagar a cabeça do inimigo, neutralizar a ação do mal e estender seu reinado nos corações. Ele nos deu uma Mãe! O próprio Jesus consagrou a Igreja aos cuidados de sua Mãe Santíssima “Eis aí tua mãe’’(Jo 25,19), colocando-nos sob sua autoridade, fazendo de nós seus filhos na ordem da graça, entendendo sua maternidade espiritual sobre todos os corações para que ela nos ensinasse a amar a Deus em verdade, levando-nos a fazer tudo quanto Jesus mandou.

Em Fátima (1917) a Santíssima Virgem nos recordou a vontade de Deus e sua estratégia para vencer o inimigo em meio a esta guerra espiritual. Ela nos disse: “Meu filho quer estabelecer ao mundo a devoção ao meu Imaculado Coração”. Eis o remédio para os nossos tempos! Uma verdadeira devoção à Santíssima Virgem. Uma devoção que nos coloque em seu colo, ou melhor, na Escola de seu Imaculado Coração, onde devemos aprender o verdadeiro amor de Deus, tornando-nos cristãos autênticos, santos, a altura dos tempos difíceis em que vivemos.

O mundo precisa de santos… E Deus determinou que estes fossem formados na escola do Imaculado Coração de sua Mãe Santíssima.

A Total Consagração é um meio privilegiado para se entrar no coração da Santíssima Virgem, pois por este meio, nós aceitamos livremente a maternidade espiritual de Nossa Senhora sobre nós, assumindo a condição de filhos como Jesus determinou. Se os cristãos conhecessem e vivessem a Total Consagração a Santíssima Virgem, aprenderiam com a Mãe do Céu a amar a Deus e ao próximo como Jesus ensinou.

Nos corações de Jesus e Maria,
Pe. Rodrigo Maria

domingo, 31 de maio de 2015

São Luís Maria de Montfort ensina como rezar o Santo Rosário

São Luís Maria de Montfort ensina como rezar o Santo Rosário


O Santo Rosário, na forma como é rezado presentemente, foi inspirado à Igreja, e dado pela Santíssima Virgem a São Domingos, no ano de 1214, para converter os albigenses e os pecadores, conforme relatou o Beato Alano de la Roche.

São Domingos, inspirado pelo Espírito Santo, instruído pela Santíssima Virgem e por sua própria experiência, pregou o Rosário todo o resto de sua vida.

Desde o estabelecimento do Rosário por São Domingos, até 1460, quando o Beato Alano o restabeleceu por ordem do Céu, ele foi chamado de Saltério de Jesus e da Virgem, porque contém 150 Ave-Marias — o mesmo número dos Salmos de Davi.

AS ORAÇÕES VOCAIS DO ROSÁRIO
1. Credo, ou Símbolo dos Apóstolos, é rezado na Cruz do Rosário.
Contém ele um resumo das verdades cristãs e é uma oração de grande mérito, porque a fé é o fundamento e o princípio de todas as virtudes cristãs e de todas as orações que agradam a Deus. “Creio em Deus” contém os atos das três virtudes teologais, a fé, a esperança e a caridade, e têm uma eficácia maravilhosa para santificar a alma e aterrorizar o demônio.

2. O Pai Nosso, ou Oração Dominical (de Dominus, Senhor), tira sua primeira excelência de seu Autor, Jesus Cristo, o próprio Rei dos Anjos e dos homens.

“Era necessário, diz São Cipriano, que Aquele que nos veio dar a vida da graça como Salvador, nos ensinasse como Mestre a maneira de rezar”.

O Pai-Nosso contém todos os deveres que nós temos em relação a Deus; contém ademais os atos de todas as virtudes e os pedidos para todas as nossas necessidades espirituais e corporais.

Ele é o resumo do Evangelho, como diz Tertuliano. Ele ultrapassa, diz Tomás de Kempis, todos os desejos dos Santos; compreendia todas as doces sentenças dos salmos e dos cânticos; pede tudo o que nos é necessário; louva a Deus de modo excelente; e eleva a alma da terra ao céu, unindo-a estreitamente a Deus.

Devemos recitar a Oração Dominial na certeza de que o Pai Eterno a atenderá, pois é a oração de seu Filho, que Ele sempre atende.

Santo Agostinho assegura que o Pai-Nosso bem rezado apaga os pecados veniais.

Dizendo: “Pai nosso, que estais no Céu”, formulamos atos de fé, de adoração e de humildade. Desejando que seu Nome seja santificado e glorificado, manifestamos zelo por sua glória.
Pedindo-Lhe que venha a nós o seu Reino, fazemos um ato de esperança. Desejando que sua vontade seja feita na terra como no céu, fazemos um ato de perfeita obediência.
Pedindo-Lhe o pão nosso de cada dia, praticamos a pobreza de espírito e o desapego dos bens terrenos.
Pedindo que nos perdoe as nossas ofensas, realizamos um ato de arrependimento; e perdoando aqueles que nos ofendem, exercitamos a misericórdia na sua mais alta perfeição.
Pedindo seu socorro para não cairmos em tentação, fazemos atos de humildade, de prudência e de fortaleza. Esperando que Ele nos livre do mal, praticamos a paciência.
Enfim, pedindo todas essas coisas, não somente para nós, mas também para o nosso próximo e para todos os membros da Igreja, cumprimos o dever de verdadeiros filhos de Deus, pois O imitamos na sua caridade, que abarca todos os homens, e cumprimos o mandamento do amor ao próximo.

c) A Ave Maria. A Ave Maria, também conhecida como “Saudação Angélica”, é tão sublime e elevada, que o Beato Alano de la Roche julgou que nenhuma criatura pode compreendê-la e que somente Jesus Cristo, nascido da Virgem Maria, pode explicá-la.

Ela tira principalmente sua excelência da Santíssima Virgem à qual foi dirigida; da finalidade da Encarnação do Verbo para a qual foi trazida do céu; e do Arcanjo São Gabriel, que a pronunciou pela primeira vez. A Saudação Angélica resume toda a teologia cristã sobre Maria Santíssima.

A Santíssima Trindade revelou a primeira parte da Ave Maria; Santa Isabel, iluminada pelo Espírito Santo, acrescentou a segunda; e a Igreja, no I Concílio de Éfeso (ano 430), pôs a conclusão, após ter definido que Nossa Senhora é verdadeiramente Mãe de Deus. Esse Concílio ordenou que Ela fosse invocada com as seguintes palavras: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte”.

Deus Pai é glorificado quando honramos a mais perfeita de suas criaturas. Deus Filho é glorificado porque louvamos sua puríssima Mãe. O Espírito Santo é glorificado porque admiramos as graças com as quais Ele cumulou sua Esposa.

Assim como a Virgem, em seu belo cântico Magnificat, remeteu a Deus os louvores e as bençãos que Lhe dirigiu Santa Isabel, assim também Ela remete prontamente a Deus os elogios e as bençãos que Lhe damos pela Saudação Angélica.

No momento em que Santa Isabel ouviu a saudação que lhe deu a Mãe de Deus, ela foi comulada pelo Espírito Santo, e a criança que levava no seio estremeceu de alegria.

