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quinta-feira, 8 de setembro de 2016

O corpo bem adestrado - Tihamer Toth


Não duvido que tenhas mais de um vez ouvido a frase que nos vem da antiguidade: “Mens Sana in corpore sano”. Quisera fazer-te notar a este respeito que, não somente o corpo são e bem adestrado é precioso auxiliar que nos ajuda a bem cumprir nossa missão neste mundo, mas também que a alma jovem dispõe-se com maior facilidade a se transformar num caráter e a permanecer firme num corpo bem aguerrido, bem exercitado, bem destro, do que num montão de carne gorda, mole e preguiçosa. Faz exercício de ginástica e de trabalho físico todos os dias, mormente nos anos de adolescência, a partir dos 13 ou 14 anos; é ainda um bom meio para conseguir assegurar a pureza de alma. O jovem que cuida todos os dias de fadigar não somente o espírito, mas também o corpo, estará muito menos exposto às tentações do que o moço ocioso e indolente. O corpo amimado, afagado e farto de gulodices embriaga-se com a sua importância: nada mais natural. Quer ser o senhor, quer reinar, torna-se exigente e, golpe sobre golpe, envia o assalto e artilharia das tentações sensuais contra a pobre alma.

O corpo é inimigo em nossa própria casa: sempre pronto ao mal, cheio de displicência pelo bem. Contudo, se tomares cuidado de bem exercitar, de disciplinar, de domar em todos os sentidos esse lobo esfaimado _ numa palavra, se o obrigares a fazer um bom exercício de ginástica todos os dias, _ verás que ele desiste de suas pretensões impudentes.

Ensina-nos a história que as nações sadias e fortes sempre ligaram importância especial ao adestramento físico dos seus cidadãos. Onde quer que a têmpera viril deu lugar à moleza efeminada, arrastou sempre após si a decadência, _ a decadência da saúde como a da cultura.

Mas que é precisamente o adestramento viril?

É essa capacidade do corpo que permite suportar, sem dano para a saúde, impressões, estímulos e golpes muito fortes, e sobretudo postos. Essa qualidade evidencia-se sobretudo em face das mudanças de tempo e de temperatura. O homem de saúde perfeita pode sair dum quarto quente para o ar frio sem se resfriar. Suporta sem dano o vento, o nevoeiro, a umidade, assim como o sol de verão. Seus vasos sanguíneos contraem-se e se dilatam conforme a necessidade, levam mais ou menos sangue às diversas partes do corpo e, desse modo, permitem que se conserve sempre o calor natural do organismo. O calor natural do corpo jovem e bem adestrado preserva melhor do resfriado, do que um agasalho.

Um homem bem exercitado sabe também curtir melhor a fome, a sede e a fadiga. O jovem exercitado sabe sorrir apesar duma dor de dentes desagradável, não se deixa abater pela fadiga ou por uma leve indisposição. Não conhece o medo, não é guloso, não faz de preguiçoso na cama de manhã, sabe sempre conservar o corpo sob o domínio da alma. (...)
Grifos do blog.



Livro: O môço educado
Autor: Dom Tihamer Toth
Parte I – O jovem bem educado
O corpo adestrado
Páginas: 67-68
Editora Vozes LTDA.- Petrópolis RJ
IV Edição - 1960
IMPRIMATUR por Comissão Especial do Exmo. e Revmo. Sr. Dom Manoel Pedro da Cunha Cintra, Bispo de Petrópolis. Frei Desidério Kalverkamp, O.F.M. Petrópolis, 21- XII-1959 
 
Fonte: Modéstia Masculina

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Religiosidade varonil - Tihamer Toth

 
Muitos jovens se afastam da vida religiosa ao verificarem o contraste entre a aparente religiosidade exterior de alguns companheiros e sua esterilidade espiritual. Outros, trazem a prática da religião demasiado sentimento e por seu sentimentalismo fazem com que a religiosidade seja mal interpretada pelas pessoas sérias. Religiosidade é o culto de Deus conjuntamente prestado pela razão, o coração e a vontade. O coração ou sentimento tem, pois, também seu papel, mas um elemento não deve demasiar-se em deferimento dos outros dois. Da religiosidade exageradamente sentimental pode-se dizer o que, infelizmente, alguns afirmam de toda a religiosidade: ela é própria só para o povo e as mulheres.

