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segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Nossa liberdade está em sermos servos da verdade


Em discurso feito ainda no início de seu pontificado, São João Paulo II encoraja os sacerdotes a serem fiéis à doutrina moral da Igreja e faz uma bela reflexão sobre a reconciliação da consciência humana com Deus.


O texto a seguir infelizmente só se encontrava no site do Vaticano em línguas italiana e francesa, mas, dadas a atualidade do assunto, a caridade e a verdade das palavras, bem como a autoridade de quem fala — um Papa santo —, demo-nos ao trabalho de vertê-lo para a língua portuguesa, a fim de tornar disponível, a todos os que nos acompanham, esta preciosidade.

Quem se pronuncia abaixo é São João Paulo II, o tema de seu discurso é a "procriação responsável" e os destinatários de sua fala são os sacerdotes. A eles, partícipes consigo "do único sacerdócio de Cristo", o Papa dirige uma palavra de encorajamento, ao mesmo tempo em que medita sobre a reconciliação da consciência humana com Deus — tema ao qual ele dedicaria, em 1993, a importantíssima encíclica Veritatis Splendor.
Discurso do Papa São João Paulo II a sacerdotes participantes de seminário sobre "A procriação responsável"
Quinta-feira, 1.º de março de 1984
Caríssimos sacerdotes!

1. Alegro-me em acolher-vos nesta audiência especial, que me permite exprimir-vos o profundo afeto que tenho por vós, partícipes comigo do único sacerdócio de Cristo, e manifestar-vos ao mesmo tempo a grande consideração que tenho pelo trabalho pastoral ao qual dedicais as vossas melhores energias.

Vós desenvolveis o vosso apostolado particularmente a serviço da família, na justa convicção de que toda ajuda oferecida a esta célula fundamental do consórcio humano comporta uma eficácia multiplicada, que se reflete em diversos componentes do núcleo familiar, ao mesmo tempo em que se perpetua no tempo, graças à obra educacional que dos pais se percebe nos filhos e, por meio destes, nos netos.

Desejo confirmar-vos nesta convicção e encorajar-vos a prosseguir a obra começada, na qual não vos pode faltar a bênção de Deus, primeiro idealizador da comunidade familiar e, "quando chega a plenitude do tempo" (Gl 4, 4), seu providente redentor.

2. Este encontro acontece por ocasião de vossa participação no congresso que oCentro de estudos e pesquisas sobre a regulação natural da fertilidade, da Universidade Católica do Sagrado Coração, e o Instituto de estudos sobre o matrimônio e a família, da Pontifícia Universidade Lateranense, oportunamente promovem sobre o importante tema da procriação responsável. Gostaria, nesta circunstância, de dizer alguma coisa sobre o assunto a partir de um ponto de vista sobretudo pastoral.

Na recente celebração do Jubileu dos sacerdotes, admoestei-os: "Abramos sempre mais largamente os olhos — o olhar da alma — para compreender melhor o que significa perdoar os pecados e reconciliar as consciências humanas com o Deusinfinitamente santo, com o Deus da Verdade e do Amor" [1]. Reconciliar a consciência humana com o Deus da Verdade e do Amor; é esse o vosso ministério sempre, mas de um modo especial quando colocais o vosso sacerdócio a serviço dos esposos.

Vós quisestes, nestes dias, descobrir e aprofundar os fundamentos científicos, filosóficos e teológicos da procriação responsável: mais precisamente da doutrina da encíclica Humanae Vitae e da exortação apostólica Familiaris Consortio, a fim de reconciliar a consciência humana dos esposos com o Deus da verdade e do amor. Mas quando é que, de fato, a consciência humana é "reconciliada"? Quando passa a existir nela a paz profunda? Quando ela está na Verdade. E os dois documentos acima citados, na fidelidade à tradição da Igreja, ensinaram a verdade acerca do amor conjugal enquanto comunhão de pessoas.

O que significa "reconciliar a consciência dos esposos com a verdade do seu amor conjugal"? Quando os seus contemporâneos perguntam a Cristo se seria lícito ao marido repudiar a mulher, Ele responde reportando-se "ao princípio", isto é, aoprojeto original do Criador sobre o matrimônio. Vós também, que enquanto sacerdotes operais em nome de Cristo, deveis mostrar aos esposos que tudo quanto foi ensinado pela Igreja sobre a procriação responsável não é senão o projeto original que o Criador imprimiu na humanidade do homem e da mulher que se casam, e que o Redentor veio para restabelecer. A norma moral ensinada pelaHumanae Vitae e pela Familiaris Consortio é a defesa da verdade inteira do amor conjugal, porquanto exprime as exigências imprescindíveis deste amor.

Estejai certos: quando o vosso ensinamento é fiel ao magistério da Igreja, vós não ensinais algo que o homem e a mulher não possam compreender — inclusive o homem e a mulher de hoje. Esse ensinamento, de fato, que vós fazeis ressoar aos seus ouvidos, já está escrito em seus corações. O homem e a mulher devem ser ajudados a ler profundamente essa "escritura no coração". E o fato de que nesses três dias de estudo vós quisestes descobrir as razões do Magistério da Igreja, não significa porventura que quereis ter sempre mais claras as vias pelas quais conduzir os esposos à verdade profunda de si mesmos e do seu amor conjugal?

3. Reconciliar a consciência humana dos esposos com o Deus da verdade e do amor: a consciência humana dos esposos é verdadeiramente reconciliada quando eles descobrem e acolhem a verdade sobre o seu amor conjugal. De fato, como escreve Santo Agostinho, "beata quippe vita est gaudium de veritate, hoc est enim gaudium de te, qui veritas es — felicidade é gozo da verdade, o que significa gozar de ti, que és a verdade" [2].

Vós bem sabeis que, muitas vezes, a fidelidade por parte dos sacerdotes — digamos até, da própria Igreja — a essa verdade e às normas morais decorrentes (aquelas, quero dizer, ensinadas pela Humanae Vitae e pela Familiaris Consortio) custa muitas vezes um alto preço. Muitas vezes se é ridicularizado, acusado de incompreensão e de dureza, e de muitas outras coisas. É a sorte de todo testemunho da verdade, como bem sabemos. Ouçamos ainda uma página de Santo Agostinho: "No entanto, por que a verdade gera o ódio?", pergunta-se o santo doutor. "De fato", ele responde, "o amor da verdade é tal que os que amam algo diferente querem que aquilo que amam seja a verdade. Como não admitem ser enganados, detestam ser convencidos do seu erro. Assim, odeiam a verdade porque amam aquilo que supõem ser a verdade. Amam-na quando ela brilha, e a odeiam quando ela os repreende." [3]

Com simples e humilde firmeza, portanto, sede fiéis ao magistério da Igreja sobre esse ponto de importância tão decisiva para os destinos do homem.

4. Existe uma dificuldade verdadeira à reconciliação da consciência humana dos esposos com o Deus da verdade e do amor, dificuldade que é de natureza bem diferente desta há pouco indicada.

A reconciliação não acontece se os esposos somente sabem perceber a verdade do seu amor conjugal: é necessário que a sua liberdade se realize diante da verdade. A dificuldade verdadeira é que o coração do homem e da mulher é habitado pela concupiscência; e a concupiscência inclina a liberdade a não se submeter às exigências autênticas do amor conjugal.

Seria um erro gravíssimo concluir disso que a norma ensinada pela Igreja é em si própria apenas um "ideal" que deve posteriormente ser adaptado, proporcionado, graduado — dizem — às concretas possibilidades do homem: segundo um "cálculo dos vários bens em questão". Mas quais são as "concretas possibilidades do homem"? E de que homem se fala? Do homem dominado pela concupiscência ou do homem redimido por Cristo? Pois é disso que se trata: da realidade da redenção de Cristo. 

Cristo nos redimiu! Isso significa que Ele nos deu a possibilidade de realizar toda a verdade do nosso ser; Ele libertou a nossa liberdade do domínio da concupiscência. E se o homem redimido ainda peca, não é devido à imperfeição do ato redentor de Cristo, mas à vontade do homem de furtar-se à graça que brota daquele ato. O mandamento de Deus é certamente proporcionado às capacidades do homem: mas às capacidades do homem a quem foi dado o Espírito Santo; do homem que, no caso de cair no pecado, sempre pode obter o perdão e gozar da presença do Espírito.

