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sábado, 25 de fevereiro de 2017

O recado de uma freira católica aos foliões de Carnaval


Aos cristãos que aproveitam a festa do Carnaval para cair na farra e na bebedeira, Madre Angélica tem um recado importante para passar.


São conhecidas as sentenças dos santos da Igreja sobre o tempo do Carnaval. Elas estão espalhadas na Internet e deveriam formar todos aqueles que se dizem católicos. Para citar um só exemplo, vindo da terra do santo Papa João Paulo II, vejamos o que diz Santa Faustina Kowalska sobre esses dias de festa e aparente alegria:
"Nestes dois últimos dias de carnaval, conheci um grande acúmulo de castigos e pecados. O Senhor deu-me a conhecer num instante os pecados do mundo inteiro cometidos nestes dias. Desfaleci de terror e, apesar de conhecer toda a profundeza da misericórdia divina, admirei-me que Deus permita que a humanidade exista." (Diário, 926)
Essa apóstola da Divina Misericórdia escrevia tais palavras ainda na primeira metade do século XX. Hoje, passados já mais de 100 anos, não há dúvidas de que os festejos carnavalescos pioraram muito. Se a revelação recebida por Faustina fê-la "desfalecer de terror", com que tristeza não deveríamos reagir ao quadro que, agora, infelizmente, todos podemos ter diante dos olhos, graças ao alarde dos meios de comunicação! Se, com um só Carnaval do século passado, uma santa se admirava por Deus permitir que a humanidade existisse, o que dizer dos festivais que se repetem, ano após ano, aumentando mais e mais a sua malícia — a ponto de a ala de uma escola de samba anunciar, este ano, "que terá 40 casais simulando sexo na Avenida"?
Mas nós, infelizes que somos, perdemos a noção do que seja o pecado. A ofensa cometida a Deus tornou-se para os nossos contemporâneos uma trivialidade, algo banal. Os homens e mulheres de nosso tempo não estão minimamente preocupados com mandamento algum: embebedam-se fim de semana sim e outro também; têm sexo quando, como e com quem bem entendem; e, pior do que tudo isso, criam os filhos que têm, frutos do acaso, para viverem as mesmas coisas que eles vivem. Em resumo, e é esta a grande tragédia de nossa época, o homem moderno transformou a sua vida em uma festa de Carnaval prolongada. Que as pessoas vivam 4 dias de festas indecentes uma vez por ano, é escandaloso; mas que passem as 4 idades de sua vida na mesma situação, é uma tragédia muito pior.
O quadro é horrendo, mas a pergunta que devemos fazer nós, que estamos no mundo sem sermos do mundo, é como acordar essas pessoas, que convivem conosco no dia a dia e até que fazem parte de nossa família. Qual a melhor forma de convertê-las e tirá-las do abismo em que se acham?
Uma sugestão que muitas vezes o Padre Paulo Ricardo lança em suas pregações é mostrar para os pecadores como eles são infelizes na vida que levam. Para aqueles que estão cegos e apaixonados pelas coisas do mundo, será muitas vezes inútil repetirmos o velho sermão dos santos — embora não o devamos subestimar, absolutamente. Com muita frequência, no entanto, as palavras deles só costumam funcionar para "os de dentro", que já têm o mínimo de temor de Deus. Para quem "está fora", muito mais eficaz é apontar para a tristeza que mora nos corações afastados do Senhor: onde estão, na Quarta-feira de Cinzas, os sorrisos e as gargalhadas que desfilaram na Sapucaí? Para onde foram tantas energias gastas pelo prazer, pela roupa mais exuberante, por mais um gole de bebida?
É mais ou menos esse o quadro que pinta, no vídeo acima, a grande comunicadora católica Madre Angélica, falecida ano passado (2016), nos Estados Unidos. No excerto em questão, a religiosa bem-humorada mistura com a estratégia do "olha para ti mesmo" a tradicional pregação cristã sobre o pecado, o escândalo, a penitência e o inferno, à semelhança do pai de família do Evangelho "que tira do seu baú coisas novas e velhas" ( Mt 13, 52).
Que as suas palavras possam cair, de alguma forma, nos corações afastados de Cristo e da sua Igreja. Para os que entendem inglês, vale a pena assistir ao episódio completo de onde foi extraído esse vídeo: o programa foi ao ar no dia 2 de março de 1999, e fala sobre as "observâncias quaresmais".
Por Equipe Christo Nihil Praeponere

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

A Liturgia e a Pureza


 Por Luís Augusto Rodrigues Domingues

  INTRODUÇÃO

O conceito de pureza, na teologia católica, está muito ligado a  três frutos do Espírito Santo, segundo São Paulo na Carta aos Gálatas (Gl 5,22-23, de acordo com a edição antiga da Vulgata): modestia, continentia e castitas,  que  na  versão  grega  se  resumem  na  palavra   (egkrateia  –  autodomínio,  autocontrole, temperança) ou na latina continentia (de acordo com a edição nova da Vulgata). Frutos do Espírito são “perfeições que o Espírito Santo forma em nós” (Catecismo da Igreja Católica, 1832), atos virtuosos acompanhados de certa alegria ou suavidade espiritual, diferente de atos de virtude imperfeitos e penosos (cf. Compendio di Teologia Ascetica e Mistica, 1359-1360). Não sendo minha intenção tratar de aspectos muito teológicos, gostaria apenas de apresentar a importância que na Sagrada Liturgia se dá à pureza a fim de manifestar sua urgência na vida cristã e, sobretudo, na vida dos fiéis encarregados de ministérios ligados à Liturgia.

PUREZA NA SAGRADA ESCRITURA

Aparece no Antigo Testamento a  (bor – pureza), por exemplo, num Salmo de Davi, também presente no II Livro de Samuel:  “O Senhor me tratou segundo a minha inocência, retribuiu-me segundo a pureza de minhas mãos (puritatem manuum mearum), porque guardei os caminhos do Senhor e não pequei separando-me do meu Deus. Tenho diante dos olhos todos os seus preceitos e não me desvio de suas leis. Ando irrepreensivelmente diante dele, guardando-me do meu pecado. O Senhor retribuiu-me segundo a minha justiça, segundo a pureza de minhas mãos diante dos seus olhos. Com quem é bondoso vos mostrais bondoso, com o homem íntegro vos mostrais íntegro; puro com quem é puro; prudente com quem é astuto” (Sl 17/18,21-27). Este trecho é rezado na Salmodia do Ofício das Leituras da quarta-feira da I Semana do Saltério (na Forma Ordinária do Ofício Divino). Seu significado pode ser muito extenso, mas algo dele se descobre por exclusão daquilo que se revela como  (tum’ah - impureza): no contexto da sexualidade e no contexto religioso, da doutrina e das práticas. No Evangelho segundo São Mateus há uma bela promessa de nosso Senhor, à qual retornaremos mais abaixo: “Bem-aventurados os puros de coração (καθαροι τη καρδια/mundo corde), porque verão Deus!” (Mt 5,8) Para não ser exaustivo, passo diretamente para a impureza (immunditia) citada nas exortações de São Paulo, que muitas vezes é a tradução de duas palavras:  (akatharsia) e  (porneia). Akatharsia  significa  mais  literalmente  a  impureza  do  contexto  ritual.  Porneia  já  vem  do  verbo  vender,  e refere-se mais diretamente à prostituição e aos pecados do âmbito sexual (ex: fornicação, entendida como a relação sexual de pessoas não casadas). Com mais um terceiro termo, (aselgeia – libertinagem, luxúria, licenciosidade), formam as três das primeiras obras da carne (fornicatio, immunditia, luxuria, ou seja, fornicação, impureza e libertinagem), contrárias aos frutos do Espírito. Sendo  assim,  quero  referir-me  principalmente  à  pureza  como  o  antônimo  destas  últimas  coisas  e  como sinônimo daquelas primeiras.