Maria é a nossa Mãe e nossa amiga. Ela é a Imperatriz do universo, e nos ama mais do que todas as mães e rainhas juntas amaram um homem mortal. Pois, diz Santo Agostinho, a caridade da Virgem Maria excede todo o amor natural de todos os homens e de todos os Anjos.

Tenhamos sempre a Ave Maria no coração e nos lábios para honrar a Santíssima Trindade, para honrar a Jesus Cristo, nosso Salvador, e sua santa Mãe.

Ademais, no fim de cada dezena acrescentemos:
“Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Assim como era no princípio, agora e sempre, por todos os séculos dos séculos. Amém”.

A ORAÇÃO MENTAL (meditação) — OS QUINZE MISTÉRIOS DO ROSÁRIO
Mistério é uma coisa sagrada e difícil de compreender. As obras de Jesus Cristo são todas sagradas e divinas, porque Ele é Deus e Homem ao mesmo tempo. As da Santíssima Virgem são santíssimas, porque Ela é a mais perfeita de todas as puras criaturas.
Chamam-se mistérios as obras de Jesus Cristo e de sua santa Mãe, porque são repletas de maravilhas, perfeições e instruções profundas e sublimes, que o Espírito Santo revela aos humildes e às almas simples que Os honram.

São Domingos dividiu a vida de Jesus Cristo e da Santíssima Virgem em quinze mistérios que nos representam suas virtudes e suas principais ações, como quinze quadros, cujas cenas devem nos servir de regra e de exemplo para conduzirmos nossa vida.

Nossa Senhora ensinou a São Domingos esse excelente método de oração e lhe ordenou que o pregasse, a fim de reacender a piedade dos cristãos e de fazer reviver em seus corações o amor de Jesus Cristo.

O Rosário sem a meditação dos mistérios sagrados de nossa salvação não seria senão um corpo sem alma, uma excelente matéria sem a forma que é a meditação.

A primeira parte do Rosário contém cinco mistérios, o primeiro dos quais é a anunciação do Arcanjo São Gabriel à Santíssima Virgem; o segundo, a visitação da Virgem a Santa Isabel; o terceiro, o nascimento de Jesus Cristo; o quarto, a apresentação do Menino Jesus no Templo e a purificação da Virgem; o quinto, o encontro de Jesus no
Templo, entre os doutores. Chamam-se esses mistérios gozosos por causa da alegria que deram a todo o universo.

A segunda parte do Rosário se compõe também de cinco mistérios, que se chamam dolorosos, porque nos representam Jesus Cristo acabrunhado de tristeza, coberto de chagas, sobrecarregado de opróbrios, de dores e de tormentos.
O primeiro desses mistérios é a oração de Jesus e sua agonia no Horto das Oliveiras; o segundo, sua flagelação; o terceiro, sua coroação de espinhos; o quarto, o carregamento da Cruz; e o quinto, sua crucifixão e morte sobre o Calvário.

A terceira parte do Rosário contém cinco outros mistérios, que se chamam gloriosos, porque neles contemplamos a Jesus e Maria no triunfo e na glória.
O primeiro é a ressurreição de Jesus Cristo; o segundo, sua ascensão ao céu; o terceiro, a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos; o quarto, a assunção da gloriosa Virgem; e o quinto, sua coroação.

Essas são as quinze flores perfumadas do Rosário místico, sobre as quais as almas piedosas pousam como sábias abelhas, para colher o néctar admirável e dele compor o mel de uma sólida devoção.

Nossa vida é uma guerra e uma tentação contínuas, na qual não temos que combater inimigos de carne e de sangue, mas as próprias potências do inferno.

Armai-vos, pois, com a arma de Deus que é o santo Rosário. Esmagareis assim a cabeça do demônio e permanecereis inabaláveis diante de todas as suas tentações.

Santo Agostinho assegura que não há exercício mais frutuoso e mais útil para a salvação do que pensar frequentemente nos sofrimentos de Nosso Senhor.

Santo Alberto Magno, mestre de Santo Tomás de Aquino, soube por revelação que a simples lembrança ou meditação da paixão de Jesus Cristo é mais meritória ao cristão do que jejuar a pão e água todas as sextas-feiras de um ano inteiro, ou recitar todos os dias os cento e cinquenta Salmos.

Ah! qual não será, em consequência, o mérito do Rosário que rememora toda a vida e paixão de Nosso Senhor?

COMO SE DEVE REZAR O ROSÁRIO
Não é o prolongamento de uma oração que agrada a Deus e lhe conquista o coração, mas o seu fervor. Uma só Ave-Maria bem rezada tem mais mérito do que cento e cinquenta mal rezadas.

Em primeiro lugar, é preciso que a pessoa que reza o Rosário esteja em estado de graça, ou pelo menos na resolução de sair do seu pecado, porque a Teologia nos ensina que as boas obras e as orações feitas em pecado mortal são obras mortas, que não agradam a Deus nem podem merecer a vida eterna.

Deus ouve antes à voz do coração que à da boca. Rezar a Deus com distrações voluntárias seria uma grande falta de respeito, que tornaria os nossos Rosários infrutíferos.

Para isso, colocai-vos na presença de Deus, pensando que Ele e sua santa Mãe têm os olhos postos sobre vós.

Pensai que vosso Anjo da Guarda está à vossa direita, colhendo as Ave-Marias que rezais, quando elas são bem rezadas, como se fossem rosas, para com elas tecer uma coroa para Jesus e Maria; e que, pelo contrário, o demônio está à vossa esquerda e ronda em torno de vós para devorar vossas Ave-Marias e as anotar no seu livro da morte, se elas são rezadas sem atenção, devoção e modéstia.

Sobretudo, não deixeis de fazer os oferecimentos das dezenas em honra dos mistérios, e de vos representar na imaginação a Nosso Senhor e à sua Santíssima Mãe no mistério que estais honrando.

Se for preciso combater, durante o Rosário, contra as distrações, combatei valentemente de armas na mão, ou seja, prosseguindo o Rosário, ainda que sem nenhum gosto nem consolação sensível.

É um combate terrível, mas é salutar à alma fiel.

“Quem é fiel nas pequenas coisas também o será nas grandes” (Lc 16,10)

Coragem pois, bom e fiel servidor de Jesus Cristo e da Santíssima Virgem, que tomastes a resolução de rezar o Rosário todos os dias! Que a multidão das moscas (chamo assim as distrações que vos fazem guerra enquanto rezais) não vos faça deixar covardemente a companhia de Jesus e de Maria, na qual estais quando dizeis vosso Rosário. A partir daqui indicarei os meios para diminuir as distrações.

Invocai inicialmente o Espírito Santo para bem rezar o vosso Rosário, e colocai-vos em seguida um momento na presença de Deus.

Antes de começar cada dezena, parai um pouco para considerar o mistério que estais celebrando, e pedi sempre, pela intercessão de María Santíssima, uma das virtudes que mais ressaltam naquele mistério ou da qual tendes mais necessidade.

Tende, pois, sempre em vista, ao rezar o Rosário, alguma graça a pedir, alguma virtude a a imitar ou algum pecado a evitar.

É importante rezar o Rosário com atenção e devoção.

Deve-se rezar o Rosário com modéstia, tanto quanto possível de joelhos e com as mãos postas, tendo o Rosário nas mãos.