A reconciliação da consciência humana dos esposos com o Deus da Verdade e do Amor se dá pela remissão dos pecados — pelo humilde reconhecimento de que não somos adequados e comensurados, por assim dizer, à verdade e às suas exigências —, e não pela orgulhosa redução da verdade e das suas exigências àquilo que nósdecidimos ser verdadeiro e bom. A nossa liberdade está em sermos servos da verdade. Como lemos na Liturgia das Horas de ontem: "Servo fiel é aquele que não espera ouvir de ti o que desejaria ouvir, mas antes deseja aquilo que ouve de ti" [4].

A nossa caridade pastoral para com os esposos consiste em sermos sempre disponíveis a oferecer-lhes o perdão dos pecados, através do sacramento da Penitência, não em diminuirmos aos seus olhos a grandeza e a dignidade do seu amor conjugal.

5. "Abramos sempre mais largamente os olhos — o olhar da alma — para compreender melhor o que significa perdoar os pecados e reconciliar as consciências humanas com o Deus infinitamente santo, com o Deus da verdade e do amor".

É desse olhar profundo de nossa alma sacerdotal que os esposos têm necessidade, que toda a Igreja tem necessidade. Para que os esposos, para que toda a Igreja louve o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, imersa na contemplação daquele amor e daquela verdade com as quais vós reconciliais a consciência humana dos esposos.

Invocando sobre o vosso ministério a confortante efusão dos copiosos dons da sabedoria e da caridade, de coração vos concedo minha bênção apostólica.

Fonte: Santa Sé | Tradução: Equipe Christo Nihil Praeponere
Referências
Santo Agostinho, Confissões X, 23, 33. Trad. port. de Maria L. J. Amarante. São Paulo: Paulus, 1984, p. 292.
Idem.
Santo Agostinho, op. cit., X, 26, 37, p. 295.

Créditos:https://padrepauloricardo.org/blog/nossa-liberdade-esta-em-sermos-servos-da-verdade

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Padre Daniel Pinheiro IBP - O combate pela virtude da castidade [Sermão]


“Tudo o que fizerdes, em palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus Cristo, dando por Ele graças a Deus Pai.”

Na parábola de hoje, NS diz que, enquanto os homens dormiam, veio o inimigo e semeou cizânia no meio do trigo e foi-se. Entre a cizânia semeada, podemos destacar o pecado da impureza, que tão grande mal faz às almas e à sociedade e que abunda na sociedade, em todos os meios. Diz o Santo Cura d’Ars que nenhum pecado destrói tão rapidamente a alma quanto esse pecado vergonhoso que nos tira da mão de Deus e nos joga na lama. São Tomás de Aquino diz algo semelhante: pela luxúria ou impureza somos afastados ao máximo de Deus. Os santos não estão dizendo aqui que o pecado da impureza é, em si mesmo, o pecado mais grave. O pecado de ódio a Deus ou um pecado contra a fé são em si mais graves, por exemplo. Todavia, os santos dizem que a impureza afasta mais de Deus que outros pecados em virtude da dificuldade em emendar-se quando se contrai o mau hábito de cair nesses pecados vergonhosos. Levado pela ferida do pecado original, o ser humano se deixa escravizar facilmente por esse pecado. E daí vêm consequências gravíssimas. Sobre as consequências drásticas desse pecado para uma alma e para a sociedade, sobre as filhas da luxúria ou impureza, falamos em um importante sermão nos dias do carnaval. Não custa enumerar essas consequências novamente. O vício da impureza gera: cegueira de espírito, precipitação, inconsideração, inconstância, amor desordenado de si mesmo, ódio a Deus, apego à vida presente, desespero com relação à salvação. A luxúria, por tudo isso, leva também a pessoa a perder a fé, a desprezar as verdades reveladas e a se obstinar no pecado, esquecida do juízo e do inferno. Para fazer uma alma perder a fé, é muitas vezes mais eficaz fazê-la se afundar na luxúria do que combater a fé diretamente. As músicas sensuais pelas letras e ritmos, filmes, roupas indecentes, etc., contribuem muitíssimo para a perda da fé sem atacá-la diretamente. Os que combatem a Igreja sabem muito bem disso. Podemos citar ainda, entre as filhas da luxúria, o aborto, que é assassinato, e a eutanásia, que é suicídio ou assassinato. A luxúria leva ao aborto porque as pessoas querem satisfazer suas paixões desordenadas sem responsabilidade. Leva à eutanásia porque se a pessoa já não pode aproveitar a vida, melhor que morra. Quantos males gravíssimos e quantas calamidades espirituais são causados pela busca de um prazer desordenado instantâneo, passageiro. Se de nada vale ao homem ganhar o mundo inteiro, se ele vier a perder a sua alma, o quanto vale ao homem cometer tão vergonhoso e torpe pecado, que lhe faz perder o céu e merecer o inferno? Diz Santo Afonso que, entre os adultos, poucos se salvam por causa desse pecado. Ele dizia isso no século XVIII. Podemos imaginar a situação em nossos dias… Por tão pouca e vergonhosa coisa.

Tendo, então, uma breve ideia das consequências desse pecado, procuremos os meios para adquirir ou avançar na virtude oposta a esse vício, quer dizer, na virtude da castidade. A virtude da castidade é a virtude derivada da virtude de temperança que nos faz ordenar o apetite venéreo conforme a razão iluminada pela fé, que reconhece que isso se reserva aos cônjuges no bom uso do matrimônio, isto é, sem que a procriação seja impedida, podendo, nesse caso, ser verdadeiramente um ato meritório diante Deus. Nossa razão reconhece que esse ato é ordenado à procriação e subsequente educação dos filhos, que se deve fazer dentro de um matrimônio indissolúvel.

Para que possa haver castidade, é preciso que haja primeiro, nos diz São Tomás, a vergonha e a honestidade. A vergonha é o sentimento louvável de temer a desonra e a confusão que são consequência de um pecado torpe. A honestidade é o amor à beleza que provém da prática da virtude. Devemos ter essa vergonha e essa honestidade. Outra raiz da pureza é a modéstia no nosso exterior, no falar, nos modos, no vestir, etc. Sem a modéstia, a pureza será impossível para nós e seremos também causa da queda dos outros.

Colocadas essas bases, para alcançar a castidade, é preciso também rezar muitíssimo, pedindo essa graça. Rezar, sobretudo, para Nossa Senhora, Mãe Castíssima, que sabe ensinar a seus filhos a castidade. A devoção das três Ave-Marias quando se acorda e antes de dormir, pedindo a graça da pureza é muito eficaz para se adquirir a pureza ou para perseverar nela. Também a devoção a São José é muito eficaz no combate pela pureza, pela castidade, sobretudo para os homens. São José ensina aos homens a verdadeira virilidade, que consiste em ter o domínio sobre suas paixões. O homem que se deixa levar pelas paixões, pela impureza é considerado em nossa sociedade decadente como viril. Ora, esse homem é, ao contrário, efeminado, pois efeminado, tecnicamente, é aquele que se deixa levar pelas paixões, pelas más inclinações, que não tem força para combatê-las e vencê-las, em virtude da tristeza e das dificuldades que existem na prática da virtude. Portanto, a devoção a São José vai nos ensinar a verdadeira virilidade, que consiste na castidade. Como diz o Salmo (30, 25): Agi com virilidade e fortalecei o vosso coração, vós que esperais no Senhor. Viriliter agite et confortetur cor vestrum qui speratis in Domino. Invocar o nome de Jesus, Maria e José é de uma eficácia particular para se obter a pureza.

Para sermos castos, é preciso também mortificar os sentidos, sobretudo os olhos. Jó fez um pacto com seus olhos para não olhar para as moças e, assim, se manteve casto. Evitar a vã curiosidade, não parar os olhos em algo que possa suscitar maus pensamentos ou imaginações. E, justamente, é preciso mortificar nossa imaginação, controlando-a, ordenando-a.

É preciso evitar também as ocasiões de pecado, isto é, os ambientes, as pessoas, as coisas, as circunstâncias que podem levar a pecados contra a pureza. Muito cuidado é necessário no namoro ou no noivado. Namorados e noivos devem estar sempre em locais públicos que lhes impeçam de cometer pecados contra a pureza. Devem evitar andar de carro sozinhos, por exemplo. Namoro e noivado devem durar entre um e dois anos, tempo suficiente para conhecer a alma do outro, e que impede o surgimento de familiaridades indevidas. Bastaria um beijo apaixonado para haver um pecado grave entre namorados e noivos (conforme decreto do Santo Ofício de 1666, sob o Papa Alexandre VII). Os pecados contra a pureza aqui prejudicam também o correto juízo que se deve fazer da alma do outro, de suas qualidades e defeitos, a fim de saber se é possível ou não viver uma vida inteira com a pessoa… Levada pelos sentimentos e paixões, o julgamento será falseado.

