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sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Padre Daniel Pinheiro IBP - O combate pela virtude da castidade [Sermão]


“Tudo o que fizerdes, em palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus Cristo, dando por Ele graças a Deus Pai.”

Na parábola de hoje, NS diz que, enquanto os homens dormiam, veio o inimigo e semeou cizânia no meio do trigo e foi-se. Entre a cizânia semeada, podemos destacar o pecado da impureza, que tão grande mal faz às almas e à sociedade e que abunda na sociedade, em todos os meios. Diz o Santo Cura d’Ars que nenhum pecado destrói tão rapidamente a alma quanto esse pecado vergonhoso que nos tira da mão de Deus e nos joga na lama. São Tomás de Aquino diz algo semelhante: pela luxúria ou impureza somos afastados ao máximo de Deus. Os santos não estão dizendo aqui que o pecado da impureza é, em si mesmo, o pecado mais grave. O pecado de ódio a Deus ou um pecado contra a fé são em si mais graves, por exemplo. Todavia, os santos dizem que a impureza afasta mais de Deus que outros pecados em virtude da dificuldade em emendar-se quando se contrai o mau hábito de cair nesses pecados vergonhosos. Levado pela ferida do pecado original, o ser humano se deixa escravizar facilmente por esse pecado. E daí vêm consequências gravíssimas. Sobre as consequências drásticas desse pecado para uma alma e para a sociedade, sobre as filhas da luxúria ou impureza, falamos em um importante sermão nos dias do carnaval. Não custa enumerar essas consequências novamente. O vício da impureza gera: cegueira de espírito, precipitação, inconsideração, inconstância, amor desordenado de si mesmo, ódio a Deus, apego à vida presente, desespero com relação à salvação. A luxúria, por tudo isso, leva também a pessoa a perder a fé, a desprezar as verdades reveladas e a se obstinar no pecado, esquecida do juízo e do inferno. Para fazer uma alma perder a fé, é muitas vezes mais eficaz fazê-la se afundar na luxúria do que combater a fé diretamente. As músicas sensuais pelas letras e ritmos, filmes, roupas indecentes, etc., contribuem muitíssimo para a perda da fé sem atacá-la diretamente. Os que combatem a Igreja sabem muito bem disso. Podemos citar ainda, entre as filhas da luxúria, o aborto, que é assassinato, e a eutanásia, que é suicídio ou assassinato. A luxúria leva ao aborto porque as pessoas querem satisfazer suas paixões desordenadas sem responsabilidade. Leva à eutanásia porque se a pessoa já não pode aproveitar a vida, melhor que morra. Quantos males gravíssimos e quantas calamidades espirituais são causados pela busca de um prazer desordenado instantâneo, passageiro. Se de nada vale ao homem ganhar o mundo inteiro, se ele vier a perder a sua alma, o quanto vale ao homem cometer tão vergonhoso e torpe pecado, que lhe faz perder o céu e merecer o inferno? Diz Santo Afonso que, entre os adultos, poucos se salvam por causa desse pecado. Ele dizia isso no século XVIII. Podemos imaginar a situação em nossos dias… Por tão pouca e vergonhosa coisa.

Tendo, então, uma breve ideia das consequências desse pecado, procuremos os meios para adquirir ou avançar na virtude oposta a esse vício, quer dizer, na virtude da castidade. A virtude da castidade é a virtude derivada da virtude de temperança que nos faz ordenar o apetite venéreo conforme a razão iluminada pela fé, que reconhece que isso se reserva aos cônjuges no bom uso do matrimônio, isto é, sem que a procriação seja impedida, podendo, nesse caso, ser verdadeiramente um ato meritório diante Deus. Nossa razão reconhece que esse ato é ordenado à procriação e subsequente educação dos filhos, que se deve fazer dentro de um matrimônio indissolúvel.

Para que possa haver castidade, é preciso que haja primeiro, nos diz São Tomás, a vergonha e a honestidade. A vergonha é o sentimento louvável de temer a desonra e a confusão que são consequência de um pecado torpe. A honestidade é o amor à beleza que provém da prática da virtude. Devemos ter essa vergonha e essa honestidade. Outra raiz da pureza é a modéstia no nosso exterior, no falar, nos modos, no vestir, etc. Sem a modéstia, a pureza será impossível para nós e seremos também causa da queda dos outros.

Colocadas essas bases, para alcançar a castidade, é preciso também rezar muitíssimo, pedindo essa graça. Rezar, sobretudo, para Nossa Senhora, Mãe Castíssima, que sabe ensinar a seus filhos a castidade. A devoção das três Ave-Marias quando se acorda e antes de dormir, pedindo a graça da pureza é muito eficaz para se adquirir a pureza ou para perseverar nela. Também a devoção a São José é muito eficaz no combate pela pureza, pela castidade, sobretudo para os homens. São José ensina aos homens a verdadeira virilidade, que consiste em ter o domínio sobre suas paixões. O homem que se deixa levar pelas paixões, pela impureza é considerado em nossa sociedade decadente como viril. Ora, esse homem é, ao contrário, efeminado, pois efeminado, tecnicamente, é aquele que se deixa levar pelas paixões, pelas más inclinações, que não tem força para combatê-las e vencê-las, em virtude da tristeza e das dificuldades que existem na prática da virtude. Portanto, a devoção a São José vai nos ensinar a verdadeira virilidade, que consiste na castidade. Como diz o Salmo (30, 25): Agi com virilidade e fortalecei o vosso coração, vós que esperais no Senhor. Viriliter agite et confortetur cor vestrum qui speratis in Domino. Invocar o nome de Jesus, Maria e José é de uma eficácia particular para se obter a pureza.

Para sermos castos, é preciso também mortificar os sentidos, sobretudo os olhos. Jó fez um pacto com seus olhos para não olhar para as moças e, assim, se manteve casto. Evitar a vã curiosidade, não parar os olhos em algo que possa suscitar maus pensamentos ou imaginações. E, justamente, é preciso mortificar nossa imaginação, controlando-a, ordenando-a.

É preciso evitar também as ocasiões de pecado, isto é, os ambientes, as pessoas, as coisas, as circunstâncias que podem levar a pecados contra a pureza. Muito cuidado é necessário no namoro ou no noivado. Namorados e noivos devem estar sempre em locais públicos que lhes impeçam de cometer pecados contra a pureza. Devem evitar andar de carro sozinhos, por exemplo. Namoro e noivado devem durar entre um e dois anos, tempo suficiente para conhecer a alma do outro, e que impede o surgimento de familiaridades indevidas. Bastaria um beijo apaixonado para haver um pecado grave entre namorados e noivos (conforme decreto do Santo Ofício de 1666, sob o Papa Alexandre VII). Os pecados contra a pureza aqui prejudicam também o correto juízo que se deve fazer da alma do outro, de suas qualidades e defeitos, a fim de saber se é possível ou não viver uma vida inteira com a pessoa… Levada pelos sentimentos e paixões, o julgamento será falseado.

Outra ocasião de pecado muito séria hoje é o computador, a internet. Deve-se usar a internet com um objetivo preciso, definido, fazendo uma oração antes ou depois. Quem navega à toa na internet dificilmente se preserva de pecado nessa matéria. Redes sociais também são grande fonte de perigo. Se uma pessoa já caiu várias vezes por meio de internet, reze antes de usá-la, coloque uma imagem de Nosso Senhor ou Nossa Senhora perto, para lembrar a presença de Deus, utilize o computador em local público, a que outras pessoas têm acesso. Se nada disso adianta, a solução é simples: renunciar à internet, ao menos temporariamente: mais vale entrar no céu sem internet do que com a internet ser condenado eternamente. O mesmo vale para TV, filmes e coisas do gênero. É preciso lembrar-se sempre de que o mais oculto dos pecados são conhecidos por Deus e serão conhecidos por todos no dia do juízo. É preciso fugir das ocasiões de pecado. Como diz São Felipe Neri, na guerra contra esse vício, os vitoriosos são os covardes, quer dizer, aqueles que fogem das ocasiões de pecado.

Além da oração, da mortificação dos sentidos e da fuga das ocasiões, é preciso evitar a ociosidade. A ociosidade é mãe de inúmeros pecados, a começar pela impureza. O Rei Davi pecou cometendo adultério e homicídio porque em um momento de ociosidade olhou para a mulher do próximo.

É preciso também mortificar-se, fazendo penitências, jejuns, abstinência de carne. Devemos começar observando a penitência da sexta-feira imposta pela Igreja, procurando fazê-la do modo tradicional, quer dizer, nos abstendo de carne. As mortificações facilitam o domínio da razão e da vontade sobre as paixões. É preciso mortificar-se em coisas lícitas para aprender a vencer a si mesmo na hora da tentação. É preciso, de modo particular, ter muita sobriedade no beber álcool.