Pode-se rezá-lo na cama, se está doente; se em viagem, pode-se rezá-lo caminhando.

Pode-se até mesmo rezar o Rosário trabalhando, quando não se pode deixar o trabalho por causa dos deveres profissionais; pois o trabalho manual nem sempre é contrário à oração vocal.

Se não tendes tempo para rezar o terço do Rosário de uma só vez, rezai uma dezena aqui, uma dezena acolá, de tal forma que, apesar das vossas ocupações e negócios, tenhais o Rosário inteiro rezado antes de vos deitardes à noite.

De todas as maneiras de rezar o Rosário, a mais gloriosa a Deus, mais salutar á alma e mais terrível ao demônio, é salmodiá-lo ou rezá-lo publicamente em dois coros.

O Rosário cotidiano tem tantos inimigos, que eu considero um dos mais assinalados favores de Deus a graça de perseverar nele até à morte.

Perseverai nele e terei a coroa admirável que está preparada nos ceus para a vossa fidelidade: “Permanece fiel até à morte e te darei a coroa” (AP 2,10).

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Fonte: MONTFORT, Luís Maria Grignion de. A eficácia maravilhosa do Santo Rosário. São Paulo: Artpress, 2000
Créditos: O Camponês

terça-feira, 26 de maio de 2015

A profundidade do Milagre do Sol (e o Sínodo pela Família)



A profundidade do Milagre do Sol (e o Sínodo pela Família)
Quando aconteceu o Milagre do Sol, também os pastorinhos para lá se voltaram: porque foi junto do sol que viram o que se seguiu: primeiro, a Família de Nazaré completa: "S. José com o Menino e Nossa Senhora vestida de branco, com um manto azul. S. José com o Menino pareciam abençoar o mundo com uns gestos que faziam com a mão, em forma de cruz."

Terminada esta aparição, viram Nosso Senhor e Nossa Senhora: E apareceu-lhes Nossa Senhora das Dores; Ele fazia uns gestos como os de S. José, parecendo abençoar o mundo. Por último, voltaram a ver a Nossa Senhora e ficaram com a impressão de ser sob a invocação de Nossa Senhora do Carmo.

Terminava assim o ciclo das Aparições da Cova da Iria, terminavam os encontros com Nossa Senhora, vividos em conjunto pelos três primos. A partir daquele momento, a história de cada um deles começaria a tomar um caminho próprio. E cada um sabia bem o que lhe era pedido.

Ela era a Senhora do Rosário. Não poderia ter-Se apresentado com outro nome, depois de repetidamente lhes pedir: "Rezem o terço todos os dias."

O pedido que lhes fazia tornava-os missionários, porque era ao mundo inteiro, mais do que aos seus três pastorinhos, que Ela o dirigia. Pedia conversão, naquele momento derradeiro, pedia mudança, pedia regresso. E pedia-o com o semblante de uma Mãe aflita.

Só eles o tinham ouvido. Mas, sobretudo, só eles Lhe tinham visto aquela tristeza presente no olhar, que falava mais do que as Suas próprias palavras. Não se tratava simplesmente da reposição formal de uma disciplina perdida. Era um olhar amargurado pelo engano com que os homens traíam e esqueciam a sua Origem e o seu Destino, à custa da sua própria felicidade e da realização da sua humanidade, indelevelmente marcada por uma atracção pelo infinito.

Antes de partir definitivamente, Nossa Senhora mostrava-Se-lhes e mostrava o seu Filho, em facetas bem significativas.

Primeiro, a Família de Nazaré. Impressiona pensar que, logo a seguir ao "Não ofendam mais a Deus Nosso Senhor que já está muito ofendido", a Família de Nazaré faz-Se ver no céu da Cova da Iria. Como a lembrar que tudo parte da família, e que é ferindo a família que se torna quase inevitável ofender cada vez mais "a Deus Nosso Senhor que já está muito ofendido."

Depois, Nosso Senhor a abençoar o mundo, tendo a Seu lado Nossa Senhora das Dores: a certeza de que nunca nos faltará a presença e a benção de Cristo, Senhor da História, mas que não O encontraremos sem passar pela Cruz.

Por fim, Nossa Senhora do Carmo, uma das mais antigas devoções a Nossa Senhora, como a confirmar que agora, como em toda a História, quem vai por Ela não se engana.

Madalena Fontoura in Bem-Aventurados (2000)

Créditos; Senza Pagare

quinta-feira, 27 de março de 2014

Eis a serva do Senhor - S. Bernardo de Claraval



Ouviste, ó Virgem, a voz do Anjo: Conceberás e darás à luz um filho. Ouviste-o dizer que não será por obra de varão, mas por obra do Espírito Santo. O Anjo aguarda a resposta: é tempo de ele voltar para Deus que o enviou. Também nós, miseravelmente oprimidos por uma sentença de condenação, também nós, Senhora, esperamos a tua palavra de misericórdia.

Em tuas mãos está o preço da nossa salvação. Se consentes, seremos imediatamente libertados. Todos fomos criados pelo Verbo eterno de Deus, mas agora vemo-nos condenados à morte: a tua breve resposta pode renovar-nos e restituir-nos à vida.

Isto te suplica, ó piedosa Virgem, o pobre Adão, desterrado do paraíso com toda a sua mísera posteridade; isto te suplicam Abraão e David. Imploram-te todos os santos Patriarcas, teus antepassados, também eles retidos na região das sombras da morte. Todo o mundo, prostrado a teus pés, espera a tua resposta: da tua palavra depende a consolação dos infelizes, a redenção dos cativos, a liberdade dos condenados, a salvação de todos os filhos de Adão, de toda a tua linhagem.

Dá, depressa, ó Virgem, a tua resposta. Responde sem demora ao Anjo, ou, para melhor dizer, ao Senhor por meio do Anjo. Pronuncia uma palavra e recebe a Palavra. Profere a tua palavra humana e concebe a divina. Diz uma palavra transitória e acolhe a Palavra eterna.

Porque demoras? Porque receias? Crê, consente e recebe. Encha-se de coragem a tua humildade e de confiança a tua modéstia. Não convém de modo algum, neste momento, que a tua simplicidade virginal esqueça a prudência. Virgem prudente, não temas neste caso a presunção, porque, embora seja louvável aliar a modéstia ao silêncio, mais necessário é, agora aliar a piedade à palavra.

Abre, ó Virgem santa, o coração à fé, os lábios ao consentimento, as entranhas ao Criador. Eis que o desejado de todas as nações está à tua porta e chama. Se te demoras e Ele passa adiante, terás então de recomeçar dolorosamente a procurar o amado da tua alma. Levanta-te, corre, abre. Levanta-te pela fé, corre pela devoção, abre pelo consentimento.

«Eis a serva do Senhor, disse a Virgem, faça-se em mim segundo a tua palavra».


Fonte: Senza Pagare

Da glória de São José, Esposo da Virgem Maria - Santo Afonso Maria de Ligório



 Qui custos est Domini sui, glorificabitur — “O que é o guarda do seu Senhor, será glorificado” (Prov. 27, 18).