Como? A religião é boa somente para o povo e as mulheres? Para os cultos, inteligentes homens modernos não serve? — Certo que serve! A religiosidade bem compreendida, real, varonil, serve e sem contestação!

E quando será ela, real e varonil?

Podem alguns ter idéias de religião adulterada quanto o quiserem; não poderão negar que ela é um dos mais belos ornatos que constituem a verdadeira nobreza do homem.

Em nossos tempos, tentaram tirar à religião sua autenticidade, e substituí-la por diversas especulações científicas; em vão! Onde se atacou a religião, começou a decadência da virtude, da honestidade, do sentimento do dever, da consciência, do caráter, — numa palavra, dos mais belos ideais da humanidade. Podemos buscar exemplos na história dos antigos gregos, dos romanos e outros povos. Ali, a vida dos próprios sábios, que procuravam tudo o que era bom e nobre, não se isentava de falhas, porque eles não conheciam a verdadeira religiosidade.

Mas, que é a verdadeira religiosidade?

Verdadeira religiosidade é a submissão da alma humana a Deus, nosso Criador e Supremo Fim. Esse “dobrar-se” nos dá forças contra nosso egoísmo, faz-nos independentes do mundo e de nossas inclinações desregradas. A religiosidade prodigaliza à alma tal ascendência sobre o mundo, que Kant a chamou com razão “Medicina universal”, pois nos torna capazes de suportar todas as penas.

Um grande general dizia: “Ser soldado é não comer quando se tem fome, não beber quando se tem sede, ajudar o companheiro ferido, quando a gente mesmo apenas consegue arrastar-se”.

Soldados de Cristo, no entanto, significa ser um jovem religioso; quer dizer, não cometer pecado, muito embora a tentação nos alicie; cumprir a todos os momentos o dever, por mais aborrecido que nos pareça; servir a Deus pelo heróico cumprimento de tôdas as obrigações da vida.

Se salvares alguém de um incêndio, ou retirares da água quem está a afogar-se, farás uma ação heróica. Contudo, em outras circunstâncias, terás o mesmo merecimento se recolheres um caco de vidro ou uma casca de laranja, para evitar que alguém corte o pé ou quebre uma perna. Ouvi contar que um jovem aventuroso sentara-se à margem do Danúbio, esperando que alguém caísse na água, para salvá-lo. Acho que ainda hoje lá está sentado e que envelheceu de tanto esperar. Entrementes ele perdeu mil ocasiões pequenas, que se teriam apresentado diariamente, para fazer algum bem. O valor duma boa ação não depende da dificuldade que apresentou, do tempo que durou, mas da prontidão, atenção, alegria e espírito de sacrifício com que foi realizada.

Meu ideal não é um jovem a quem errónea interpretação de religiosidade tira a alegria, o temperamento juvenil. Na realidade há desses “jovens piedosos”, que se retraem timidamente dos camaradas, não têm amizades e que consideram inconveniência e até pecado um bom humor tumultuoso, balbúrdia e chistes inocentes. São indubitavelmente jovens sinceros e dignos de respeito; mas julgam, ilusoriamente, que o sentimento religioso se restringe apenas a exterioridades.

O jovem deveras religioso nunca é excêntrico. Não fala muito de religião*, mas vive segundo ela; com isso não quero dizer que dela se envergonhe. Entre bons companheiros, não procura ser a todo custo o mais valente; em companhia, porém, de camaradas levianos, não cede nem um ponto sequer de suas convicções.

Infelizmente, na alma de muitos moços, o sentimento religioso murmura apenas como um fio de água! Há por aí, lá longe, acima das nuvens, um bom velhinho, Deus, a quem devemos rezar, de vez em quando, ou porque dele queremos alguma coisa, ou porque o tememos; nisso consiste toda a sua religiosidade…

Santo Deus! Que esqueleto de religiosidade é essa, que pão seco em vez de alimento vivificante! O moço de fé profunda não representa a Deus muito acima das nuvens, uma vez que é incomensurável e ocupa o mundo inteiro, “pois, nele vivemos, nos inovemos e somos”, e mesmo que o quiséssemos Dele não poderíamos fugir.

Nem por sombra deveríamos fugir de Deus: Ele é o amor infinito que nos obriga a dobrar os joelhos; é a bondade inesgotável que atrai o coração do homem com força magnética.

