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quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Não dê um smartphone ao seu filho



Por Jonathon van Maren | Depois de passar quatro dias em um encontro de combate à exploração sexual, na cidade de Houston, no Texas, minha mente está exausta. Assistimos a palestras sobre neurociência, tráfico humano, abuso sexual, exploração infantil e muito mais. Também assistimos a muitas, muitas palestras, sobre o veneno que tem se infiltrado em todos os lugares, alimentando o estupro, destruindo relacionamentos, debilitando os homens e obliterando a infância: a pornografia.

Ainda escreverei muito mais sobre o que aprendi, mas, por enquanto, gostaria de fazer aos pais um breve apelo, que praticamente todos os palestrantes fizeram e eu faço questão de repetir: não dê um smartphone ao seu filho.

Parece loucura imaginar que, uma década atrás, smartphones eram incomuns. Muitas pessoas sequer tinham um celular em mãos. Agora, de acordo com a premiada jornalista e escritora Nancy Jo Sales — autora de American Girls: Social Media and the Secret Lives of Teenagers —, praticamente todas as interações sociais (e sexuais) dos adolescentes foram canalizadas para os pequenos e frenéticos aparelhos que eles carregam consigo para onde quer que vão. Isso tem feito crescerem ocyberbullying, o consumo e a produção de pornografia e até mesmo o suicídio e a exploração sexual entre jovens. Adolescentes — e crianças — são puxados para dentro das redes sociais, do Facebook ao Instagram, do Snapchat a outra meia dúzia de aplicativos desconhecidos, onde as interações e os conteúdos são selecionados apenas pelas crianças que os acessam, livres de qualquer supervisão dos pais ou adultos.

Os adolescentes sabem que isso está tornando as suas vidas miseráveis. As meninas com quem conversou a jornalista Nancy Sales também lhe contaram isso. Mas elas também revelaram não ter saída. Como hoje a maior parte da vida das pessoas se passa online, optar por sair é como escolher o isolamento voluntário. As "moedas de troca" geralmente envolvem imagens de nudez, sexo explícito ou "selfies" — e, cada vez mais, também isso deixou de ser opcional.

Os pais são incapazes de controlar esse novo mundo dos adolescentes. Em muitos casos, eles sequer conseguem penetrar o seu interior. É por isso que um pai ficou tão perplexo quando sua filha se enforcou depois de um adolescente cruelmente publicar um vídeo seu tomando banho no Snapchat — aquela tinha sido, na verdade, a primeira vez em que o pai, desolado, ouviu falar de "Snapchat". Para os pais que desejam resgatar os seus filhos da "selva da Internet" ou poupá-los do sofrimento que está devastando milhões de pessoas, há algumas alternativas. Diálogo honesto e conversas francas. Fiscalização atenta do uso das redes sociais. Programas especiais e filtros de Internet em todos os aparelhos de tecnologia.

Mas, por hoje, eu gostaria de indicar apenas uma coisa: não dê um smartphone ao seu filho.

Esse conselho tem me tornado bastante impopular em alguns ambientes. Um dia desses, durante apresentação em uma escola, um adolescente me cumprimentou com sarcasmo: "Então você é aquele que disse aos meus pais que eu não deveria ter um celular". Mas isso é essencial. As crianças e a maior parte dos adolescentes não precisam de um celular com acesso à Internet. Eles não precisam de acesso ininterrupto aos sites de mídia social que os submetem mais à influência de seus colegas que à de seus pais. Eles não precisam da pressão social que inevitavelmente —inevitavelmente — advém da entrada em um mundo com novos padrões e novas "moedas de troca". E, acima de tudo, eles não devem ter acesso a toda a pornografia que a web pode oferecer, a todo esse material sujo criando novos e destrutivos modelos de comportamento — modelos com os quais toda a juventude, para além dos Estados Unidos, está começando a se conformar, seja por pressão, por violência ou por escolha própria.

Escutei dezenas de histórias nesse fim de semana, de pais que se surpreenderam encontrando os seus filhos assistindo a pornografia pesada em seus smartphones. Crianças com idade menor que a média de primeira exposição a pornografia, que costumava ser 11 anos. Agora são 9. Essas crianças, em alguns breves momentos de espanto e terror, têm roubada a sua inocência. Seus mundos mudam por completo naquele momento. Elas não podem "desver" o que viram. Elas sequer deveriam ter acesso a isso, para começo de história.

Por isso, não coloque um smartphone na mão do seu filho.

Eu entendo que os adolescentes tendem mais a precisar realmente de um celular. Meus pais me compraram um telefone celular quando eu tirei a carteira de habilitação — não para que eu interagisse com meus amigos e entrasse na Internet, mas para que eles entrassem em contato comigo e eu tivesse um meio de me comunicar quando estivesse fora, essas coisas. Meus primeiros celulares não tinham acesso à Internet, e eu não perdi nada com isso. Confesso que às vezes gostaria que meu telefone atual também não tivesse Internet, porque eu sou culpado, juntamente com esta geração, de desperdiçar tempo no meu telefone quando poderia estar fazendo alguma coisa (qualquer coisa, na verdade) mais produtiva. Mas, quando adolescentes precisam de um telefone, mesmo assim eles não precisam de um telefone com acesso à Internet. Um telefone que lhes permita fazer ligações e mandar mensagens é bom o suficiente. Eles não precisam estar constantemente conectados às redes sociais, não precisam de Snapchat (um aplicativo que pode arruinar vidas em questão de segundos) e eles definitivamente não devem ter acesso à pornografia selvagem com a qual quase inevitavelmente irão se deparar.

Não dê aos produtores pornográficos o acesso que eles tanto procuram aos seus filhos. Eles sabem que crianças e adolescentes são mais propensos a encontrar pornografia em seus celulares, e é por isso que eles fizeram um esforço gigantesco nos últimos anos para criar material pornô que pudesse ser visto e transmitido via aparelhos móveis. Eles sabem como chegar aos seus filhos: por meio de um smartphone.

Não dê um ao seu filho.

Fonte: LifeSiteNews.com | Tradução: Equipe Christo Nihil Praeponere
Créditos: padrepauloricardo.org

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Como o Facebook pode ser uma armadilha para a castidade?


Neste vídeo, Padre Paulo Ricardo explica de que maneira as redes sociais podem se tornar uma armadilha para a castidade e o pudor das pessoas.



Escondendo grandes perigos por trás de coisas aparentemente pequenas e sem importância, o demônio, como quem semeia joio no meio do trigo (cf. Mt 13, 25), sabe servir-se das realidades humanas para fazer perecer o próprio homem. É assim que o Facebook, uma das redes sociais mais bem sucedidas da história, tem-se tornado uma verdadeira armadilha para a castidade de muita gente. O problema reside, de modo geral, nas chamadas "fotos de perfil". Moças em poses provocativas, rapazes sem camisa, figuras sensuais e excitantes, tudo isso, além de poluir ainda mais o mundo virtual — saturado de pornografia —, é gatilho certo para pecarmos contra a santa pureza. Não é preciso ser lá muito sábio nem profundo conhecedor da natureza humana; todos sabemos, pois todos partilhamos da mesma inclinação para o mal, que toda imagem ou representação que de alguma forma aluda à sexualidade tem um forte impacto sobre a nossa sensibilidade, facilmente impressionável e educada somente a duras penas.
Procuramos explicar as razões deste fenômeno no nosso curso " O Mal da Pornografia e da Masturbação". Não custa lembrar, em todo caso, que o nosso cérebro, diante de um estímulo de ordem sexual, está programado para descarregar altas doses de dopamina, um neurotransmissor intimamente relacionado com a sensação de prazer e bem-estar. A dopamina, além disso, está associada ao chamado "circuito de recompensa", que reforça e cristaliza aqueles atos ou hábitos que mais satisfazem os desejos naturais do organismo. Ao deparar-se, pois, com uma foto provocativa (por mais "ingênua" que a queiramos julgar), o nosso cérebro está mais do que pronto para dar início a um processo estimulante que nos levará a estados de excitação sexual cada vez mais intensos e, portanto, mais difíceis de serem controlados.
Por isso, a melhor estratégia para guardarmos a castidade é evitar, com simplicidade e discrição, qualquer situação que nos coloque em ocasião de pecar contra essa virtude, inclusive as mais "leves" e "corriqueiras", como as que nos oferecem as fotos de perfil no Facebook. Devemos resistir, sim, aos primeiros assaltos da carne tão logo os percebemos, antes que cresçam e se agigantem. Quando entrarmos na internet ou em qualquer rede social, devemos nos perguntar sinceramente: o que minha esposa, o que minha noiva ou namorada pensaria se visse o que eu costumo ver ao navegar na rede? Em que tipo de coisas, afinal, gosto de descansar ou estimular a vista? Ao olhar com mais demora para aquela moça ou aquele rapaz já não estou, segundo as palavras do Salvador (cf. Mt 5, 28), cometendo adultério em meu coração, sendo infiel com meus desejos, deixando-me arrastar mar adentro, onde serei tragado, ao fim e ao cabo, pelas vagas de sensualidade que circulam pela web?
Lembremo-nos sempre de que o olhar de Deus, puro e sem malícia, penetra nossos rins e corações (cf. Rm 8, 27). Peçamos-lhe com confiança a graça de, sendo fiéis a Ele e a quem nos foi dado por esposa ou esposo, evitarmos — com o heroísmo de quem deseja amar e entregar-se de todo — as pequenas armadilhas, a fim de escaparmos por fim às grandes quedas. 

Fonte: padrepauloricardo.org

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Catecismo da Igreja Católica - O Sexto Mandamento

ARTIGO 6
O SEXTO MANDAMENTO
«Não cometerás adultério» (Ex 20, l4) (82).
«Ouvistes que foi dito: "Não cometerás adultério". Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que olhar para uma mulher, desejando-a, já cometeu adultério com ela no seu coração» (Mt 5, 27-28).
I. «Homem e mulher os criou»...