Outra ocasião de pecado muito séria hoje é o computador, a internet. Deve-se usar a internet com um objetivo preciso, definido, fazendo uma oração antes ou depois. Quem navega à toa na internet dificilmente se preserva de pecado nessa matéria. Redes sociais também são grande fonte de perigo. Se uma pessoa já caiu várias vezes por meio de internet, reze antes de usá-la, coloque uma imagem de Nosso Senhor ou Nossa Senhora perto, para lembrar a presença de Deus, utilize o computador em local público, a que outras pessoas têm acesso. Se nada disso adianta, a solução é simples: renunciar à internet, ao menos temporariamente: mais vale entrar no céu sem internet do que com a internet ser condenado eternamente. O mesmo vale para TV, filmes e coisas do gênero. É preciso lembrar-se sempre de que o mais oculto dos pecados são conhecidos por Deus e serão conhecidos por todos no dia do juízo. É preciso fugir das ocasiões de pecado. Como diz São Felipe Neri, na guerra contra esse vício, os vitoriosos são os covardes, quer dizer, aqueles que fogem das ocasiões de pecado.

Além da oração, da mortificação dos sentidos e da fuga das ocasiões, é preciso evitar a ociosidade. A ociosidade é mãe de inúmeros pecados, a começar pela impureza. O Rei Davi pecou cometendo adultério e homicídio porque em um momento de ociosidade olhou para a mulher do próximo.

É preciso também mortificar-se, fazendo penitências, jejuns, abstinência de carne. Devemos começar observando a penitência da sexta-feira imposta pela Igreja, procurando fazê-la do modo tradicional, quer dizer, nos abstendo de carne. As mortificações facilitam o domínio da razão e da vontade sobre as paixões. É preciso mortificar-se em coisas lícitas para aprender a vencer a si mesmo na hora da tentação. É preciso, de modo particular, ter muita sobriedade no beber álcool.

No combate pela castidade, é preciso se aproximar dos sacramentos com assiduidade. É preciso se confessar com frequência não só depois da queda, mas também para evitá-la. Aqueles que têm o vício da luxúria ou impureza devem procurar a confissão uma vez por semana, ou pelo menos uma vez a cada duas semanas. É preciso comungar com frequência, estando em estado de graça, para evitar quedas futuras. Com o método preventivo e não só curativo, se impede que o pecado lance raízes mais profundas.

É preciso também pensar no inferno, na condenação eterna que se merece por tão pouca coisa, por algo tão passageiro e instantâneo. Perde-se o céu, se merece o inferno, se crucifica NS novamente por pecado tão torpe. Usar dessa faculdade fora do matrimônio, nos assemelha aos animais brutos, irracionais. Como diz São Tomás, o impuro não vive segundo a razão. Portanto, é preciso pensar no inferno e na nossa morte, da qual não sabemos o dia nem a hora. Não devemos adiar nossa conversão. Pode ser que Deus não nos dê a graça da conversão depois. É preciso aproveitá-la agora.

Na hora da tentação propriamente dita, é preciso rezar, em particular invocando o nome de Jesus, Maria e José e pensar em outra coisa, distrair o pensamento com algo bom, lícito, ainda que sem importância, como enumerar as capitais dos estados, por exemplo. O importante é que ocupemos a imaginação e o pensamento com outra coisa. É preciso cortar a tentação imediatamente. Se cair, procurar levantar-se imediatamente, buscando a confissão com verdadeiro arrependimento e propósito de emenda. Existe uma tendência em desmoronar depois da primeira queda, cometendo outros pecados. Isso agrava muitíssimo as coisas, multiplicando os pecados, as penas, solidificando o mau hábito, dificultando tremendamente a conversão.

Quem tem o vício da impureza não deve desesperar, mas deve se apoiar em Deus, em Nossa Senhora, nos anjos e santos e aplicar os meios que mencionamos com muita determinação. Não basta um eu quisera, um eu gostaria. Não, tem que ser um eu quero firme, disposto a empregar os meios necessários para atingir o fim buscado, que é a pureza. Ao ser humano pode parecer impossível livrar-se de tal pecado uma vez que se contraiu o vício e, de fato, não é fácil. Mas com Deus é perfeitamente possível. Quem realmente quer se livrar desse vício e se apoia em Deus, consegue ter uma vida pura. Aqueles que não têm o vício devem continuar vigiando e orando, desconfiando de si, pois se acharem que estão imunes a tais pecados, cairão.

Combater pela pureza é necessário. Devemos fazê-lo com determinação e rezando muito. Diz Santo Agostinho que nessa espécie de pecado a batalha é onipresente, mas que a vitória é rara. Mas bem determinados, vigiando, rezando, empregando os meios que citamos, é plenamente possível. E que grande liberdade nos dá a castidade, que grande alegria viver segundo a razão e a fé.

Dirijo-me agora aos pais e aos que ajudam na educação das crianças. Os pais devem vigiar e favorecer a pureza dos filhos desde a mais tenra idade, para que adquiram a vergonha e a honestidade, para que sejam modestos no falar, nos modos, nas vestes… Cabe aos pais evitar que os filhos adquiram maus hábitos nesse campo, ainda que os filhos não entendam a malícia do que estão fazendo, pois depois não conseguirão se livrar do vício. Cuidado pais, cuidado com as crianças. Vejamos o que diz Pio XII: “Por desgraça, diz o Papa, às vezes acontece que pais cristãos com tantos cuidados na educação de um filho ou de uma filha, que são mantidos sempre longe dos perigosos prazeres e das más companhias, de repente vêem os filhos, com a idade de 18 ou 20 anos, vítimas de miseráveis e escandalosas quedas: o bom grão que semearam foi arruinado pela cizânia. Quem foi o inimigo do homem que fez tanto mal? O que ocorreu, continua o Papa, foi que no próprio lar, nesse pequeno paraíso, se introduziu furtivamente o tentador, o inimigo astuto, e encontrou ali o fruto corruptor para oferecer a mãos inocentes. Um livro deixado por acaso na mesa do pai foi o que destruiu no filho a fé de seu batismo, um romance abandonado no sofá ou no quarto pela mãe foi o que ofuscou na filha a pureza de sua primeira comunhão.” Até aqui o Papa. A cizânia pode entrar ao se folhearem revistas de notícias ou jornais largados na casa. A cizânia pode entrar pela televisão por um trecho do jornal televiso a que a criança assistiu por acaso. Vigiem, pais, vigiem pela alma dos filhos. Por favor, mantenham-nos longe da internet e de tablets e ipads, em que podem acessar verdadeiramente qualquer coisa. Eles já vêem tanta coisa ruim fora de casa. Que ao menos dentro dela eles possam encontrar a pureza e a virtude, a começar pelo exemplo dos pais.

De que vale ganhar o mundo inteiro se viermos a perder a nossa alma? De que vale uma satisfação instantânea, fugaz, e que nos faz perder o céu, merecer o inferno e que crucifica novamente NS? Confiando em Deus, desconfiando de nós mesmos, com uma determinação muito determinada, sejamos castos e puros conforme o nosso estado de vida.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo Amém.

Fonte: Missa Tridentina em Brasília

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Catecismo da Igreja Católica - O Sexto Mandamento

ARTIGO 6
O SEXTO MANDAMENTO
«Não cometerás adultério» (Ex 20, l4) (82).
«Ouvistes que foi dito: "Não cometerás adultério". Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que olhar para uma mulher, desejando-a, já cometeu adultério com ela no seu coração» (Mt 5, 27-28).
I. «Homem e mulher os criou»...

2331. «Deus é amor e vive em Si mesmo um mistério de comunhão pessoal de amor. Ao criar a humanidade do homem e da mulher à sua imagem [...] Deus inscreveu nela a vocaçãopara o amor e para a comunhão e, portanto, a capacidade e a responsabilidade correspondentes» (83).
«Deus criou o homem à sua imagem; [...] homem e mulher os criou» (Gn 1, 27); «Crescei e multiplicai-vos» (Gn 1, 28); «Quando Deus criou o ser humano, fê-lo à semelhança de Deus. Criou-os homem e mulher e abençoou-os; e chamou-lhes «Adão» no dia em que os criou»(Gn 5, 1-2).

2332. A sexualidade afecta todos os aspectos da pessoa humana, na unidade do seu corpo e da sua alma. Diz respeito particularmente à afectividade, à capacidade de amar e de procriar, e, de um modo mais geral, à aptidão para criar laços de comunhão com outrem.