Para o jovem verdadeiramente religioso, Nosso Senhor não é uma idéia oca, uma vida que se aprende: onde nasceu, onde viveu, onde padeceu: Jesus é para ele uma realidade, cujo ser divino se grava em sua alma e nela se incorpora. Sem Ele a alma é uma gélida câmara frigorífica; no melhor dos casos, um jazigo mortuário, ornado de joias preciosas, sempre contudo um túmulo sem vida, sem calor, sem coração a pulsar.

Muitos jovens julgam religiosidade certo gosto de rezar e ir à igreja. São apenas formas exteriores de religião, aliás necessárias; mas se a religiosidade se resumir só nisso, corre o perigo de ser mera exterioridade.

Por verdadeira e varonil religiosidade, eu entendo muito mais. Entendo a idéia, que enche toda minha vida; o pensamento de que, em todo o meu ser cada pulsação do coração, a todo instante, com todos os meus pensamentos, sou humilde servo do Pai Onipotente, ao qual portanto gosto de rezar, cujas igrejas visito com alegria, mas a quem também quero servir a todas as horas, com todos os meus alentos. Para o jovem realmente religioso, rezar não é somente recitar o Padre Nosso, mas qualquer trabalho e o próprio recreio. Oração é sua refeição, seu estudo, o cumprimento de seus deveres, sua vida toda, porque quer com isso glorificar a Deus.

Vê, filho meu, isso é religiosidade varonil! Já refletiste desta maneira sobre o que quer dizer ser jovem religioso?

Que sabe de tudo isso o moço sem vibração de alma, para quem a religiosidade consiste em recitar sem atenção à noite, sua oração, e assistir à missa aos domingos porque está obrigado! Pobrezinho! Contenta-se com um fio de água, quando têm à mão torrentes copiosas de águas vivificantes. Verdadeira religiosidade é alegria e consolação, estímulo e vibração na vida do homem.

Religião e Juventude – Mons. Tihamer Toth

Modéstia Masculina

* Obs.: Ao contrário do autor do texto, não vejo problema algum em quem fala bastante de assuntos religiosos.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O monge domador de animais


Muitos moços estariam prontos a matar o dragão nos bosques, como Siegfrield; mas, quanto se trata do dragão das suas más inclinações, não têm a paciência de lhe dar combate. Preferem renunciar a esse santo trabalho.

Uma noite, o abade de um mosteiro perguntou a um dos seus monges: “Que tens hoje?” – “Eu, respondeu o monge, como todos os outros dias, estive tão ocupado que minhas fracas forças nunca teriam bastado para isso, se não fosse o auxílio da graça divina. Todos os dias tenho de vigiar dois falcões, conter dois cervos, forçar dois gaviões a fazerem minha vontade, vencer um verme, domar um urso e tratar de um doente!”


- “Que é que estás contando?, interrogou o abade rindo. Tais trabalhos não se fazem no nosso mosteiro!” – “Assim é contudo, replicou o monge. Os dois falcões são meus olhos, que devo vigiar continuamente para que não se detenham em objeto proibido. Os dois veados são meus pés, cujo andar devo regrar, se não quiser que me conduzam pela senda do mal. Os dois gaviões são minhas mãos, que me cumpre forçar a trabalhar e a fazer o bem. O verme é minha língua, que precisa ser refreada cem vezes no dia para não ter conversas vãs e superficiais. O urso é o meu coração, cujo egoísmo e vaidade tenho que domar. E o doente é meu corpo, de que me cumpre tomar cuidado incessante, para que a sensualidade não se aposse dele.”

E aquele monge tinha bem razão. A luta contra os teus instintos desordenados assemelha-se ao trabalho do domador; e todos os que querem progredir o seu caráter devem entregar-se diariamente a esse trabalho... tu também, meu filho.

O jovem, que tem cuidado de se tornar homem de caráter, jamais desculpará os seus defeitos, dizendo: “Não há remédio, nasci assim, é a minha natureza”; porém trabalhará sem descanso em aperfeiçoar a sua alma... Repete, pois, a miúdo: se minha alma está cheia de animais selvagens, domá-los-ei! Não ficarei como nasci, virei a ser aquilo que quero ser!

Dom Tihamer Toth
O Moço de Caráter
 
Fonte: Currir Sud

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Porque é que "não há Deus"? - A descrença para Tihamer Toth


Foi a corrupção do coração que levou teu camarada à incredulidade. Essa contradição contínua que ele acha entre a fé e sua própria vida, o remorso perpétuo que ele sente na alma, a angustia incessante a este pensamento: Se há um Deus, se ele me pedir um dia conta dos meus atos, dos meus pensamentos, ai de mim! Como seria bom que não houvesse Deus... Talvez não haja... Sim, não há, não... não há Deus.