Sumário. Devemos ter por certo que a vida de São José, sob a vista e na companhia de Jesus e Maria, foi uma oração contínua, cheia de fé, de confiança, de amor, de resignação e de oferecimento. Visto que a recompensa é proporcionada aos merecimentos da vida, considera quão grande será no paraíso a glória do santo Patriarca. Com razão se admite que ele, depois da Bem-aventurada Virgem, leva vantagem a todos os demais Santos. Por isso, quando São José quer obter alguma graça para seus devotos, não tanto pede, como de certo modo manda a Jesus e Maria.

I. A glória que Deus confere no céu a seus Santos é proporcionada à santidade de vida que eles levaram em terra. Para termos uma idéia da santidade de São José, basta que consideremos unicamente o que diz o Evangelho: Ioseph autem vir eius, cum esset iustus (1) — “José seu esposo, como era homem justo”. A expressão homem justo significa um homem que possui todas as virtudes; porquanto aquele a quem falta uma delas, não pode ser chamado justo.

Ora, se o Espírito Santo chamou a São José justo, na ocasião em que foi escolhido para Esposo de Maria, avalia, que tesouros de amor divino e de todas as virtudes o nosso Santo não devia auferir dos colóquios e da contínua convivência com a sua santa Esposa, que lhe dava exemplos perfeitos de todas as virtudes. Se uma só palavra de Maria foi bastante eficaz para santificar ao Batista e para encher Santa Isabel do Espírito Santo, a que alturas não pensamos que deve ter chegado a bela alma de José pela convivência familiar com Maria, da qual gozou pelo espaço de tantos anos?

Além disso, que aumento de virtudes e de méritos não deve ter adquirido São José convivendo continuamente por tantos anos com a própria santidade, Jesus Cristo, servindo-O, alimentando-O e assistindo-Lhe nesta terra?

Se Deus promete recompensar aquele que por seu amor dá um simples copo de água a um pobre, considera quão alta glória terá dado a José, que O salvou das mãos de Herodes, Lhe forneceu vestidos e alimentos, O trouxe tantas vezes nos braços e carregou com tamanho afeto. — Devemos ter por certo que a vida de São José, sob a vista e na companhia de Jesus e Maria, foi uma oração contínua, cheia de atos de fé, de confiança, de amor, de resignação e de oferecimento. Se, pois, a recompensa é proporcionada aos merecimentos ajuntados na vida, considera quão grande será a glória de São José no paraíso!

II. Santo Agostinho compara os demais Santos com estrelas, mas São José com o sol. O Padre Soares diz que é muito aceitável a opinião que depois de Maria, São José leva vantagem a todos os demais Santos em merecimento e em glória. Donde o Ven. Bernardino de Bustis conclui que São José, de certo modo, dá ordens a Jesus e Maria quando quer impetrar algum favor para os seus devotos.

Meu santo Patriarca, agora que gozais no céu sobre um trono elevado junto do vosso amadíssimo Jesus, que vos foi submetido na terra, tende compaixão de mim, que vivo no meio de tantos inimigos, maus espíritos e más paixões, que me dão combates contínuos para me fazerem perder a graça de Deus. Ah! Pela felicidade que tivestes, de gozar na terra, sem interrupção, da companhia de Jesus e Maria, alcançai-me a graça de passar o resto de minha vida sempre unido a Deus e de morrer depois no amor de Jesus e Maria, para que um dia possa ir gozar, convosco, da sua companhia, no reino dos bem-aventurados.

E Vós, ó meu amado Jesus, meu amantíssimo Redentor, quando poderei ir gozar-Vos e amar-Vos no paraíso face a face, seguro de não Vos poder mais perder? Enquanto viver, estarei exposto a tal perigo. Ah, meu Senhor e meu único Bem, pelos merecimentos de São José, que Vós amais e honrais tanto no céu; pelos merecimentos de vossa querida Mãe; e mais ainda, pelos merecimentos de vossa vida e morte, pelas quais merecestes para mim todo o bem e toda a esperança: não permitais que em tempo algum eu me separe nesta terra de vosso amor, a fim de que possa ir para a pátria do amor, a possuir-Vos e amar-Vos com todas as minhas forças e nunca mais em toda a eternidade afastar-me da vossa presença e do vosso amor. (II 432.)
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1. Matth. 1, 19.


(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 345-347.)

Fonte: Blog São Pio V

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

A Providência Divina e o dever do momento presente, Parte II - Pe. Reginalg Marie Garrigou-Lagrange


O ENSINAMENTO DAS ESCRITURAS E DA TEOLOGIA SOBRE O DEVER DO MOMENTO PRESENTE.

São Paulo escreveu na I Epístola aos Coríntios, X, 31: “Ou comais ou bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus”. — Também em Colossenses, III, 17: “Tudo o que fizerdes, em palavras ou por obras, (fazei) tudo em nome do Senhor Jesus Cristo, dando por ele graças a Deus Pai”.

Nosso Senhor disse, como conta São Mateus, XII, 34: “A boca fala da abundância do coração. O homem bom tira boas coisas do bom tesouro do seu coração; e o mau tira coisas más do mau tesouro. Ora, eu digo-vos que, de qualquer palavra ociosa que disseram, os homens darão conta no dia do Juízo”.

Santo Tomás mostra todo o sentido e o alcance desta doutrina quando ensina (Ia IIae, q. 18, a. 9) que não há ato deliberado que, concretamente considerado, “hic e nunc”, seja moralmente indiferente; cada um de nossos atos deliberados é ou bom ou mau. Por quê? Porque todo ato deliberado de um ser inteligente deve ser racional ou ordenado a um fim bom, bom em si mesmo; e todo ato deliberado de um cristão deve ser ordenado, ao menos virtualmente, a Deus. Se for assim, será um ato bom; se não for assim, será um ato mau. Não há meio termo. Mesmo nossas recreações, nossos divertimentos, nossos passeios devem ter um fim bom em si. É verdade que ir passear, considerado abstratamente, é indiferente. Também pode ser indiferente ir passear aqui ou ali, mas o passeio deve ter um fim racional, como por exemplo, o de reparar nossas forças, para retomarmos depois o trabalho que devemos realizar. Por isso mesmo, os divertimentos têm um sentido moral e um valor próprio na vida do ser racional.

Como diria de modo simbólico um bom pregador, todos os nossos atos deliberados são como as gotas de chuva que caem do alto da montanha, na linha divisória das águas; destas gotas de chuva, algumas irão para um rio e um oceano; as outras, para outro rio e outro mar, oposto e distante. Assim também nossos atos vão para o bem, isto é para Deus ou para o mal. Nenhum desses atos, tomados na realidade concreta da vida, é indiferente.

À primeira vista, esta doutrina parece muito rígida. Mas não é: basta uma intenção virtual ou implícita, renovada pela manhã no momento da oração, e também cada vez que o Espírito Santo nos faz elevar nossos corações para Deus.

Esta é, muito pelo contrário, uma doutrina consoladora, pois, segue-se daí, que na vida do justo, todo ato deliberado é bom e meritório, seja fácil ou difícil, pequeno ou grande.