2331. «Deus é amor e vive em Si mesmo um mistério de comunhão pessoal de amor. Ao criar a humanidade do homem e da mulher à sua imagem [...] Deus inscreveu nela a vocaçãopara o amor e para a comunhão e, portanto, a capacidade e a responsabilidade correspondentes» (83).
«Deus criou o homem à sua imagem; [...] homem e mulher os criou» (Gn 1, 27); «Crescei e multiplicai-vos» (Gn 1, 28); «Quando Deus criou o ser humano, fê-lo à semelhança de Deus. Criou-os homem e mulher e abençoou-os; e chamou-lhes «Adão» no dia em que os criou»(Gn 5, 1-2).

2332. A sexualidade afecta todos os aspectos da pessoa humana, na unidade do seu corpo e da sua alma. Diz respeito particularmente à afectividade, à capacidade de amar e de procriar, e, de um modo mais geral, à aptidão para criar laços de comunhão com outrem.

2333. Compete a cada um, homem e mulher, reconhecer e aceitar a sua identidade sexual. A diferença e a complementaridade físicas, morais e espirituais orientam-se para os bens do matrimónio e para o progresso da vida familiar. A harmonia do casal e da sociedade depende, em parte, da maneira como são vividos, entre os sexos, a complementaridade, a necessidade mútua e o apoio recíproco.

2334. «Ao criar o ser humano homem e mulher, Deus conferiu a dignidade pessoal, de igual modo ao homem e à mulher» (84). «O homem é uma pessoa; e isso na mesma medida para o homem e para a mulher, porque ambos são criados à imagem e semelhança dum Deus pessoal» (85).

2335. Cada um dos dois sexos é, com igual dignidade, embora de modo diferente, imagem do poder e da ternura de Deus. A união do homem e da mulher no matrimónio é um modo de imitar na carne a generosidade e a fecundidade do Criador: «O homem deixará o seu pai e a sua mãe para se unir à sua mulher; e os dois serão uma só carne» (Gn 2, 24). Desta união procedem todas as gerações humanas (86).

2336. Jesus veio restaurar a criação na pureza das suas origens. No sermão da montanha, interpreta de modo rigoroso o desígnio de Deus:
«Ouvistes que foi dito: "Não cometerás adultério". Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que olhar para uma mulher, desejando-a, já cometeu adultério com ela no seu coração» (Mt 5, 27-28). Não separe o homem o que Deus uniu (87).
A Tradição da Igreja entendeu o sexto mandamento como englobando o conjunto da sexualidade humana.

II. A vocação à castidade

2337. A castidade significa a integração conseguida da sexualidade na pessoa, e daí a unidade interior do homem no seu ser corporal e espiritual. A sexualidade, na qual se exprime a pertença do homem ao mundo corporal e biológico, torna-se pessoal e verdadeiramente humana quando integrada na relação de pessoa a pessoa, no dom mútuo total e temporalmente ilimitado, do homem e da mulher.
A virtude da castidade engloba, portanto, a integridade da pessoa e a integralidade da doação.

A INTEGRIDADE DA PESSOA

2338. A pessoa casta mantém a integridade das forças de vida e de amor em si depositadas. Esta integridade garante a unidade da pessoa e opõe-se a qualquer comportamento susceptível de a ofender. Não tolera nem a duplicidade da vida, nem a da linguagem (88).

2339. A castidade implica uma aprendizagem do domínio de si, que é uma pedagogia da liberdade humana. A alternativa é clara: ou o homem comanda as suas paixões e alcança a paz, ou se deixa dominar por elas e torna-se infeliz (89). «A dignidade do homem exige que ele proceda segundo uma opção consciente e livre, isto é, movido e determinado por uma convicção pessoal e não sob a pressão de um cego impulso interior ou da mera coacção externa. O homem atinge esta dignidade quando, libertando-se de toda a escravidão das paixões, prossegue o seu fim na livre escolha do bem e se procura de modo eficaz e com diligente iniciativa os meios adequados» (90).

2340. Aquele que quiser permanecer fiel às promessas do seu Baptismo e resistir às tentações, terá o cuidado de procurar os meios: o conhecimento de si, a prática duma ascese adaptada às situações em que se encontra, a obediência aos mandamentos divinos, a prática das virtudes morais e a fidelidade à oração. «A continência, na verdade, recolhe-nos e reconduz-nos àquela unidade que tínhamos perdido, dispersando-nos na multiplicidade» (91).

2341. A virtude da castidade gira na órbita da virtude cardial da temperança, a qual visa impregnar de razão as paixões e os apetites da sensibilidade humana.

2342. O domínio de si é uma obra de grande fôlego. Nunca poderá considerar-se total e definitivamente adquirido. Implica um esforço constantemente retomado, em todas as idades da vida (92); mas o esforço requerido pode ser mais intenso em certas épocas, como quando se forma a personalidade, durante a infância e a adolescência.

2343. A castidade conhece leis de crescimento e passa por fases marcadas pela imperfeição, muitas vezes até pelo pecado. O homem virtuoso e casto «constrói-se dia a dia com as suas numerosas decisões livres. Por isso, conhece, ama e cumpre o bem moral segundo fases de crescimento» (93).

2344. A castidade representa uma tarefa eminentemente pessoal; implica também um esforço cultural, porque existe «interdependência entre o desenvolvimento da pessoa e o da própria sociedade» (94). A castidade pressupõe o respeito pelos direitos da pessoa, particularmente o de receber uma informação e educação que respeitem as dimensões morais e espirituais da vida humana.

2345. A castidade é uma virtude moral. Mas é também um dom de Deus, uma graça, um fruto do trabalho espiritual (95). O Espírito Santo concede a graça de imitar a pureza de Cristo (96) àquele que regenerou pela água do Baptismo.

A INTEGRALIDADE DO DOM DE SI

2346. A caridade é a forma de todas as virtudes. Sob a sua influência, a castidade aparece como uma escola de doação da pessoa. O domínio de si ordena-se para o dom de si. A castidade leva quem a pratica a tornar-se, junto do próximo, testemunha da fidelidade e da ternura de Deus.

2347. A virtude da castidade expande-se na amizade. Indica ao discípulo o modo de seguir e imitar Aquele que nos escolheu como seus próprios amigos (97), que Se deu totalmente a nós e nos faz participar da sua condição divina. A castidade é promessa de imortalidade.
A castidade exprime-se especialmente na amizade para com o próximo. Desenvolvida entre pessoas do mesmo sexo ou de sexos diferentes, a amizade representa um grande bem para todos. Conduz à comunhão espiritual.

OS DIVERSOS REGIMES DA CASTIDADE

2348. Todo o baptizado é chamado à castidade. O cristão «revestiu-se de Cristo» (98), modelo de toda a castidade. Todos os fiéis de Cristo são chamados a levar uma vida casta, segundo o seu estado de vida particular. No momento do seu Baptismo, o cristão comprometeu-se a orientar a sua afectividade na castidade.

2349. «A castidade deve qualificar as pessoas segundo os seus diferentes estados de vida: uns, na virgindade ou celibato consagrado, forma eminente de se entregarem mais facilmente a Deus com um coração indiviso: outros, do modo que a lei moral para todos determina, e conforme são casados ou solteiros» (99). As pessoas casadas são chamadas a viver a castidade conjugal; as outras praticam a castidade na continência:
«Existem três formas da virtude da castidade: uma, das esposas: outra, das viúvas; a terceira, da virgindade. Não louvamos uma com exclusão das outras. [...] É nisso que a disciplina da Igreja é rica» (100).
2350. Os noivos são chamados a viver a castidade na continência. Eles farão, neste tempo de prova, a descoberta do respeito mútuo, a aprendizagem da fidelidade e da esperança de se receberem um ao outro de Deus. Reservarão para o tempo do matrimónio as manifestações de ternura específicas do amor conjugal. Ajudar-se-ão mutuamente a crescer na castidade.

AS OFENSAS À CASTIDADE

2351. A luxúria é um desejo desordenado ou um gozo desregrado de prazer venéreo. O prazer sexual é moralmente desordenado quando procurado por si mesmo, isolado das finalidades da procriação e da união.

2352. Por masturbação entende-se a excitação voluntária dos órgão genitais, para daí retirar um prazer venéreo. «Na linha duma tradição constante, tanto o Magistério da Igreja como o sentido moral dos fiéis têm afirmado sem hesitação que a masturbação é um acto intrínseca e gravemente desordenado». «Seja qual for o motivo, o uso deliberado da faculdade sexual fora das normais relações conjugais contradiz a finalidade da mesma». O prazer sexual é ali procurado fora da «relação sexual requerida pela ordem moral, que é aquela que realiza, no contexto dum amor verdadeiro, o sentido integral da doação mútua e da procriação humana» (101).
Para formar um juízo justo sobre a responsabilidade moral dos sujeitos, e para orientar a acção pastoral, deverá ter-se em conta a imaturidade afectiva, a força de hábitos contraídos, o estado de angústia e outros factores psíquicos ou sociais que podem atenuar, ou até reduzir ao mínimo, a culpabilidade moral.

2353. A fornicação é a união carnal fora do matrimónio entre um homem e uma mulher livres. É gravemente contrária à dignidade das pessoas e da sexualidade humana, naturalmente ordenada para o bem dos esposos, assim como para a geração e educação dos filhos. Além disso, é um escândalo grave, quando há corrupção dos jovens.

2354. A pornografia consiste em retirar os actos sexuais, reais ou simulados, da intimidade dos parceiros, para os exibir a terceiras pessoas, de modo deliberado. Ofende a castidade, porque desnatura o acto conjugal, doação íntima dos esposos um ao outro. É um grave atentado contra a dignidade das pessoas intervenientes (actores, comerciantes, público), uma vez que cada um se torna para o outro objecto dum prazer vulgar e dum lucro ilícito. E faz mergulhar uns e outros na ilusão dum mundo fictício. É pecado grave. As autoridades civis devem impedir a produção e a distribuição de material pornográfico.