Posso dizer com toda certeza que, se as leis morais graves e áusteras emanassem não da religião, porém da álgebra ou da física, ninguém no mundo seria descrente, antes, pelo contrário, haveria alguns para duvidar dos princípios da álgebra e da física, em nome do "progresso"
Que a increduliade seja a resultante da decadência moral, é uma averiguação provada pelo fato de a descrença andar de parelha com os anos da juventude, com a idade das paixões, e desaparecer com estas últimas. A criança não é descrente: sente-se mesmo tão feliz com Deus! O velho quase não é descrente, a religião e a fé são-lhe a última esperança. Mas o entre-tempo é a época procelosa das paixões, à qual convém bem esta afirmação de Pascal: "O coração tem razões que a razão não conhece". Sim, o coração corrompido pode ser incrédulo, mas a razão esclarecida nunca o é. Ninguém fica ateu, mas só aquele que tem razão para que não haja Deus.

O jovem que na idade do seu desenvolvimento físico sabe conservar a pureza de sua alma, permanece isento de dúvidas contra a fé. Mas, em compensação, confesso que aquele que leva uma vida impura, não tem mais gosto pela oração, acha incômodas as práticas religiosas, depois a religião no seu conjunto, e finalmente perde a fé. Infalivelmente tem que perder a fé. A ruína moral que se produz dentro dele, a sua vida depravada, ele se esforça por justificá-las com o auxílio de máximas filosóficas, de livros, de sofismas, de teorias científicas; busca nos livros, como consequência, uma justificação teórica de seu ateísmo, ateísmo que, em face do Deus santo que pede a cada um de nós a santidade, ele já pratica há muito tempo por uma vida de pecado.

A vida pura não é só uma consequência, mas também uma condição da fé. Para que a razão não se torne pagã, é necessário que o coração já o não seja antes. "Conservai vossa alma em estado de desejar a existência de Deus, e não lhe duvidareis da existência". (Rousseau)

Já ouviste o que dizem do avestruz? Quando ele é perseguido, esconde a cabeça na areia, e, como não vê seu inimigo, crê que este não existe. Não sei se esses jovens "descrentes" não escondem a cabeça diante de Deus: naõ vêem a Deus, não querem vê-Lo; mas isto não quer dizer que de fato não há Deus. Quantos jovens não se compelem realente à descrença, unicamente para não serem obrigados a mudar de vida? Porque é que o pecador não quer pensar em Deus? Porque sente que contraiu grandes dívidas para com Deus; cada qual evita aniosamente a casa do seu credor.

Contrariamente, o jovem de alma pura como um lírio manifesta uma fé ardente, porque repousa sobre o peito do Senhor Jesus. Um grande conhecedor da humanidade, La Bruyère, escreveu (Caractéres, 16): "Eu quisera ver um homem sóbrio, moderado, casto, equtativo, pronunciar que não há Deus; falaria pelo menos sem interesse: mas esse homem não se acha".

Para quantos jovens se tem renovado literalmente aquilo que o célebre escritor François Coppé escreveu, após a sua conversão, no prefácio do seu livro "Dor bendita": Fui educado cristãmente e, depois a minha primeira comunhão, cumpri os meus deveres religiosos durante vários anos com ingênuo fervor. Foram, digo-o francamente, a crise da adolescência e a vergonha de certas confissões que me fizeram renunciar aos meus hábitos de piedade. Muitos homens que estão neste caso conviriam, se fossem sinceros, em que o que o afastou ppriemeiro da religião foi a regra severa que ela impõe a todos, do ponto de vista dos sentidos, e que só mais tarde foi que eles pediram à razão e à ciência argumentos metafísicos que lhes permitissem não mais se incomodarem".

"Bem-aventurados os que têm o coração puro, porque verão a Deus", disse Nosso Senhor. E os que têm o coração corrompido? Só verão do mundo os gozos sensuais, a podridão, as espurícias, as libertinagens, as batalhas.