PUREZA NAS ORAÇÕES DO MISSAL ROMANO


Não tendo feito uma pesquisa exaustiva do pedido de pureza nas orações do Missal, seja na Forma Ordinária ou  Extraordinária  do  Rito  Romano,  passemos  para  algumas  orações  mais  conhecidas  e  que  tratam  mais diretamente disto. O  primeiro  lugar  é  a  Præparatio  ad  Missam,  que  inclui  as  Orationes  dicendæ  cum  sacerdos  induitur sacerdotalibus paramentis. Naquela preparação (Forma Extraordinária) temos duas das sete orações, após os cinco salmos, que dizem: Deus,  cui  omne  cor  patet  et  omnis  volúntas  lóquitur,  et  quem  nullum  latet  secrétum:  purífica  per infusiónem Sancti Spíritus cogitatiónes cordis nostri; ut te perfécte dilígere et digne laudáre mereámur. (Ó Deus, que vedes nos refolhos do nosso coração e a quem não escapa o mais secreto movimento da nossa vontade, purificai os pensamentos da nossa alma com a efusão do Espírito Santo, a fim de que vos mereçamos amar perfeitamente e dignamente louvar.


“Ure igne Sancti Spíritus renes nostros et cor nostrum, Dómine: ut tibi casto córpore serviámus, et mundo corde placeámus”. (Queimai, Senhor, com o fogo do Espírito Santo o nosso coração e os nossos rins, e fazei que vos sirvamos castamente e vos agrademos pela pureza do nosso coração.)
 Percebe-se que a Deus se pede não somente a pureza do corpo, mas a pureza do coração, de que a primeira depende  e  é  consequência,  como  disse  o  Senhor:  “Porque  é  do  coração  (de  corde)  que  provêm  os  maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as impurezas, os furtos, os falsos testemunhos, as calúnias” (Mt 15,19).
 Das orações para quando o sacerdote se paramenta, a que acompanha o cíngulo (o cordão que se amarra em volta da cintura para ajustar a alva e prender a estola) realça aqueles frutos do Espírito:
"Præcínge me, Dómine, cíngulo puritátis, et exstíngue in lumbis meis humórem libídinis; ut máneat in me virtus continéntiæ et castitátis”. (Cingi-me, Senhor, com o cíngulo da pureza e extingui em meus rins o fogo da paixão, para que resida em mim a virtude da continência e da castidade.)

Logo depois, no Ordo Missæ (Forma Extraordinária), poder-se-ia citar a oração do sacerdote ao subir ao altar: “Aufer  a  nobis,  quǽsumus,  Dómine,  iniquitátes  nostras:  ut  ad  Sancta  Sanctórum  puris  mereámur méntibus introíre”. (Afastai de nós, Senhor, vos pedimos, as nossas iniquidades, a fim de merecermos entrar de alma pura no Santo dos Santos.) Também a oração do sacerdote antes de proclamar o Evangelho: “Munda cor meum ac lábia mea, omnípotens Deus, qui lábia Isaíæ prophétæ cálculo mundásti igníto: ita me tua grata miseratióne dignáre mundáre, ut sanctum Evangélium tuum digne váleam nuntiáre”. (Purificai-me, Deus onipotente, o coração e os lábios, vós que purificastes os lábios do profeta Isaías com um carvão em brasa; pela vossa misericordiosa bondade. Dignai-vos purificar-me, de modo a tornar-me capaz de proclamar dignamente o vosso santo Evangelho.) A pureza, de um modo geral, é pedida igualmente após a Comunhão, enquanto se faz a ablução dos vasos sagrados: “Quod  ore  súmpsimus,  Dómine,  pura  mente  capiámus:  et  de  múnere  temporáli  fiat  nobis  remédium sempitérnum”. “Corpus tuum, Dómine, quod sumpsi, et Sanguis, quem potávi, adhǽreat viscéribus meis: et præsta; ut in me non remáneat scélerum mácula, quem pura et sancta refecerunt sacramenta”. (Com pureza de alma recebamos, Senhor, o que em nossa boca tomamos. Este dom, que nos foi concedido no tempo, remédio nos seja para a eternidade. O vosso Corpo, Senhor, que eu comi e o vosso Sangue que eu bebi se unam às minhas entranhas; refeito que fui com estes puros e santos sacramentos, fazei que em mim não fique mancha alguma de pecado.)

A Gratiarum actio post Missam(Ação de graças após a missa)  também nos  apresenta tal pedido em algumas orações  (a primeira de  São Tomás de Aquino, a segunda do Papa Clemente XI e a terceira a São José): “[Hæc sancta Commúnio] sit vitiórum meórum evacuátio, concupiscéntiæ et libídinis exterminátio”. ([Esta santa Comunhão] extinga na minha alma os vícios, o ardor da concupiscência e o desejo das coisas que degradam.) “[Fac,  Dómine,]  curem  habére  innocéntiam  interiórem,  modéstiam  exteriórem,  conversatiónem exemplárem, vitam regularem”. ([Fazei,  Senhor,]  que  eu  procure  possuir  pureza  de  coração  e  modéstia  de  costumes,  um  procedimento exemplar e uma vida reta.) “Te per hoc utrúmque caríssimum pignus Iesum et Maríam óbsecro et obtéstor, ut me, ab omni immundítia præservátum, mente incontamináta, puro corde et casto córpore Iesu et Maríæ semper fácias castíssime famulári”. (Em nome de Jesus e de Maria, desse duplo tesouro que vos foi tão caro, vos suplico que me conserveis isento de toda a impureza, para que, com espírito puro e corpo casto, sempre sirva fielmente a Jesus e a Maria.)

A PROMESSA DE DEUS AOS PUROS DE CORAÇÃO

Conforme dito bem mais acima, retornemos à promessa do Senhor: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus!” (Mt 5,8)Esta promessa vem de encontro ao desejo do salmista: “Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei contemplar a face de Deus?” (Sl 41/42,3), desejo este também nosso, sobretudo na Vigília Pascal (Forma Ordinária) e nas Laudes da segunda-feira da II Semana do Saltério, quando rezamos este Salmo. Sendo uma das bem-aventuranças, a pureza de coração consiste em atos, que parecem proceder mais dos dons do Espírito do que das virtudes, e é um meio eficacíssimo para se alcançar a bem-aventurança eterna, porque faz parte da perfeita imitação de Cristo, e porque por ela se dão grandes passos no caminho da perfeição (cf. Compendio di Teologia Ascetica e Mistica, 1361).