2355. A prostituição é um atentado contra a dignidade da pessoa que se prostitui, reduzida ao prazer venéreo que dela se tira. Quem paga, peca gravemente contra si mesmo: quebra a castidade a que o obriga o seu Baptismo e mancha o seu corpo, que é templo do Espírito Santo (102). A prostituição constitui um flagelo social. Envolve habitualmente mulheres, mas também homens, crianças ou adolescentes (nestes dois últimos casos, o pecado duplica com o escândalo). É sempre gravemente pecaminoso entregar-se à prostituição; mas a miséria, a chantagem e a pressão social podem atenuar a imputabilidade do pecado.

2356. A violação designa a entrada na intimidade sexual duma pessoa à força, com violência. É um atentado contra a justiça e a caridade. A violação ofende profundamente o direito de cada um ao respeito, à liberdade e à integridade física e moral. Causa um prejuízo grave, que pode marcar a vítima para toda a vida. É sempre um acto intrinsecamente mau. É mais grave ainda, se cometido por parentes próximos (incesto) ou por educadores contra crianças a eles confiadas.

CASTIDADE E HOMOSSEXUALIDADE

2357 A homossexualidade designa as relações entre homens ou mulheres, que experimentam uma atracção sexual exclusiva ou predominante para pessoas do mesmo sexo. Tem-se revestido de formas muito variadas, através dos séculos e das culturas. A sua génese psíquica continua em grande parte por explicar. Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves (103) a Tradição sempre declarou que «os actos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados» (104). São contrários à lei natural, fecham o acto sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afectiva sexual, não podem, em caso algum, ser aprovados.

2358. Um número considerável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente radicadas. Esta propensão, objectivamente desordenada, constitui, para a maior parte deles, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar devido à sua condição.

2359. As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes do autodomínio, educadoras da liberdade interior, e, às vezes, pelo apoio duma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem aproximar-se, gradual e resolutamente, da perfeição cristã.

III. O amor dos esposos

2360. A sexualidade ordena-se para o amor conjugal do homem e da mulher. No matrimónio, a intimidade corporal dos esposos torna-se sinal e penhor de comunhão espiritual. Entre os baptizados, os laços do matrimónio são santificados pelo sacramento.
2361. «A sexualidade, mediante a qual o homem e a mulher se dão um ao outro com os actos próprios e exclusivos dos esposos, não é algo de puramente biológico, mas diz respeito à pessoa humana como tal, no que ela tem de mais íntimo. Esta só se realiza de maneira verdadeiramente humana se for parte integrante do amor com o qual homem e mulher se comprometem totalmente um para com o outro até à morte» (105).
«Tobias ergueu-se do leito e disse [...] [a Sara]: "Irmã, levanta-te; vamos orar ao Senhor e pedir-lhe que nos conceda a sua misericórdia e salvação". Levantaram-se ambos e puseram-se a orar e a implorar que lhes fosse enviada a salvação, dizendo: "Bendito sejas, Deus dos nossos pais [...]. Tu criaste Adão e deste-lhe Eva, sua esposa, como amparo valioso, e de ambos procedeu o género humano. Com efeito, disseste: 'Não é bom que o homem esteja só; façamos-lhe uma auxiliar semelhante a ele'. Agora, Senhor, Tu bem sabes que não é por luxúria que agora tomo por esposa esta minha irmã, mas é com intenção pura. Permite, pois, que eu e ela encontremos misericórdia e cheguemos juntos à velhice» (Tb8, 4-9).
2362. «Os actos pelos quais os esposos se unem íntima e castamente são honestos e dignos; realizados de modo autenticamente humano, exprimem e alimentam a mútua entrega pela qual se enriquecem um ao outro com alegria e gratidão» (106). A sexualidade é fonte de alegria e de prazer:
«Foi o próprio Criador Quem [...] estabeleceu que, nesta função [da geração], os esposos experimentassem prazer e satisfação do corpo e do espírito. Portanto, os esposos não fazem nada de mal ao procurar este prazer e gozar dele. Aceitam o que o Criador lhes destinou. No entanto, devem saber manter-se dentro dos limites duma justa moderação» (107).
 2363. Pela união dos esposos realiza-se o duplo fim do matrimónio: o bem dos próprios esposos e a transmissão da vida. Não podem separar-se estes dois significados ou valores do matrimónio sem alterar a vida espiritual do casal nem comprometer os bens do matrimónio e o futuro da família.
O amor conjugal do homem e da mulher está, assim, colocado sob a dupla exigência da fidelidade e da fecundidade.

A FIDELIDADE CONJUGAL

2364. Ambos os esposos constituem «uma íntima comunidade de vida e de amor, fundada pelo Criador e por Ele dotada de leis próprias». Esta comunidade «é instaurada pela aliança conjugal, ou seja, por um irrevogável consentimento pessoal» (108). Os dois entregam-se, definitiva e totalmente, um ao outro. Doravante, já não são dois, mas uma só carne. A aliança livremente contraída pelos esposos impõe-lhes a obrigação de a manter una e indissolúvel (109). «O que Deus uniu, não o separe o homem»(Mc 10, 9) (110).

2365. A fidelidade exprime a constância em manter a palavra dada. Deus é fiel. O sacramento do matrimónio introduz o homem e a mulher na fidelidade de Cristo à sua Igreja. Pela castidade conjugal, eles dão testemunho deste mistério perante o mundo.
São João Crisóstomo sugere aos jovens casados que façam este discurso às suas esposas: «Tomei-te nos meus braços, amo-te e prefiro-te à minha própria vida. Porque a vida presente não é nada e o meu sonho mais ardente é passá-la contigo, de tal maneira que tenhamos a certeza de não ser separados naquela que nos está reservada [...]. Eu ponho o teu amor acima de tudo, e nada me seria mais penoso do que não ter os mesmos pensamentos que tu» (111).
A FECUNDIDADE DO MATRIMÓNIO

2366. A fecundidade é um dom, uma finalidade do matrimónio, porque o amor conjugal tende naturalmente a ser fecundo. O filho não vem de fora juntar-se ao amor mútuo dos esposos; surge no próprio coração deste dom mútuo, do qual é fruto e complemento. Por isso, a Igreja, que «toma partido pela vida» (112), ensina que «todo o acto matrimonial deve, por si estar aberto à transmissão da vida» (113). «Esta doutrina, muitas vezes exposta pelo Magistério, funda-se sobre o nexo indissolúvel estabelecido por Deus e que o homem não pode quebrar por sua iniciativa, entre os dois significados inerentes ao acto conjugal: união e procriação» (114).

2367. Chamados a dar a vida, os esposos participam do poder criador e da paternidade de Deus (115). «No dever de transmitir e educar a vida humana – dever que deve ser considerado como a sua missão própria – saibam os esposos que são cooperadores do amor de Deus e como que os seus intérpretes. Cumprirão, pois, esta missão, com responsabilidade humana e cristã» (116).

2368. Um aspecto particular desta responsabilidade diz respeito à regulação da procriação.Os esposos podem querer espaçar o nascimento dos seus filhos por razões justificadas (117). Devem, porém, verificar se tal desejo não procede do egoísmo, e se está de acordo com a justa generosidade duma paternidade responsável. Além disso, regularão o seu comportamento segundo os critérios objectivos da moralidade:
«Quando se trata de conciliar o amor conjugal com a transmissão responsável da vida, a moralidade do comportamento não depende apenas da sinceridade da intenção e da apreciação dos motivos; deve também determinar-se por critérios objectivos, tomados da natureza da pessoa e dos seus actos; critérios que respeitem, num contexto de autêntico amor, o sentido da mútua doação e da procriação humana. Tudo isto só é possível, se se cultivar sinceramente a virtude da castidade conjugal» (118).
2369. «É salvaguardando estes dois aspectos essenciais, união e procriação, que o acto conjugal conserva integralmente o sentido de mútuo e verdadeiro amor e a sua ordenação para a altíssima vocação do homem para a paternidade» (119).

2370. A continência periódica, os métodos de regulação dos nascimentos baseados na auto-observação e no recurso aos períodos infecundos (120), são conformes aos critérios objectivos da moralidade. Estes métodos respeitam o corpo dos esposos, estimulam a ternura entre eles e favorecem a educação duma liberdade autêntica. Em contrapartida, é intrinsecamente má «qualquer acção que, quer em previsão do acto conjugal, quer durante a sua realização, quer no desenrolar das suas consequências naturais, se proponha, como fim ou como meio, tornar impossível a procriação» (121).
«À linguagem que exprime naturalmente a doação recíproca e total dos esposos, a contracepção opõe uma linguagem objectivamente contraditória, segundo a qual já não se trata de se darem totalmente um ao outro. Daí deriva, não somente a recusa positiva da abertura à vida, mas também uma falsificação da verdade interna do amor conjugal, chamado a ser um dom da pessoa toda. [...] Esta diferença antropológica e moral, entre a contracepção e o recurso aos ritmos periódicos, implica dois conceitos de pessoa e de sexualidade humana irredutíveis um ao outro» (122).
2371. «Aliás, todos devem ter bem presente que a vida humana e a missão de a transmitir não se limitam aos horizontes deste mundo, nem podem ser medidas ou compreendidas unicamente em função dele, mas estão sempre relacionadas com o destino eterno do homem» (123).

2372. O Estado é responsável pelo bem-estar dos cidadãos. A tal título, é legítimo que intervenha para orientar o crescimento da população. Pode fazê-lo mediante uma informação objectiva e respeitosa, não porém com imposições autoritárias e obrigatórias. O Estado não pode legitimamente substituir-se à iniciativa dos esposos, primeiros responsáveis pela procriação e educação dos seus filhos (124). Neste domínio, não tem autoridade para intervir com medidas contrárias à lei moral.

O DOM DO FILHO

2373. A Sagrada Escritura e a prática tradicional da Igreja vêem nas famílias numerosas um sinal da bênção divina e da generosidade dos pais (125).

2374. É grande o sofrimento dos casais que descobrem que são estéreis. «Que me dareis, Senhor Deus?» – pergunta Abraão a Deus. «Vou-me sem filhos...» (Gn 15, 2). – «Dá-me filhos ou então morro!» – grita Raquel ao seu marido Jacob (Gn 30, 1).