2333. Compete a cada um, homem e mulher, reconhecer e aceitar a sua identidade sexual. A diferença e a complementaridade físicas, morais e espirituais orientam-se para os bens do matrimónio e para o progresso da vida familiar. A harmonia do casal e da sociedade depende, em parte, da maneira como são vividos, entre os sexos, a complementaridade, a necessidade mútua e o apoio recíproco.

2334. «Ao criar o ser humano homem e mulher, Deus conferiu a dignidade pessoal, de igual modo ao homem e à mulher» (84). «O homem é uma pessoa; e isso na mesma medida para o homem e para a mulher, porque ambos são criados à imagem e semelhança dum Deus pessoal» (85).

2335. Cada um dos dois sexos é, com igual dignidade, embora de modo diferente, imagem do poder e da ternura de Deus. A união do homem e da mulher no matrimónio é um modo de imitar na carne a generosidade e a fecundidade do Criador: «O homem deixará o seu pai e a sua mãe para se unir à sua mulher; e os dois serão uma só carne» (Gn 2, 24). Desta união procedem todas as gerações humanas (86).

2336. Jesus veio restaurar a criação na pureza das suas origens. No sermão da montanha, interpreta de modo rigoroso o desígnio de Deus:
«Ouvistes que foi dito: "Não cometerás adultério". Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que olhar para uma mulher, desejando-a, já cometeu adultério com ela no seu coração» (Mt 5, 27-28). Não separe o homem o que Deus uniu (87).
A Tradição da Igreja entendeu o sexto mandamento como englobando o conjunto da sexualidade humana.

II. A vocação à castidade

2337. A castidade significa a integração conseguida da sexualidade na pessoa, e daí a unidade interior do homem no seu ser corporal e espiritual. A sexualidade, na qual se exprime a pertença do homem ao mundo corporal e biológico, torna-se pessoal e verdadeiramente humana quando integrada na relação de pessoa a pessoa, no dom mútuo total e temporalmente ilimitado, do homem e da mulher.
A virtude da castidade engloba, portanto, a integridade da pessoa e a integralidade da doação.

A INTEGRIDADE DA PESSOA

2338. A pessoa casta mantém a integridade das forças de vida e de amor em si depositadas. Esta integridade garante a unidade da pessoa e opõe-se a qualquer comportamento susceptível de a ofender. Não tolera nem a duplicidade da vida, nem a da linguagem (88).

2339. A castidade implica uma aprendizagem do domínio de si, que é uma pedagogia da liberdade humana. A alternativa é clara: ou o homem comanda as suas paixões e alcança a paz, ou se deixa dominar por elas e torna-se infeliz (89). «A dignidade do homem exige que ele proceda segundo uma opção consciente e livre, isto é, movido e determinado por uma convicção pessoal e não sob a pressão de um cego impulso interior ou da mera coacção externa. O homem atinge esta dignidade quando, libertando-se de toda a escravidão das paixões, prossegue o seu fim na livre escolha do bem e se procura de modo eficaz e com diligente iniciativa os meios adequados» (90).

2340. Aquele que quiser permanecer fiel às promessas do seu Baptismo e resistir às tentações, terá o cuidado de procurar os meios: o conhecimento de si, a prática duma ascese adaptada às situações em que se encontra, a obediência aos mandamentos divinos, a prática das virtudes morais e a fidelidade à oração. «A continência, na verdade, recolhe-nos e reconduz-nos àquela unidade que tínhamos perdido, dispersando-nos na multiplicidade» (91).

2341. A virtude da castidade gira na órbita da virtude cardial da temperança, a qual visa impregnar de razão as paixões e os apetites da sensibilidade humana.

2342. O domínio de si é uma obra de grande fôlego. Nunca poderá considerar-se total e definitivamente adquirido. Implica um esforço constantemente retomado, em todas as idades da vida (92); mas o esforço requerido pode ser mais intenso em certas épocas, como quando se forma a personalidade, durante a infância e a adolescência.

2343. A castidade conhece leis de crescimento e passa por fases marcadas pela imperfeição, muitas vezes até pelo pecado. O homem virtuoso e casto «constrói-se dia a dia com as suas numerosas decisões livres. Por isso, conhece, ama e cumpre o bem moral segundo fases de crescimento» (93).

2344. A castidade representa uma tarefa eminentemente pessoal; implica também um esforço cultural, porque existe «interdependência entre o desenvolvimento da pessoa e o da própria sociedade» (94). A castidade pressupõe o respeito pelos direitos da pessoa, particularmente o de receber uma informação e educação que respeitem as dimensões morais e espirituais da vida humana.

2345. A castidade é uma virtude moral. Mas é também um dom de Deus, uma graça, um fruto do trabalho espiritual (95). O Espírito Santo concede a graça de imitar a pureza de Cristo (96) àquele que regenerou pela água do Baptismo.

A INTEGRALIDADE DO DOM DE SI

2346. A caridade é a forma de todas as virtudes. Sob a sua influência, a castidade aparece como uma escola de doação da pessoa. O domínio de si ordena-se para o dom de si. A castidade leva quem a pratica a tornar-se, junto do próximo, testemunha da fidelidade e da ternura de Deus.

2347. A virtude da castidade expande-se na amizade. Indica ao discípulo o modo de seguir e imitar Aquele que nos escolheu como seus próprios amigos (97), que Se deu totalmente a nós e nos faz participar da sua condição divina. A castidade é promessa de imortalidade.
A castidade exprime-se especialmente na amizade para com o próximo. Desenvolvida entre pessoas do mesmo sexo ou de sexos diferentes, a amizade representa um grande bem para todos. Conduz à comunhão espiritual.

OS DIVERSOS REGIMES DA CASTIDADE

2348. Todo o baptizado é chamado à castidade. O cristão «revestiu-se de Cristo» (98), modelo de toda a castidade. Todos os fiéis de Cristo são chamados a levar uma vida casta, segundo o seu estado de vida particular. No momento do seu Baptismo, o cristão comprometeu-se a orientar a sua afectividade na castidade.

2349. «A castidade deve qualificar as pessoas segundo os seus diferentes estados de vida: uns, na virgindade ou celibato consagrado, forma eminente de se entregarem mais facilmente a Deus com um coração indiviso: outros, do modo que a lei moral para todos determina, e conforme são casados ou solteiros» (99). As pessoas casadas são chamadas a viver a castidade conjugal; as outras praticam a castidade na continência:
«Existem três formas da virtude da castidade: uma, das esposas: outra, das viúvas; a terceira, da virgindade. Não louvamos uma com exclusão das outras. [...] É nisso que a disciplina da Igreja é rica» (100).
2350. Os noivos são chamados a viver a castidade na continência. Eles farão, neste tempo de prova, a descoberta do respeito mútuo, a aprendizagem da fidelidade e da esperança de se receberem um ao outro de Deus. Reservarão para o tempo do matrimónio as manifestações de ternura específicas do amor conjugal. Ajudar-se-ão mutuamente a crescer na castidade.

AS OFENSAS À CASTIDADE

2351. A luxúria é um desejo desordenado ou um gozo desregrado de prazer venéreo. O prazer sexual é moralmente desordenado quando procurado por si mesmo, isolado das finalidades da procriação e da união.

2352. Por masturbação entende-se a excitação voluntária dos órgão genitais, para daí retirar um prazer venéreo. «Na linha duma tradição constante, tanto o Magistério da Igreja como o sentido moral dos fiéis têm afirmado sem hesitação que a masturbação é um acto intrínseca e gravemente desordenado». «Seja qual for o motivo, o uso deliberado da faculdade sexual fora das normais relações conjugais contradiz a finalidade da mesma». O prazer sexual é ali procurado fora da «relação sexual requerida pela ordem moral, que é aquela que realiza, no contexto dum amor verdadeiro, o sentido integral da doação mútua e da procriação humana» (101).
Para formar um juízo justo sobre a responsabilidade moral dos sujeitos, e para orientar a acção pastoral, deverá ter-se em conta a imaturidade afectiva, a força de hábitos contraídos, o estado de angústia e outros factores psíquicos ou sociais que podem atenuar, ou até reduzir ao mínimo, a culpabilidade moral.

2353. A fornicação é a união carnal fora do matrimónio entre um homem e uma mulher livres. É gravemente contrária à dignidade das pessoas e da sexualidade humana, naturalmente ordenada para o bem dos esposos, assim como para a geração e educação dos filhos. Além disso, é um escândalo grave, quando há corrupção dos jovens.