Esta doutrina é também santificante se a entendermos bem e a vivemos, pois nos leva a pensar que o que Deus faz a cada momento é bem feito e cada acontecimento é um sinal de sua vontade. Assim Jó, privado de tudo, via nessa privação uma vontade de Deus que o provava para o santificar e em vez de maldizer aquele minuto tão penoso, bendizia o nome do Senhor. Aprendamos pois a reconhecer, no que acontece a cada momento, seja uma vontade positiva de Deus, seja uma permissão divina, sempre ordenada a um bem superior. Assim, aconteça o que acontecer, sempre guardaremos a paz.

São Francisco de Sales resumiu toda esta doutrina nestas poucas palavras: “Cada momento que chega até nós encerra em si uma ordem de Deus, e irá mergulhar na eternidade, permanecendo para sempre aquilo que dele fizemos”.

Este reconhecimento quase constante da vontade divina, discernida do dever do momento presente, decorre sobretudo do dom da Sabedoria que faz ver em Deus, causa primeira e fim último, todos os acontecimentos, tanto os penosos quanto os agradáveis. É por isto que Santo Agostinho diz que a esse dom corresponde a bem-aventurança dos pacíficos, quer dizer, daqueles que conservam a paz onde os outros se perturbam e que muitas vezes levam a paz aos mais perturbados: “Beati pacifici, quia filii Dei vocabuntur”.

(extr. de "La Providence et la Confiance en Dieu", ed. Desclée, Paris, 1932. Permanência, Set-out. de 79. Trad.: Júlio Fleichman)
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Notas:

[1] Como se lê no Livro II dos Reis, 16, 6: “Semei, parente de Saul, ultraja o profeta David, jogando-lhe pedras e o maldizendo. Um oficial de David quer matar o insultante. David responde: “Deixe-o amaldiçoar! Pois se o senhor lhe disse: Amaldiçoa David quem lhe dirá: por que ages assim?... Deixe-o maldizer... talvez o Senhor olhe para minha aflição e me dê bens pelas maldições desse dia”. Esta palavra faz pensar naquela de Nosso Senhor quando, durante a Paixão, recomendando calma a Pedro, se deixa prender pelos homens armados conduzidos por Judas e cura o soldado Malco que Pedro tinha ferido com sua espada. Quantos fatos semelhantes a estes, na vida dos santos se realizaram, quando ocasiões imprevistas se apresentaram.

[2] Dt 32, 39; 1 RS 2, 6; Tb 13, 2; Sb 16, 13.

[3] O Abandono à Providência, ed. abreviada, 1. II, cap. VII.

[4] Assim se explica o bem sobrenatural feito às almas por santos como o Cura d’Ars, que sem grande cultura teologal, tinha o sentido da conduta de Deus em relação às almas mais diversas. Era assim que o santo Cura dava no mesmo dia, sem tempo para refletir, a centenas de pessoas, o conselho certo, imediatamente aplicável, que lhes era necessário.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

O Escapulário do Carmo




Quem não o trará consigo como penhor de salvação eterna e proteção nos perigos, se Deus o concedeu ao mundo para honrar Sua Mãe e ajudar a salvar e proteger os seus filhos justos e pecadores?

Foi em 16 de julho de 1251 que Nossa Senhora, aparecendo a S ão Simão Stock, superior geral dos Carmelitas, lho entregou dizendo: "Recebe meu filho, este Escapulário da tua Ordem, como sinal distintivo da minha confraria e selo do privilégio que obtive para ti e para todos os Carmelitas. O que com ele morrer, não padecerá o fogo eterno. Este é um sinal de salvação, uma salvaguarda nos perigos e prenda de paz e de aliança eternas".

Setenta anos mais tarde, aparece a Vírgem ao Papa João XXII, confirma esta promessa e acrescenta outra, chamada a do privilégio sabatino, em que, mediante determinadas condições, a alma do confrade Carmelita será livre do Purgatório se lá estiver, no sábado a seguir à sua morte. Os Soberanos Pontífices consideram como pertencentes à Ordem do Carmo, todos os que recebem o seu escapulário. Para que todos possam usufruir das graças inerentes ao Escapulário, Sua Santidade, o Papa PIO X, em 16 de Dezembro de 1910, concedeu que o Escapulário, ema vez imposto, pudesse ser substituído por uma medalha que tenha dum lado Nossa Senhora sob qualquer invocação (Carmo, Dores, Conceição, Fátima, etc.) e do outro lado, o Coração de Jesus, e benzida com o simples sinal da cruz, na intenção de substituir este Escapulário.

Em 28 de Janeiro de 1964, o Papa Paulo VI concedeu ainda que todos os Sacerdotes pudessem impor o Escapulário e substitui-lo pela respectiva medalha, pois até aí era um privilégio dos Padres Carmelitas e de outros Sacerdotes que o pedissem à Santa Sé, e nisto se mostra o desejo da Santa Igreja de que todos o tragam.


CONDIÇÕES



· Para a 1* graça (ser livre do fogo do Inferno, a mais importante de todas):
Ter recebido este Escapulário imposto pelo Sacerdote e trazê-lo, ou a medalha que o substitui. Morrer com ele ou com a medalha, o que significa que se saiu deste mundo em estado de graça santificante.

· Para a 2* graça (isto é, o privilégio sabatino: ser liberto do Purgatório no primeiro sábado, depois da morte, se para lá se foi):

Além das condições para a primeira graça, que é a mais importante, guardar ainda a castidade própria de cada estado, que aliás, já obrigatória para todos por mandamento divino; rezar, sabendo ler, todos os dias, o pequeno Ofício de Nossa Senhora, ou, não sabendo, abster-se de comida de carne nas quartas-feiras e sábados.

Estas obrigações podem ser comutadas (a reza do Ofício e da abstinência de comida de carne) por um Sacerdote, o que impôs o Escapulário ou o Confessor, por outra obra pia, por exemplo: a reza de 7 (sete) Pai-Nossos, 7 Ave Marias e 7 (sete) Glórias, ou pela reza do Terço ou por outra mais fácil.

Quem reza o Terço todos os dias, esse vale sem ser preciso mais nada, podendo aplicá-lo por todas as intenções de costume. O Sacerdote, que reza o Ofício divino, também já cumpre sem ser preciso outra comutação. Aos homens e às crianças, que normalmente rezam menos que as mulheres, pode-se comutar por 3 Aves Marias, rezadas diariamente. Assim aconselha o Santo Padre Cruz, que foi um grande Apóstolo do Eascapulário.


QUEM O PODE RECEBER?


Todos os Católicos que o peçam, o podem receber, imposto por um Sacerdote. Podem-no receber ainda as crianças batizadas, mesmo inconscientes e os doentes destituídos dos sentidos, pois, parte-se do princípio que, se conhecessem o seu valor, o quereriam receber.
É ótimo o costume de o por logo no dia do Batismo.

O Escapulário é de tecido de lã de cor castanha ou preta, mas o mais comum é o de cor castanha. O Escapulário, uma vez benzido, não precisa de nova bênção quando se substitui por outro; a medalha sim, precisa de nova bênção.

O valor do Escapulário está no tecido de lã com a bênção própria e não nas imagens que costuma ter. Pode ser lavado, podem-se mudar os cordões, pode ser revestido de plástico para não sujar, etc. Devemos andar sempre com ele ou com a medalha, e sobretudo, tê-lo à hora da morte. Nunca o deixemos, mesmo ao tomar o banho. Quem o recebeu e deixou de traze-lo consigo, basta que comece de novo a usá-lo, ou à medalha, sem precisar de nova imposição.