 CONCLUSÃO

A pureza de coração, os frutos do Espírito relacionados à pureza (modéstia, continência e castidade, resumidos na continentia ou egkrateia) são necessários para quem procura fazer “a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito” (Rm 12,2). Se os sinais sensíveis da Liturgia significam e realizam a santificação do homem e nela a Igreja presta culto a Deus, a pureza pedida (e também exigida) certamente fica mais próxima de ser alcançada através desta grande obra de Cristo, na qual ele sempre associa a si a Igreja, sua esposa muito amada. Consideremos, portanto, que a participação na Liturgia é indispensável para que se consiga a pureza na vida cristã, para podermos ver a face de Deus, pois sabemos que “Cristo realiza a nossa salvação cada dia nos sacramentos e no seu sacrifício e, por meio deles, purifica continuamente e consagra a Deus o gênero humano” (Encíclica Mediator Dei, 26). Por outro lado, o da exigência, aos que já exercem ministérios na Liturgia da Igreja, sejam bispos, presbíteros ou diáconos, acólitos ou leitores, pessoas instituídas nas ordens menores, cerimoniários, coroinhas, cantores, instrumentistas, leitores, sacristãos, ministros extraordinários da comunhão eucarística, comentaristas, etc., a pureza se torna uma meta especial a ser alcançada, uma marca pela qual se deve distinguir nossa vida. Pouco  a  pouco  nos  tornaremos  mais  semelhantes a  nosso  Senhor,  que  sobre  o  altar  é  oferecido,  o  qual  o sacerdote, no Cânon Romano, declara ser “a hóstia pura, a hóstia santa, a hóstia imaculada”. Tudo isto faz-me lembrar de uma frase do Servo de Deus Pe. João Baptista Reus, SJ, que, embora se relacione à santidade de um modo geral, aplico aqui reclamando uma ênfase implícita à pureza na vida de todos os que exercem ministérios na Sagrada Liturgia:  
“Quão santa não há de ser minha vida só por causa da Santa Missa...”

Fonte: GloriaTv

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Catecismo da Igreja Católica - O Sexto Mandamento

ARTIGO 6
O SEXTO MANDAMENTO
«Não cometerás adultério» (Ex 20, l4) (82).
«Ouvistes que foi dito: "Não cometerás adultério". Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que olhar para uma mulher, desejando-a, já cometeu adultério com ela no seu coração» (Mt 5, 27-28).
I. «Homem e mulher os criou»...

2331. «Deus é amor e vive em Si mesmo um mistério de comunhão pessoal de amor. Ao criar a humanidade do homem e da mulher à sua imagem [...] Deus inscreveu nela a vocaçãopara o amor e para a comunhão e, portanto, a capacidade e a responsabilidade correspondentes» (83).
«Deus criou o homem à sua imagem; [...] homem e mulher os criou» (Gn 1, 27); «Crescei e multiplicai-vos» (Gn 1, 28); «Quando Deus criou o ser humano, fê-lo à semelhança de Deus. Criou-os homem e mulher e abençoou-os; e chamou-lhes «Adão» no dia em que os criou»(Gn 5, 1-2).

2332. A sexualidade afecta todos os aspectos da pessoa humana, na unidade do seu corpo e da sua alma. Diz respeito particularmente à afectividade, à capacidade de amar e de procriar, e, de um modo mais geral, à aptidão para criar laços de comunhão com outrem.

2333. Compete a cada um, homem e mulher, reconhecer e aceitar a sua identidade sexual. A diferença e a complementaridade físicas, morais e espirituais orientam-se para os bens do matrimónio e para o progresso da vida familiar. A harmonia do casal e da sociedade depende, em parte, da maneira como são vividos, entre os sexos, a complementaridade, a necessidade mútua e o apoio recíproco.

2334. «Ao criar o ser humano homem e mulher, Deus conferiu a dignidade pessoal, de igual modo ao homem e à mulher» (84). «O homem é uma pessoa; e isso na mesma medida para o homem e para a mulher, porque ambos são criados à imagem e semelhança dum Deus pessoal» (85).

2335. Cada um dos dois sexos é, com igual dignidade, embora de modo diferente, imagem do poder e da ternura de Deus. A união do homem e da mulher no matrimónio é um modo de imitar na carne a generosidade e a fecundidade do Criador: «O homem deixará o seu pai e a sua mãe para se unir à sua mulher; e os dois serão uma só carne» (Gn 2, 24). Desta união procedem todas as gerações humanas (86).

2336. Jesus veio restaurar a criação na pureza das suas origens. No sermão da montanha, interpreta de modo rigoroso o desígnio de Deus:
«Ouvistes que foi dito: "Não cometerás adultério". Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que olhar para uma mulher, desejando-a, já cometeu adultério com ela no seu coração» (Mt 5, 27-28). Não separe o homem o que Deus uniu (87).
A Tradição da Igreja entendeu o sexto mandamento como englobando o conjunto da sexualidade humana.

II. A vocação à castidade

2337. A castidade significa a integração conseguida da sexualidade na pessoa, e daí a unidade interior do homem no seu ser corporal e espiritual. A sexualidade, na qual se exprime a pertença do homem ao mundo corporal e biológico, torna-se pessoal e verdadeiramente humana quando integrada na relação de pessoa a pessoa, no dom mútuo total e temporalmente ilimitado, do homem e da mulher.
A virtude da castidade engloba, portanto, a integridade da pessoa e a integralidade da doação.

A INTEGRIDADE DA PESSOA

2338. A pessoa casta mantém a integridade das forças de vida e de amor em si depositadas. Esta integridade garante a unidade da pessoa e opõe-se a qualquer comportamento susceptível de a ofender. Não tolera nem a duplicidade da vida, nem a da linguagem (88).

2339. A castidade implica uma aprendizagem do domínio de si, que é uma pedagogia da liberdade humana. A alternativa é clara: ou o homem comanda as suas paixões e alcança a paz, ou se deixa dominar por elas e torna-se infeliz (89). «A dignidade do homem exige que ele proceda segundo uma opção consciente e livre, isto é, movido e determinado por uma convicção pessoal e não sob a pressão de um cego impulso interior ou da mera coacção externa. O homem atinge esta dignidade quando, libertando-se de toda a escravidão das paixões, prossegue o seu fim na livre escolha do bem e se procura de modo eficaz e com diligente iniciativa os meios adequados» (90).

2340. Aquele que quiser permanecer fiel às promessas do seu Baptismo e resistir às tentações, terá o cuidado de procurar os meios: o conhecimento de si, a prática duma ascese adaptada às situações em que se encontra, a obediência aos mandamentos divinos, a prática das virtudes morais e a fidelidade à oração. «A continência, na verdade, recolhe-nos e reconduz-nos àquela unidade que tínhamos perdido, dispersando-nos na multiplicidade» (91).

2341. A virtude da castidade gira na órbita da virtude cardial da temperança, a qual visa impregnar de razão as paixões e os apetites da sensibilidade humana.

2342. O domínio de si é uma obra de grande fôlego. Nunca poderá considerar-se total e definitivamente adquirido. Implica um esforço constantemente retomado, em todas as idades da vida (92); mas o esforço requerido pode ser mais intenso em certas épocas, como quando se forma a personalidade, durante a infância e a adolescência.

2343. A castidade conhece leis de crescimento e passa por fases marcadas pela imperfeição, muitas vezes até pelo pecado. O homem virtuoso e casto «constrói-se dia a dia com as suas numerosas decisões livres. Por isso, conhece, ama e cumpre o bem moral segundo fases de crescimento» (93).

2344. A castidade representa uma tarefa eminentemente pessoal; implica também um esforço cultural, porque existe «interdependência entre o desenvolvimento da pessoa e o da própria sociedade» (94). A castidade pressupõe o respeito pelos direitos da pessoa, particularmente o de receber uma informação e educação que respeitem as dimensões morais e espirituais da vida humana.

2345. A castidade é uma virtude moral. Mas é também um dom de Deus, uma graça, um fruto do trabalho espiritual (95). O Espírito Santo concede a graça de imitar a pureza de Cristo (96) àquele que regenerou pela água do Baptismo.