2375. As pesquisas que se destinam a reduzir a esterilidade humana devem ser encorajadas, com a condição de serem colocadas «ao serviço da pessoa humana, dos seus direitos inalienáveis e do seu bem verdadeiro e integral, em conformidade com o projecto e a vontade de Deus» (126).

2376. As técnicas que provocam a dissociação dos progenitores pela intervenção duma pessoa estranha ao casal (dádiva de esperma ou ovócito, empréstimo de útero) são gravemente desonestas. Estas técnicas (inseminação e fecundação artificial heteróloga) lesam o direito do filho a nascer dum pai e duma mãe seus conhecidos e unidos entre si pelo casamento. E atraiçoam «o direito exclusivo a não serem nem pai nem mãe senão um pelo outro» (127).

2377. Praticadas no seio do casal, estas técnicas (inseminação e fecundação artificial homóloga) são talvez menos prejudiciais, mas continuam moralmente inaceitáveis. Dissociam o acto sexual do acto procriador. O acto fundador da existência do filho deixa de ser um acto pelo qual duas pessoas se dão uma à outra, e «remete a vida e a identidade do embrião para o poder dos médicos e biólogos. Instaurando o domínio da técnica sobre a origem e destino da pessoa humana. Tal relação de domínio é, de si, contrária à dignidade e à igualdade que devem ser comuns aos pais e aos filhos» (128). «A procriação é moralmente privada da sua perfeição própria, quando não é querida como fruto do acto conjugal, isto é, do gesto específico da união dos esposos. [...] Só o respeito pelo laço que existe entre os significados do acto conjugal e o respeito pela unidade do ser humano permite uma procriação conforme à dignidade da pessoa» (129).

2378O filho não é uma dívida, é uma dádiva. O «dom mais excelente do matrimónio» é uma pessoa humana. O filho não pode ser considerado como objecto de propriedade, conclusão a que levaria o reconhecimento dum pretenso «direito ao filho». Neste domínio, só o filho é que possui verdadeiros direitos: o de «ser fruto do acto específico do amor conjugal dos seus pais, e também o de ser respeitado como pessoa desde o momento da sua concepção» (130).

2379. O Evangelho mostra que a esterilidade física não é um mal absoluto. Os esposos que, depois de esgotados os recursos médicos legítimos, sofrem de infertilidade, associar-se-ão à cruz do Senhor, fonte de toda a fecundidade espiritual. Podem mostrar a sua generosidade adoptando crianças abandonadas ou realizando serviços significativos em favor do próximo.

IV. As ofensas à dignidade do matrimónio

2380. O adultério. É o termo que designa a infidelidade conjugal. Quando dois parceiros, dos quais pelo menos um é casado, estabelecem entre si uma relação sexual, mesmo efémera, cometem adultério. Cristo condena o adultério, mesmo de simples desejo (131). O sexto mandamento e o Novo Testamento proíbem absolutamente o adultério (132). Os profetas denunciam-lhe a gravidade. E vêem no adultério a figura do pecado da idolatria (133).

2381. O adultério é uma injustiça. Aquele que o comete, falta aos seus compromissos. Viola o sinal da Aliança, que é o vínculo matrimonial, lesa o direito do outro cônjuge e atenta contra a instituição do matrimónio, violando o contrato em que assenta. Compromete o bem da geração humana e dos filhos que têm necessidade da união estável dos pais.

O DIVÓRCIO

2382. O Senhor Jesus insistiu na intenção original do Criador, que queria um matrimónio indissolúvel (134). E abrogou as tolerâncias que se tinham infiltrado na antiga Lei (135).
Entre baptizados, «o matrimónio rato e consumado não pode ser dissolvido por nenhum poder humano, nem por nenhuma causa, além da morte» (136).

2383. A separação dos esposos, permanecendo o vínculo matrimonial, pode ser legítima em certos casos previstos pelo direito canónico (137).
Se o divórcio civil for a única maneira possível de garantir certos direitos legítimos, tais como o cuidado dos filhos ou a defesa do património, pode ser tolerado sem constituir falta moral.

2384. O divórcio é uma ofensa grave à lei natural. Pretende romper o contrato livremente aceite pelos esposos de viverem um com o outro até à morte. O divórcio é uma injúria contra a aliança da salvação, de que o matrimónio sacramental é sinal. O facto de se contrair nova união, embora reconhecida pela lei civil, aumenta a gravidade da ruptura: o cônjuge casado outra vez encontra-se numa situação de adultério público e permanente:
«Não é lícito ao homem, despedida a esposa, casar com outra; nem é legítimo que outro tome como esposa a que foi repudiada pelo marido»(138).
2385. O carácter imoral do divórcio advém-lhe também da desordem que introduz na célula familiar e na sociedade. Esta desordem traz consigo prejuízos graves: para o cônjuge que fica abandonado; para os filhos, traumatizados pela separação dos pais e, muitas vezes, objecto de contenda entre eles; e pelo seu efeito de contágio, que faz dele uma verdadeira praga social.

2386. Pode acontecer que um dos cônjuges seja a vítima inocente do divórcio declarado pela lei civil; esse, então, não viola o preceito moral. Há uma grande diferença entre o cônjuge que sinceramente se esforçou por ser fiel ao sacramento do matrimónio e se vê injustamente abandonado, e aquele que, por uma falta grave da sua parte, destrói um matrimónio canonicamente válido (139).

OUTRAS OFENSAS À DIGNIDADE DO MATRIMÓNIO

2387. É compreensível o drama daquele que, desejoso de se converter ao Evangelho, se vê obrigado a repudiar uma ou mais mulheres com quem partilhou anos de vida conjugal. Contudo, a poligamia não está de acordo com a lei moral. «Opõe-se radicalmente à comunhão conjugal: porque nega, de modo directo, o desígnio de Deus, tal como nos foi revelado no princípio e é contrária à igual dignidade pessoal da mulher e do homem, os quais, no matrimónio, se dão um ao outro num amor total que, por isso mesmo, é único e exclusivo»(140). O cristão que anteriormente foi polígamo é gravemente obrigado, por justiça, a honrar as obrigações contraídas para com as suas antigas mulheres e respectivos filhos.

2388. O incesto designa relações íntimas entre parentes ou afins, num grau que proíbe o matrimónio entre eles (141). São Paulo estigmatiza esta falta particularmente grave: «É voz corrente que existe entre vós um caso de imoralidade [...] ao ponto de certo homem viver com a mulher de seu pai! [...] Em nome do Senhor Jesus [...], que esse homem seja entregue a Satanás [...] para ruína do seu corpo» (1 Cor 5, 1. 4-5). O incesto corrompe as relações familiares e representa uma regressão à animalidade.

2389. Podem relacionar-se com o incesto os abusos sexuais cometidos por adultos em relação a crianças ou adolescentes confiados à sua guarda. Nesse caso a culpa é dupla por se tratar dum escandaloso atentado contra a integridade física e moral dos jovens, que assim ficarão marcados para toda a sua vida e duma violação da responsabilidade educativa.

2390.  união livre quando homem e mulher recusam dar forma jurídica e pública a uma ligação que implica intimidade sexual.
A expressão é falaciosa: que pode significar uma união em que as pessoas não se comprometem uma para com a outra, testemunhando assim uma falta de confiança na outra, em si mesmas, ou no futuro?
A expressão tenta camuflar situações diferentes: concubinato, recusado matrimónio como tal, incapacidade de se ligar por compromissos a longo prazo (142). Todas estas situações ofendem a dignidade do matrimónio; destroem a própria ideia de família; enfraquecem o sentido da fidelidade. São contrárias à lei moral: o acto sexual deve ter lugar exclusivamente no matrimónio; fora dele constitui sempre um pecado grave e exclui da comunhão sacramental.

2391. Hoje em dia, há muitos que reclamam uma espécie de «direito à experiência», quando há intenção de contrair matrimónio. Seja qual for a firmeza do propósito daqueles que enveredam por relações sexuais prematuras, «estas não permitem assegurar que a sinceridade e a fidelidade da relação interpessoal dum homem e duma mulher fiquem a salvo nem, sobretudo, que esta relação fique protegida de volubilidade dos desejos e dos caprichos»(143). A união carnal só é legítima quando se tiver instaurado uma definitiva comunidade de vida entre o homem e a mulher. O amor humano não tolera o «ensaio». Exige o dom total e definitivo das pessoas entre si (144).

Resumindo:

2392. «O amor é a vocação fundamental e inata de todo o ser humano» (145).
2393. Ao criar o ser humano homem e mulher, Deus conferiu a dignidade pessoal, de igual modo, a um e a outra. Compete a cada um, homem e mulher, reconhecer e aceitar a sua identidade sexual.
2394. Cristo é o modelo da castidade. Todo o baptizado é chamado a levar uma vida casta, cada um segundo o seu próprio estado de vida.
2395. A castidade significa a integração da sexualidade na pessoa. Implica a aprendizagem do autodomínio.
2396. Entre os pecados gravemente contrários à castidade, devem citar-se: a masturbação, a fornicação, a pornografia e as práticas homossexuais.
2397. A aliança livremente contraída pelos esposos implica um amor fiel. Ele impõe-lhes a obrigação de guardar indissolúvel o seu matrimónio.
2398. A fecundidade é um bem, um dom, uma finalidade do matrimónio. Dando a vida, os esposos participam da paternidade de Deus.
2399. A regulação dos nascimentos representa um dos aspectos da paternidade e da maternidade responsáveis. A legitimidade das intenções dos esposos não justifica o recurso a meios moralmente inadmissíveis (por exemplo, a esterilização directa ou a contracepção).
2400. O adultério e o divórcio, a poligamia e a união livre são ofensas graves à dignidade do matrimónio.

Fonte:Vatican,va

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Questionário sobre a luta pela castidade - Pe. Francisco Faus



─ Encaro a castidade que Deus nos pede, como uma virtude pela qual vale a pena esforçar-se – com fortaleza e otimismo – , e procurar que cresça e ganhe cada vez mais pureza e delicadeza?

─ Compreendo que dizer que “é quase impossível superar esse tipo de pecados”, enquanto nos colocamos na boca do lobo e fazemos equilíbrios na corda bamba da tentação, é uma justificativa que não justifica nada?