2354. A pornografia consiste em retirar os actos sexuais, reais ou simulados, da intimidade dos parceiros, para os exibir a terceiras pessoas, de modo deliberado. Ofende a castidade, porque desnatura o acto conjugal, doação íntima dos esposos um ao outro. É um grave atentado contra a dignidade das pessoas intervenientes (actores, comerciantes, público), uma vez que cada um se torna para o outro objecto dum prazer vulgar e dum lucro ilícito. E faz mergulhar uns e outros na ilusão dum mundo fictício. É pecado grave. As autoridades civis devem impedir a produção e a distribuição de material pornográfico.

2355. A prostituição é um atentado contra a dignidade da pessoa que se prostitui, reduzida ao prazer venéreo que dela se tira. Quem paga, peca gravemente contra si mesmo: quebra a castidade a que o obriga o seu Baptismo e mancha o seu corpo, que é templo do Espírito Santo (102). A prostituição constitui um flagelo social. Envolve habitualmente mulheres, mas também homens, crianças ou adolescentes (nestes dois últimos casos, o pecado duplica com o escândalo). É sempre gravemente pecaminoso entregar-se à prostituição; mas a miséria, a chantagem e a pressão social podem atenuar a imputabilidade do pecado.

2356. A violação designa a entrada na intimidade sexual duma pessoa à força, com violência. É um atentado contra a justiça e a caridade. A violação ofende profundamente o direito de cada um ao respeito, à liberdade e à integridade física e moral. Causa um prejuízo grave, que pode marcar a vítima para toda a vida. É sempre um acto intrinsecamente mau. É mais grave ainda, se cometido por parentes próximos (incesto) ou por educadores contra crianças a eles confiadas.

CASTIDADE E HOMOSSEXUALIDADE

2357 A homossexualidade designa as relações entre homens ou mulheres, que experimentam uma atracção sexual exclusiva ou predominante para pessoas do mesmo sexo. Tem-se revestido de formas muito variadas, através dos séculos e das culturas. A sua génese psíquica continua em grande parte por explicar. Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves (103) a Tradição sempre declarou que «os actos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados» (104). São contrários à lei natural, fecham o acto sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afectiva sexual, não podem, em caso algum, ser aprovados.

2358. Um número considerável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente radicadas. Esta propensão, objectivamente desordenada, constitui, para a maior parte deles, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar devido à sua condição.

2359. As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes do autodomínio, educadoras da liberdade interior, e, às vezes, pelo apoio duma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem aproximar-se, gradual e resolutamente, da perfeição cristã.

III. O amor dos esposos

2360. A sexualidade ordena-se para o amor conjugal do homem e da mulher. No matrimónio, a intimidade corporal dos esposos torna-se sinal e penhor de comunhão espiritual. Entre os baptizados, os laços do matrimónio são santificados pelo sacramento.
2361. «A sexualidade, mediante a qual o homem e a mulher se dão um ao outro com os actos próprios e exclusivos dos esposos, não é algo de puramente biológico, mas diz respeito à pessoa humana como tal, no que ela tem de mais íntimo. Esta só se realiza de maneira verdadeiramente humana se for parte integrante do amor com o qual homem e mulher se comprometem totalmente um para com o outro até à morte» (105).
«Tobias ergueu-se do leito e disse [...] [a Sara]: "Irmã, levanta-te; vamos orar ao Senhor e pedir-lhe que nos conceda a sua misericórdia e salvação". Levantaram-se ambos e puseram-se a orar e a implorar que lhes fosse enviada a salvação, dizendo: "Bendito sejas, Deus dos nossos pais [...]. Tu criaste Adão e deste-lhe Eva, sua esposa, como amparo valioso, e de ambos procedeu o género humano. Com efeito, disseste: 'Não é bom que o homem esteja só; façamos-lhe uma auxiliar semelhante a ele'. Agora, Senhor, Tu bem sabes que não é por luxúria que agora tomo por esposa esta minha irmã, mas é com intenção pura. Permite, pois, que eu e ela encontremos misericórdia e cheguemos juntos à velhice» (Tb8, 4-9).
2362. «Os actos pelos quais os esposos se unem íntima e castamente são honestos e dignos; realizados de modo autenticamente humano, exprimem e alimentam a mútua entrega pela qual se enriquecem um ao outro com alegria e gratidão» (106). A sexualidade é fonte de alegria e de prazer:
«Foi o próprio Criador Quem [...] estabeleceu que, nesta função [da geração], os esposos experimentassem prazer e satisfação do corpo e do espírito. Portanto, os esposos não fazem nada de mal ao procurar este prazer e gozar dele. Aceitam o que o Criador lhes destinou. No entanto, devem saber manter-se dentro dos limites duma justa moderação» (107).
 2363. Pela união dos esposos realiza-se o duplo fim do matrimónio: o bem dos próprios esposos e a transmissão da vida. Não podem separar-se estes dois significados ou valores do matrimónio sem alterar a vida espiritual do casal nem comprometer os bens do matrimónio e o futuro da família.
O amor conjugal do homem e da mulher está, assim, colocado sob a dupla exigência da fidelidade e da fecundidade.

A FIDELIDADE CONJUGAL

2364. Ambos os esposos constituem «uma íntima comunidade de vida e de amor, fundada pelo Criador e por Ele dotada de leis próprias». Esta comunidade «é instaurada pela aliança conjugal, ou seja, por um irrevogável consentimento pessoal» (108). Os dois entregam-se, definitiva e totalmente, um ao outro. Doravante, já não são dois, mas uma só carne. A aliança livremente contraída pelos esposos impõe-lhes a obrigação de a manter una e indissolúvel (109). «O que Deus uniu, não o separe o homem»(Mc 10, 9) (110).

2365. A fidelidade exprime a constância em manter a palavra dada. Deus é fiel. O sacramento do matrimónio introduz o homem e a mulher na fidelidade de Cristo à sua Igreja. Pela castidade conjugal, eles dão testemunho deste mistério perante o mundo.
São João Crisóstomo sugere aos jovens casados que façam este discurso às suas esposas: «Tomei-te nos meus braços, amo-te e prefiro-te à minha própria vida. Porque a vida presente não é nada e o meu sonho mais ardente é passá-la contigo, de tal maneira que tenhamos a certeza de não ser separados naquela que nos está reservada [...]. Eu ponho o teu amor acima de tudo, e nada me seria mais penoso do que não ter os mesmos pensamentos que tu» (111).
A FECUNDIDADE DO MATRIMÓNIO

2366. A fecundidade é um dom, uma finalidade do matrimónio, porque o amor conjugal tende naturalmente a ser fecundo. O filho não vem de fora juntar-se ao amor mútuo dos esposos; surge no próprio coração deste dom mútuo, do qual é fruto e complemento. Por isso, a Igreja, que «toma partido pela vida» (112), ensina que «todo o acto matrimonial deve, por si estar aberto à transmissão da vida» (113). «Esta doutrina, muitas vezes exposta pelo Magistério, funda-se sobre o nexo indissolúvel estabelecido por Deus e que o homem não pode quebrar por sua iniciativa, entre os dois significados inerentes ao acto conjugal: união e procriação» (114).

2367. Chamados a dar a vida, os esposos participam do poder criador e da paternidade de Deus (115). «No dever de transmitir e educar a vida humana – dever que deve ser considerado como a sua missão própria – saibam os esposos que são cooperadores do amor de Deus e como que os seus intérpretes. Cumprirão, pois, esta missão, com responsabilidade humana e cristã» (116).

2368. Um aspecto particular desta responsabilidade diz respeito à regulação da procriação.Os esposos podem querer espaçar o nascimento dos seus filhos por razões justificadas (117). Devem, porém, verificar se tal desejo não procede do egoísmo, e se está de acordo com a justa generosidade duma paternidade responsável. Além disso, regularão o seu comportamento segundo os critérios objectivos da moralidade:
«Quando se trata de conciliar o amor conjugal com a transmissão responsável da vida, a moralidade do comportamento não depende apenas da sinceridade da intenção e da apreciação dos motivos; deve também determinar-se por critérios objectivos, tomados da natureza da pessoa e dos seus actos; critérios que respeitem, num contexto de autêntico amor, o sentido da mútua doação e da procriação humana. Tudo isto só é possível, se se cultivar sinceramente a virtude da castidade conjugal» (118).
2369. «É salvaguardando estes dois aspectos essenciais, união e procriação, que o acto conjugal conserva integralmente o sentido de mútuo e verdadeiro amor e a sua ordenação para a altíssima vocação do homem para a paternidade» (119).