Sua Santidade Pio X concedeu que os militares em campanha possam impor a si próprios o Escapulário ou a medalha, uma vez benzidos pelo Sacerdote, e que tendo acabado a sua missão, continuem a usufruir de todas as graças e privilégios a ele inerentes, sem o terem de receber de novo.

Certamente que o Escapulário não dispensa dos Sacramentos, que são os meios instituídos por Nosso Senhor como via normal para nos santificar, nem dispensa das práticas das virtudes. Não coloca no Céu as almas em pecado mortal, mas ajuda a bem receber os Sacramentos e à conversão da alma e a perseverar no bem. Ajuda a sair do estado de pecado mortal, onde houver um mínimo de boa vontade.

O Escapulário do Carmo é um dom misericordioso do Céu, obtido por intercessão da Mãe da Misericórdia, já que os justos e os pecadores custaram o Sangue de Jesus e as Lágrimas e Dores de Maria Santíssima.


ALGUNS EXEMPLOS

 

· Proteção nos perigos - Há alguns anos, 3 (três) mocinhas foram passar uma tarde n a praia da Costa de Caparica ( Portugal) . Era num tempo em que as roupas de banho e as praias não tinham descido à degradação dos tempos atuais. Todas tinham o Escapulário do Carmo e nenhuma sabia nadar. Só uma persistiu em o levar, as outras, por respeito humano, tiraram-no.

Brincavam alegres à beira da água, quando uma onda perdida sobreveio inesperadamente e as levou. O povo acorreu em grande gritaria. Surge outra onda que deposita na praia uma delas, precisamente a que levava o Escapulário e se salvou. As outras duas pereceram. Os seus corpos foram encontrados já em estado de putrefação depois de três dias, junto ao Cabo de Espichel.

· Proteção contra o demônio - Assisti um dia aos exorcismos feitos por um Sacerdote sobre um rapaz possesso do demônio. O diabo foi obrigado a confessar que se aquele rapaz tivesse recebido antes o Escapulário, não poderia ter entrado nele.

· Livra do Inferno - Fui chamado para dar os últimos Sacramentos a um homem que tinha alta patente na Maçonaria. Dissera a um amigo meu: "Quem me dera ver-me livre da Maçonaria".

Rezava todos os dias com os netos. Tinha recebido o Escapulário em pequeno, pois fora aluno dos Padres Jesuítas, que o impunham sempre. Cheguei, dei-lhe os Sacramentos e impus-lhe o Escapulário, pois não o trazia consigo. Começou aos urros como um leão preso na jaula e a cama rangia fortemente. Depois, tudo acalmou. Não duvido moralmente da salvação eterna desta alma.

A um outro doente, com fama de muita virtude e a quem visitei, pus-lhe o Escapulário. Pediu-me logo para se confessar. Tinha passado a vida cometendo sacrilégios, pois tinha vergonha de confessar os seus desmandos sexuais. Morreu santamente, louvando cheio de alegria a Misericórdia Divina.

E tantos e tantos são os prodígios que teria para contar! Ah! Recebamos todos o Escapulário do Carmo, porque ele é dádiva misericordiosa de Maria, obtida do seu Filho Jesus! O Escapulário, o Terço e a Devoção ao Coração Imaculado de Maria fazem parte da Mensagem de Fátima. Tantos Papas e tantos Santos têm falado dele, que será tristeza, para não se dizer loucura, não lhe ter apreço. Leão XIII beijava-o repetidas vezes na agonia. Pio XII trazia-o desde a infância, e queria que todos o soubessem. João XXIII e Paulo VI consideram-no como grande graça concedida ao mundo - P.O.J.R.


IMPOSIÇÃO DO ESCAPULÁRIO POR UM SACERDOTE


- Senhor Jesus Cristo, Salvador dos homens, † abençoai este hábito de Nossa Senhora de Carmo, que, como sinal de Consagração a Maria, vai ser imposto ao vosso servo, para que pela intercessão de Maria Santíssima, possa alcançar maior plenitude de graça.


(Asperge o Escapulário com água benta)


[IMPOSIÇÃO:] - Recebe este santo hábito para que, trazendo-o com devoção, te defenda do mal, e te conduza à vida eterna. - Amém.

(Coloca-o ao pescoço de cada pessoa)

- Participas desde este momento de todos os bens espirituais, de que gozam os religiosos do Carmo, em Nome do Pai † e do Filho e do Espírito Santo.

- Amém.

- O Senhor que se dignou admitir-te entre os confrades do Carmo, † te abençoe; e mediante este sinal de Consagração, te faça forte na luta desta vida, e te conduza à felicidade eterna. Por Nosso Senhor Jesus Cristo.

- Amém.

(Asperge o Confrade com água benta)

[Com Aprovação Eclesiástica]
 
 
Fonte: Da Mihi Animas

sábado, 15 de junho de 2013

Ave Regina Coelorum - Guillaume Dufay

Viva Cristo Rei!
Salve Maria Imaculada, Rainha Nossa!

A partir de hoje, em cada sábado, publicarei aqui uma música mariana. Também pretendo aqui colocar, aos domingos, Missas (composições de música sacra feitas para as orações da Santa Missa, rezadas/cantadas pelo coral.)
Espero que gostem!

Hoje vamos com o Ave Regina Caelorum, composto por Guillaume Dufay:


Texto em latim:

Ave, Regina Caelorum,
Ave, Domina Angelorum:
Salve, radix, salve, porta
Ex qua mundo lux est orta:
Gaude, Virgo gloriosa,
Super omnes speciosa,
Vale, o valde decora,
Et pro nobis Christum exora.
V. Dignare me laudare te, Virgo sacrata.
R. Da mihi virtutem contra hostes tuos.
Oremus: Concede, misericors Deus, fragilitati nostrae praesidium: ut, qui sanctae Dei Genitricis memoriam agimus; intercessionis eius auxilio, a nostris iniquitatibus resurgamus. Per eundem Christum Dominum nostrum. Amen.
 
Tradução em português:
 
Ave, Rainha do céu;
ave, dos anjos Senhora;
ave, raiz, ave, porta;
da luz do mundo és aurora.
Exulta, ó Virgem gloriosa,
as outras seguem-te após;
nós te saudamos: adeus!
E pede a Cristo por nós!
V. Dignai-me louvar-te, Virgem Sagrada.
R. Dai-me forças contra vossos inimigos.


 

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Sermão sobre São José, O FIEL DEPOSITÁRIO - Bossuet

Sermão de 19 de março de 1657
O FIEL DEPOSITÁRIO


BOSSUET

É opinião generalizada e sentir comum entre os homens que o depósito, isto é, um bem que recebemos para guardar, tem qualquer coisa de sagrado e que o devemos conservar para quem no-lo confia não somente por fidelidade mas por uma espécie de sentimento religioso. Por isso o grande Santo Ambrósio nos ensina no livro 29 de seus Ofícios que era piedoso costume estabelecido entre os fiéis o de trazer aos bispos e a seu clero aquilo que se queria guardar com mais cuidado, para que fosse colocado junto ao altar, em virtude da santa persuasão em que estavam de que não havia melhor lugar para guardar um tesouro do que aquele ao qual o próprio Deus confiou a guarda dos seus, isto é, os santos mistérios.