No combate pela castidade, é preciso se aproximar dos sacramentos com assiduidade. É preciso se confessar com frequência não só depois da queda, mas também para evitá-la. Aqueles que têm o vício da luxúria ou impureza devem procurar a confissão uma vez por semana, ou pelo menos uma vez a cada duas semanas. É preciso comungar com frequência, estando em estado de graça, para evitar quedas futuras. Com o método preventivo e não só curativo, se impede que o pecado lance raízes mais profundas.

É preciso também pensar no inferno, na condenação eterna que se merece por tão pouca coisa, por algo tão passageiro e instantâneo. Perde-se o céu, se merece o inferno, se crucifica NS novamente por pecado tão torpe. Usar dessa faculdade fora do matrimônio, nos assemelha aos animais brutos, irracionais. Como diz São Tomás, o impuro não vive segundo a razão. Portanto, é preciso pensar no inferno e na nossa morte, da qual não sabemos o dia nem a hora. Não devemos adiar nossa conversão. Pode ser que Deus não nos dê a graça da conversão depois. É preciso aproveitá-la agora.

Na hora da tentação propriamente dita, é preciso rezar, em particular invocando o nome de Jesus, Maria e José e pensar em outra coisa, distrair o pensamento com algo bom, lícito, ainda que sem importância, como enumerar as capitais dos estados, por exemplo. O importante é que ocupemos a imaginação e o pensamento com outra coisa. É preciso cortar a tentação imediatamente. Se cair, procurar levantar-se imediatamente, buscando a confissão com verdadeiro arrependimento e propósito de emenda. Existe uma tendência em desmoronar depois da primeira queda, cometendo outros pecados. Isso agrava muitíssimo as coisas, multiplicando os pecados, as penas, solidificando o mau hábito, dificultando tremendamente a conversão.

Quem tem o vício da impureza não deve desesperar, mas deve se apoiar em Deus, em Nossa Senhora, nos anjos e santos e aplicar os meios que mencionamos com muita determinação. Não basta um eu quisera, um eu gostaria. Não, tem que ser um eu quero firme, disposto a empregar os meios necessários para atingir o fim buscado, que é a pureza. Ao ser humano pode parecer impossível livrar-se de tal pecado uma vez que se contraiu o vício e, de fato, não é fácil. Mas com Deus é perfeitamente possível. Quem realmente quer se livrar desse vício e se apoia em Deus, consegue ter uma vida pura. Aqueles que não têm o vício devem continuar vigiando e orando, desconfiando de si, pois se acharem que estão imunes a tais pecados, cairão.

Combater pela pureza é necessário. Devemos fazê-lo com determinação e rezando muito. Diz Santo Agostinho que nessa espécie de pecado a batalha é onipresente, mas que a vitória é rara. Mas bem determinados, vigiando, rezando, empregando os meios que citamos, é plenamente possível. E que grande liberdade nos dá a castidade, que grande alegria viver segundo a razão e a fé.

Dirijo-me agora aos pais e aos que ajudam na educação das crianças. Os pais devem vigiar e favorecer a pureza dos filhos desde a mais tenra idade, para que adquiram a vergonha e a honestidade, para que sejam modestos no falar, nos modos, nas vestes… Cabe aos pais evitar que os filhos adquiram maus hábitos nesse campo, ainda que os filhos não entendam a malícia do que estão fazendo, pois depois não conseguirão se livrar do vício. Cuidado pais, cuidado com as crianças. Vejamos o que diz Pio XII: “Por desgraça, diz o Papa, às vezes acontece que pais cristãos com tantos cuidados na educação de um filho ou de uma filha, que são mantidos sempre longe dos perigosos prazeres e das más companhias, de repente vêem os filhos, com a idade de 18 ou 20 anos, vítimas de miseráveis e escandalosas quedas: o bom grão que semearam foi arruinado pela cizânia. Quem foi o inimigo do homem que fez tanto mal? O que ocorreu, continua o Papa, foi que no próprio lar, nesse pequeno paraíso, se introduziu furtivamente o tentador, o inimigo astuto, e encontrou ali o fruto corruptor para oferecer a mãos inocentes. Um livro deixado por acaso na mesa do pai foi o que destruiu no filho a fé de seu batismo, um romance abandonado no sofá ou no quarto pela mãe foi o que ofuscou na filha a pureza de sua primeira comunhão.” Até aqui o Papa. A cizânia pode entrar ao se folhearem revistas de notícias ou jornais largados na casa. A cizânia pode entrar pela televisão por um trecho do jornal televiso a que a criança assistiu por acaso. Vigiem, pais, vigiem pela alma dos filhos. Por favor, mantenham-nos longe da internet e de tablets e ipads, em que podem acessar verdadeiramente qualquer coisa. Eles já vêem tanta coisa ruim fora de casa. Que ao menos dentro dela eles possam encontrar a pureza e a virtude, a começar pelo exemplo dos pais.

De que vale ganhar o mundo inteiro se viermos a perder a nossa alma? De que vale uma satisfação instantânea, fugaz, e que nos faz perder o céu, merecer o inferno e que crucifica novamente NS? Confiando em Deus, desconfiando de nós mesmos, com uma determinação muito determinada, sejamos castos e puros conforme o nosso estado de vida.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo Amém.

Fonte: Missa Tridentina em Brasília

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

O matrimônio na visão de Tolkien


Observação minhas: não concordo em absoluto com todas as idéias que este texto veicula  - sobretudo em relação a amizade entre homens e mulheres. Mesmo assim, decidi publicá-lo, pois de qualquer modo Tolkien é um gênio e um sábio; e mesmo quanto a este ponto acima referido, este é um texto que pode nos fazer refletir. 

***

De uma carta para seu filho Michael Tolkien

6-8 de março de 1941

Os relacionamentos de um homem com as mulheres podem ser puramente físicos (na verdade eles não podem, é claro, mas quero dizer que ele pode recusar-se a levar outras coisas em consideração, para o grande dano de sua alma (e corpo) e das delas); ou “amigáveis”; ou ele pode ser um “amante” (empenhando e combinando todos os seus afetos e poderes de mente e corpo em uma emoção complexa poderosamente colorida e energizada pelo “sexo”). Este é um mundo decaído. A desarticulação do instinto sexual é um dos principais sintomas da Queda. O mundo tem “ido de mal a pior” ao longo das eras. As várias formas sociais mudam, e cada novo modo tem seus perigos especiais: mas o “duro espírito da concupiscência” vem caminhando por todas as ruas, e se instalou em todas as casas, desde que Adão caiu. Deixaremos de lado os resultados “imorais”. Para esses você não deseja ser arrastado. À renúncia você não tem nenhum chamado. “Amizade”, então? Neste mundo decaído, a “amizade” que deveria ser possível entre todos os seres humanos é praticamente impossível entre um homem e uma mulher. O diabo é incessantemente engenhoso, e o sexo é seu assunto favorito. Ele é da mesma forma bom tanto em cativá-lo através de generosos motivos românticos, ou ternos, quanto através daqueles mais vis ou mais animais. Essa “amizade” tem sido tentada com freqüência: um dos dois lados quase sempre falha. Mais tarde na vida, quando o sexo esfria, tal amizade pode ser possível. Ela pode ocorrer entre santos. Para as pessoas comuns ela só pode ocorrer raramente: duas almas que realmente possuam uma afinidade essencialmente espiritual e mental podem acidentalmente residir em um corpo masculino e em um feminino e ainda assim podem desejar e alcançar uma “amizade” totalmente independente de sexo. Porém, ninguém pode contar com isso. O outro parceiro(a) irá desapontá-la(-lo), é quase certo, ao se “apaixonar”. Mas um rapaz realmente não quer (via de regra) “amizade”, mesmo que ele diga que queira. Existem muitos rapazes (via de regra). Ele quer amor inocente, e talvez ainda irresponsável. Ail Ail que sempre o amor foi pecado!, como diz Chaucer. Então, se ele for cristão e estiver ciente de que há tal coisa como o pecado, ele desejará saber o que fazer a respeito disso.