2370. A continência periódica, os métodos de regulação dos nascimentos baseados na auto-observação e no recurso aos períodos infecundos (120), são conformes aos critérios objectivos da moralidade. Estes métodos respeitam o corpo dos esposos, estimulam a ternura entre eles e favorecem a educação duma liberdade autêntica. Em contrapartida, é intrinsecamente má «qualquer acção que, quer em previsão do acto conjugal, quer durante a sua realização, quer no desenrolar das suas consequências naturais, se proponha, como fim ou como meio, tornar impossível a procriação» (121).
«À linguagem que exprime naturalmente a doação recíproca e total dos esposos, a contracepção opõe uma linguagem objectivamente contraditória, segundo a qual já não se trata de se darem totalmente um ao outro. Daí deriva, não somente a recusa positiva da abertura à vida, mas também uma falsificação da verdade interna do amor conjugal, chamado a ser um dom da pessoa toda. [...] Esta diferença antropológica e moral, entre a contracepção e o recurso aos ritmos periódicos, implica dois conceitos de pessoa e de sexualidade humana irredutíveis um ao outro» (122).
2371. «Aliás, todos devem ter bem presente que a vida humana e a missão de a transmitir não se limitam aos horizontes deste mundo, nem podem ser medidas ou compreendidas unicamente em função dele, mas estão sempre relacionadas com o destino eterno do homem» (123).

2372. O Estado é responsável pelo bem-estar dos cidadãos. A tal título, é legítimo que intervenha para orientar o crescimento da população. Pode fazê-lo mediante uma informação objectiva e respeitosa, não porém com imposições autoritárias e obrigatórias. O Estado não pode legitimamente substituir-se à iniciativa dos esposos, primeiros responsáveis pela procriação e educação dos seus filhos (124). Neste domínio, não tem autoridade para intervir com medidas contrárias à lei moral.

O DOM DO FILHO

2373. A Sagrada Escritura e a prática tradicional da Igreja vêem nas famílias numerosas um sinal da bênção divina e da generosidade dos pais (125).

2374. É grande o sofrimento dos casais que descobrem que são estéreis. «Que me dareis, Senhor Deus?» – pergunta Abraão a Deus. «Vou-me sem filhos...» (Gn 15, 2). – «Dá-me filhos ou então morro!» – grita Raquel ao seu marido Jacob (Gn 30, 1).

2375. As pesquisas que se destinam a reduzir a esterilidade humana devem ser encorajadas, com a condição de serem colocadas «ao serviço da pessoa humana, dos seus direitos inalienáveis e do seu bem verdadeiro e integral, em conformidade com o projecto e a vontade de Deus» (126).

2376. As técnicas que provocam a dissociação dos progenitores pela intervenção duma pessoa estranha ao casal (dádiva de esperma ou ovócito, empréstimo de útero) são gravemente desonestas. Estas técnicas (inseminação e fecundação artificial heteróloga) lesam o direito do filho a nascer dum pai e duma mãe seus conhecidos e unidos entre si pelo casamento. E atraiçoam «o direito exclusivo a não serem nem pai nem mãe senão um pelo outro» (127).

2377. Praticadas no seio do casal, estas técnicas (inseminação e fecundação artificial homóloga) são talvez menos prejudiciais, mas continuam moralmente inaceitáveis. Dissociam o acto sexual do acto procriador. O acto fundador da existência do filho deixa de ser um acto pelo qual duas pessoas se dão uma à outra, e «remete a vida e a identidade do embrião para o poder dos médicos e biólogos. Instaurando o domínio da técnica sobre a origem e destino da pessoa humana. Tal relação de domínio é, de si, contrária à dignidade e à igualdade que devem ser comuns aos pais e aos filhos» (128). «A procriação é moralmente privada da sua perfeição própria, quando não é querida como fruto do acto conjugal, isto é, do gesto específico da união dos esposos. [...] Só o respeito pelo laço que existe entre os significados do acto conjugal e o respeito pela unidade do ser humano permite uma procriação conforme à dignidade da pessoa» (129).

2378O filho não é uma dívida, é uma dádiva. O «dom mais excelente do matrimónio» é uma pessoa humana. O filho não pode ser considerado como objecto de propriedade, conclusão a que levaria o reconhecimento dum pretenso «direito ao filho». Neste domínio, só o filho é que possui verdadeiros direitos: o de «ser fruto do acto específico do amor conjugal dos seus pais, e também o de ser respeitado como pessoa desde o momento da sua concepção» (130).

2379. O Evangelho mostra que a esterilidade física não é um mal absoluto. Os esposos que, depois de esgotados os recursos médicos legítimos, sofrem de infertilidade, associar-se-ão à cruz do Senhor, fonte de toda a fecundidade espiritual. Podem mostrar a sua generosidade adoptando crianças abandonadas ou realizando serviços significativos em favor do próximo.

IV. As ofensas à dignidade do matrimónio

2380. O adultério. É o termo que designa a infidelidade conjugal. Quando dois parceiros, dos quais pelo menos um é casado, estabelecem entre si uma relação sexual, mesmo efémera, cometem adultério. Cristo condena o adultério, mesmo de simples desejo (131). O sexto mandamento e o Novo Testamento proíbem absolutamente o adultério (132). Os profetas denunciam-lhe a gravidade. E vêem no adultério a figura do pecado da idolatria (133).

2381. O adultério é uma injustiça. Aquele que o comete, falta aos seus compromissos. Viola o sinal da Aliança, que é o vínculo matrimonial, lesa o direito do outro cônjuge e atenta contra a instituição do matrimónio, violando o contrato em que assenta. Compromete o bem da geração humana e dos filhos que têm necessidade da união estável dos pais.

O DIVÓRCIO

2382. O Senhor Jesus insistiu na intenção original do Criador, que queria um matrimónio indissolúvel (134). E abrogou as tolerâncias que se tinham infiltrado na antiga Lei (135).
Entre baptizados, «o matrimónio rato e consumado não pode ser dissolvido por nenhum poder humano, nem por nenhuma causa, além da morte» (136).

2383. A separação dos esposos, permanecendo o vínculo matrimonial, pode ser legítima em certos casos previstos pelo direito canónico (137).
Se o divórcio civil for a única maneira possível de garantir certos direitos legítimos, tais como o cuidado dos filhos ou a defesa do património, pode ser tolerado sem constituir falta moral.

2384. O divórcio é uma ofensa grave à lei natural. Pretende romper o contrato livremente aceite pelos esposos de viverem um com o outro até à morte. O divórcio é uma injúria contra a aliança da salvação, de que o matrimónio sacramental é sinal. O facto de se contrair nova união, embora reconhecida pela lei civil, aumenta a gravidade da ruptura: o cônjuge casado outra vez encontra-se numa situação de adultério público e permanente:
«Não é lícito ao homem, despedida a esposa, casar com outra; nem é legítimo que outro tome como esposa a que foi repudiada pelo marido»(138).
2385. O carácter imoral do divórcio advém-lhe também da desordem que introduz na célula familiar e na sociedade. Esta desordem traz consigo prejuízos graves: para o cônjuge que fica abandonado; para os filhos, traumatizados pela separação dos pais e, muitas vezes, objecto de contenda entre eles; e pelo seu efeito de contágio, que faz dele uma verdadeira praga social.

2386. Pode acontecer que um dos cônjuges seja a vítima inocente do divórcio declarado pela lei civil; esse, então, não viola o preceito moral. Há uma grande diferença entre o cônjuge que sinceramente se esforçou por ser fiel ao sacramento do matrimónio e se vê injustamente abandonado, e aquele que, por uma falta grave da sua parte, destrói um matrimónio canonicamente válido (139).

OUTRAS OFENSAS À DIGNIDADE DO MATRIMÓNIO

2387. É compreensível o drama daquele que, desejoso de se converter ao Evangelho, se vê obrigado a repudiar uma ou mais mulheres com quem partilhou anos de vida conjugal. Contudo, a poligamia não está de acordo com a lei moral. «Opõe-se radicalmente à comunhão conjugal: porque nega, de modo directo, o desígnio de Deus, tal como nos foi revelado no princípio e é contrária à igual dignidade pessoal da mulher e do homem, os quais, no matrimónio, se dão um ao outro num amor total que, por isso mesmo, é único e exclusivo»(140). O cristão que anteriormente foi polígamo é gravemente obrigado, por justiça, a honrar as obrigações contraídas para com as suas antigas mulheres e respectivos filhos.

