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sábado, 5 de janeiro de 2013

Seremos saciados com a visão do verbo - Santo Agostinho


Quem poderia conhecer todos os tesouros da sabedoria e ciência ocultos em Cristo e escondidos na pobreza de sua carne? Ele, sendo rico, se fez pobre por nossa causa, a fim de enriquecermos com a sua pobreza (cf. 2Cor 8,9). Quando assumiu a nossa condição e experimentou a morte, manifestou-se na pobreza; contudo, não perdeu suas riquezas, mas prometeu-as para o futuro.
Como é grande a riqueza de sua bondade, reservada para os que o temem, e concedida aos que nele esperam!
Agora nosso conhecimento é imperfeito, até chegar o que é perfeito. Para sermos capazes de alcançá-lo é que o Cristo, igual ao Pai na condição divina, fez-se igual a nós na condição de servo e nos recriou à semelhança divina. O Filho único de Deus, tornando-se filho do homem torna filhos de Deus a muitos filhos dos homens;  e promovendo a nossa condição de servos com a sua forma visível de servo, tornou-nos livre e capazes de contemplar a sua forma divina.
Somos filhos de Deus, mas ainda não se manifestou o que seremos! Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é (IJo 3,2). ora, quais são esses tesouros da sabedoria e de ciência, para que servem essas riquezas divinas senão para manifestar a nossa pobreza? Para que essa imensa bondade senão para nos saciar? Mostra-nos o Pai e isso nos basta (Jo 14,8).
E, em certo salmo, um de nós, expressando nossos sentimentos ou falando por nós, diz ao Senhor: serei saciado quando se manifestar a vossa gloria (cf. Sl 16,15 Vulg.). Ele e o Pai são um só; e quem o vê, vê também o Pai. Por conseguinte, o Rei da glória Senhor Deus do universo (Sl 23,10). Voltando-se para nós, ele nos mostrará o seu rosto; seremos salvos e saciados, e isso nos bastará.
Mas até que isso aconteça, até mostrar o que nos basta, até bebermos e ficarmos saciados na fonte da vida que é ele mesmo, enquanto caminhamos na fé e peregrinamos longe dele, enquanto temos fome e sede de justiça e desejamos, com indizível ardor, contemplar a beleza de Cristo na sua condição divina, celebremos com amorosa devoção o nascimento de Deus na condição de servo.
Se ainda não podemos contemplar aquele que foi gerado pelo Pai antes da aurora, celebremos o seu nascimento da Virgem no meio da noite. Se ainda não podemos compreender aquele cujo nome subsistirá enquanto o sol brilhar (cf. Sl 18,6), reconheçamos que armou sua tenda ao sol (cf. Sl 18,6).
Se ainda não vemos o Unigênito que permanece no Pai, recordemos o Esposo saindo do quarto nupcial (cf. Sl 18,6). Se ainda não estamos preparados para o banquete do nosso Pai, conheçamos o presépio de nosso Senhor Jesus Cristo.

-- Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo (século V)

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Exultai todos os cristãos: é o Natal de Cristo!