A INTEGRALIDADE DO DOM DE SI

2346. A caridade é a forma de todas as virtudes. Sob a sua influência, a castidade aparece como uma escola de doação da pessoa. O domínio de si ordena-se para o dom de si. A castidade leva quem a pratica a tornar-se, junto do próximo, testemunha da fidelidade e da ternura de Deus.

2347. A virtude da castidade expande-se na amizade. Indica ao discípulo o modo de seguir e imitar Aquele que nos escolheu como seus próprios amigos (97), que Se deu totalmente a nós e nos faz participar da sua condição divina. A castidade é promessa de imortalidade.
A castidade exprime-se especialmente na amizade para com o próximo. Desenvolvida entre pessoas do mesmo sexo ou de sexos diferentes, a amizade representa um grande bem para todos. Conduz à comunhão espiritual.

OS DIVERSOS REGIMES DA CASTIDADE

2348. Todo o baptizado é chamado à castidade. O cristão «revestiu-se de Cristo» (98), modelo de toda a castidade. Todos os fiéis de Cristo são chamados a levar uma vida casta, segundo o seu estado de vida particular. No momento do seu Baptismo, o cristão comprometeu-se a orientar a sua afectividade na castidade.

2349. «A castidade deve qualificar as pessoas segundo os seus diferentes estados de vida: uns, na virgindade ou celibato consagrado, forma eminente de se entregarem mais facilmente a Deus com um coração indiviso: outros, do modo que a lei moral para todos determina, e conforme são casados ou solteiros» (99). As pessoas casadas são chamadas a viver a castidade conjugal; as outras praticam a castidade na continência:
«Existem três formas da virtude da castidade: uma, das esposas: outra, das viúvas; a terceira, da virgindade. Não louvamos uma com exclusão das outras. [...] É nisso que a disciplina da Igreja é rica» (100).
2350. Os noivos são chamados a viver a castidade na continência. Eles farão, neste tempo de prova, a descoberta do respeito mútuo, a aprendizagem da fidelidade e da esperança de se receberem um ao outro de Deus. Reservarão para o tempo do matrimónio as manifestações de ternura específicas do amor conjugal. Ajudar-se-ão mutuamente a crescer na castidade.

AS OFENSAS À CASTIDADE

2351. A luxúria é um desejo desordenado ou um gozo desregrado de prazer venéreo. O prazer sexual é moralmente desordenado quando procurado por si mesmo, isolado das finalidades da procriação e da união.

2352. Por masturbação entende-se a excitação voluntária dos órgão genitais, para daí retirar um prazer venéreo. «Na linha duma tradição constante, tanto o Magistério da Igreja como o sentido moral dos fiéis têm afirmado sem hesitação que a masturbação é um acto intrínseca e gravemente desordenado». «Seja qual for o motivo, o uso deliberado da faculdade sexual fora das normais relações conjugais contradiz a finalidade da mesma». O prazer sexual é ali procurado fora da «relação sexual requerida pela ordem moral, que é aquela que realiza, no contexto dum amor verdadeiro, o sentido integral da doação mútua e da procriação humana» (101).
Para formar um juízo justo sobre a responsabilidade moral dos sujeitos, e para orientar a acção pastoral, deverá ter-se em conta a imaturidade afectiva, a força de hábitos contraídos, o estado de angústia e outros factores psíquicos ou sociais que podem atenuar, ou até reduzir ao mínimo, a culpabilidade moral.

2353. A fornicação é a união carnal fora do matrimónio entre um homem e uma mulher livres. É gravemente contrária à dignidade das pessoas e da sexualidade humana, naturalmente ordenada para o bem dos esposos, assim como para a geração e educação dos filhos. Além disso, é um escândalo grave, quando há corrupção dos jovens.

2354. A pornografia consiste em retirar os actos sexuais, reais ou simulados, da intimidade dos parceiros, para os exibir a terceiras pessoas, de modo deliberado. Ofende a castidade, porque desnatura o acto conjugal, doação íntima dos esposos um ao outro. É um grave atentado contra a dignidade das pessoas intervenientes (actores, comerciantes, público), uma vez que cada um se torna para o outro objecto dum prazer vulgar e dum lucro ilícito. E faz mergulhar uns e outros na ilusão dum mundo fictício. É pecado grave. As autoridades civis devem impedir a produção e a distribuição de material pornográfico.

2355. A prostituição é um atentado contra a dignidade da pessoa que se prostitui, reduzida ao prazer venéreo que dela se tira. Quem paga, peca gravemente contra si mesmo: quebra a castidade a que o obriga o seu Baptismo e mancha o seu corpo, que é templo do Espírito Santo (102). A prostituição constitui um flagelo social. Envolve habitualmente mulheres, mas também homens, crianças ou adolescentes (nestes dois últimos casos, o pecado duplica com o escândalo). É sempre gravemente pecaminoso entregar-se à prostituição; mas a miséria, a chantagem e a pressão social podem atenuar a imputabilidade do pecado.

2356. A violação designa a entrada na intimidade sexual duma pessoa à força, com violência. É um atentado contra a justiça e a caridade. A violação ofende profundamente o direito de cada um ao respeito, à liberdade e à integridade física e moral. Causa um prejuízo grave, que pode marcar a vítima para toda a vida. É sempre um acto intrinsecamente mau. É mais grave ainda, se cometido por parentes próximos (incesto) ou por educadores contra crianças a eles confiadas.

CASTIDADE E HOMOSSEXUALIDADE

2357 A homossexualidade designa as relações entre homens ou mulheres, que experimentam uma atracção sexual exclusiva ou predominante para pessoas do mesmo sexo. Tem-se revestido de formas muito variadas, através dos séculos e das culturas. A sua génese psíquica continua em grande parte por explicar. Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves (103) a Tradição sempre declarou que «os actos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados» (104). São contrários à lei natural, fecham o acto sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afectiva sexual, não podem, em caso algum, ser aprovados.

2358. Um número considerável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente radicadas. Esta propensão, objectivamente desordenada, constitui, para a maior parte deles, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar devido à sua condição.

2359. As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes do autodomínio, educadoras da liberdade interior, e, às vezes, pelo apoio duma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem aproximar-se, gradual e resolutamente, da perfeição cristã.

III. O amor dos esposos

2360. A sexualidade ordena-se para o amor conjugal do homem e da mulher. No matrimónio, a intimidade corporal dos esposos torna-se sinal e penhor de comunhão espiritual. Entre os baptizados, os laços do matrimónio são santificados pelo sacramento.
2361. «A sexualidade, mediante a qual o homem e a mulher se dão um ao outro com os actos próprios e exclusivos dos esposos, não é algo de puramente biológico, mas diz respeito à pessoa humana como tal, no que ela tem de mais íntimo. Esta só se realiza de maneira verdadeiramente humana se for parte integrante do amor com o qual homem e mulher se comprometem totalmente um para com o outro até à morte» (105).
«Tobias ergueu-se do leito e disse [...] [a Sara]: "Irmã, levanta-te; vamos orar ao Senhor e pedir-lhe que nos conceda a sua misericórdia e salvação". Levantaram-se ambos e puseram-se a orar e a implorar que lhes fosse enviada a salvação, dizendo: "Bendito sejas, Deus dos nossos pais [...]. Tu criaste Adão e deste-lhe Eva, sua esposa, como amparo valioso, e de ambos procedeu o género humano. Com efeito, disseste: 'Não é bom que o homem esteja só; façamos-lhe uma auxiliar semelhante a ele'. Agora, Senhor, Tu bem sabes que não é por luxúria que agora tomo por esposa esta minha irmã, mas é com intenção pura. Permite, pois, que eu e ela encontremos misericórdia e cheguemos juntos à velhice» (Tb8, 4-9).
2362. «Os actos pelos quais os esposos se unem íntima e castamente são honestos e dignos; realizados de modo autenticamente humano, exprimem e alimentam a mútua entrega pela qual se enriquecem um ao outro com alegria e gratidão» (106). A sexualidade é fonte de alegria e de prazer:
«Foi o próprio Criador Quem [...] estabeleceu que, nesta função [da geração], os esposos experimentassem prazer e satisfação do corpo e do espírito. Portanto, os esposos não fazem nada de mal ao procurar este prazer e gozar dele. Aceitam o que o Criador lhes destinou. No entanto, devem saber manter-se dentro dos limites duma justa moderação» (107).
 2363. Pela união dos esposos realiza-se o duplo fim do matrimónio: o bem dos próprios esposos e a transmissão da vida. Não podem separar-se estes dois significados ou valores do matrimónio sem alterar a vida espiritual do casal nem comprometer os bens do matrimónio e o futuro da família.
O amor conjugal do homem e da mulher está, assim, colocado sob a dupla exigência da fidelidade e da fecundidade.