2388. O incesto designa relações íntimas entre parentes ou afins, num grau que proíbe o matrimónio entre eles (141). São Paulo estigmatiza esta falta particularmente grave: «É voz corrente que existe entre vós um caso de imoralidade [...] ao ponto de certo homem viver com a mulher de seu pai! [...] Em nome do Senhor Jesus [...], que esse homem seja entregue a Satanás [...] para ruína do seu corpo» (1 Cor 5, 1. 4-5). O incesto corrompe as relações familiares e representa uma regressão à animalidade.

2389. Podem relacionar-se com o incesto os abusos sexuais cometidos por adultos em relação a crianças ou adolescentes confiados à sua guarda. Nesse caso a culpa é dupla por se tratar dum escandaloso atentado contra a integridade física e moral dos jovens, que assim ficarão marcados para toda a sua vida e duma violação da responsabilidade educativa.

2390.  união livre quando homem e mulher recusam dar forma jurídica e pública a uma ligação que implica intimidade sexual.
A expressão é falaciosa: que pode significar uma união em que as pessoas não se comprometem uma para com a outra, testemunhando assim uma falta de confiança na outra, em si mesmas, ou no futuro?
A expressão tenta camuflar situações diferentes: concubinato, recusado matrimónio como tal, incapacidade de se ligar por compromissos a longo prazo (142). Todas estas situações ofendem a dignidade do matrimónio; destroem a própria ideia de família; enfraquecem o sentido da fidelidade. São contrárias à lei moral: o acto sexual deve ter lugar exclusivamente no matrimónio; fora dele constitui sempre um pecado grave e exclui da comunhão sacramental.

2391. Hoje em dia, há muitos que reclamam uma espécie de «direito à experiência», quando há intenção de contrair matrimónio. Seja qual for a firmeza do propósito daqueles que enveredam por relações sexuais prematuras, «estas não permitem assegurar que a sinceridade e a fidelidade da relação interpessoal dum homem e duma mulher fiquem a salvo nem, sobretudo, que esta relação fique protegida de volubilidade dos desejos e dos caprichos»(143). A união carnal só é legítima quando se tiver instaurado uma definitiva comunidade de vida entre o homem e a mulher. O amor humano não tolera o «ensaio». Exige o dom total e definitivo das pessoas entre si (144).

Resumindo:

2392. «O amor é a vocação fundamental e inata de todo o ser humano» (145).
2393. Ao criar o ser humano homem e mulher, Deus conferiu a dignidade pessoal, de igual modo, a um e a outra. Compete a cada um, homem e mulher, reconhecer e aceitar a sua identidade sexual.
2394. Cristo é o modelo da castidade. Todo o baptizado é chamado a levar uma vida casta, cada um segundo o seu próprio estado de vida.
2395. A castidade significa a integração da sexualidade na pessoa. Implica a aprendizagem do autodomínio.
2396. Entre os pecados gravemente contrários à castidade, devem citar-se: a masturbação, a fornicação, a pornografia e as práticas homossexuais.
2397. A aliança livremente contraída pelos esposos implica um amor fiel. Ele impõe-lhes a obrigação de guardar indissolúvel o seu matrimónio.
2398. A fecundidade é um bem, um dom, uma finalidade do matrimónio. Dando a vida, os esposos participam da paternidade de Deus.
2399. A regulação dos nascimentos representa um dos aspectos da paternidade e da maternidade responsáveis. A legitimidade das intenções dos esposos não justifica o recurso a meios moralmente inadmissíveis (por exemplo, a esterilização directa ou a contracepção).
2400. O adultério e o divórcio, a poligamia e a união livre são ofensas graves à dignidade do matrimónio.

Fonte:Vatican,va

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

São Josemaría Escrivá - Pureza (Capítulo do livro "Sulco")



831 A castidade - a de cada um no seu estado: solteiro, casado, viúvo, sacerdote - é uma triunfante afirmação do amor.

832 O “milagre” da pureza tem como pontos de apoio a oração e a mortificação.

833 A tentação contra a castidade demonstra-se tanto mais perigosa quanto mais dissimulada: por se apresentar insidiosamente, engana melhor. - Não transijas, nem sequer com a desculpa de não “parecer estranho”!

834 A santa pureza: humildade da carne! Senhor - pedias-Lhe -, sete chaves para o meu coração. E aconselhei-te que Lhe pedisses sete chaves para o teu coração e, também, oitenta anos de gravidade para a tua juventude... Além disso, vigia..., porque mais depressa se apaga uma fagulha do que um incêndio; foge..., porque aqui é uma vil covardia ser “valente”; não andes com os olhos esparramados..., porque isso não indica ânimo desperto, mas insídia de satanás. Mas toda essa diligência humana, junto com a mortificação, o cilício, a disciplina e o jejum, que pouco valem sem Ti, meu Deus!

835 Assim matou aquele confessor a concupiscência de uma alma delicada, que se acusou de certas curiosidades: - “Ora! Instintos de machos e de fêmeas!”.

836 Tão logo se admite voluntariamente esse diálogo, a tentação tira paz à alma, do mesmo modo que a impureza consentida destrói a graça.

837 Seguiu o caminho da impureza com todo o seu corpo... e com toda a sua alma. - A sua fé foi-se esfumando..., embora saiba muito bem que não é problema de fé.

838 “O senhor disse-me que se pode chegar a ser `outro' Santo Agostinho, depois do meu passado. Não duvido, e hoje mais do que ontem quero esforçar-me por comprová-lo”. Mas tens de cortar valentemente e pela raiz, como o santo bispo de Hipona.

839 Sim, pede perdão contrito, e faz abundante penitência pelos acontecimentos impuros da tua vida passada - mas não queiras recordá-los.

840 Essa conversa... suja, de cloaca! - Não basta que não a secundes: manifesta energicamente a tua repugnância!

841 É como se o “espírito” se fosse reduzindo, empequenecendo, até ficar num pontinho... E o corpo aumenta, agiganta-se até dominar. - Foi para ti que São Paulo escreveu: “Castigo o meu corpo e o reduzo à escravidão, não seja que, tendo pregado aos outros, venha eu a ser reprovado”.

842 Que pena dão os que afirmam - pela sua triste experiência pessoal - que não se pode ser casto vivendo e trabalhando no meio do mundo! - Com esse raciocínio ilógico, não deveriam incomodar-se se alguém ofende a memória de seus pais, de seus irmãos, da sua mulher, do seu marido.

843 Aquele confessor, um pouco rude, mas experiente, conteve os desvarios de uma alma e os reduziu à ordem com esta afirmação: “Andas agora por caminhos de gado; depois conformar-te-ás em ir pelos das cabras; e depois..., sempre como um animal, que não sabe olhar para o céu”.

844 Talvez sejas... isso mesmo, o que és: um animalzinho. - Mas tens de reconhecer que outros são íntegros e castos. Ah!, e não te irrites depois, quando não contarem contigo ou quando te ignorarem: eles e elas organizam os seus planos humanos com pessoas que têm alma e corpo..., não com animais.

845 Há quem traga filhos ao mundo para o seu benefício, para o seu serviço, para o seu egoísmo... E não se lembram de que são um dom maravilhoso do Senhor, do qual terão que prestar contas especialíssimas. Trazer filhos, somente para continuar a espécie, também o sabem fazer - não te zangues comigo - os animais.

846 Um casal cristão não pode desejar cegar as fontes da vida. Porque o seu amor se fundamenta no Amor de Cristo, que é entrega e sacrifício... Além disso, como Tobias recordava a Sara, os esposos sabem que “nós somos filhos de santos, e não podemos juntar-nos à maneira dos gentios, que não conhecem a Deus”.

847 Quando éramos pequenos, procurávamos grudar-nos à nossa mãe, ao passarmos por caminhos escuros ou por onde havia cachorros. Agora, ao sentirmos as tentações da carne, devemos chegar-nos estreitamente à Nossa Mãe do Céu, por meio da sua presença bem próxima e por meio das jaculatórias. - Ela nos defenderá e nos levará à luz.

848 Pensa, que são mais homens, ou mais mulheres, por levarem essa vida desordenada. Vê-se que os que raciocinam assim colocam o seu ideal de pessoa nas meretrizes, nos invertidos, nos degenerados..., naqueles que têm o coração podre e não poderão entrar no Reino dos Céus.

849 Permite-me um conselho, para que o ponhas em prática diariamente. Quando o coração te fizer notar as suas baixas tendências, reza devagar à Virgem Imaculada: Olha-me com compaixão, não me deixes, minha Mãe! - E aconselha-o assim a outros.