Há, na nossa cultura ocidental, a romântica tradição cavalheiresca ainda forte, apesar de que, como um produto da cristandade (porém de modo algum o mesmo que a ética cristã), os tempos são hostis a ela. Tal tradição idealiza o “amor” — e, ademais, ele pode ser muito bom, uma vez que ele abrange muito mais do que prazer físico e desfruta, se não de pureza, pelo menos de fidelidade, e abnegação, “serviço”, cortesia, honra e coragem. Sua fraqueza, sem dúvida, é que ele começou como um jogo artificial de cortejo, uma maneira de desfrutar o amor por si só sem referência (e, de fato, contrário) ao matrimônio. Seu centro não era Deus, mas Divindades imaginárias, o Amor e a Dama. Ele tende ainda a tornar a Dama uma espécie de divindade ou estrela guia — do antiquado “sua divindade” = a mulher que ele ama — o objeto ou a razão de uma conduta nobre. Isso é falso, é claro, e na melhor das hipóteses fictício. A mulher é outro ser humano decaído com uma alma em perigo. Mas, combinado e harmonizado com a religião (como o era há muito tempo, quando produziu boa parte daquela bela devoção à Nossa Senhora, que foi o modo de Deus de refinar em muito nossas grosseiras naturezas e emoções masculinas, e também de aquecer e colorir nossa dura e amarga religião), tal amor pode ser muito nobre. Ele produz então o que suponho que ainda seja sentido, entre aqueles que mantêm ainda que um vestígio de cristianismo, como o ideal mais alto de amor entre um homem e uma mulher. Porém, eu ainda acho que ele possui perigos. Ele não é completamente verdadeiro e não é perfeitamente “teocêntrico”. Leva (ou, de qualquer maneira, levou no passado) o rapaz a não ver as mulheres como elas realmente são, como companheiras em um naufrágio, e não como estrelas guias. (Um resultado observado é que na verdade ele faz com que o rapaz torne-se cínico.) Leva-o a esquecer os desejos, necessidades e tentações delas. Impõe noções exageradas de “amor verdadeiro”, como um fogo vindo de fora, uma exaltação permanente, não-relacionado à idade, à gestação e à vida simples, e não-relacionado à vontade e ao propósito. (Um resultado disso é fazer com que os jovens — homens e mulheres — procurem por um “amor” que os manterá sempre bem e aquecidos em um mundo frio, sem qualquer esforço da parte deles; e o romântico incurável continua procurando até mesmo na sordidez das cortes de divórcio).

As mulheres realmente não têm parte em tudo isso, embora possam usar a linguagem do amor romântico, visto que ela está tão entrelaçada em todas as nossas expressões idiomáticas. O impulso sexual torna as mulheres (naturalmente, quando não-mimadas, mais altruístas) muito solidárias e compreensivas, ou especialmente desejosas de assim o serem (ou de assim parecerem), e muito predispostas a ingressarem em todos os interesses, na medida do possível, de gravatas à religião, do jovem pelo qual estejam atraídas. Nenhuma intenção necessariamente de ludibriar — puro instinto: o instinto serviente de esposa, generosamente aquecido pelo desejo e um sangue jovem. Sob esse impulso, elas de fato podem alcançar com freqüência um discernimento e compreensão extraordinários, até mesmo de coisas que em outras circunstâncias estariam fora de seu âmbito natural: pois é o dom delas serem receptivas, estimuladas, fertilizadas (em muitos outros aspectos que não o físico) pelo homem. Todo professor sabe disso. O quão rápido uma mulher inteligente pode ser ensinada, captar as idéias dele, ver seu motivo — e como (com raras exceções) elas não conseguem ir além quando deixam a tutela dele, ou quando param de ter um interesse pessoal nele. Mas esse é o caminho natural delas para o amor. Antes que a jovem perceba onde está (e enquanto o jovem romântico, quando ele existe, ainda está suspirando), ela pode de fato “se apaixonar”, o que para ela, uma jovem ainda pura, significa querer se tornar a mãe dos filhos do jovem, mesmo que esse desejo não esteja de modo algum claro ou explícito a ela. E então acontecerão coisas, e elas podem ser muito dolorosas e prejudiciais caso dêem errado, especialmente se o jovem quisesse apenas uma estrela guia ou divindade temporária (até que fosse atrás de uma mais brilhante), e estivesse simplesmente desfrutando da lisonja da simpatia belamente temperada com um estímulo do sexo — tudo bastante inocente, é claro, e muito distante da “sedução”.

Você pode encontrar na vida (como na literatura) mulheres que são volúveis, ou mesmo puramente libertinas — não me refiro a um simples flerte, o treino para o combate real, mas às mulheres que são tolas demais até mesmo para levar o amor a sério, ou que são de fato tão depravadas ao ponto de desfrutar as “conquistas”, ou mesmo que apreciem causar dor — mas essas são anormalidades, embora falsos ensinamentos, uma má criação e costumes deturpados possam encorajá-las. Muito embora as condições modernas tenham modificado as circunstâncias femininas, e o detalhe do que é considerado decoro, elas não modificaram o instinto natural. Um homem tem um trabalho de toda uma vida, uma carreira (e amigos homens), todos os quais podem (e o fazem, quando ele possui alguma coragem) sobreviver ao naufrágio do “amor”. Uma mulher jovem, mesmo uma “economicamente independente”, como dizem agora (o que na verdade geralmente significa subserviência econômica a empregadores masculinos ao invés de subserviência a um pai ou a uma família), começa a pensar no “enxoval” e a sonhar com um lar quase que imediatamente. Se ela realmente se apaixonar, o navio naufragado pode de fato acabar nas rochas. De qualquer maneira, as mulheres são em geral muito menos românticas e mais práticas. Não se iluda com o fato de que elas são mais “sentimentais” no uso das palavras — mais espontâneas com “querido” e coisas do gênero. Elas não querem uma estrela guia. Elas podem idealizar um simples jovem como um herói, mas elas não precisam realmente de tal deslumbramento tanto para se apaixonar como para permanecerem assim. Se elas possuem alguma ilusão, é a de que podem “remodelar” os homens. Elas aceitarão conscientemente um canalha e, mesmo quando a ilusão de reformá-lo mostrar-se vã, continuarão a amá-lo.

Elas são, é claro, muito mais realistas sobre a relação sexual. A não ser que sejam corrompidas por péssimos costumes contemporâneos, elas via de regra não falam de modo “obsceno”; não porque sejam mais puras do que os homens (elas não são), mas porque não acham isso engraçado. Conheci aquelas que aparentavam achar isso engraçado, mas é fingimento. Tais coisas podem lhes ser intrigantes, interessantes, atraentes (em boa parte atraentes demais): mas é um interesse natural honesto, sério e óbvio; onde está a graça?

A literatura tem sido (até o romance moderno) um negócio principalmente masculino, e nela há muito sobre o “belo e falso”. Isso, em geral, é uma calúnia. As mulheres são humanas e, portanto, capazes de perfídia. Mas dentro da família humana, comparadas com os homens, elas geral ou naturalmente não são as mais pérfidas. Muito pelo contrário. Exceto pelo fato de que as mulheres são capazes de sucumbir se lhes for pedido para “esperarem” por um homem por tempo demais e enquanto a juventude (tão preciosa e necessária para uma futura mãe) passa rapidamente. Na verdade, não deveria se pedir que esperassem.

Elas precisam, é claro, ser ainda mais cuidadosas nas relações sexuais, no que diz respeito a todos os contraceptivos. Erros lhes causam danos física e socialmente (e matrimonialmente). Mas elas são instintivamente monogâmicas, quando não-corrompidas. Os homens não são… Não há por que fingir. Os homens simplesmente não o são, não por sua natureza animal. A monogamia (ainda que há muito venha sendo fundamental às nossas idéias herdadas) é para nós, homens, uma porção de ética “revelada”, em concordância com a fé e não com a carne. Cada um de nós poderia gerar de forma saudável, por volta dos nossos 30 anos, algumas centenas de filhos e apreciar o processo. Brigham Young (acredito) era um homem feliz e saudável. Este é um mundo decaído, e não há consonância entre nossos corpos, mentes e almas.