A FIDELIDADE CONJUGAL

2364. Ambos os esposos constituem «uma íntima comunidade de vida e de amor, fundada pelo Criador e por Ele dotada de leis próprias». Esta comunidade «é instaurada pela aliança conjugal, ou seja, por um irrevogável consentimento pessoal» (108). Os dois entregam-se, definitiva e totalmente, um ao outro. Doravante, já não são dois, mas uma só carne. A aliança livremente contraída pelos esposos impõe-lhes a obrigação de a manter una e indissolúvel (109). «O que Deus uniu, não o separe o homem»(Mc 10, 9) (110).

2365. A fidelidade exprime a constância em manter a palavra dada. Deus é fiel. O sacramento do matrimónio introduz o homem e a mulher na fidelidade de Cristo à sua Igreja. Pela castidade conjugal, eles dão testemunho deste mistério perante o mundo.
São João Crisóstomo sugere aos jovens casados que façam este discurso às suas esposas: «Tomei-te nos meus braços, amo-te e prefiro-te à minha própria vida. Porque a vida presente não é nada e o meu sonho mais ardente é passá-la contigo, de tal maneira que tenhamos a certeza de não ser separados naquela que nos está reservada [...]. Eu ponho o teu amor acima de tudo, e nada me seria mais penoso do que não ter os mesmos pensamentos que tu» (111).
A FECUNDIDADE DO MATRIMÓNIO

2366. A fecundidade é um dom, uma finalidade do matrimónio, porque o amor conjugal tende naturalmente a ser fecundo. O filho não vem de fora juntar-se ao amor mútuo dos esposos; surge no próprio coração deste dom mútuo, do qual é fruto e complemento. Por isso, a Igreja, que «toma partido pela vida» (112), ensina que «todo o acto matrimonial deve, por si estar aberto à transmissão da vida» (113). «Esta doutrina, muitas vezes exposta pelo Magistério, funda-se sobre o nexo indissolúvel estabelecido por Deus e que o homem não pode quebrar por sua iniciativa, entre os dois significados inerentes ao acto conjugal: união e procriação» (114).

2367. Chamados a dar a vida, os esposos participam do poder criador e da paternidade de Deus (115). «No dever de transmitir e educar a vida humana – dever que deve ser considerado como a sua missão própria – saibam os esposos que são cooperadores do amor de Deus e como que os seus intérpretes. Cumprirão, pois, esta missão, com responsabilidade humana e cristã» (116).

2368. Um aspecto particular desta responsabilidade diz respeito à regulação da procriação.Os esposos podem querer espaçar o nascimento dos seus filhos por razões justificadas (117). Devem, porém, verificar se tal desejo não procede do egoísmo, e se está de acordo com a justa generosidade duma paternidade responsável. Além disso, regularão o seu comportamento segundo os critérios objectivos da moralidade:
«Quando se trata de conciliar o amor conjugal com a transmissão responsável da vida, a moralidade do comportamento não depende apenas da sinceridade da intenção e da apreciação dos motivos; deve também determinar-se por critérios objectivos, tomados da natureza da pessoa e dos seus actos; critérios que respeitem, num contexto de autêntico amor, o sentido da mútua doação e da procriação humana. Tudo isto só é possível, se se cultivar sinceramente a virtude da castidade conjugal» (118).
2369. «É salvaguardando estes dois aspectos essenciais, união e procriação, que o acto conjugal conserva integralmente o sentido de mútuo e verdadeiro amor e a sua ordenação para a altíssima vocação do homem para a paternidade» (119).

2370. A continência periódica, os métodos de regulação dos nascimentos baseados na auto-observação e no recurso aos períodos infecundos (120), são conformes aos critérios objectivos da moralidade. Estes métodos respeitam o corpo dos esposos, estimulam a ternura entre eles e favorecem a educação duma liberdade autêntica. Em contrapartida, é intrinsecamente má «qualquer acção que, quer em previsão do acto conjugal, quer durante a sua realização, quer no desenrolar das suas consequências naturais, se proponha, como fim ou como meio, tornar impossível a procriação» (121).
«À linguagem que exprime naturalmente a doação recíproca e total dos esposos, a contracepção opõe uma linguagem objectivamente contraditória, segundo a qual já não se trata de se darem totalmente um ao outro. Daí deriva, não somente a recusa positiva da abertura à vida, mas também uma falsificação da verdade interna do amor conjugal, chamado a ser um dom da pessoa toda. [...] Esta diferença antropológica e moral, entre a contracepção e o recurso aos ritmos periódicos, implica dois conceitos de pessoa e de sexualidade humana irredutíveis um ao outro» (122).
2371. «Aliás, todos devem ter bem presente que a vida humana e a missão de a transmitir não se limitam aos horizontes deste mundo, nem podem ser medidas ou compreendidas unicamente em função dele, mas estão sempre relacionadas com o destino eterno do homem» (123).

2372. O Estado é responsável pelo bem-estar dos cidadãos. A tal título, é legítimo que intervenha para orientar o crescimento da população. Pode fazê-lo mediante uma informação objectiva e respeitosa, não porém com imposições autoritárias e obrigatórias. O Estado não pode legitimamente substituir-se à iniciativa dos esposos, primeiros responsáveis pela procriação e educação dos seus filhos (124). Neste domínio, não tem autoridade para intervir com medidas contrárias à lei moral.

O DOM DO FILHO

2373. A Sagrada Escritura e a prática tradicional da Igreja vêem nas famílias numerosas um sinal da bênção divina e da generosidade dos pais (125).

2374. É grande o sofrimento dos casais que descobrem que são estéreis. «Que me dareis, Senhor Deus?» – pergunta Abraão a Deus. «Vou-me sem filhos...» (Gn 15, 2). – «Dá-me filhos ou então morro!» – grita Raquel ao seu marido Jacob (Gn 30, 1).

2375. As pesquisas que se destinam a reduzir a esterilidade humana devem ser encorajadas, com a condição de serem colocadas «ao serviço da pessoa humana, dos seus direitos inalienáveis e do seu bem verdadeiro e integral, em conformidade com o projecto e a vontade de Deus» (126).

2376. As técnicas que provocam a dissociação dos progenitores pela intervenção duma pessoa estranha ao casal (dádiva de esperma ou ovócito, empréstimo de útero) são gravemente desonestas. Estas técnicas (inseminação e fecundação artificial heteróloga) lesam o direito do filho a nascer dum pai e duma mãe seus conhecidos e unidos entre si pelo casamento. E atraiçoam «o direito exclusivo a não serem nem pai nem mãe senão um pelo outro» (127).