─ “Fujo” das ocasiões, ou brinco com fogo, dando razão ao provérbio que diz que “o homem é o único animal que tropeça duas vezes na mesma pedra”, simplesmente porque não a evita?

─ Será que me convenço a mim mesmo, quando digo que não acontece nada por assistir a filmes pornográficos na televisão, ou por vasculhar por curiosidade tudo quanto é material do mesmo tipo na Internet e nas outras redes?

─ Peço a Deus que me ajude a me livrar de hábitos contrários à castidade, vícios que, quanto mais alimentados, mais podem descambar para formas deturpadas e até aberrantes de sexualidade?

─ Faço “novelas” inconvenientes com a minha imaginação? Não luto para desligar esses “filmes” íntimos, rezando e desviando a imaginação para outras coisas positivas que não ofendam a Deus?

─ Confesso-me com frequência – por exemplo, uma vez por mês – para fortalecer a minha alma (a inteligência e a vontade) com a graça desse Sacramento? Venço o “demônio mudo”, que me impele a calar, dominado pela vergonha, quando as faltas contra a castidade se repetem por longo tempo? Não percebo que a confissão frequente é uma arma poderosa para desarraigar esses hábitos sensuais?

─ Entendo que a castidade é uma virtude que valoriza o grande dom de Deus que é o sexo? Entendo que o sexo foi dado ao ser humano – filho de Deus – como um modo de participar do Amor de Deus e do seu poder Criador?

─ Vejo, por isso, que o sexo vivido como Deus quer, no matrimônio, é um meio de crescer na união e no amor dos esposos – santo, ardente e fecundo –, e de colaborar com o Criador na vinda de filhos de Deus, que receberão dEle uma alma imortal e um destino eterno?

─ Agradeço a Deus que me faça compreender que a luta pela castidade não é repressão negativa, nem ódio ou desprezo pelo corpo, mas – pelo contrário – a maior valorização da dignidade do corpo, exercendo o sexo dentro do plano sábio e amoroso de Deus?


Conclusões (Procure tirar as suas conclusões e anotá-las)

Fonte: http://www.padrefaus.org/archives/1641

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Carta aberta de uma filha a um usuário de pornografia


Fonte: CHRISTO NIHIL PRAEPONERE

Carta aberta revela os efeitos perniciosos da pornografia no coração de uma mulher e filha.

A carta a seguir foi postada na Internet sob anonimato, dada a natureza do assunto. Foi escrita por uma filha, a seu pai, que era consumidor de material pornográfico. Será mesmo que a pornografia é um "pecado de nada", que só influencia aqueles que a consomem? Qual o seu real impacto na vida das pessoas e das famílias? Eis a resposta, baseada em fatos reais.

Querido pai,

Eu quero que o senhor saiba, em primeiro lugar, que eu o amo e o perdoo pelo que o seu consumo de pornografia me causou. Também queria que o senhor soubesse exatamente o que isso fez à minha vida. O senhor pode pensar que isso afeta apenas o senhor, ou ainda os seus relacionamentos e os da mamãe. Mas isso teve um profundo impacto em mim e em todos os meus irmãos.

Encontrei seu material pornográfico no computador, em algum lugar, por volta dos 12 anos de idade, quando começava a tornar-me uma jovem mulher. Em primeiro lugar, pareceu-me muito hipócrita que o senhor tentasse ensinar-me o valor do que entrava em minha mente, por meio dos filmes, quando, aqui, o senhor entretinha regularmente sua mente com esse lixo. Suas conversas comigo, sobre como tomar cuidado com o que eu assistia, passaram a não significar praticamente nada.

Por causa da pornografia, eu descobri que a mamãe não era a única mulher para a qual o senhor olhava. Passei a notar o seu olhar atrevido quando saíamos de casa. Isso ensinou-me que todos os homens têm o mesmo jeito de olhar e não são confiáveis. Aprendi a desconfiar e até a rejeitar os homens por esse modo como eles observavam as mulheres.

Até onde vai a modéstia, o senhor tentou falar comigo sobre como meu vestido afetava aqueles ao meu redor e como eu deveria valorizar a mim mesma pelo que eu sou interiormente. Suas ações, todavia, me diziam que eu só seria verdadeiramente bonita e aceita se parecesse com as mulheres nas capas de revista ou nos materiais pornográficos. Suas conversas comigo não significaram nada e, na verdade, só me deixaram irritada.

Assim que cresci, só tive essa mensagem reforçada pela cultura em que vivemos. Aquela beleza é algo que só pode ser alcançado se você se parece com "elas". Eu também aprendi a confiar cada vez menos no senhor, já que o que me dizia não se alinhava com o que o senhor fazia. Eu sempre me perguntava se algum dia encontraria um homem que me aceitasse e me amasse por mim e não apenas por meu rosto bonito.
Quando levava minhas amigas para casa, eu me perguntava como o senhor as tratava. O senhor as via como minhas amigas ou como um rosto bonito em uma de suas fantasias? Nenhuma garota deveria sequer imaginar isso a respeito do homem suposto a proteger a ela e às outras mulheres em sua vida.

Eu conheci um homem. Uma das primeiras coisas que lhe perguntei foi sobre sua luta com a pornografia. Agradeço a Deus por não ser algo que tenha tomado tanto controle sobre sua vida. Nós ainda temos lutas por causa da profunda desconfiança dos homens que tenho em meu coração. Sim, o seu consumo de pornografia afetou o meu relacionamento com o meu marido, anos depois.

Se eu pudesse lhe dizer uma coisa, seria isto: a pornografia não afetou apenas a sua vida; afetou todos ao seu redor, de maneiras que eu acho que o senhor não pode sequer imaginar. E ainda me afeta, até hoje, quando eu penso na influência que isso tem em nossa sociedade. Apavoro-me com o dia em que tiver que conversar com meu querido pequeno garoto sobre a pornografia e suas vastas e gananciosas mãos. Quando eu contar a ele como a pornografia, assim como a maior parte dos pecados, afeta muito mais que apenas a nós mesmos.

Como disse, eu já o perdoei. Sou muito agradecida a Deus pelo trabalho que Ele tem feito em minha vida nesta área. É uma área com a qual eu ainda luto de vez em quando, mas sou agradecida pela graça de Deus e pela de meu marido. Rezo para que o senhor supere tudo isso e para que muitos homens que lutam com a pornografia tenham os seus olhos abertos.

Com amor,

Sua filha.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

GAME OF THRONES

Por Pe. Valderi Silva

Tenho apenas lido sinopses e assistidos pequenos "flashs" do seriado, mas conheço sua índole imoral. Penso nem ser tão necessário que se busque muitos argumentos para ver neste seriado mais um instrumento utilizado para subliminar a mensagem de ditadura do homossexualismo e erotismo pornográfico na mente principalmente dos jovens. Sabemos que o mundo desde muito tempo é chagado pela pornografia e homossexualismo, mas a campanha intensa para elevar a categoria de "lei natural" estes desvios morais está cada vez mais forte e explícita. Hoje em dia, a violência não preocupa mais tanto quanto esta campanha sutil, mas extremamente letal à humanidade.
Enfim, o citado seriado é mais que uma afronta ou absurdo, é uma verdadeira arma apontada para pureza a qual o ser humano é chamado. Este seriado deve ser proibido independente dos argumentos contra.
 
Fonte: A Vida Sacerdotal

terça-feira, 9 de abril de 2013

É possível viver a castidade apesar de sentir atração pelo mesmo sexo?

Batalha


SIM, É POSSÍVEL! Para explicar melhor isso, precisamos compreender que a castidade é dispor da sexualidade, subordinando os desejos sexuais ao espírito, afim de que esses desejos não escravizem a pessoa, nem a levem a tratar os outros como objetos de sua satisfação egoísta, mas que eles se realizem sob o amor caritativo (que se dispõe a renunciar-se a si mesmo pelo bem e salvação do outro) e em vista de alcançar os bens do amor esponsal e da procriação. Aquele que sente atração pelo mesmo sexo pode viver esta virtude, pois seus desejos sexuais - por mais intensos que sejam - não impedem a liberdade de a pessoa decidir por não os realizar e agir segundo essa decisão. Pela fuga das ocasiões de pecado, pelo jejum e pela vida de oração, qualquer pessoa pode viver a castidade. Para vivê-la com mais segurança, deve aplicar-se com mais devoção a recorrer à Eucaristia e à Santíssima Virgem. E não se deve alegar que é tarefa impossível ao homem viver a castidade, visto que mesmo os que não creem conseguem viver essa virtude (por exemplo, os monges budistas), porém, no caso deles, sem a dimensão e os auxílios da fé cristã.  

Porém, é verdade que, devido um longo período de práticas homossexuais, de masturbação, de pornografia, ou de pensamentos impuros, muitos dos que sentem atrações pelo mesmo sexo ficam condicionados a pecar contra a castidade. Eles querem abandonar essas práticas, arrependem-se e se confessam, porém, depois de certo tempo, sentem-se tão intensamente constrangidos a pecar que acabam pecando de novo. Daí sentem grande tristeza, pois pecaram, mesmo tendo feito o propósito de não fazê-lo. Contudo, mesmo partindo dessa condição, é possível alcançar a castidade. Pois, nestes casos, é comum duas situações que não são autoexcludentes: a primeira, em que a vontade está enfraquecida, de modo que, apesar de ter decidido não pecar, ela vacila e cede às paixões da carne; e a segunda, em que a carência está mal trabalhada a ponto de a pessoa ter um apego afetivo às suas práticas - nesta situação, as práticas sexuais são vias de escapar de uma realidade insatisfatória e, às vezes, também solitária. Trabalhando ambos, o fortalecimento da vontade e a carência, é possível superar gradativamente essas práticas e alcançar a castidade. Para que seja mais efetivo, sugerimos que a pessoa, nestas condições, procure um sacerdote ou alguém que tenha vida ascética, para que seja acompanhado por ele. Também, caso a pessoa ou o diretor espiritual considere oportuno, pode considerar a busca de apoio psicológico, para lidar com o enfraquecimento da vontade e com a carência.