Santo Agostinho

Celebremos o Natal de Cristo com afluência e solenidade devida. Rejubilem-se os homens, rejubilem-se as mulheres: nasceu Cristo homem, nasceu de uma mulher e ambos os sexos são honrados. Passe, pois, já para o segundo homem, o que no primeiro foi condenado. Inoculara-nos a mulher a morte; nova mulher os deu à luz a vida. Nasceu em semelhança da carne do pecado pela qual seria purificada a carne do pecado.
Rejubilai-vos, jovens clérigos, que escolhestes em seguir de modo particular a Cristo, que não procurastes matrimônio: não veio a vós pelo matrimônio aquele a quem, segundo, encontrastes.
Exultai, virgens consagradas; para vós, a Virgem deu à luz aquele que desposastes sem alteração da virgindade, e que não podeis perder o vosso amado nem concebendo nem dando à luz. Exultai, justos, é o Natal do justificador. Exultai, enfermos, e doentes: é o natal do que dá saúde. Exultai, cativos, servos, é o Natal do Senhor. Exultai, livres: é o Natal do libertador. Exultai, todos os cristãos, é o Natal de Cristo.
Cristo, nascido de mãe, preparou este dia, desde séculos, e foi quem, nascido do Pai, criou todos os séculos. Em seu Natal divino, não pôde ter mãe alguma, nem no natal humano, pai algum. Enfim, nasceu Cristo tanto de pai quanto de mãe, e sem pai nem mãe: Deus, por parte de Pai; homem, por parte de Mãe; Deus, sem mãe; homem, sem pai. Quem, pois, narrará sua geração? (Is 53,8) ou aquela, sem o tempo, ou esta, sem sêmen; aquela, sem início, esta, sem exemplo; aquela, que nunca deixou de ser; esta, que nem antes nem depois existiu; aquela que não tem fim; esta que tem seu início onde tem seu fim. Justo, pois, que os profetas pressagiassem e que os céus e os anjos anunciassem tão grande nascimento.
Foi posto em manjedoura quem encerrava o mundo; e era criancinha e o Verbo. Aquele que os céus não encerram, o ventre de uma mulher levava. Ela governava nosso Rei; levava ela aquele em quem existimos, aleitava nosso pão. Ó manifesta fraqueza e admirável humildade em que assim se ocultou toda a divindade! O poder governava a Mãe, a quem se achava submetido; e aquele que se alimentava aos peitos dela, a alimentava da verdade.
Complete em nós seus dons aquele que não desprezou nossos primórdios; e faça-nos ele próprio filhos de Deus, que por nós quis tornar-se filho do homem.
Sto Agostinho, Sermão CLXXXIV, 2-4, Ofício Marial.
 
Fonte: GRAA

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Porque é que "não há Deus"? - A descrença para Tihamer Toth


Foi a corrupção do coração que levou teu camarada à incredulidade. Essa contradição contínua que ele acha entre a fé e sua própria vida, o remorso perpétuo que ele sente na alma, a angustia incessante a este pensamento: Se há um Deus, se ele me pedir um dia conta dos meus atos, dos meus pensamentos, ai de mim! Como seria bom que não houvesse Deus... Talvez não haja... Sim, não há, não... não há Deus.

Posso dizer com toda certeza que, se as leis morais graves e áusteras emanassem não da religião, porém da álgebra ou da física, ninguém no mundo seria descrente, antes, pelo contrário, haveria alguns para duvidar dos princípios da álgebra e da física, em nome do "progresso"
Que a increduliade seja a resultante da decadência moral, é uma averiguação provada pelo fato de a descrença andar de parelha com os anos da juventude, com a idade das paixões, e desaparecer com estas últimas. A criança não é descrente: sente-se mesmo tão feliz com Deus! O velho quase não é descrente, a religião e a fé são-lhe a última esperança. Mas o entre-tempo é a época procelosa das paixões, à qual convém bem esta afirmação de Pascal: "O coração tem razões que a razão não conhece". Sim, o coração corrompido pode ser incrédulo, mas a razão esclarecida nunca o é. Ninguém fica ateu, mas só aquele que tem razão para que não haja Deus.

O jovem que na idade do seu desenvolvimento físico sabe conservar a pureza de sua alma, permanece isento de dúvidas contra a fé. Mas, em compensação, confesso que aquele que leva uma vida impura, não tem mais gosto pela oração, acha incômodas as práticas religiosas, depois a religião no seu conjunto, e finalmente perde a fé. Infalivelmente tem que perder a fé. A ruína moral que se produz dentro dele, a sua vida depravada, ele se esforça por justificá-las com o auxílio de máximas filosóficas, de livros, de sofismas, de teorias científicas; busca nos livros, como consequência, uma justificação teórica de seu ateísmo, ateísmo que, em face do Deus santo que pede a cada um de nós a santidade, ele já pratica há muito tempo por uma vida de pecado.

A vida pura não é só uma consequência, mas também uma condição da fé. Para que a razão não se torne pagã, é necessário que o coração já o não seja antes. "Conservai vossa alma em estado de desejar a existência de Deus, e não lhe duvidareis da existência". (Rousseau)

Já ouviste o que dizem do avestruz? Quando ele é perseguido, esconde a cabeça na areia, e, como não vê seu inimigo, crê que este não existe. Não sei se esses jovens "descrentes" não escondem a cabeça diante de Deus: naõ vêem a Deus, não querem vê-Lo; mas isto não quer dizer que de fato não há Deus. Quantos jovens não se compelem realente à descrença, unicamente para não serem obrigados a mudar de vida? Porque é que o pecador não quer pensar em Deus? Porque sente que contraiu grandes dívidas para com Deus; cada qual evita aniosamente a casa do seu credor.