2377. Praticadas no seio do casal, estas técnicas (inseminação e fecundação artificial homóloga) são talvez menos prejudiciais, mas continuam moralmente inaceitáveis. Dissociam o acto sexual do acto procriador. O acto fundador da existência do filho deixa de ser um acto pelo qual duas pessoas se dão uma à outra, e «remete a vida e a identidade do embrião para o poder dos médicos e biólogos. Instaurando o domínio da técnica sobre a origem e destino da pessoa humana. Tal relação de domínio é, de si, contrária à dignidade e à igualdade que devem ser comuns aos pais e aos filhos» (128). «A procriação é moralmente privada da sua perfeição própria, quando não é querida como fruto do acto conjugal, isto é, do gesto específico da união dos esposos. [...] Só o respeito pelo laço que existe entre os significados do acto conjugal e o respeito pela unidade do ser humano permite uma procriação conforme à dignidade da pessoa» (129).

2378O filho não é uma dívida, é uma dádiva. O «dom mais excelente do matrimónio» é uma pessoa humana. O filho não pode ser considerado como objecto de propriedade, conclusão a que levaria o reconhecimento dum pretenso «direito ao filho». Neste domínio, só o filho é que possui verdadeiros direitos: o de «ser fruto do acto específico do amor conjugal dos seus pais, e também o de ser respeitado como pessoa desde o momento da sua concepção» (130).

2379. O Evangelho mostra que a esterilidade física não é um mal absoluto. Os esposos que, depois de esgotados os recursos médicos legítimos, sofrem de infertilidade, associar-se-ão à cruz do Senhor, fonte de toda a fecundidade espiritual. Podem mostrar a sua generosidade adoptando crianças abandonadas ou realizando serviços significativos em favor do próximo.

IV. As ofensas à dignidade do matrimónio

2380. O adultério. É o termo que designa a infidelidade conjugal. Quando dois parceiros, dos quais pelo menos um é casado, estabelecem entre si uma relação sexual, mesmo efémera, cometem adultério. Cristo condena o adultério, mesmo de simples desejo (131). O sexto mandamento e o Novo Testamento proíbem absolutamente o adultério (132). Os profetas denunciam-lhe a gravidade. E vêem no adultério a figura do pecado da idolatria (133).

2381. O adultério é uma injustiça. Aquele que o comete, falta aos seus compromissos. Viola o sinal da Aliança, que é o vínculo matrimonial, lesa o direito do outro cônjuge e atenta contra a instituição do matrimónio, violando o contrato em que assenta. Compromete o bem da geração humana e dos filhos que têm necessidade da união estável dos pais.

O DIVÓRCIO

2382. O Senhor Jesus insistiu na intenção original do Criador, que queria um matrimónio indissolúvel (134). E abrogou as tolerâncias que se tinham infiltrado na antiga Lei (135).
Entre baptizados, «o matrimónio rato e consumado não pode ser dissolvido por nenhum poder humano, nem por nenhuma causa, além da morte» (136).

2383. A separação dos esposos, permanecendo o vínculo matrimonial, pode ser legítima em certos casos previstos pelo direito canónico (137).
Se o divórcio civil for a única maneira possível de garantir certos direitos legítimos, tais como o cuidado dos filhos ou a defesa do património, pode ser tolerado sem constituir falta moral.

2384. O divórcio é uma ofensa grave à lei natural. Pretende romper o contrato livremente aceite pelos esposos de viverem um com o outro até à morte. O divórcio é uma injúria contra a aliança da salvação, de que o matrimónio sacramental é sinal. O facto de se contrair nova união, embora reconhecida pela lei civil, aumenta a gravidade da ruptura: o cônjuge casado outra vez encontra-se numa situação de adultério público e permanente:
«Não é lícito ao homem, despedida a esposa, casar com outra; nem é legítimo que outro tome como esposa a que foi repudiada pelo marido»(138).
2385. O carácter imoral do divórcio advém-lhe também da desordem que introduz na célula familiar e na sociedade. Esta desordem traz consigo prejuízos graves: para o cônjuge que fica abandonado; para os filhos, traumatizados pela separação dos pais e, muitas vezes, objecto de contenda entre eles; e pelo seu efeito de contágio, que faz dele uma verdadeira praga social.

2386. Pode acontecer que um dos cônjuges seja a vítima inocente do divórcio declarado pela lei civil; esse, então, não viola o preceito moral. Há uma grande diferença entre o cônjuge que sinceramente se esforçou por ser fiel ao sacramento do matrimónio e se vê injustamente abandonado, e aquele que, por uma falta grave da sua parte, destrói um matrimónio canonicamente válido (139).

OUTRAS OFENSAS À DIGNIDADE DO MATRIMÓNIO

2387. É compreensível o drama daquele que, desejoso de se converter ao Evangelho, se vê obrigado a repudiar uma ou mais mulheres com quem partilhou anos de vida conjugal. Contudo, a poligamia não está de acordo com a lei moral. «Opõe-se radicalmente à comunhão conjugal: porque nega, de modo directo, o desígnio de Deus, tal como nos foi revelado no princípio e é contrária à igual dignidade pessoal da mulher e do homem, os quais, no matrimónio, se dão um ao outro num amor total que, por isso mesmo, é único e exclusivo»(140). O cristão que anteriormente foi polígamo é gravemente obrigado, por justiça, a honrar as obrigações contraídas para com as suas antigas mulheres e respectivos filhos.

2388. O incesto designa relações íntimas entre parentes ou afins, num grau que proíbe o matrimónio entre eles (141). São Paulo estigmatiza esta falta particularmente grave: «É voz corrente que existe entre vós um caso de imoralidade [...] ao ponto de certo homem viver com a mulher de seu pai! [...] Em nome do Senhor Jesus [...], que esse homem seja entregue a Satanás [...] para ruína do seu corpo» (1 Cor 5, 1. 4-5). O incesto corrompe as relações familiares e representa uma regressão à animalidade.

2389. Podem relacionar-se com o incesto os abusos sexuais cometidos por adultos em relação a crianças ou adolescentes confiados à sua guarda. Nesse caso a culpa é dupla por se tratar dum escandaloso atentado contra a integridade física e moral dos jovens, que assim ficarão marcados para toda a sua vida e duma violação da responsabilidade educativa.

2390.  união livre quando homem e mulher recusam dar forma jurídica e pública a uma ligação que implica intimidade sexual.
A expressão é falaciosa: que pode significar uma união em que as pessoas não se comprometem uma para com a outra, testemunhando assim uma falta de confiança na outra, em si mesmas, ou no futuro?
A expressão tenta camuflar situações diferentes: concubinato, recusado matrimónio como tal, incapacidade de se ligar por compromissos a longo prazo (142). Todas estas situações ofendem a dignidade do matrimónio; destroem a própria ideia de família; enfraquecem o sentido da fidelidade. São contrárias à lei moral: o acto sexual deve ter lugar exclusivamente no matrimónio; fora dele constitui sempre um pecado grave e exclui da comunhão sacramental.

2391. Hoje em dia, há muitos que reclamam uma espécie de «direito à experiência», quando há intenção de contrair matrimónio. Seja qual for a firmeza do propósito daqueles que enveredam por relações sexuais prematuras, «estas não permitem assegurar que a sinceridade e a fidelidade da relação interpessoal dum homem e duma mulher fiquem a salvo nem, sobretudo, que esta relação fique protegida de volubilidade dos desejos e dos caprichos»(143). A união carnal só é legítima quando se tiver instaurado uma definitiva comunidade de vida entre o homem e a mulher. O amor humano não tolera o «ensaio». Exige o dom total e definitivo das pessoas entre si (144).