Este costume se tinha introduzido na Igreja a exemplo da sinagoga antiga. Lemos na História Sagrada que o augusto templo de Jerusalém era lugar de depósito para os judeus. Autores profanos também nos ensinam que os pagãos tributavam esta honra a seus falsos deuses, colocando seus depósitos nos templos e confiando-os a seus sacerdotes, como se a própria natureza das coisas nos ensinasse que o respeito ao depósito tem algo de religioso e que não pode estar mais bem colocado do que nos lugares santos onde se reverencia a Divindade, nas mãos daqueles que a religião consagra.

Ora, se jamais existiu depósito que merecesse tanto ser chamado santo, santamente guardado, é este de que falo, que a providência do Pai confia à fé do justo José, tanto assim que sua casa se assemelha a um templo porque Deus aí se digna habitar e entregar-se a Si próprio em depósito. José deve ter sido, portanto, consagrado a fim de guardar tão santo tesouro. E realmente o foi, cristãos: seu corpo pela continência, sua alma por todos os dons da graça. [...]

No projeto que me proponho, o de apoiar os louvores a São José, não em conjeturas duvidosas mas em doutrina sólida tirada das Escrituras divinas e dos Padres seus intérpretes fiéis, nada de mais conveniente posso fazer, na solenidade deste dia, do que apresentar este grande santo como um homem que Deus escolheu entre todos os outros para lhe pôr nas mãos Seu tesouro e fazê-lo, aqui na Terra, seu depositário. Pretendo fazer ver hoje que nada melhor lhe convém, que nada existe tão ilustre e que esse belo título de depositário, desvendando-nos os desígnios de Deus sobre esse bem-aventurado patriarca, nos mostra a fonte de todas as graças e o fundamento seguro de todos os louvores.

Primeiramente, cristãos, é-me fácil fazer-lhes ver o quanto esta qualidade é, para ele, honra, porque, se o título de depositário já inclui a nota de estima e testemunho de probidade, se para confiar um depósito costumamos escolher entre nossos amigos aquele cuja virtude é mais reconhecida, cuja fidelidade é mais comprovada, enfim o mais íntimo e mais confidente, qual não será glória de São José, que Deus fez depositário não somente da bem-aventurada Virgem Maria, cuja pureza angélica a torna agradável a Seus olhos, mas ainda de Seu próprio Filho, único objeto de suas complacências, única esperança de nossa salvação: de modo que guardando a pessoa de Jesus Cristo, São José é instituído depositário do tesouro comum de Deus e dos homens. Que eloqüência poderá igualar a grandeza e a majestade desse título?

Então, fiéis, se esse título é tão glorioso e vantajoso àquele a quem devo hoje fazer o panegírico, é preciso que eu mesmo penetre em tão grande mistério com o socorro da graça; e que, procurando nas Escrituras o que aí lemos sobre José, vos faça ver que tudo converge para esta bela qualidade de depositário.

Efetivamente encontro nos Evangelhos três depósitos confiados ao justo José pela Providência divina, e ali também encontro três qualidades que refulgem entre as outras e que correspondem a esses três depósitos. É o que precisamos explicar por ordem. Segui, por favor, atentamente.

O primeiro de todos os depósitos que foi confiado à sua fé (o primeiro na ordem do tempo) é a santa virgindade de Maria, a qual São José devia conservar intacta sob o véu sagrado do seu matrimônio, que ele sempre guardou santamente como um depósito sagrado que não lhe era permitido tocar. Eis o primeiro depósito.

O segundo, o mais augusto, é a pessoa de Jesus Cristo, que o Pai celeste depõe em suas mãos a fim de que lhe sirva de pai, ao Santo Menino que não o tem na Terra. Vede, desde já, cristãos, dois grandes, dois ilustres depósitos confiados ao zelo de São José. Mas observo ainda um terceiro, que acharão admirável, se eu conseguir explicá-lo com clareza. Para isso é preciso compreender que o segredo é uma espécie de depósito. Trair o segredo de um amigo é como violar a santidade do depósito. Pelas leis humanas sabemos que, se alguém divulga o segredo de um testamento a ele confiado, pode ser acusado de ter violado o depósito: Depositi actione tecum agi posse, dizem os juristas. É evidente, pois, a razão por que o segredo é como um depósito. Por onde podemos facilmente compreender que, se José é o depositário do Pai eterno, é porque Este lhe contou o Seu segredo. Que segredo? Um segredo admirável: a encarnação de Seu Filho.

Assim, porque, como sabemos, era desígnio de Deus esconder Jesus Cristo do mundo até que Sua hora houvesse chegado, São José foi escolhido não somente para O guardar mas também para O esconder. Por isso lemos no Evangelista (S. Lucas 2, 33) que José, com Maria, admirava tudo o que se dizia do Salvador, mas não lemos que ele falasse, porque o Pai eterno, desvendando-lhe o mistério, fez dele um segredo sob a obrigação do silêncio. Este segredo é o terceiro depósito que o Pai acrescenta aos outros dois. Segundo o que nos diz o grande São Bernardo, Deus quis confiar à sua fé o segredo mais santo de seu coração: Cui toto committeret secretissimum atque sacratissimum sui cordis arcanum (Super Missus est — hom. 2, no 15).

Como sois querido de Deus, ó incomparável José, já que Ele a vós confia esses três grandes depósitos: a Virgindade de Maria, a pessoa de Seu Filho único e o segredo de Seu mistério!

Mas não julgueis, cristãos, que ele desconhecia essas graças. Se Deus o honrava com aqueles três depósitos, de sua parte José apresentava a Deus, em sacrifício, três virtudes que observo no Evangelho. Não duvido que sua vida tenha sido ornada com todas as outras, mas eis aqui as três principais virtudes que Deus quer que vejamos na sua Escritura. A primeira é a pureza, que aparece pela continência no seu matrimônio; a segunda, sua fidelidade; a terceira, sua humildade e seu amor à vida obscura. Quem não verá a pureza de São José nesta santa sociedade de desejos pudicos, nesta admirável correspondência à Virgindade de Maria e em suas bodas espirituais? A segunda, sua fidelidade, aparece nos cuidados infatigáveis que tem para com Jesus no meio das tantas adversidades que por todas as partes seguem esse Menino divino desde o começo de sua vida. A terceira, sua humildade, vê-se em que, possuindo tão grande tesouro por uma graça extraordinária do Pai eterno, longe de se vangloriar por esses dons ou de publicar suas vantagens, se esconde tanto quanto pode aos olhos dos mortais, contemplando, em gozo pacífico com Deus, o mistério que lhe fora revelado e as riquezas imensas que tem sob sua guarda.

Ah! Quanta grandeza descubro aqui e como aqui descubro tão importantes instruções! Quanta grandeza vejo nesses depósitos, quantos exemplos vejo nessas virtudes! E como a explicação desse assunto tão belo será glorioso para São José e frutuoso para todos os fiéis!

(PERMANÊNCIA, ano XI, março/abril, números 112/113.)