"Senhores, dizia o ilustre escritor Chateaubriand numa sociedade cultivada: ponde a mão no coração e dizei-me por vossa honra: não teríeis a coragem de crer se tivésseis a coragem de viver castos?"
Cada vez que ouço falar de um jovem descrente, do seu "juízo esclarecido", sou obrigado a me lembrar desta palavra de Santo Agostinho: Nemo incredulus, nisi impurus. Ao moço descrente posso dar, com toda tranquilidade este conselho de Pascal: Se quiserdes ficar convencidos das verdades eternas, não multipliqueis as provas, mas extirpai as vossas paixões". Rompei com o pecado - e amanhã tereis uma fé robusta.

Tithamer Toth, A Casta Adolescência

domingo, 29 de julho de 2012

Tentei, mas não era possível - Tihamer Toth


Por D. Tihamer Toth


O acabrunhamento e o desânimo vêm muitas vezes de não saberem os jovens distinguir entre esforço perseverante e simples desejo. Queixam-se facilmente, dizendo: “Quantas vezes tentei livrar-me desse defeito! Quantas vezes experimentei tornar-me melhor! Quantas vezes quis fazer isto ou aquilo!... Mas não era possível!”

Pois bem, esses jovens nem quiseram realmente, nem tentaram seriamente. Apenas pensaram que no futuro seriam melhores porque “queriam” sê-lo; e nada fizeram para atingir esse objetivo. Há uma diferença considerável entre “eu queria” e “eu quero”. O primeiro é um soldado de papelão que não intimidará a ninguém, e menos ainda aos próprios defeitos. O segundo, ao contrário, é uma potência capaz de vencer o mundo, e que saberá esmagar todos os seus defeitos.

Por uma radiosa tarde de maio, um jovem estudava junto à janela aberta. De repente, um besouro entrou no quarto e abateu-se sobre a mesa. O pobre inseto caíra de costas, e o estudante pôs-se a observá-lo. Que ia fazer? O besouro girou, golpeou o ar com as patas, mas sem conseguir reerguer-se. É o “eu queria” – “Se ficar assim, morrerei de fome, ou correrei o risco de ser esmagado”, pensaria, de certo. Mas, depois de muito trabalho, consegue estender as asas sobre as quais estava deitado, e abri-las. Zumbe furiosamente, debate-se com todas as forças... e se põe de lado. – “Não é o momento de descansar. Seu eu o fizesse, estaria perdido”, diz então a si mesmo. E torna a dar-se ao trabalho... torna a cair sobre as patas... retoma o vôo para nova meta no azul do céu. Isso é o “eu quero”... O besouro voou, mas ensinou-te a diferença entre o “eu queria” e o “eu quero” triunfante!

“Tentei, mas não era possível!” – Perdão, meu amigo, preciso lhe dizer francamente a minha opinião: Não é verdade, você não tentou. Apenas disse a si mesmo que seria bom tentar. Você é desses fracos, inconstantes – há tantos no mundo! – que não ousam agarrar as suas paixões pela garganta, com firmeza. Seria, contudo o único meio de se libertar do império que as paixões desordenadas exercem sobre você.

“Tentei” – Mas então por que voltou a tornar a ver o fruto que não queria mais tocar?... Sabia, por experiência própria, que o sabor desse fruto é bem amargo, e, entretanto, queria conhecê-lo de novo... Sim, por que é que você cedia um pouco todos os dias na boa resolução que tinha tomado com tamanho entusiasmo?

Acredita você que Cristóvão Colombo teria jamais descoberto a América, se se tivesse deixado desanimar pelos seus primeiros fracassos? Não teve ele até que solicitar ajuda em diferentes países para cobrir os gastos da sua viagem? Zombaram dele, chamaram-lhe de aventureiro, trataram-no como fanático. Mas ele se apegava apaixonadamente ao seu projeto. Não tinha ele todas as razões de crer que, além dos mares, como nem tudo podia ser oceano, devia haver um continente desconhecido?... E ele empreendeu a sua grande viagem de exploração, da qual os seus contemporâneos não acreditavam pudesse voltar.

Você faria bem em adotar o lema daquela ilha da Holanda chamada Seeland. A maior parte dessa ilha está situada abaixo do nível do mar, e só à custa de trabalhos contínuos é que ela pode defender-se contra a invasão das águas. Mais de uma vez, é verdade, fracassou nessa luta contra o mar, e o oceano invadiu-a... Porém ela traz, apesar disso, em seu brasão, a altiva e célebre frase: “Luctor et emergo!”. “Luto e consigo emergir!”.
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Trecho do livro “O Moço de Caráter”, de D. Tihamer Toth. Taubaté: Editora SCJ, 1952.


Fonte: Vida e Castidade
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