Muitos afirmam que não, mas a verdade não é essa. O homem criado como um ser racional, é chamado a dominar as suas paixões e não a deixar-se dominar por elas. Portanto, é possivel SIM viver a castidade a pesar de sentir atração pelo mesmo sexo. E o nosso apostolado nos EUA há mais de 30 anos apresenta testemunhos contundentes dessa verdade.
Fonte: Juventude Coragem

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Beijos, abraços e leituras podem ser pecado de luxúria? O teólogo responde


Antonio Royo Marín, O.P.


II. OS PECADOS INTERNOS DA LUXÚRIA
597. Os pecados internos de luxúria são três: os pensamentos impuros, os desejos impuros e o gozo pelos pecados cometidos. O primeiro se refere ao presente; o segundo, ao futuro, e o terceiro, ao passado.

Falamos que todos eles ao tratar dos pecados internos em geral e remetemos ao leitor a aquele outro lugar (cf. n.257-262).

Aqui nos limitamos a recordar os dois princípios fundamentais que iluminam toda esta questão, e que, bem aplicados, resolvem toda a ampla casuística que possa apresentar-se na prática. São os seguintes:

1.0 O deleite desonesto interno diretamente procurado ou voluntariamente aceito é sempre pecado mortal e não admite DIMINUIÇÃO de matéria.

Por conseguinte, qualquer pensamento impuro, qualquer desejo impuro, qualquer gozo pela lembrança de uma ação impura que se cometeu anteriormente, é em si pecado mortal quando lhe adverte com toda clareza e lhe consente ou aceita com plena vontade. Somente cabe o pecado venial por imperfeição do ato (ou seja, por falta desta plena advertência ou consentimento), mas não pela DIMINUIÇÃO de matéria quando foi plenamente advertida e aceita.

Que classe de pecado se comete e se recolher ou não as circunstâncias do objeto sobre que recai (v.gr., a malícia do adultério, incesto, etc.), explicamo-lo já ao falar dos pecados internos em geral (cf. n.257-262).

2.° Não há nenhuma razão que possa autorizar jamais a permissão indireta de atos internos de luxúria referentes ao futuro (desejos impuros) ou ao passado (gozo ou aprovação dos atos impuros realizados), já que estes são atos próprios da vontade que supõem a aceitação, ou consentimento ao pecado. Mas com causa gravemente proporcionada (v. gr., o exercício profissional do médico, sacerdote, estudante de medicina, etc.) é lícito permitir que sobrevenham pensamentos desordenados, com tal de rechaçar absolutamente o consentimento voluntário aos mesmos, já que é do todo impossível evitá-los e não se contrai sua malícia do momento em que não se buscam diretamente nem se consentem ao produzir-se.

IV. LUXÚRIA EXTERNA NÃO CONSUMADA
Para maior ordem e claridade dividimos esta matéria em duas partes:

A. Atos impudicos em geral.

B. Aplicações concretas.

A) Atos impudicos em geral

598. I. Noção. Em geral se designam com o nome de atos impudicos aqueles que, sem ser propriamente venéreos em si mesmos, relacionam-se, entretanto, com a luxúria e influem nela mais ou menos diretamente. Tais são, principalmente, olharess, toques, beijos, abraços, leituras, cantos ou conversações perigosas, etc. A eles se reduzem também os bailes, espetáculos, fotografias, etc., que sejam perigosos em si ou relativamente à pessoa em questão.

599. 2. Malícia. Consiste na aptidão natural que têm para excitar movimentos torpes que podem conduzir até o deleite venéreo completo. Mas, em si mesmos, muitos deles são indiferentes e podem realizar-se de tal forma que não envolvam pecado algum e até que sejam inclusive louváveis (v.gr., o beijo carinhoso dado à própria mãe).

Estes atos, em si indiferentes, convertem-se em impudicos e maus por um triplo capítulo :

Iº. PELO FIM COM QUE SE EXECUTAM. E neste sentido podem ser:

A. Pecado mortal, se se buscar e tenta com eles obter diretamente um prazer venéreo, embora seja muito pequeno e imperfeito.

B. Pecado venial, se se fizerem unicamente por ligeireza, brincadeira, curiosidade, etc., ou inclusive pelo prazer puramente sensível que com eles pode experimentar-se (v. gr., na boca ao beijar), excluindo, de uma vez, todo afeto ou deleite propriamente carnal (cf. D 1140) e o perigo próximo de que se produza (coisa muito difícil na prática, sobre tudo se se prolongam algum tempo).

C. Nenhum pecado, se o fim for bom e se fazem por necessidade ou verdadeira utilidade; e isso embora houvesse algum perigo de movimentos desordenados, com tal, naturalmente, de não consentir neles se se produzirem de fato. Mas quanto mais perigosos sejam em si mesmos, tanto maior tem que ser a causa que os desculpe; e assim, v. gr., só os médicos, praticantes, etc., têm razão suficiente para ver ou tocar, quando é necessário, as partes íntimas do cliente.

2º. PELO INFLUXO NA COMOÇÃO VENÉREA. E assim serão:
a) Pecado mortal, quando influem próxima e notavelmente em dita comoção e se executam sem causa alguma ou de tudo insuficiente e desproporcionada. As aplicações são variadísimas: olhares, toques, beijos, baile, espetáculos, fotografias, praias, etc., etc., quando influírem nessa forma próxima e notável e se executam sem grave causa e sem as devidas precauções.

b) Pecado venial, quando ficam sem razão suficiente, mas influem tão somente remota ou levemente (v.gr., alguma piada um pouco obscena, um beijo rápido na testa ou na bochecha, um espetáculo um pouco atrevido, mas não imoral, etc.), e não se teve má intenção, nem se produziu grave escândalo, nem se consentiu em nenhum pensamento ou afeto torpe.

c) Nenhum pecado, quando influem tão somente remota ou levemente e houve, além disso, alguma razão de verdadeira utilidade ou conveniência para isso (v.gr, por educação, amizade, afeto familiar, etc.), excluído sempre o consentimento aos movimentos torpes que possam surgir.

3º. PELA FRAGILIDADE ESPECIAL DO AGENTE ou POR RAZÃO DE ESCÂNDALO. Pode ocorrer, em efeito, que algum desses atos que de ordinário influem tão somente remota ou levemente na maior parte da gente, afetem, entretanto, próxima e notavelmente a uma pessoa extraordinariamente frágil e propensa à sensualidade, em cujo caso deve evitar, ao menos até que se serene e normalize, aquelas coisas que outras pessoas mais normais se podem permitir sem pecado. Diga-o mesmo por razão do escândalo que pode produzir-se (v. gr., vendo um sacerdote em um espetáculo impróprio para ele, embora não levasse por sua parte nenhuma má intenção ao assistir).

B) Aplicações concretas

Para ilustrar melhor os princípios que acabamos de expor, vamos aplicá-los a alguns casos concretos e particulares, advertindo, não obstante, que estas aplicações valem unicamente em termos gerais e segundo o que está acostumado a ocorrer ordinariamente; mas na prática terá que ter sempre em conta o conjunto de circunstâncias, principalmente a intenção ou finalidade do agente, as razões que existam para expor-se a algum perigo, sua maior ou menor periculosidade em ordem a suas disposições subjetivas e o escândalo que possivelmente possa dar-se com uma ação acaso lícita em si mesmo ou para outros.

Feitas estas condições, eis aqui o que se pode concluir em termos gerais:

600. 1º. Olhares e toques.
a) Será ordinariamente pecado mortal olhar ou tocar sem causa grave (como a tem o médico, cirurgião, etc.) as partes desonestas de outras pessoas, sobre tudo se forem de diversos sexo, e até do mesmo se se tiver inclinação desviada para ele. Diga-o mesmo com relação às mulheres nos peitos.

b) Pode ser simplesmente venial olhar ou tocar as próprias partes unicamente por ligeireza, curiosidade, etc., excluída toda intenção venérea ou sensual e todo perigo próximo de excitar nelas movimentos desordenados. Não é pecado algum fazer isso mesmo por necessidade ou conveniência (v.gr., para curar uma enfermidade, lavar-se, etc.).

c) Para julgar da importância ou gravidade dos olhares ou toques às restantes parte do corpo humano próprio ou alheio, mais que à anatomia terá que atender à intenção do agente, ao influxo que pode exercer na comoção carnal e às razões que houve para as permitir, de acordo com os princípios anteriormente expostos. Às vezes será pecado mortal o que em outras circunstâncias ou intenções seria tão somente venial e possivelmente nenhum pecado.

d) O dito com relação ao corpo humano, aplique-se à vista de estátuas, quadros, fotografias, espetáculos, etc., na medida, grau e proporção com que possam excitar a própria sensualidade.

602. 2.° Beijos e abraços.
a) Constituem pecado mortal quando se tenta com eles excitar diretamente o deleite venéreo, embora se trate de parentes e familiares (e com maior razão entre estes, pelo aspecto incestuoso desses atos).

b) Podem ser mortais, com muita facilidade, os beijos passionais entre noivos (embora não se tente o prazer desonesto), sobre tudo se forem na boca e se prolongam algum tempo; pois é quase impossível que não representem um perigo próximo e notável de movimentos carnais em si mesmo ou na outra pessoa. Quando menos, constituem uma falta maior de caridade para com a pessoa amada, pelo grande perigo de pecar a que a expõe. É incrível que estas coisas possam fazer-se em nome do amor (!). Até tal ponto os cega a paixão, que não lhes deixa ver que esse ato de paixão sensual, longe de constituir um ato de verdadeiro e autêntico amor—que consiste em desejar ou fazer o bem ao ser amado—, constitui, em realidade, um ato de egoísmo refinadísimo, posto que não vacila em satisfazer a própria sensualidade até a costa de lhe causar um grande dano moral à pessoa amada. Diga-o mesmo dos toques, olhares, etc., entre esta classe de pessoas.

c) Um beijo rápido, suave e carinhoso dado a outra pessoa em testemunho de afeto, com boa intenção, sem escândalo para ninguém, sem perigo (ou muito remoto) de excitar a própria ou alheia sensualidade, não pode proibir-se em nome da moral cristã, sobre tudo se houver alguma causa razoável para isso; v.gr., entre prometidos formais, parentes, compatriotas (onde haja costume disso), etc.