Resumindo:

2392. «O amor é a vocação fundamental e inata de todo o ser humano» (145).
2393. Ao criar o ser humano homem e mulher, Deus conferiu a dignidade pessoal, de igual modo, a um e a outra. Compete a cada um, homem e mulher, reconhecer e aceitar a sua identidade sexual.
2394. Cristo é o modelo da castidade. Todo o baptizado é chamado a levar uma vida casta, cada um segundo o seu próprio estado de vida.
2395. A castidade significa a integração da sexualidade na pessoa. Implica a aprendizagem do autodomínio.
2396. Entre os pecados gravemente contrários à castidade, devem citar-se: a masturbação, a fornicação, a pornografia e as práticas homossexuais.
2397. A aliança livremente contraída pelos esposos implica um amor fiel. Ele impõe-lhes a obrigação de guardar indissolúvel o seu matrimónio.
2398. A fecundidade é um bem, um dom, uma finalidade do matrimónio. Dando a vida, os esposos participam da paternidade de Deus.
2399. A regulação dos nascimentos representa um dos aspectos da paternidade e da maternidade responsáveis. A legitimidade das intenções dos esposos não justifica o recurso a meios moralmente inadmissíveis (por exemplo, a esterilização directa ou a contracepção).
2400. O adultério e o divórcio, a poligamia e a união livre são ofensas graves à dignidade do matrimónio.

Fonte:Vatican,va

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

São Josemaría Escrivá - Pureza (Capítulo do livro "Sulco")



831 A castidade - a de cada um no seu estado: solteiro, casado, viúvo, sacerdote - é uma triunfante afirmação do amor.

832 O “milagre” da pureza tem como pontos de apoio a oração e a mortificação.

833 A tentação contra a castidade demonstra-se tanto mais perigosa quanto mais dissimulada: por se apresentar insidiosamente, engana melhor. - Não transijas, nem sequer com a desculpa de não “parecer estranho”!

834 A santa pureza: humildade da carne! Senhor - pedias-Lhe -, sete chaves para o meu coração. E aconselhei-te que Lhe pedisses sete chaves para o teu coração e, também, oitenta anos de gravidade para a tua juventude... Além disso, vigia..., porque mais depressa se apaga uma fagulha do que um incêndio; foge..., porque aqui é uma vil covardia ser “valente”; não andes com os olhos esparramados..., porque isso não indica ânimo desperto, mas insídia de satanás. Mas toda essa diligência humana, junto com a mortificação, o cilício, a disciplina e o jejum, que pouco valem sem Ti, meu Deus!

835 Assim matou aquele confessor a concupiscência de uma alma delicada, que se acusou de certas curiosidades: - “Ora! Instintos de machos e de fêmeas!”.

836 Tão logo se admite voluntariamente esse diálogo, a tentação tira paz à alma, do mesmo modo que a impureza consentida destrói a graça.

837 Seguiu o caminho da impureza com todo o seu corpo... e com toda a sua alma. - A sua fé foi-se esfumando..., embora saiba muito bem que não é problema de fé.

838 “O senhor disse-me que se pode chegar a ser `outro' Santo Agostinho, depois do meu passado. Não duvido, e hoje mais do que ontem quero esforçar-me por comprová-lo”. Mas tens de cortar valentemente e pela raiz, como o santo bispo de Hipona.

839 Sim, pede perdão contrito, e faz abundante penitência pelos acontecimentos impuros da tua vida passada - mas não queiras recordá-los.

840 Essa conversa... suja, de cloaca! - Não basta que não a secundes: manifesta energicamente a tua repugnância!

841 É como se o “espírito” se fosse reduzindo, empequenecendo, até ficar num pontinho... E o corpo aumenta, agiganta-se até dominar. - Foi para ti que São Paulo escreveu: “Castigo o meu corpo e o reduzo à escravidão, não seja que, tendo pregado aos outros, venha eu a ser reprovado”.

842 Que pena dão os que afirmam - pela sua triste experiência pessoal - que não se pode ser casto vivendo e trabalhando no meio do mundo! - Com esse raciocínio ilógico, não deveriam incomodar-se se alguém ofende a memória de seus pais, de seus irmãos, da sua mulher, do seu marido.

843 Aquele confessor, um pouco rude, mas experiente, conteve os desvarios de uma alma e os reduziu à ordem com esta afirmação: “Andas agora por caminhos de gado; depois conformar-te-ás em ir pelos das cabras; e depois..., sempre como um animal, que não sabe olhar para o céu”.

844 Talvez sejas... isso mesmo, o que és: um animalzinho. - Mas tens de reconhecer que outros são íntegros e castos. Ah!, e não te irrites depois, quando não contarem contigo ou quando te ignorarem: eles e elas organizam os seus planos humanos com pessoas que têm alma e corpo..., não com animais.

845 Há quem traga filhos ao mundo para o seu benefício, para o seu serviço, para o seu egoísmo... E não se lembram de que são um dom maravilhoso do Senhor, do qual terão que prestar contas especialíssimas. Trazer filhos, somente para continuar a espécie, também o sabem fazer - não te zangues comigo - os animais.

846 Um casal cristão não pode desejar cegar as fontes da vida. Porque o seu amor se fundamenta no Amor de Cristo, que é entrega e sacrifício... Além disso, como Tobias recordava a Sara, os esposos sabem que “nós somos filhos de santos, e não podemos juntar-nos à maneira dos gentios, que não conhecem a Deus”.

847 Quando éramos pequenos, procurávamos grudar-nos à nossa mãe, ao passarmos por caminhos escuros ou por onde havia cachorros. Agora, ao sentirmos as tentações da carne, devemos chegar-nos estreitamente à Nossa Mãe do Céu, por meio da sua presença bem próxima e por meio das jaculatórias. - Ela nos defenderá e nos levará à luz.

848 Pensa, que são mais homens, ou mais mulheres, por levarem essa vida desordenada. Vê-se que os que raciocinam assim colocam o seu ideal de pessoa nas meretrizes, nos invertidos, nos degenerados..., naqueles que têm o coração podre e não poderão entrar no Reino dos Céus.

849 Permite-me um conselho, para que o ponhas em prática diariamente. Quando o coração te fizer notar as suas baixas tendências, reza devagar à Virgem Imaculada: Olha-me com compaixão, não me deixes, minha Mãe! - E aconselha-o assim a outros.


Fonte: http://www.escrivaworks.org.br/book/sulco-capitulo-26.htm

Questionário sobre a luta pela castidade - Pe. Francisco Faus



─ Encaro a castidade que Deus nos pede, como uma virtude pela qual vale a pena esforçar-se – com fortaleza e otimismo – , e procurar que cresça e ganhe cada vez mais pureza e delicadeza?

─ Compreendo que dizer que “é quase impossível superar esse tipo de pecados”, enquanto nos colocamos na boca do lobo e fazemos equilíbrios na corda bamba da tentação, é uma justificativa que não justifica nada?

─ “Fujo” das ocasiões, ou brinco com fogo, dando razão ao provérbio que diz que “o homem é o único animal que tropeça duas vezes na mesma pedra”, simplesmente porque não a evita?