Entretanto, a essência de um mundo decaído é que o melhor não pode ser alcançado através do divertimento livre, ou pelo o que é chamado “auto-realização” (em geral um belo nome para auto-indulgência, completamente hostil à realização de outros aspectos da personalidade), mas pela negação, pelo sofrimento. A fidelidade no casamento cristão acarreta nisto: grande mortificação.Para um homem cristão não há saída. O casamento pode ajudar a santificar e direcionar os desejos sexuais dele ao seu objeto apropriado; a graça de tal casamento pode ajudá-lo na luta, mas a luta permanece. A graça não irá satisfazê-lo — tal como a fome pode ser mantida à distância com refeições regulares. Ela oferecerá tantas dificuldades à pureza própria desse estado quanto fornece facilidades. Homem algum, por mais que amasse verdadeiramente sua noiva quando jovem, viveu fiel a ela como uma esposa em mente e corpo sem um exercício consciente e deliberado da vontade, sem abnegação. Isso é dito a poucos — mesmo àqueles educados “na Igreja”. Aqueles de fora parecem que raramente ouviram tal coisa. Quando o deslumbramento desaparece, ou simplesmente diminui, eles acham que cometeram um erro, e que a verdadeira alma gêmea ainda está para ser encontrada. A verdadeira alma gêmea com muita freqüência mostra-se como sendo a próxima pessoa sexualmente atrativa que aparecer. Alguém com quem poderiam de fato ter casado de uma maneira muito proveitosa se ao menos —. Por isso o divórcio, para fornecer o “se ao menos”. E, é claro, via de regra eles estão bastante certos: eles cometeram um erro. Apenas um homem muito sábio no fim de sua vida poderia fazer um julgamento seguro a respeito de com quem, entre todas as oportunidades possíveis, ele deveria ter casado da maneira mais proveitosa! Quase todos os casamentos, mesmo os felizes, são erros: no sentido de que quase certamente (em um mundo mais perfeito, ou mesmo com um pouco mais de cuidado neste mundo muito imperfeito) ambos os parceiros poderiam ter encontrado companheiros mais adequados. Mas a “verdadeira alma gêmea” é aquela com a qual você realmente está casado. Na verdade, você faz muito pouco ao escolher: a vida e as circunstâncias encarregam-se da maior parte (apesar de que, se há um Deus, esses devem ser Seus instrumentos ou Suas aparências). É notório que, na realidade, os casamentos felizes são mais comuns quando a “escolha” feita pelos jovens é ainda mais limitada, pela autoridade dos pais ou da família, contanto que haja uma ética social de pura responsabilidade não-romântica e de fidelidade conjugal. Mas mesmo em países onde a tradição romântica até agora afetou os arranjos sociais a ponto de fazer as pessoas acreditarem que a escolha de um parceiro diz respeito unicamente aos jovens, apenas a mais rara das sortes junta o homem e a mulher que, de certo modo, são realmente “destinados” um ao outro e capazes de um enorme e esplêndido amor. A idéia ainda nos fascina, agarra-nos pelo pescoço: um grande número de poemas e histórias foi escrito sobre o tema, mais, provavelmente, do que o total de tais amores na vida real (mesmo assim, a maior dessas histórias não fala do casamento feliz de tais grandes amantes, mas de sua trágica separação, como se mesmo nessa esfera o verdadeiramente grande e esplêndido neste mundo decaído esteja mais propício a ser alcançado pelo “fracasso” e pelo sofrimento). Em tal inevitável grande amor, freqüentemente um amor à primeira vista, temos uma visão, suponho, do casamento como este deveria ser em um mundo não-decaído. Neste mundo decaído, temos como nossos únicos guias a prudência, a sabedoria (rara na juventude, tardia com a idade), um coração puro e fidelidade de vontade…

Minha própria história é tão excepcional, tão errada e imprudente em quase todos os aspectos que fica difícil aconselhar prudência. Ainda assim, casos difíceis dão maus exemplos; e casos excepcionais nem sempre são bons guias para outros. Pois o que é válido aqui é um pouco de autobiografia — nesta ocasião direcionada principalmente às questões da idade e das finanças. Apaixonei-me por sua mãe por volta dos 18 anos. De maneira muito genuína, como se mostrou — embora, é claro, falhas de caráter e temperamento tenham feito com que eu com freqüência caísse abaixo do ideal com o qual eu havia começado. Sua mãe era mais velha do que eu e não era uma católica. Completamente lamentável, conforme vislumbrado por um guardião1. E isso foi de certa forma muito lamentável; e de certo modo muito ruim para mim. Essas coisas são cativantes e nervosamente exaustivas. Eu era um garoto inteligente lutando contra as dificuldades de se conseguir uma bolsa de estudos (muito necessária) em Oxford. As tensões combinadas quase causaram um colapso nervoso. Fracassei nos meus exames e (como anos mais tarde meu professor me contou) embora eu devesse ter conseguido uma boa bolsa, acabei apenas com uma bolsa parcial de £60 em Exeter: apenas o suficiente para começar (ajudado por meu querido e velho guardião), junto com uma bolsa de saída do colégio da mesma quantia. E claro, havia um lado de crédito, não visto tão facilmente pelo guardião. Eu era inteligente, mas não diligente ou concentrado em apenas uma única coisa; grande parte do meu fracasso foi devido simplesmente ao fato de não me esforçar (pelo menos não em literatura clássica) não porque eu estava apaixonado, mas porque eu estava estudando outra coisa: gótico e não sei mais o quê2. Por ter uma criação romântica, fiz de um caso de menino-e-menina algo sério, e o tornei a fonte do empenho. Fisicamente covarde por natureza, passei de um coelhinho desprezado do segundo time da casa para capitão do time principal em duas temporadas. Todo esse tipo de coisa. Porém, surgiram problemas: tive de escolher entre desobedecer e magoar (ou enganar) um guardião que havia sido um pai para mim, mais do que a maioria dos pais verdadeiros, mas sem qualquer obrigação, e “desistir” do caso de amor até que eu completasse 21. Não me arrependo de minha decisão, embora ela tenha sido muito difícil para minha amada. Mas não foi minha culpa. Ela estava perfeitamente livre e sob nenhum voto a mim, e eu não teria reclamação justa alguma (exceto de acordo com o código romântico irreal) se ela tivesse se casado com outra pessoa. Por quase três anos eu não vi ou escrevi à minha amada. Foi extremamente difícil, doloroso e amargo, especialmente no início. Os efeitos não foram completamente bons: voltei à leviandade e à negligência, e desperdicei boa parte do meu primeiro ano na Faculdade. Mas não acredito que qualquer outra coisa teria justificado um casamento com base em um romance de garoto; e provavelmente nada mais teria fortalecido suficientemente a vontade de conferir permanência a tal romance (por mais genuíno que fosse um caso de amor verdadeiro). Na noite do meu aniversário de 21 anos, escrevi novamente à sua mãe — 3 de janeiro de 1913. Em 8 de janeiro voltei para ela, e nos tornamos noivos, informando o fato a uma atônita família. Esforcei-me e estudei mais (tarde demais para salvar o Bach3, do desastre) — e então a guerra eclodiu no ano seguinte, enquanto eu ainda tinha um ano para cursar na faculdade. Naqueles dias os garotos se alistavam ou eram desprezados publicamente. Era um buraco desagradável para se estar, especialmente para um jovem com imaginação demais e pouca coragem física. Sem diploma; sem dinheiro; noiva. Suportei o opróbrio e as insinuações cada vez mais diretas dos parentes, fiquei acordado até mais tarde e consegui uma Primeira Classe no Exame Final em 1915. Atrelado ao exército: julho de 1915. Considerei a situação intolerável e me casei em 22 de março. Podia ser encontrado atravessando o Canal (eu ainda tenho os versos que escrevi na ocasião!)4 para a carnificina do Somme.

Pense na sua mãe! No entanto, não creio agora por um momento sequer que ela estivesse fazendo algo mais do que lhe deveria ser pedido para fazer — não que isso diminua o valor do que foi feito. Eu era um rapaz jovem, com um bacharelado regular e capaz de escrever poesia, algumas libras minguadas por ano (£20 — 40)5 e sem perspectivas, um Segundo Ten. seis dias por semana na infantaria, onde as chances de sobrevivência estavam severamente contra você (como um subalterno). Ela se casou comigo em 1916 e John nasceu em 1917 (concebido e carregado durante o ano da fome de 1917 e da grande campanha U-boat) por volta da batalha de Cambrai, quando o fim da guerra parecia tão distante quanto agora. Vendi, e gastei para pagar a clínica de repouso, a última de minhas poucas ações sul-africanas, “meu patrimônio”.

Da escuridão da minha vida, tão frustrada, coloco diante de você a única grande coisa para se amar sobre a terra: o Sagrado Sacramento… Nele você encontra romance, glória, honra, fidelidade e o verdadeiro caminho de todos os seus amores sobre a terra; e, mais do que isso, a Morte: pelo paradoxo divino, que encerra a vida e exige a renúncia de tudo, e ainda assim pelo gosto (ou antegosto) somente do qual o que você procura em seus relacionamentos terrestres (amor, fidelidade, alegria) pode ser mantido, ou aceitar aquele aspecto.


Notas:

1. Guardião de Tolkien. O Padre Francis Morgan desaprovava seu caso de amor clandestino com Edith Bratt.

2. Tolkien ficou empolgado nos dias de colégio ao descobrir a existência do idioma gótico; vide a carta n° 272.

3. Bacharelado em Letras Clássicas, no qual Tolkien recebeu uma Segunda Classe.

4. A verdadeira data da travessia do Canal feita por Tolkien com seu batalhão foi 6 de junho de 1916. O poema a que ele se refere, datado “Étaples, Pas de Calais, junho de 1916″, é intitulado “A Ilha Solitária”, e possui o subtítulo “Para a Inglaterra”, embora ele também esteja relacionado à mitologia de O Silmarillion. O poema foi publicado no Leeds University Verse 1914-1924 [“Versos da Universidade de Leeds 1914-1924″] (Leeds, na Swan Press, 1924), p.

5. Tolkien herdou uma pequena renda de seus pais, proveniente de ações em minas sul-africanas.

Fonte: As Cartas de J.R.R. Tolkien, livro editado por Humphrey Carpenter. (Tradução: Gabriel Oliva Brum.)