602. 3º. Conversas e cantos.
a) É pecado mortal iniciar ou manter uma conversação francamente desonesta ou obscena, que não pode ter outra finalidade que excitar a sensualidade própria ou alheia ou escandalizar a outros. O iniciador peca mais gravemente que o resto dos interlocutores. Diga-o mesmo de um canto gravemente obsceno, ou seja, apto para escandalizar a qualquer pessoa normal.

b) Sustentar alguma conversação sobre matérias obscenas ou perigosas (v.gr., sobre os deveres íntimos do matrimônio, obstetrícia, etc.) sem causa suficiente para isso, mas também sem nenhuma má intenção, ordinariamente não passará de pecado venial, ao menos se pela maneira de falar, seriedade dos circunstantes, etc., vê-se claro que não produz escândalo nenhum nem se corre perigo de excitar a sensualidade própria ou alheia. Com causa justificada (v.gr., por razão de estudo da medicina ou a moral) não teria pecado algum.

c) As piadas, historietas mais ou menos subidas de tom, etc., relatados sem má intenção e sem escândalo dos circunstantes, ordinariamente não passam tampouco de pecado venial, porque a risada está acostumada recair, não sobre a coisa obscena em si mesmo, a não ser sobre o engenho ou graça do caso. Entretanto, são muito inconvenientes (sobre tudo em presença de pessoas ligeiras e largas de consciência), porque revistam degenerar facilmente em conversações obscenas, gestos torpes e brincadeiras soezes das coisas mais sérias e sagradas. Neste último caso, claro está que seriam pecado mortal.

603. 4.° Leituras.
Com ligeiras variantes, pode aplicar-se às leituras o que acabamos de dizer nos números anteriores. E assim;

a) É pecado mortal ler um livro francamente obsceno que excite gravemente a sensualidade do leitor, já seja de tipo científico, recreativo ou histórico. Com grave causa e as devidas precauções poderia autorizar-se por razão do ofício (médico, confessor, censor literário, etc.), sempre que não represente um perigo próximo de consentimento nos movimentos desordenados que excite, porque, neste caso, seria gravemente ilícito pelo mesmo direito natural.

b) As novelas amorosas, científicas ou de aventuras, etc., que não excitem a sensualidade, ou só de maneira remota ou leve, podem ler-se sem pecado grave até com causa muito ligeira; e com causa proporcionada, inclusive sem pecado leve. Mas de ordinário devem desaconselhar-se aos jovens, pelo tempo que perdem nisso com prejuízo de suas obrigações, por lhes transladar a uma esfera irreal cheia de ilusões e fantasias e por outros muitos inconvenientes pelo estilo. As novelas obscenas estão de sua gravemente proibidas para todos pelo mesmo direito natural.
Fonte: A Vida Sacerdotal

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O teólogo responde: o que é LUXÚRIA?


O que é a LUXÚRIA?



Royo Marín: No nosso livro no CAPITULO II: Respeitar seu corpo; Ao abordar esta matéria tão áspera e suja, acreditam oportuno recolher a muito prudente advertência com que São Alfonso do Ligório começa a explicação da mesma:
«Agora vamos tratar, com desgosto, daquela matéria cujo só o nome infecciona a mente dos homens... !Oxalá mais breve e mais obscuramente pudesse me explicar! Mas, como esta seja a mais freqüente e mais abundante matéria das confissões e pela que maior número de almas caem no inferno—mais ainda: não vacilo em afirmar que por este só vício ou, ao menos, não sem ele se condenam todos os que se condenam—, daí que seja necessário, para instrução dos que desejam aprender a ciência moral, me explicar com clareza (embora da maneira mais casta possível) e discutir algumas coisas particulares».


Fiéis a esta ordem do grande santo e eminente moralista, vamos estudar esta matéria na forma mais breve e discreta possível, sem renunciar, não obstante, a informar ao leitor secular de tudo que precisa saber para formar sua própria consciência em torno destas questões.

Dividimos a matéria em dois artigos fundamentais: I.°, da luxúria em geral, e 2. °, das espécies de luxúria.

Noção de luxúria em geral: Em sentido amplo ou metafórico, a palavra luxúria designa qualquer luxo, excesso ou exuberância; e assim, por exemplo, de um campo muito fértil se diz que tem uma luxuriante vegetação. Mas no sentido próprio e estrito que aqui nos interessa se define: o apetite ou o uso desordenado do venéreo. Consiste principalmente no uso da faculdade generativa fora do matrimônio ou dentro dele contra suas leis.

A luxúria é um dos sete pecados capitais. Dela derivam outros muitos pecados, principalmente a cegueira da mente, precipitação, desconsideração, inconstância, amor desordenado de si mesmo, ódio a Deus, apego às coisas desta vida e horror à futura. Santo Tomás dedica um muito belo artigo a esta questão.

A divisão fundamental é a que distingue entre luxúria consumada, completa ou perfeita, e a não consumada, incompleta ou imperfeita, conforme chegue ou não até o orgasmo completo, com sua correspondente efusão seminal no varão ou de humores vaginais na mulher.
  • Consumada-a se subdivide em segundo a natureza, se dela pode segui-la geração de um novo ser, e contra a natureza, se de sua não é apta para a geração. refere-se sempre a atos externos e não pode dar-se nos meramente internos.
  • A não consumada pode ser interna e externa, conforme se refira tão somente a atos meramente internos ou a atos externos imperfeitos.
É preciso, acima de tudo, ter sempre à vista dois grandes princípios que informam toda esta questão, e que, bem compreendidos, resolvem sem mais toda a abundante e complicada casuística que pode expor-se em torno à luxúria, ei-los aqui com toda claridade e precisão:

Primeiro princípio:
A luxúria ou deleite venéreo, tanto a consumada ou perfeita como a não consumada ou imperfeita, DIRETAMENTE PROCURADA fora do legítimo matrimônio, é sempre pecado mortal e não admite diminuição de matéria.

Expliquemos, acima de tudo, os termos do princípio:

A LUXÚRIA ou DELEITE VENÉREO, ou seja, a própria e específica da geração humana, diferencia-se:

A. Do deleite puramente sensível, que é o produzido por um ato ou objeto prazeroso em si mesmo, mas não apto em si para excitar o prazer venéreo (v.gr., o aroma de uma rosa, a suavidade do veludo, o aprimoramento de um manjar, etc.).

B. Do deleite sensual, que é o produzido por um ato ou objeto que, embora não é propriamente venéreo em si mesmo, é apto, entretanto, para excitar a concupiscência da carne (v.gr., um beijo, um abraço, etc.). Nestes últimos terá pecado ou não segundo a intenção ou finalidade com que se façam.

TANTO A CONSUMADA ou PERFEITA, ou seja, a que chega a seu término natural pelo orgasmo e efusão seminal no varão ou de humores vaginais na mulher.

COMO A NÃO CONSUMADA ou IMPERFEITA, que se reduz a pensamentos, olhares, toques, etc., com intenção ou finalidade desonesta.

DIRETAMENTE PROCURADA, já seja por ter tentado voluntariamente obter o prazer venéreo completo ou incompleto, ou por ter mimado nele quando se produziu sem buscá-lo.

FORA DO LEGÍTIMO MATRIMÔNIO, ou seja, fora dos atos ordenados de sua à geração humana dentro do legítimo matrimônio.

É SEMPRE PECADO MORTAL, não só por estar grave e expressamente proibida Por Deus, mas sim por ser uma coisa de sua natureza intrinsecamente má.

E NÃO ADMITE DIMINUIÇÃO DE MATÉRIA, ou seja, que, por insignificante que seja o ato desordenado (v.gr., um simples movimento carnal), é sempre pecado mortal quando através dele se busca diretamente o prazer venéreo. Só pode dar o pecado venial por imperfeição do ato humano, ou seja, por falta da suficiente advertência ou de pleno consentimento.

Vejamos agora a prova teológica do princípio:
a) PELA SAGRADA ESCRITURA. São inumeráveis os textos. Eis aqui alguns dos mais conhecidos:

«Não adulterará» (Ex. 20,14).

«Todo aquele que olha a uma mulher desejando-a, já adulterou com ela em seu coração» (MT. 5,28).

«Não lhes enganem: nem os fornicadores, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas... possuirão o reino de Deus» (1 Cor. 6,9-1o).

«Agora bem: as obras da carne são manifestas, ou seja: fornicação, impureza, lascívia... e outras como estas, das quais lhes previno, como antes o fiz, que quem tais coisas fazem não herdarão o reino de Deus» (Gal. 5,19-21).

«Pois têm que saber que nenhum fornicador ou impuro... terá parte na herdade do reino de Cristo e de Deus» (Eph. 5,5).

Como se vê, os textos não podem ser mais claros e categóricos. trata-se da exclusão do reino dos céus, que corresponde ao pecado grave ou mortal; e afeta não só aos atos consumados ou perfeitos (fornicação, adultério), mas sim inclusive aos não consumados ou imperfeitos: basta um simples olhar mal ntencionado, como declara o mesmo Cristo no Evangelho (MT. 5,z8).

b) PELO MAGISTÉRIO DA IGREJA. A Igreja (Aelxandre VII) condenou, ao menos como escandalosa, a seguinte proposição:

«É opinião provável a que diz ser somente pecado venial o beijo que se dá pelo deleite carnal e sensível que do beijo se origina, excluído o perigo de ulterior consentimento e poluição» (D I140).