─ Será que me convenço a mim mesmo, quando digo que não acontece nada por assistir a filmes pornográficos na televisão, ou por vasculhar por curiosidade tudo quanto é material do mesmo tipo na Internet e nas outras redes?

─ Peço a Deus que me ajude a me livrar de hábitos contrários à castidade, vícios que, quanto mais alimentados, mais podem descambar para formas deturpadas e até aberrantes de sexualidade?

─ Faço “novelas” inconvenientes com a minha imaginação? Não luto para desligar esses “filmes” íntimos, rezando e desviando a imaginação para outras coisas positivas que não ofendam a Deus?

─ Confesso-me com frequência – por exemplo, uma vez por mês – para fortalecer a minha alma (a inteligência e a vontade) com a graça desse Sacramento? Venço o “demônio mudo”, que me impele a calar, dominado pela vergonha, quando as faltas contra a castidade se repetem por longo tempo? Não percebo que a confissão frequente é uma arma poderosa para desarraigar esses hábitos sensuais?

─ Entendo que a castidade é uma virtude que valoriza o grande dom de Deus que é o sexo? Entendo que o sexo foi dado ao ser humano – filho de Deus – como um modo de participar do Amor de Deus e do seu poder Criador?

─ Vejo, por isso, que o sexo vivido como Deus quer, no matrimônio, é um meio de crescer na união e no amor dos esposos – santo, ardente e fecundo –, e de colaborar com o Criador na vinda de filhos de Deus, que receberão dEle uma alma imortal e um destino eterno?

─ Agradeço a Deus que me faça compreender que a luta pela castidade não é repressão negativa, nem ódio ou desprezo pelo corpo, mas – pelo contrário – a maior valorização da dignidade do corpo, exercendo o sexo dentro do plano sábio e amoroso de Deus?


Conclusões (Procure tirar as suas conclusões e anotá-las)

Fonte: http://www.padrefaus.org/archives/1641

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

A Santa Pureza - São Josemaría Escrivá (Capítulo do livro "Caminho")


118 Deus concede a santa pureza aos que a pedem com humildade.

119 Que bela é a santa pureza! Mas não é santa nem agradável a Deus, se a separamos da caridade.

A caridade é a semente que crescerá e dará frutos saborosíssimos com a rega que é a pureza.

Sem caridade, a pureza é infecunda, e as suas águas estéreis convertem as almas num lamaçal, num charco imundo, donde saem baforadas de soberba.

120 Pureza?, perguntam. E sorriem. - São os mesmos que vão para o matrimônio com o corpo murcho e a alma desiludida.

Prometo-vos um livro - se Deus me ajudar - que poderá ter este título: “Celibato, Matrimônio e Pureza”.

121 É necessária uma cruzada de virilidade e de pureza que enfrente e anule o trabalho selvagem daqueles que pensam que o homem é uma besta.

- E essa cruzada é obra vossa.

122 Muitos vivem como anjos no meio do mundo. - Tu... por que não?

123 Quando te decidires com firmeza a ter vida limpa, a castidade não será para ti um fardo; será coroa triunfal.

124 Escreveste-me, médico apóstolo: “Todos sabemos por experiência que podemos ser castos, vivendo vigilantes, freqüentando os Sacramentos e apagando as primeiras chispas da paixão, sem deixar que ganhe corpo a fogueira.

“É precisamente entre os castos que se contam os homens mais íntegros, sob todos os aspectos. E entre os luxuriosos predominam os tímidos, os egoístas, os falsos e os cruéis, que são tipos de pouca virilidade”.

125 Eu quereria - disseste-me - que João, o Apóstolo adolescente, tivesse uma confidência comigo e me desse conselhos; e me animasse a conseguir a pureza do meu coração.

Se na verdade o queres, dize-lhe isso. E sentirás ânimo e terás conselho.

126 A gula é a vanguarda da impureza.

127 Não queiras dialogar com a concupiscência; despreza-a.

128 O pudor e a modéstia são os irmãos menores da pureza.

129 Sem a santa pureza, não se pode perseverar no apostolado.

130 Tira-me, Jesus, esta crosta suja de podridão sensual que me recobre o coração, para que sinta e siga com facilidade os toques do Paráclito na minha alma.

131 Nuncas fales, nem sequer para te lamentares, de coisas ou acontecimentos impuros. Olha que é matéria mais pegajosa que o piche. - Muda de conversa, e, se não é possível, continua, falando da necessidade e formosura da santa pureza, virtude de homens que sabem o que vale a sua alma.

132 Não tenhas a covardia de ser “valente”; foge!

133 Os santos não foram seres disformes, casos de estudo para um médico modernista.

Foram e são normais; de carne, como a tua. - E venceram.

134 Ainda que a carne se vista de seda... - dir-te-ei, quando te vir vacilar diante da tentação, que oculta a sua impureza sob pretextos de arte, de ciência..., de caridade!

Dir-te-ei, com palavras de um velho ditado espanhol: “Ainda que a carne se vista de seda, carne se queda”*

(*) O ditado original diz: "Aunque la macaca se vista de seda, macaca se queda", continua a ser macaca (N. do T.).

135 Se soubesses o que vales!... É São Paulo quem te diz: foste comprado "pretio magno" - por alto preço.

E depois continua: "Glorificate et portate Deum in corpore vestro" - glorifica a Deus e traze-O em teu corpo.

136 Quando procuraste a companhia de uma satisfação sensual... - depois, que solidão!

137 E pensar que por uma satisfação de um momento, que deixou em ti travos de fel e azebre, perdeste “o caminho”!

138 "Infelix ego homo! Quis me liberabit de corpore mortis hujus?" - Pobre de mim! Quem me livrará deste corpo de morte? - Assim clama São Paulo. - Anima-te. Ele também lutava.

139 À hora da tentação, pensa no Amor que te espera no Céu. Fomenta a virtude da esperança, que não é falta de generosidade.

140 Não te preocupes, aconteça o que acontecer, desde que não consintas. - Porque só a vontade pode abrir a porta do coração e introduzir nele essas coisas execráveis.

141 Na tua alma, parece que ouves materialmente: “Esse preconceito religioso!...” - E depois, a defesa eloqüente de todas as misérias da nossa pobre carne decaída: “os seus direitos!”

Quando isto te acontecer, diz ao inimigo que há lei natural e lei de Deus, e Deus! - E também inferno.

142 "Domine!" - Senhor! - "si vis, potes me mundare" - se quiseres, podes curar-me.

- Que bela oração para que a digas muitas vezes, com a fé do pobre leproso, quando te acontecer o que Deus e tu e eu sabemos! - Não tardarás a sentir a resposta do Mestre: "Volo, mundare!" - Quero, sê limpo!

143 Para defender a sua pureza, São Francisco revolveu-se na neve, São Bento jogou-se num silvado, São Bernardo mergulhou num tanque gelado...

- Tu, que fizeste?

144 A pureza limpidíssima de toda a vida de João torna-o forte diante da Cruz. - Os outros Apóstolos fogem do Gólgota; ele, com a Mãe de Cristo, fica.

- Não esqueças que a pureza fortalece, viriliza o caráter.

145 Frente de Madrid. Uma vintena de oficiais, em nobre e alegre camaradagem. Ouve-se uma canção, e depois outra e mais outra.

Aquele jovem tenente de bigode escuro só ouviu a primeira:

“Corações partidos,

eu não os quero;

e se lhe dou o meu,

dou-o inteiro”.

“Quanta resistência em dar meu coração inteiro!” - E a oração brotou em caudal manso e largo.


Fonte: http://www.escrivaworks.org.br/book/caminho-capitulo-4.htm
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