Créditos: Modéstia Masculina

terça-feira, 16 de setembro de 2014

O homem católico e o namoro

O homem católico e o namoro

Por Maria Tereza Colares


Comecei a perceber que as vantagens de um relacionamento cristão eram muito maiores do que eu imaginava no consultório da minha terapeuta, quando ela me perguntou se eu não queria namorar por medo de uma possível relação sexual e, assim, ela descobriu que o namoro pelo qual ela tanto lutava para que saísse do impasse seria bem diferente do que habitual. 


“Católica”, entre aspas mesmo, como estamos acostumados, usou da minha escolha para me mostrar o quanto eu tinha sido agraciada por encontrar quem levasse Deus a sério: “Menina, homens religiosos são garantia de felicidade! Levam o namoro a sério, sabem amar, respeitar e tratar bem, são mais carinhosos e, quando é o caso, têm casamentos duradouros e felizes”, esse foi o discurso que eu escutei por bastante tempo, até o bendito sim.

Durante o namoro, não são poucas as vezes que chegam aos meus ouvidos coisas como “Queria um namoro igual ao seu!”“Como você é abençoada por ter um namorado assim”, “Que lindo o namoro de vocês!”“Claro que você não é insegura, ele nunca faria nada de mal pra você.” Fora as diversas vezes que eu não pude ajudar em uma situação difícil porque “Você nunca vai entender, o seu namoro não passa por isso!”.

Mas por quê? Por que ter um namoro em que Deus é a base é garantia de felicidade? Por que um namoro alicerçado nos ensinamentos da Igreja é tão leve, seguro e cheio de amor? E a resposta é simples: porque é por Ele e para Ele.

Existe uma frase que diz mais ou menos assim: “O amor imperfeito é muito frágil e fácil de ser traído, mas O Amor Perfeito, não”. Quando um homem vive em amizade com o Senhor, não é por sua namorada que ele permanece fiel, firme na batalha pela pureza, pelo amor e pela doação de si mesmo, é por Deus, o Amor Perfeito e, ir pra longe Daquele que o coração busca sem cessar, é ir contra si. Ser fiel a quem não corresponde as nossas expectativas incontáveis vezes é muito difícil, mas quando o Amor (assim, maiúsculo) entra em cena, tudo muda.

Quanto mais aconchegado no Sagrado Coração um homem estiver, maior vai ser a capacidade dele de amar, e amar com um amor que vem direto do Céu, capaz de superar qualquer coisa e de permanecer firme até o fim! Um amor generoso, que não busca felicidade e sim fazer feliz. Amor puro e pleno, que foi provado pelo fogo das renuncias, do não receber nada em troca e que se torna sobrenatural, amor de corpo e alma. Um amor que conta com a graça do Cristo para que seja como o amor Dele por nós, que entrega, sem reservas, a própria vida. 

Como não ser feliz experimentando tão grande amor? Como não confiar em um homem que é capacitado, a todo instante, por Nosso Senhor? Como entrar em crise, se o que Deus planeja é perfeito? Como não ser eterno, se foi feito para a Eternidade?

Namorar um Homem Católico é muito mais do que não ser traída, ter um relacionamento duradouro e feliz: é ser amada pelo próprio Amor através do coração de um Homem.





Leia mais sobre o assunto acessando estes textos abaixo:











domingo, 21 de julho de 2013

Namoro e matrimónio - São Josemaría Escrivá





São Josemaria na Venezuela, Fevereiro de 1975

”O amor puro e limpo dos esposos é uma realidade santa, que eu, como sacerdote, abençoo com ambas as mãos”. Havia escrito o Padre há muitos anos, e aquele jovem estudante sabia-o bem, talvez, por isso, sabia também que a sua pergunta não iria cair em saco roto.

- A minha namorada e eu gostávamos que nos falasse um pouco do namoro, e também do casamento.

- “Sim, meus filhos, o amor humano é uma aventura maravilhosa. Sei isso pelo amor divino, que é muito mais, embora seja compatível com o amor humano, com o amor humano santo, como o vosso.

Eu digo que se queiram, que conversem, que se conheçam, que se respeitem mutuamente, como se cada um fosse um tesouro que pertence ao outro. Não se esqueçam que Deus Nosso Senhor está presente, que vos vê, que vos ouve”.

E o Padre, olhando para ele com carinho, termina dizendo:

- “Meu filho… persevera nesse teu amor. Como gostas muito dessa pessoa que escolheste para mãe dos teus filhos, que nunca te venhas a envergonhar deste teu amor. Respeita-a. Não será por isso que a amarás menos: amá-la-ás ainda mais. E, assim, o Senhor abençoará um dia esse vosso casamento, e fará com que seja luminoso, alegre, feliz… E será um amor que irromperá até ao céu”.

Venezuela, 11 de Março de 1975

Fonte: pt.josemariaescriva.info

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Namoro Cristão: Como aceitar que se continue solteiro


Extraído do livro “Namoro Cristão em um mundo supersexualizado”




Transcrição: Blog “A Formação da Moça Católica”

Como aceitar que se continue solteiro

Um fenômeno que nos últimos dez ou vinte anos percebi entre os católicos solteiros é a procura obsessiva por um cônjuge. Pode ser o caso da mulher que teme ficar mais velha, e se o seu Príncipe Encantado tarda em chegar, não poderá ter filhos. Ou do homem que não conseguiu encontrar a mulher perfeita e se sente infeliz. Em ambos os casos, estão obsessionados por encontrar a pessoa adequada. Há quem chegue até a casar-se com alguém absolutamente inapropriado, pensando que semelhante relação é melhor do que nenhuma.

Tudo isso revela uma séria falta de confiança em Deus. Deus tem um plano para cada um, e preparou as coisas para nosso bem, sempre que o amemos. São Paulo diz que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus (Rom 8,28). Acreditamos nisso? Se é assim, basta que digamos a Deus, seja qual for a idade que tenhamos: “Senhor, obrigado por não me ter casado até agora. Sei que isto servirá para o meu bem, por que te amo”.

Na Sagrada Escritura, o Senhor diz-nos repetidamente que está bem junto de nos e que devemos confiar nEle: Bem-aventurado o homem que confia no Senhor e que põe nEle a sua esperança. Assemelha-se à árvore plantada à beira do riacho, que estende as raízes para a corrente; se vier o calor, não temerá e a sua folhagem continuará verdejante; em ano de seca, não se inquietará, pois continuará a dar frutos. (Jer 17, 7-8).

Mateus diz-nos também: Olhai as aves do céu, que não semeiam, nem ceifam, nem recolhem nos celeiros, e o vosso Pai celeste os alimenta. Não valeis vós muito mais que elas? Qual de vós, por mais que se esforce, pode acrescentar um só côvado à sua estatura? [...] Não vos aflijais nem digais: “Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos?” São os pagãos que se preocupam com todas essas coisas. Bem sabe o vosso Pai celestial que precisais de todas elas (Mt 6, 26-32).

Podemos imaginar Jesus dirigindo-se aos cristãos solteiros com estas palavras: “Não vos preocupeis por não saberdes quando ou com quem ides casar-vos. O vosso Pai celestial sabe que quereis um cônjuge bom e piedoso. Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e também isso vos será dado”.

Talvez esta outra citação seja mais apropriada para os cristãos solteiros que andam preocupados: Espera no Senhor e pratica o bem; habita a terra e apascenta em plena segurança. Põe no Senhor as tuas delícias, e Ele atenderá aos desejos do teu coração. Confia ao Senhor os teus caminhos, espera nEle, e Ele agirá. Tranqüiliza-se no Senhor e põe nEle a tua esperança (Sal 36, 3-5, 7).

Buscai primeiro o reino

Como traduzir em realidades tudo isto? Em primeiro lugar, é necessário buscar o Reino de Deus. Como você o fará? Pois bem, comece pela oração, pela autêntica oração. Essa oração exige um certo tempo. Se você busca verdadeiramente o Reino de Deus, a sua oração deve refletir essa exigência, deve ser olhada como a pérola de grande valor de que nos fala Jesus (cfr. Mt 13, 46-47), porque merece que você a anteponha a tudo o mais.

Como pessoa solteira, a sua situação é única a respeito do emprego do seu tempo. Você tem mais tempo que nunca, até que se aposente. Não o malbarate olhando abatido à sua volta, sentindo-se triste por não ter encontrado a pessoa ideal. É o tempo próprio para adquirir uma profunda vida de oração.