Fonte: http://www.escrivaworks.org.br/book/sulco-capitulo-26.htm

Questionário sobre a luta pela castidade - Pe. Francisco Faus



─ Encaro a castidade que Deus nos pede, como uma virtude pela qual vale a pena esforçar-se – com fortaleza e otimismo – , e procurar que cresça e ganhe cada vez mais pureza e delicadeza?

─ Compreendo que dizer que “é quase impossível superar esse tipo de pecados”, enquanto nos colocamos na boca do lobo e fazemos equilíbrios na corda bamba da tentação, é uma justificativa que não justifica nada?

─ “Fujo” das ocasiões, ou brinco com fogo, dando razão ao provérbio que diz que “o homem é o único animal que tropeça duas vezes na mesma pedra”, simplesmente porque não a evita?

─ Será que me convenço a mim mesmo, quando digo que não acontece nada por assistir a filmes pornográficos na televisão, ou por vasculhar por curiosidade tudo quanto é material do mesmo tipo na Internet e nas outras redes?

─ Peço a Deus que me ajude a me livrar de hábitos contrários à castidade, vícios que, quanto mais alimentados, mais podem descambar para formas deturpadas e até aberrantes de sexualidade?

─ Faço “novelas” inconvenientes com a minha imaginação? Não luto para desligar esses “filmes” íntimos, rezando e desviando a imaginação para outras coisas positivas que não ofendam a Deus?

─ Confesso-me com frequência – por exemplo, uma vez por mês – para fortalecer a minha alma (a inteligência e a vontade) com a graça desse Sacramento? Venço o “demônio mudo”, que me impele a calar, dominado pela vergonha, quando as faltas contra a castidade se repetem por longo tempo? Não percebo que a confissão frequente é uma arma poderosa para desarraigar esses hábitos sensuais?

─ Entendo que a castidade é uma virtude que valoriza o grande dom de Deus que é o sexo? Entendo que o sexo foi dado ao ser humano – filho de Deus – como um modo de participar do Amor de Deus e do seu poder Criador?

─ Vejo, por isso, que o sexo vivido como Deus quer, no matrimônio, é um meio de crescer na união e no amor dos esposos – santo, ardente e fecundo –, e de colaborar com o Criador na vinda de filhos de Deus, que receberão dEle uma alma imortal e um destino eterno?

─ Agradeço a Deus que me faça compreender que a luta pela castidade não é repressão negativa, nem ódio ou desprezo pelo corpo, mas – pelo contrário – a maior valorização da dignidade do corpo, exercendo o sexo dentro do plano sábio e amoroso de Deus?


Conclusões (Procure tirar as suas conclusões e anotá-las)

Fonte: http://www.padrefaus.org/archives/1641

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

A Santa Pureza - São Josemaría Escrivá (Capítulo do livro "Caminho")


118 Deus concede a santa pureza aos que a pedem com humildade.

119 Que bela é a santa pureza! Mas não é santa nem agradável a Deus, se a separamos da caridade.

A caridade é a semente que crescerá e dará frutos saborosíssimos com a rega que é a pureza.

Sem caridade, a pureza é infecunda, e as suas águas estéreis convertem as almas num lamaçal, num charco imundo, donde saem baforadas de soberba.

120 Pureza?, perguntam. E sorriem. - São os mesmos que vão para o matrimônio com o corpo murcho e a alma desiludida.

Prometo-vos um livro - se Deus me ajudar - que poderá ter este título: “Celibato, Matrimônio e Pureza”.

121 É necessária uma cruzada de virilidade e de pureza que enfrente e anule o trabalho selvagem daqueles que pensam que o homem é uma besta.

- E essa cruzada é obra vossa.

122 Muitos vivem como anjos no meio do mundo. - Tu... por que não?

123 Quando te decidires com firmeza a ter vida limpa, a castidade não será para ti um fardo; será coroa triunfal.

124 Escreveste-me, médico apóstolo: “Todos sabemos por experiência que podemos ser castos, vivendo vigilantes, freqüentando os Sacramentos e apagando as primeiras chispas da paixão, sem deixar que ganhe corpo a fogueira.

“É precisamente entre os castos que se contam os homens mais íntegros, sob todos os aspectos. E entre os luxuriosos predominam os tímidos, os egoístas, os falsos e os cruéis, que são tipos de pouca virilidade”.

125 Eu quereria - disseste-me - que João, o Apóstolo adolescente, tivesse uma confidência comigo e me desse conselhos; e me animasse a conseguir a pureza do meu coração.

Se na verdade o queres, dize-lhe isso. E sentirás ânimo e terás conselho.

126 A gula é a vanguarda da impureza.

127 Não queiras dialogar com a concupiscência; despreza-a.

128 O pudor e a modéstia são os irmãos menores da pureza.

129 Sem a santa pureza, não se pode perseverar no apostolado.

130 Tira-me, Jesus, esta crosta suja de podridão sensual que me recobre o coração, para que sinta e siga com facilidade os toques do Paráclito na minha alma.

131 Nuncas fales, nem sequer para te lamentares, de coisas ou acontecimentos impuros. Olha que é matéria mais pegajosa que o piche. - Muda de conversa, e, se não é possível, continua, falando da necessidade e formosura da santa pureza, virtude de homens que sabem o que vale a sua alma.

132 Não tenhas a covardia de ser “valente”; foge!

133 Os santos não foram seres disformes, casos de estudo para um médico modernista.

Foram e são normais; de carne, como a tua. - E venceram.

134 Ainda que a carne se vista de seda... - dir-te-ei, quando te vir vacilar diante da tentação, que oculta a sua impureza sob pretextos de arte, de ciência..., de caridade!

Dir-te-ei, com palavras de um velho ditado espanhol: “Ainda que a carne se vista de seda, carne se queda”*

(*) O ditado original diz: "Aunque la macaca se vista de seda, macaca se queda", continua a ser macaca (N. do T.).

135 Se soubesses o que vales!... É São Paulo quem te diz: foste comprado "pretio magno" - por alto preço.

E depois continua: "Glorificate et portate Deum in corpore vestro" - glorifica a Deus e traze-O em teu corpo.

136 Quando procuraste a companhia de uma satisfação sensual... - depois, que solidão!

137 E pensar que por uma satisfação de um momento, que deixou em ti travos de fel e azebre, perdeste “o caminho”!

138 "Infelix ego homo! Quis me liberabit de corpore mortis hujus?" - Pobre de mim! Quem me livrará deste corpo de morte? - Assim clama São Paulo. - Anima-te. Ele também lutava.

139 À hora da tentação, pensa no Amor que te espera no Céu. Fomenta a virtude da esperança, que não é falta de generosidade.

140 Não te preocupes, aconteça o que acontecer, desde que não consintas. - Porque só a vontade pode abrir a porta do coração e introduzir nele essas coisas execráveis.

141 Na tua alma, parece que ouves materialmente: “Esse preconceito religioso!...” - E depois, a defesa eloqüente de todas as misérias da nossa pobre carne decaída: “os seus direitos!”

Quando isto te acontecer, diz ao inimigo que há lei natural e lei de Deus, e Deus! - E também inferno.

142 "Domine!" - Senhor! - "si vis, potes me mundare" - se quiseres, podes curar-me.

- Que bela oração para que a digas muitas vezes, com a fé do pobre leproso, quando te acontecer o que Deus e tu e eu sabemos! - Não tardarás a sentir a resposta do Mestre: "Volo, mundare!" - Quero, sê limpo!

143 Para defender a sua pureza, São Francisco revolveu-se na neve, São Bento jogou-se num silvado, São Bernardo mergulhou num tanque gelado...

- Tu, que fizeste?

144 A pureza limpidíssima de toda a vida de João torna-o forte diante da Cruz. - Os outros Apóstolos fogem do Gólgota; ele, com a Mãe de Cristo, fica.

- Não esqueças que a pureza fortalece, viriliza o caráter.

145 Frente de Madrid. Uma vintena de oficiais, em nobre e alegre camaradagem. Ouve-se uma canção, e depois outra e mais outra.

Aquele jovem tenente de bigode escuro só ouviu a primeira:

“Corações partidos,

eu não os quero;

e se lhe dou o meu,

dou-o inteiro”.

“Quanta resistência em dar meu coração inteiro!” - E a oração brotou em caudal manso e largo.


Fonte: http://www.escrivaworks.org.br/book/caminho-capitulo-4.htm
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