Jacques-Bénigne Bossuet (Nascido em, 27 de setembro de 1627, em Dijon - e morreu em Paris, 12 de abril de 1704) foi Bispo de Condom e Meaux (Dioceses da França) e teólogo francês.


Fonte: Ite ad Joseph

domingo, 21 de abril de 2013

Ó Virgem Maria, dá-me um coração bom - Santa Edith Stein

Ó doce mãe Maria, dá-me um coração 
Cheio de vitalidade, aberto como o coração de teu filho, 
E transparente como as águas de uma fonte clara. 
Dá-me um coração nobre e corajoso, que não se aborrece, 
Nem sequer liga para as chateações sofridas; 
Um coração despreocupado que se doa alegremente; 
Um coração que conhece as fraquezas, 
E por isso as sente e as experimenta interiormente; 
Um coração profundo e agradecido, 
Que não faz descaso das coisas pequenas. 
Dá-me um coração suave e humilde, 
Que ama sem reivindicar amor em troca, 
Que, cheio de alegria, libera espaço 
Noutro coração para teu filho; 
Um coração nobre e vigoroso, 
Que não se abate nas decepções; 
Que não se dispersa e não se zanga; 
Que não se paralisa com as provações; 
Que na falta de atenção não perde a sintonia, 
Que na indiferença não se desencoraja. 
Dá-me, porém, um coração, 
Impulsionado pelo amor que tens por Jesus, 
Pelo desejo da maior honra e glória de Jesus 
E nisso não se detenha, 
Até alcançar o céu. Amém.
Edith Stein

sábado, 20 de abril de 2013

Cântico dos Templários: Salve Regina (Salve Rainha)


A Eficácia da Ave Maria e do Terço - São Luís Maria de Montfort


E eles (S. Domingos, S. João Capistrano e Alano de la Roche) compuseram livros inteiros sobre as maravilhas e eficácia da Ave Maria para a conversão das almas. Altamente publicaram e pregaram que a salvação do mundo começou pela Ave Maria e a salvação de cada um em particular está ligada a essa prece; que foi essa prece que trouxe à terra seca e árida o fruto da vida e que é esta mesma prece que deve fazer germinar em nossa alma a palavra de Deus e produzir o fruto da vida, Jesus Cristo; que a Ave Maria é um orvalho celeste que umedece a terra, isto é, a alma, para fazer brotar o fruto no tempo adequado, e que uma alma que não for orvalhada por esta prece ou orvalho celeste não dará fruto algum, nem dará senão espinhos e não estará longe de ser amaldiçoada (Heb 6,8).

No livro "De dignitate Rosarii", do bem aventurado Alano de la Roche lê-se o seguinte que a Santíssima Virgem o revelou: "Saibas, meu filho, e comunica-o a todos, que um sinal provável e próximo de condenação eterna é a aversão, a tibieza, e negligência em rezar a Saudação Angélica, que foi a reparação em todo mundo. Eis aí palavras consoladoras e terríveis que se custaria a crer, nse não no-las garantissem esse santo homem e antes dele S. Domngos, como, depois dele, muitos personagens fidedignos, com e experiência de muitos séculos.

Pois sempre se verificou que aqueles que trazem o sinal de condenação, como os hereges, os ímpios, os orgulhosos e os mundanos, odeiam e desprezam a Ave-Maria e o Terço. Os hereges ainda aprendem e recitam o Pai-Nosso, mas abominam a Ave-Maria e o Terço. Trariam antes uma serpente sobre o peito que o Rosário. Os orgulhosos também, embora católicos, mas tendo a mesma inclinação que seu pai Lúcifer, desprezam ou mostram uma indiferença completa pela Ave-Maria, considerando o Terço uma devoção efeminada, suficiente para os ignorantes e analfabetos. Ao contrário tem-se visto e a experiência o prova que aqueles e aquelas que possuem outros e grandes indícios de predestinação, amam , apreciam e recitam com prazer a Ave-Maria. E quanto mais são de Deus, tanto mais amam esta oração. É o que a Santíssima Virgem diz também ao bem-aventurado Alano, em seguida às palavras que citei.

Não sei como isso acontece nem porque,entretanto é verdade e não conheço melhor segredo para verificar se uma pessoa é de Deus do que examinar se gosta ou não de rezar a Ave Maria ou o terço. Digo: gosta, pois pode acontecer esteja na impossibilidade natural ou até sobrenatural de dizê-la, mas sempre a ama e a inspira aos outros.


 Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem - S. Luís de Montfort - pags 235-237


Créditos: Católicos Ribeirão/ O Segredo do Rosário 
Escritos dos Santos

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Ressuscitou! Bendito seja Seu triunfo! - Santo Efrém

Ó Filho, descido do céu para visitar servos que vinham arrastando suas doenças! Muitos médicos vieram, trabalharam, cansaram-se, curaram pouco, deixaram muito.
Aquele que é o Criador fez-se criança; aquele que é o santo veio ao batismo; aquele que é o Filho vivo experimentou a morte e ressuscitou glorioso do sepulcro. Bendita seja sua ressurreição!
O Verbo saiu do Pai e revestiu corpo em outras entranhas; passou de um seio a outro; encheram-se com ele castas entranhas. Bendito seja o que habitou entre nós!
Desceu do alto como Senhor e das entranhas saiu como escravo; no inferno, a morte curvou-se perante ele, e, na ressurreição, a vida o adorou. Bendito o seu triunfo!
Entrou pelo ouvido (Anunciação) e habitou nas entranhas. Revestiu corpo, baixou e salvou-nos; abriu o inferno, baixou e nos congregou; abriu o céu, subiu e nos elevou para lá. Bendito aquele que o enviou!
Maria carregou-o como criança; o sacerdote carregou-o como oblação; a cruz carregou-o como vítima; os céus carregaram-nos como Deus. Glória a seu Pai!
De Deus lhe veio a divindade; dos mortais, a humanidade; de Melquisedeque, o sacerdócio; e de Davi, a realeza. Bendita seja esta união!
Estava entre os convidados, no banquete; nas tentações, está entre os jejuadores; na agonia, estava entre os que velam; no templo, entre os que ensinam. Bendita sua doutrina!
Seu nascimento é para nós purificação; seu batismo, propiciação; sua morte, vida; e sua ascensão nos vem a ser exaltação. Quão digno é de nossos louvores!
OS lobos arrebatadores o temeram transformado em homem; rasgaram-lhe as vestes; mas, sem querer, revelaram-lhe a glória; o esplendor raiou-lhe da vestimenta. Bendito seja o Filho vivo que, neste dia, ressurgiu do sepulcro por seu grande poder e chamou novamente à vida os mortos, despertou os que dormiam e alegrou a Igreja! Bendita seja sua ressurreição! Glória a ele!
Neste dia, o filhote do leão rugiu no inferno; tremeu a morte; acordaram os mortos; ergueram-se os que dormiam, deram louvores com vozes novas; Bendita seja sua ressurreição!
Neste dia, os anjos proclamaram aos mortais a nova mensagem do Filho primogênito sobre a ressurreição. Anunciaram à Igreja que ele havia ressuscitado do sepulcro. Bendito seja seu louvor!
Santo Efrém

Fonte: GRAA
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