Depois de ter conseguido orar diariamente quinze ou vinte minutos, pense na possibilidade da Missa, também diária. As suas ocupações não o permitem? O problema não é insolúvel: peça ao Senhor que lhe mostre o modo de resolvê-lo. Eu também achava que não tinha tempo. Se já me custava levantar-me cedo para chegar pontualmente ao trabalho, quanto mais se passasse a ir à Missa das sete! Um dia, o Senhor sugeriu-me que o tentasse e visse se a minha saúde, que nunca foi robusta, poderia sobreviver. Não somente sobreviveu, mas melhorou. Comecei a ir à Missa diariamente há vinte e cinco anos, e não morri. Foi uma das maiores alegrias da minha vida. Muitos, muitos dos nossos jovens católicos solteiros, homens e mulheres, começaram a fazer o mesmo, e isso tem sido uma grande fonte de bênçãos para as suas vidas. Portanto, abra um pouquinho o seu coração à possibilidade da Missa diária agora, enquanto está solteiro. Peça ao Senhor que faça você generoso/a neste ponto. Verá a grande surpresa que há de ter.

Ler os escritos dos santos

Uma das coisas que você pode fazer para manter altas as suas motivações religiosas consiste em ler não só a vida, mas os escritos dos santos. Isso é extraordinariamente importante se deseja progredir na vida espiritual. Faça-o agora, enquanto está solteiro, e avivará no seu coração o desejo de uma intensa vida interior. E mais do que obsessionar-se por encontrar um bom cônjuge, centrar-se-á na sua salvação e avançará em direção à sua meta.

Procurar apoio para viver a fé

Tanto como ler escritos dos santos, ajudá-lo-á a manter viva a fé encontrar bons amigos que a compartilhem consigo. Muitos católicos solteiros se sentem sozinhos porque, num mundo paganizado, lutam por viver a sua fé sem apoiar-se em algum grupo. Se você deseja ter um autêntico namoro cristão, deve rodear-se de pessoas que tenham a sua fé, de amigos que lhe permitam participar de uma “família” de católicos, de pessoas com as quais possa ter uma verdadeira vida social cristã.

Nos começos dos anos noventa, criamos dois grupos na região de Washington DC: uma para homens, chamado St. Lawrence Society, e outro para mulheres, chamado St. Catherine Society. Tinham por fim ajudar homens e mulheres a encontrar nesses grupos ajuda mútua para viverem a fé.

A Sociedade de Santa Catarina, chamada assim em honra de Santa Catarina de Alexandria, padroeira das mulheres solteiras, começou em 1992 e, quase desde o princípio, as associadas compreenderam que podiam ser abertamente católicas, sem se preocuparem com o que os outros pensassem. – “Padre, é uma alegria muito grande fazer parte deste grupo. Aqui sinto-me… segura!” Era alegre, cheia de vida, e praticava verdadeiramente a sua fé. Tempos depois, encontrou-se com o antigo namorado para tomarem um café, e este perguntou-lhe se continuava a praticar sua fé.

- “É claro”, replicou ela.

- “Vai à Missa todos os domingos?”

- “Para falar a verdade, vou diariamente”.

- “Sem sexo?”

- “Sem sexo”.

Ele não estava disposto a fazer o mesmo, mas ficou impressionado. Era uma mulher atraente e elegante, de sucesso, bem integrada no mundo, e que vivia ativamente o seu amor a Deus. Mais de 60% daquelas mulheres tinham uma sólida vida de piedade. Todos desejavam ir às suas festas porque eram alegres e entretidas, e se passava muito bem em companhia delas.

A Sociedade de São Lourenço, chamada assim em honra de São Lourenço, o padroeiro dos homens solteiros, é também vibrante. Mais da metade dos seus membros vai à Missa e faz oração diariamente, e quase todos vêm aprofundando nos fundamentos e conseqüências da sua fé. Um membro recente dessa sociedade comentava há pouco, a propósito do grupo: “Nunca vi nada igual em outra cidade. Aqui vocês criaram um ambiente maravilhoso”.

Espero que muitos dos jovens católicos que leia este livro se animem a formar grupos semelhantes nos seus bairros. Ajudá-los-á a fazer bom uso dos seus anos de solteiros, crescendo na fé e polindo as virtudes da convivência. Agradarão a Deus e, ao mesmo tempo, melhorarão a qualidade do seu comportamento na vida social: serão mais simpáticos.



Pe. Thomas Morrow – “Namoro Santo em um mundo supersexualizado” – Ed. Quadrante
 
Fonte: A Formação da Moça Católica

terça-feira, 9 de abril de 2013

A relação entre castidade, modéstia e pudor


por Pe. Thomas Morrow

Transcrição: Blog Mater Dei
           
Uma proposta de castidade não pode dar resultado sem a virtude do pudor no vestir, tanto em homens como em mulheres. Também o homem deve ser modesto, embora não pensemos frequentemente nisso: sungas minúsculas, calças excessivamente justas, camisetas sem manga e abertas até a cintura não são próprias a um verdadeiro cristão. No entanto, como escreveu Santa Teresa De Jesus na sua autobiografia, “as mulheres têm obrigação de ser mais modestas que os homens”. Portanto, centrar-nos-emos especialmente no tema do pudor das mulheres.
            Permitam-me que lhe conte uma história. Uma tarde, uma jovem da nossa associação católica de mulheres solteiras pensava no vestido que escolheria para assistir a um casamento. Telefonou ao pai a pedir-lhe a opinião. Ele disse-lhe: – “Bem, você tem pernas bonitas, porque não usa algo curto?” [1]
            Então ela usou “algo curto”... e quase provocou um terremoto. Não foi o seu momento mais feliz.
            Depois daquilo, começamos a falar sobre pudor e ela passou a vestir-se de forma mais recatada. Mais tarde, disse-me que tinha ido a uma festa e que o seu vestido discreto tinha chamado a atenção do que as que vestiam roupas chamativas! [2]
            Como as mulheres olham mais para a pessoa no seu conjunto, costumam ser menos conscientes de como os homens a olham. João Paulo II ponderava em Amor e Responsabilidade: “Como a sensualidade é geralmente mais forte e mais acentuada nos homens, e os faz considerar o <>; parece que seria de esperar que o pudor, enquanto tendência a diminuir a atração sexual do corpo, fosse mais pronunciado nas moças e nas mulheres”.
            As mulheres costumam ser conscientes de que os homens se sentem fisicamente atraídos por elas, mas não costumam ter a mais remota ideia da intensidade dessa atração. Quando uma mulher vê um homem de boa aparência, pensa: “É bonito”. Quando um homem vê uma mulher de boa aparência, a sua reação é muito mais intensa.
           
Muitos homens jovens que acreditam na castidade, e se esforçam por vivê-la, nunca reparam na importância da modéstia nas mulheres. Alguns estão completamente possuídos pelo desejo de gozar do espetáculo de uma bela mulher de saia curta e apertada. Mas quando começam a pensar nas causas primordiais da luxúria, não demoram a reconhecer o efeito negativo que isso tem sobre eles. O Pe. David Knight, em Good News About Sex, pensa que “seria uma propositada ingenuidade, nesta época de sofisticação psicológica, ignorar que determinado estímulo visual é objetiva e geralmente provocante para o apetite sexual de um jovem normal. Poderíamos fechar os olhos a essa realidade, mas os comerciantes não o fazem. E as fortunas que obtêm pondo em prática as suas ideias demonstram que sabem o que fazem... Quer as jovens e as mulheres da nossa cultura ignorem ou não o que se passa, quem perde são elas... Na medida em que um determinado estilo de vestir é considerado deliberadamente provocante – por parte do estilista, da cliente, ou de ambos -, esse modo de vestir deve ser considerado como uma violação ao contrário, pois estimula um desejo sexual em quem talvez não queira excitar-se. Cada vez que isso acontece aos homens (que são mais inclinados que as mulheres a esse tipo de excitação), sempre se provoca um certo mal-estar, reconheçam-no ou não...”
            Por outro lado, como recomenda o Catecismo:
            “o pudor preserva a intimidade da pessoa. Designa a recusa de mostrar o que deve ficar oculto. Ordena-se para a castidade, cuja delicadeza proclama. Orienta os olhares e os gestos em conformidade com a dignidade das pessoas e os sentimentos que as unem.
            O pudor protege o mistério da pessoa e do seu amor […] Exige que se cumpram as condições do dom do compromisso definitivo do homem e da mulher entre si. O pudor é modéstia; inspira a escolha do vestuário...” [3]
O que é impudico hoje em dia?
            Quais os elementos mais difundidos da moda atual que provocam mais reações nos homens? O mais comum é a saia curta. Presenciei muitas vezes o desconcerto de homens piedosos quando reparavam na pouquíssima roupa que vestem algumas mulheres ao irem à Igreja assistir à Missa num dia de semana ou para fazer um tempo de oração. Achavam absolutamente contraditórios o vestuário dessas mulheres e suas práticas de piedade. Eu estava de acordo com eles. Sempre me espanta o número de mulheres piedosas que não relacionam o religioso com a roupa. Os vestidos ou as saias acima do joelho afetam sexualmente os homens, pelo menos levemente, mas talvez ainda mais psicologicamente. Quer dizer, afetam a sua opinião sobre a totalidade dessas mulheres. Às vezes, as mulheres surpreendem-se ao saberem como os homens reagem diante de umbigos expostos, seios seminus, vestidos apertados, “penteados sexy” ou peças de banho indecentes.
            Numa palestra que dei sobre o pudor, uma moça (depois descobri que era californiana) replicou:
-        “O senhor quer dizer que não devemos vestir determinados biquínis na praia?”
-        “Sim, é isso que quero dizer”.
-        “Não é um exagero, não?”
-        “Grande. Tão grande como o próprio Evangelho”.
            Vários meses depois, soube que essa moça passou a ir a praia de maiô. Tinha começado a converter-se” Quatro anos depois, entrou numa ordem carmelita contemplativa. Isso, agora no melhor sentido, é que foi, sim, um exagero...! (Nota do blog: Para saber mais sobre a tão discutida questão sobre roupas de banho acesse este link: “Sobre ouso de roupas de banho.”
            Que mulher quer ser lembrada pelas suas pernas? Ou pelo seu umbigo? Não preferiria ser lembrada pela sua afabilidade, personalidade, decência, bondade ou piedade? Se uma mulher ressalta exageradamente os seus encantos físicos, certamente apagará outros, mais pessoais, mais importantes e mais duradouros.