Agora bem: se um simples beijo dado com intenção carnal (luxúria imperfeita ou não consumada) é pecado grave, serão-o também outros atos de luxúria imperfeita, e a fortiori os de luxúria consumada ou perfeita.

c) PELA RAZÃO TEOLÓGICA. Todos os teólogos católicos estão de acordo em proclamar que a luxúria perfeita ou imperfeita é em si intrinsecamente má e não só porque está proibida Por Deus. A razão fundamental é porque o prazer venéreo o pôs Deus no ato da geração como estímulo para ela, dada sua necessidade imprescindível para a propagação do gênero humano. É, pois, um prazer cuja única e exclusiva razão de ser é o bem da espécie, não do indivíduo particular. Agora bem: utilizar esse agradar em proveito e utilidade própria fora de sua ordenação natural à geração em legítimo matrimônio é subverter a ordem natural das coisas, o qual é sempre intrinsecamente mal, porque se opõe ao que dispôs Deus, não só por uma lei positiva, mas também na natureza mesma das coisas; e como se trata de uma desordem grave, que afeta ao bem de toda a sociedade humana, sua infração voluntária e direta tem que constituir forçosamente um pecado mortal.

A esta razão fundamental podem acrescentar-se outras várias, principalmente para pôr de manifesto a ilegitimidade incluso dos atos imperfeitos. Porque:

1.° Tratando-se de matéria tão escorregadia, é quase impossível realizar o ato imperfeito sem expor-se a grave perigo de chegar até o perfeito; e, como é sabido, é pecado grave expor-se sem causa justificada—não o é nunca o desejo de satisfazer a própria sensualidade—a perigo próximo de pecado grave.

2º. É virtualmente impossível procurar o deleite venéreo incompleto sem que implicitamente se busque e queira o completo; porque, como adverte com fundamento Santo Tomás, a incógnita de uma coisa se ordena sempre a sua consumação»; de onde, que quer a incógnita, pelo mesmo quer implícita e necessariamente a consumação, da mesma maneira que o que quer um bem imperfeito o quer assim que tende de seu ao bem perfeito.

3º. O prazer venéreo que se obtém com a luxúria imperfeita se ordena também, por si, ao bem da espécie, já que é um aspecto parcial do estímulo natural para a geração posto no organismo humano pelo mesmo Autor da natureza. Logo utilizá-lo em proveito próprio fora daquela muito alta finalidade é subverter a ordem natural das coisas, e, pelo mesmo, é em si intrinsecamente mau.

Segundo princípio: A luxúria perfeita ou imperfeita, involuntária em si mesmo, mas INDIRETAMENTE PERMITIDA ao realizar uma ação em si indiferente, pode ser pecado grave, leve ou nenhum pecado, segundo as razões que se tiveram para realizar aquela ação e o comportamento observado ao produzir o prazer venéreo não procurado.

Expliquemos, acima de tudo, os termos do princípio:

A LUXÚRIA PERFEITA ou IMPERFEITA, no sentido já explicado.

INVOLUNTÁRIA em si mesmo, ou seja, não procurada nem tentada direta nem indiretamente em si mesmo.

MAS INDIRETAMENTE PERMITIDA. Não é o mesmo querer uma coisa que permiti-la indiretamente quando há justa causa para isso, de acordo com as leis do voluntário indireto. Tornaremos em seguida sobre isto.

AO REALIZAR UMA AÇÃO DE EM SI BOA ou INDIFERENTE; por exemplo, ao reconhecer a uma doente, ao estudar certas matérias necessárias de medicina ou moral, ao tomar um banho quente, etc. Se a ação excitante fora já de sua má (v.gr., a assistência a um espetáculo imoral), não poderia invocar-se ao voluntário indireto, já que uma de suas regras fundamentais é que se realize e tente exclusivamente uma ação boa, ainda que dela se siga indiretamente um efeito mau.

PODE SER PECADO GRAVE, LEVE ou NENHUM PECADO, na forma que explicaremos em seguida.

SEGUNDO AS RAZÕES QUE SE TIVERAM PARA REALIZAR AQUELA AÇÃO. É o aspecto mais importante do princípio, que explicaremos em seguida detalhadamente.

E O COMPORTAMENTO OBSERVADO AO PRODUZIR O PRAZER VENÉREO NÃO PROCURADO. É outro aspecto fundamental. Se, ao produzir o prazer não procurado, consente-se voluntária e perfeitamente nele, comete-se sempre pecado mortal, embora a causa excitante se tenha posto por graves razões e sem intenção alguma pecaminosa. Se o consentimento for imperfeito, comete-se pecado venial por imperfeição do ato humano. E se se rechaça totalmente o prazer, não se comete pecado algum, contanto que a causa excitante se pôs por razões gravemente proporcionadas segundo as leis do voluntário indireto.

Expliquemos agora com detalhe os dois pontos que ficaram sem explicar, ou seja, os relativos à classe do pecado que se comete segundo as razões que tenha havido para permitir o efeito desordenado que se segue ou pode seguir-se de uma causa em si boa ou indiferente. A questão não é tão fácil como a primeira vista pudesse parecer, e é preciso, para resolvê-la com acerto, estabelecer com toda claridade e precisão umas quantas distinções muito importantes.

1.a. Há ações que de dele (per se) são aptas para excitar a deleite venérea (v.gr., um olhar ou toque francamente obscenos); e outras que em si nada têm que ver com o prazer venéreo, mas poderiam lhe excitar indiretamente (per accidens); por exemplo, comer ou beber em demasia, montar a cavalo, tomar um banho quente, etc.

2.a Entre as primeiras—ou seja, as que operaram per se — terá as que atuam próxima e notavelmente no efeito desordenado, de sorte que sempre ou quase sempre se produz de fato (v.gr., a vista prolongada das partes desonestas de uma pessoa de diferente sexo, uma leitura muito obscena, etc.); e outras que só influem remota e levemente (v.gr., a vista ou conversação com uma pessoa de aparência agradável, estreitá-las mãos ao cumprimentar-se, etc.).

3.a Há ações que excitam próxima e notavelmente a certas pessoas (v.gr., aos jovens, aos de temperamento muito ardente e passional, etc.) que não causam impressão alguma, ou só muito leve, a outras pessoas (v.gr., de temperamento frio ou de idade muito avançada, etc.).

4.a Ao realizar uma ação em si boa ou indiferente que produz ou pode produzir um efeito mau, poderiam existir razões gravemente proporcionadas para realizá-la, ou razões insuficientes, ou nenhuma razão absolutamente.

Tendo em conta estes princípios, eis aqui as conclusões a que se deve chegar:

1.a. É PECADO MORTAL realizar sem grave razão uma ação boa ou indiferente que influa próxima e gravemente no prazer venéreo (já seja por si mesmo ou pela especial psicologia de uma pessoa determinada), embora em algum caso concreto não se seguisse de fato aquele prazer. A razão é porque não é lícito a ninguém, sem grave causa, expor-se a perigo próximo de pecar gravemente (cf. n.256).

Grave causa a tem, v.gr., o médico. que deve reconhecer ao doente, o estudante de medicina que deve aprender anatomia ou obstetria, o sacerdote que tem obrigação de estudar a moral ou de ouvir confissões acidentadas, etc. Nenhum destes pecaria se ao realizar esses estudos ou desempenhar suas funções profissionais experimentassem algum prazer desordenado, com tal, naturalmente, que rechaçassem absolutamente o voluntário consentimento do mesmo.

Tampouco pecaria por este capítulo o que por uma larga experiência soubesse com toda certeza que não lhe excita carnalmente alguma ação de si boa ou indiferente que para outros resulta gravemente provocadora. Mas, como é natural, esta frieza subjetiva não poderia invocar-se para legitimar uma ação de si mesma má (v.gr., a assistência a um espetáculo imoral), porque se pecaria, ao menos, por razão do escândalo e da cooperação ao mal.

2.a É PECADO VENIAL realizar sem justa causa uma ação que influi tão somente per accidens, ou de maneira leve e remota, no prazer venéreo não procurado nem tentado direta nem indiretamente (v.gr., algum excesso na comida ou bebida, a vista e conversação com uma pessoa muito bela, etc.). A razão é porque, embora estas ações influem tão somente e remotamente no prazer venéreo, que, além disso, não se busca nem se tenta, pôr essas causas sem razão alguma e por puro capricho não deixa de envolver certa desordem, ao menos de imprudência e temeridade. Entretanto, como esta desordem não afeta diretamente à luxúria (já que neste caso seria grave, porque, como já havemos dito, não se dá DIMINUIÇÃO de matéria na luxúria diretamente intencionada), constitui tão somente um pecado venial, com tal, naturalmente, de rechaçar o consentimento ao prazer desordenado que possa produzir-se inesperadamente.

3ª. Não É PECADO ALGUM realizar com justa causa (v.gr., por necessidade, educação, utilidade ou conveniência) as ações que acabamos de indicar no parágrafo anterior (ou seja, as que influem só per accidens ou leve e remotamente). E com grave causa (v.gr., o exercício profissional de médicos, enfermeiros, etc.) inclusive as do primeiro parágrafo (ou seja, as que influem próxima e gravemente), com tal de tomar toda espécie de precauções de rechaçar no ato o prazer se se produzir. Entretanto, se a causa fora de tal maneira excitante e a própria debilidade tão grande que se tivesse certeza moral de que se produzirá o prazer e de que não se terá a suficiente energia para rechaçar o consentimento, seria absolutamente ilícito pôr aquela causa, embora para isso tivesse o interessado que abandonar sua própria profissão ou emprego, já que nem sequer para salvar a própria vida ou a do próximo é lícito jamais expor-se a perigo certo ou virtualmente inevitável de pecado.

Com estes dois princípios que acabamos de expor, bem compreendidos e assimilados, pode resolver com acerto toda a muito abundante casuística que expõe a luxúria em todas suas manifestações completas ou incompletas. Tudo gira em torno destes dois pontos fundamentais:
I.°, a luxúria diretamente tentada fora do legítimo matrimônio é sempre pecado mortal, sem que admita DIMINUIÇÃO de matéria (um simples movimento carnal, um simples olhar ao corpo de uma pessoa, basta para pecar mortalmente se com isso se tenta diretamente e experimentar um prazer ou deleite venéreo);

e 2.°, a luxúria involuntária, mas prevista, será pecado grave, leve ou nenhum pecado, conforme tenha havido ou não raciocínio proporcionadas para permiti-la e se rechaçou ou não o consentimento ao prazer desordenado no momento de produzir-se.
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