Pe. Thomas Morrow – “Namoro Santo em um mundo supersexualizado”
Leia a continuação artigo neste link: A relação entre castidade, modéstia e pudor - 2ª Parte
 [1] Nota do blog: Isto é um verdadeiro exemplo de pai desnaturado, chegou a dar pena da moça, que pai normal mandaria a sua filha usar um vestido que deixasse as pernas à mostra? Grande parte da falta de pudor recorrente neste nosso mundo tem sua causa na negligência em que os pais criam seus filhos, pais e mães que estão mais preocupados consigo mesmos do que com o bem da família em geral. Todos nós prestaremos contas a Deus, mas os pais prestarão contas por suas almas e pelo modo que conduziram a de seus filhos.
[2] Para saber mais sobre assunto acesse este link: “Em uma festa de casamento.”
[3] Catecismo da Igreja Católica, ns. 2521 e 2522

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Amor autêntico comprometido ou apenas paixão passageira. Como saber?


Amor e Responsabilidade: a lei do dom – compreendendo os dois aspectos do amor

Por Edward P. Sri
__________

Esse é o assunto sobre o qual João Paulo II – então Karol Wojtyla – se debruça na próxima seção de seu livro, “Amor e Responsabilidade”, quando ele discute os dois aspectos do amor.

De acordo com Wojtyla, existem dois aspectos do amor, e compreender a diferença é crucial para qualquer casamento, noivado ou namoro.

Quando um rapaz encontra uma garota, ele experimenta uma série de sentimentos e desejos poderosos em seu coração. Ele pode se encontrar fisicamente atraído pela beleza do corpo dela, ou se perceber pensando constantemente nela em uma atração emocional. Essa dinâmica interior do desejo sensual (sensualidade) e do amor emocional (sentimentalidade) molda em grande parte a maneira com que o homem e a mulher interagem um com o outro, e é isso que faz o romance, especialmente em seus estágios iniciais, ser tão emocionante para o casal envolvido.


Entretanto, esse é apenas um aspecto do amor, que não deve ser igualado ao amor no sentido mais pleno. Nós sabemos da experiência que podemos ter fortes emoções e desejos por outra pessoa sem necessariamente estar comprometido com ela, ou sem a pessoa estar verdadeiramente comprometida conosco em uma relação de amor.


É por isso que Wojtyla coloca o aspecto subjetivo do amor em seu devido lugar. Ele nos desperta e nos lembra que, não importa o quão forte experimentemos essas sensações, isso não é necessariamente amor, mas simplesmente uma “situação psicológica”. Em outras palavras, por si só, o aspecto subjetivo do amor nada mais é do que uma experiência prazerosa que está acontecendo dentro de mim.

Essas emoções e desejos não são ruins, e podem se desenvolver dentro do amor, e até enriquecê-lo, mas não devemos vê-los como sinais infalíveis do amor autêntico. Wojtyla diz: “É impossível julgar o valor de um relacionamento entre duas pessoas meramente a partir da intensidade de suas emoções… O amor se desenvolve com base em uma atitude totalmente comprometida e totalmente responsável de uma pessoa para outra pessoa”; enquanto que ao mesmo tempo os sentimentos românticos “nascem espontaneamente das reações sensuais e emocionais. Um crescimento muito rápido e muito rico de tais sensações pode esconder um amor que falhou em se desenvolver” (Amor e Responsabilidade).

Direcionando o amor para as reações interiores

Os homens e as mulheres hoje são bastante suscetíveis a cair nessa ilusão de amor, pois o mundo moderno direcionou o amor para as reações interiores, focando-se primariamente no aspecto subjetivo, o  “amor hollywoodiano”, que nos diz que o amor será mais forte quanto mais forte forem nossas emoções. Wojtyla, entretanto, enfatiza que há uma outra faceta do amor que é absolutamente essencial, não importando quão fortes sejam nossas emoções e desejos. A esse aspecto ele chamou de “objetivo”.

Esse aspecto tem uma série de características objetivas que vão além dos sentimentos prazerosos que experimento no nível subjetivo. O verdadeiro amor envolve virtude, amizade, e a busca de um bem comum. No casamento cristão, por exemplo, marido e mulher se unem pelo bem comum de ajudarem um ao outro a crescer em santidade, aprofundar a união, e educar os filhos. Além disso, eles devem não apenas compartilhar esse objetivo em comum, mas possuir a virtude que os ajude a chegar lá.

É por isso que o aspecto objetivo do amor é muito mais do que um olhar interior para minhas emoções e desejos. É muito mais do que os prazeres que recebo da relação. Ao considerar o aspecto objetivo do amor, devemos discernir que tipo de relacionamento existe realmente entre eu e a pessoa que amo, e não simplesmente o que esse relacionamento significa para mim em meus sentimentos. A outra pessoa me ama mais pelo que sou ou me ama mais pelo prazer que recebe da relação?

Meu(minha) amado(a) compreende o que é verdadeiramente melhor para mim? Ele(ela) tem a virtude para me ajudar a chegar ao que é melhor para mim? Estamos profundamente unidos por um objetivo comum, servindo um ao outro e lutando juntos por um bem comum que é maior do que cada um de nós? Ou estamos na verdade apenas vivendo lado a lado, compartilhando recursos e ocasiões agradáveis enquanto cada um persegue egoisticamente seus próprios projetos e interesses na vida? Esse são os tipos de questões que apontam para o aspecto objetivo do amor.

Agora podemos ver porque Wojtyla diz que o verdadeiro amor é “um fato interpessoal”, não simplesmente uma “situação psicológica”. Um relacionamento forte está baseado na virtude e na amizade, não simplesmente em experimentar juntos sentimentos agradáveis e situações prazerosas. Como explica Wojtyla, “o amor enquanto experiência deve estar subordinado ao amor enquanto virtude – de tal modo que sem o amor enquanto virtude não pode haver plenitude na experiência do amor” (Amor e Responsabilidade).

Amor doação de si

Uma das marcas mais distintivas do aspecto objetivo do amor é o dom de si mesmo. Wojtyla ensina que o que faz o amor comprometido diferente de todas as outras formas de amor (atração, desejo, amizade) é que as duas pessoas “se doam” uma para a outra. As pessoas não estão apenas atraídas uma pela outra, e elas não desejam simplesmente o que é melhor para a outra. No amor comprometido, cada pessoa se rende completamente à outra pessoa. “Quando o amor comprometido entra nessa relação interpessoal surge algo mais do que uma simples amizade: surgem duas pessoas que se entregam uma para a outra” (Amor e Responsabilidade).

De fato a idéia de amor auto-doação levanta alguns questionamentos importantes: como pode uma pessoa realmente se doar a outra? O que isso significa? Afinal de contas o próprio Wojtyla ensina que cada pessoa humana é completamente única. Cada pessoa tem sua própria mentalidade e sua vontade própria. No final, ninguém pode pensar por mim. Ninguém pode escolher por mim. Portanto, cada pessoa “é seu próprio mestre”, e não está disponível a ser entregue a outra pessoa. Então, em que sentido uma pessoa pode “se doar” a(o) seu(sua) amado(a)?

Wojtyla responde dizendo que é impossível para uma pessoa se doar a outra no nível natural e físico, mas na ordem do amor uma pessoa pode fazê-lo ao escolher limitar sua liberdade e unir sua vontade à da pessoa que ama. Em outras palavras, por causa do seu amor, uma pessoa pode na verdade desejar abdicar de seu próprio livre-arbítrio e ligá-lo ao da pessoa amada. Como Wojtyla diz, o amor “faz com que a pessoa queira exatamente isto – render-se ao(a) outro(a), à pessoa amada”.

A liberdade de amar

Por exemplo, considere o que acontece quando um homem solteiro se torna casado. Como solteiro, “Roberto” é capaz de decidir o que deseja fazer, quando deseja fazer, e como deseja fazer. Ele faz sua própria agenda. Ele decide onde vai viver. Ele pode se demitir de um emprego e se mudar para outra parte do país em um instante, se quiser. Ele pode deixar o apartamento uma bagunça. Ele pode gastar seu dinheiro do modo como quiser. E ele pode comer quando quiser, sair para onde quiser, e ir dormir quando quiser. Ele está acostumado a tomar sozinho as decisões de sua vida.

O casamento, entretanto, vai mudar de modo significativo a vida de “Roberto”. Se ele decide por conta própria se demitir do emprego, comprar um carro novo, viajar no final de semana, ou vender a casa, isso provavelmente não vai se encaixar muito bem com a vida da sua esposa! Agora que “Roberto” está casado, todas as decisões que ele estava acostumado a tomar por conta própria devem ser tomadas em união com sua esposa, e procurando o que for melhor para seu casamento e para sua família.

No amor de doação de si, um homem reconhece de modo profundo que sua vida já não é mais propriedade sua. Ele rendeu sua própria vontade à sua amada. Seus próprios planos, sonhos e gostos não estão completamente abandonados, mas agora eles são colocados em nova perspectiva. Eles estão subordinados ao bem de sua esposa e dos filhos que possam surgir do casamento. Como “Roberto” vai gastar seu tempo e seu dinheiro e como ele vai organizar sua vida já não é matéria de sua própria escolha pessoal. Sua família se torna o ponto de referência primário para tudo que ele for fazer.

Essa é a beleza do amor doação de si. Como solteiro “Roberto” tinha grande autonomia – ele podia organizar sua vida como quisesse. Mas, por causa de seu amor, “Roberto” escolheu livremente abdicar dessa autonomia, limitar sua liberdade, comprometendo-se com sua esposa e com o bem dela. O amor é tão poderoso que o impele a desejar render sua vontade à sua amada desse modo profundo.

Realmente muitos casamentos hoje em dia seriam muito mais sólidos se ao menos compreendêssemos e nos lembrássemos do amor de doação a que originalmente nos comprometemos. Ao invés de perseguir egoisticamente nossas próprias preferências e desejos, devemos nos lembrar que quando fizemos nossos votos escolhemos livremente render – amorosamente desejamos render – nossas vontades ao bem do(a) nosso(a) esposo(a) e dos filhos. Como Wojtyla explica: “A forma de amor mais plena consiste precisamente na auto-doação, em fazer do inalienável e intransferível ‘eu’ uma propriedade de outra pessoa” (Amor e Responsabilidade).

A lei do dom

Agora chegamos ao grande mistério do amor doação de si. No coração desse dom de si está uma convicção fundamental de que, ao render minha autonomia à pessoa amada, eu ganho muito mais em troca. Ao unir-me com outra pessoa, minha própria vida não fica diminuída, mas é profundamente enriquecida. Isso é o que Wojtyla chama de “lei do ekstasis”, ou lei da auto-doação: “O amante ‘sai de si mesmo’ para encontrar um existência mais plena no(a) outro(a)” (Amor e Responsabilidade).

Em uma época de vigoroso individualismo, entretanto, essa profunda afirmação de Wojtyla pode ser difícil de compreender. Por que devo sair de mim mesmo para encontrar a felicidade? Por que eu deveria me comprometer desse modo radical com outra pessoa? Por que deveria abdicar da liberdade de fazer o que quisesse com minha vida? Essas são as questões do homem moderno.

Entretanto, de uma perspectiva cristã, a vida não é para “fazer o que eu quiser”. A vida é para meus relacionamentos – é para encontrar a plenitude de meu relacionamento com Deus e com as pessoas que Deus colocou na minha vida. Na verdade, é aí que encontramos plenitude na vida: em viver bem nossos relacionamentos. Mas para viver bem nossos relacionamentos precisamos muitas vezes fazer sacrifícios, rendendo nossa vontade própria para servir ao bem dos outros. É por isso que descobrimos uma felicidade mais profunda na vida quando nos doamos desse modo, pois estamos vivendo do modo como Deus nos criou para viver, do modo como o próprio Deus vive: em um amor total, comprometido e de auto-doação. Como diz uma das passagens favoritas de Wojtyla retirada do Vaticano II: “O homem só se encontra ao fazer de si mesmo um dom sincero para os outros” (Gaudium et spes nr. 24).

Essa afirmação do Vaticano II se aplica especialmente ao matrimônio, onde o amor de auto-doação entre duas pessoas humanas se mostra mais profundamente. Ao me comprometer com outra pessoa em uma relação de amor verdadeiro eu certamente limito minha liberdade de fazer “o que quiser”. Mas ao mesmo tempo eu me abro para uma liberdade ainda maior: a liberdade de amar. Como explica Wojtyla: “O amor consiste em um compromisso que limita a liberdade da pessoa – é uma doação de si, e doar-se a si mesmo significa exatamente isso: limitar a própria liberdade em prol do(a) outro(a). A limitação da liberdade da pessoa pode parecer algo negativo e desagradável, mas o amor faz dessa limitação uma coisa positiva, criativa e cheia de alegria. A liberdade existe para que se possa amar” (Amor e Responsabilidade).

Portanto, enquanto o individualista moderno pode ver a auto-doação no matrimônio como algo negativo e restritivo, os cristãos veem tais limitações como libertadoras. O que eu realmente desejo fazer na vida é amar a Deus, minha esposa e meus filhos, e meu próximo – pois nesses relacionamentos encontro minha felicidade. E se eu existo para amar minha mulher e meus filhos e para viver totalmente comprometido a eles, eu devo evitar que meus desejos egoístas dominem minha vida e controlem minha casa. Em outras palavras, eu devo estar livre da tirania do “faço o que eu quero”. Só então é que sou livre para amar do modo como Deus me criou. Só então é que sou livre para ser feliz. Só então é que sou livre para amar.
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O Autor: Edward Sri é professor assistente de Teologia do Benedictine College em Atchinson, Kansas, Estados Unidos, e autor de vários livros de Teologia e espiritualidade.
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Traduzido de: http://catholiceducation.org/articles/marriage/mf0072.html


Fonte: Modéstia Masculina

sábado, 26 de janeiro de 2013

Papa diz que cristãos devem dizer 'não à teoria do gênero'‏



Os cristãos devem dizer "não" à teoria do "gênero" e "sim" à aliança entre homens e mulheres no casamento, afirmou neste sábado o Papa Bento XVI, em um novo discurso muito firme contra "uma antropologia de fundo ateu".

A ideologia do "gênero" é uma teoria popular no ocidente, segundo a qual a identidade sexual é determinada pela educação e o meio ambiente, e não por diferenças genéticas. Ela é defendida pelos defensores do casamento gay, que acreditam que a identidade feminina ou masculina não é predeterminada.

"A Igreja reitera seu 'sim' à dignidade e beleza do casamento (...) e seu 'não' à certas filosofias, como a do gênero, uma vez que a reciprocidade entre homens e mulheres é uma expressão da beleza da natureza, querida pelo Criador ", declarou o Papa ao receber agentes da ação católica em sessão plenária.

O casamento gay e a teoria do gênero são temas que cada vez mais provocam desentendimento entre a Igreja e as elites ocidentais. Em Paris, no último domingo, milhares de pessoas, em sua maioria católicos, protestaram contra os planos do governo socialista de legalizar o casamento homossexual.

Observando que "em todos os tempos", "o homem é vítima de tentações culturais que o tornam escravo" do "culto da nação e da raça" no "capitalismo selvagem", o Papa denunciou várias ideias contemporâneas que "se vestem de bons sentimentos, em nome do progresso, dos direitos e de um humanismo".

Evocando uma "redução antropológica" do homem, onde seria "revisto o materialismo hedonista da antiguidade" associado a um "prometeísmo tecnológico", Joseph Ratzinger lamentou que "tudo o que é tecnicamente possível torna-se moralmente lícito, qualquer experimentação aceitável, qualquer política demográfica autorizada, qualquer manipulação legitimada".

Ele pediu aos atores do desenvolvimento, em colaboração com outros na Justiça e no Desenvolvimento, a "desafiar o financiamento e as colaborações que direta ou indiretamente promovem projetos em desacordo com a antropologia cristã".

A Santa Sé mantém posições de princípios, particularmente contra a pílula contraceptiva e os preservativos, o que é muito criticado pelas agências da ONU e outras ONG.

Fonte; 

http://noticias.terra.com.br/mundo/europa/papa-diz-que-cristaos-devem-dizer-nao-a-teoria-do-genero,85fff94748d4c310VgnCLD2000000ec6eb0aRCRD.html

Fonte: Da Mihi Animas

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