Contrariamente, o jovem de alma pura como um lírio manifesta uma fé ardente, porque repousa sobre o peito do Senhor Jesus. Um grande conhecedor da humanidade, La Bruyère, escreveu (Caractéres, 16): "Eu quisera ver um homem sóbrio, moderado, casto, equtativo, pronunciar que não há Deus; falaria pelo menos sem interesse: mas esse homem não se acha".

Para quantos jovens se tem renovado literalmente aquilo que o célebre escritor François Coppé escreveu, após a sua conversão, no prefácio do seu livro "Dor bendita": Fui educado cristãmente e, depois a minha primeira comunhão, cumpri os meus deveres religiosos durante vários anos com ingênuo fervor. Foram, digo-o francamente, a crise da adolescência e a vergonha de certas confissões que me fizeram renunciar aos meus hábitos de piedade. Muitos homens que estão neste caso conviriam, se fossem sinceros, em que o que o afastou ppriemeiro da religião foi a regra severa que ela impõe a todos, do ponto de vista dos sentidos, e que só mais tarde foi que eles pediram à razão e à ciência argumentos metafísicos que lhes permitissem não mais se incomodarem".

"Bem-aventurados os que têm o coração puro, porque verão a Deus", disse Nosso Senhor. E os que têm o coração corrompido? Só verão do mundo os gozos sensuais, a podridão, as espurícias, as libertinagens, as batalhas.

"Senhores, dizia o ilustre escritor Chateaubriand numa sociedade cultivada: ponde a mão no coração e dizei-me por vossa honra: não teríeis a coragem de crer se tivésseis a coragem de viver castos?"
Cada vez que ouço falar de um jovem descrente, do seu "juízo esclarecido", sou obrigado a me lembrar desta palavra de Santo Agostinho: Nemo incredulus, nisi impurus. Ao moço descrente posso dar, com toda tranquilidade este conselho de Pascal: Se quiserdes ficar convencidos das verdades eternas, não multipliqueis as provas, mas extirpai as vossas paixões". Rompei com o pecado - e amanhã tereis uma fé robusta.

Tithamer Toth, A Casta Adolescência

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Castidade!





 O Espírito Santo concede o dom de imitar a pureza de Cristo àquele que foi regenerado pela água do Batismo” (Catecismo da Igreja Católica – CIC §2345).
O sexo tem um sentido muito profundo; é o instrumento da expressão do amor conjugal e da procriação. Toda vez que o sexo é usado antes ou fora do casamento, de qualquer forma que seja, peca-se contra a castidade.
A castidade é uma virtude moral. É também um dom de Deus, uma graça, um fruto da obra espiritual (cf. Gl 5,22-23). O Espírito Santo concede o dom de imitar a pureza de Cristo àquele que foi regenerado pela água do Batismo (Catecismo da Igreja Católica – CIC §2345).
“E todo aquele que n’Ele tem esta esperança, se torna puro como Ele é puro” (1Jo 3,3). A castidade significa a integração correta da sexualidade na pessoa e, com isso, a unidade do homem em seu ser corporal.
Para se viver uma vida casta é necessário a aprendizagem do domínio de si; ou o homem comanda suas paixões e obtém a paz ou se deixa subjugar por elas e se torna infeliz.
Santo Agostinho disse que: “A dignidade do homem exige que ele possa agir de acordo com uma opção consciente e livre, isto é, movido e levado por convicção pessoal e não por força de um impulso interno cego ou debaixo de mera coação externa. O homem consegue esta dignidade quando, libertado de todo cativeiro das paixões, caminha para o seu fim pela escolha livre do bem e procura eficazmente os meios aptos com diligente aplicação” (Confissões, 10,29,40).
Para se viver segundo a castidade é preciso resistir às tentações por meio dos meios que a Igreja nos ensina: fugir das tentações, obedecer aos mandamentos, viver uma vida sacramental, especialmente freqüentando sempre a Confissão e a Comunhão, e viver uma vida de oração. Muito nos ajuda nisso a reza do santo Rosário de Nossa Senhora e a devoção e auxílio dos santos. (cf. CIC §2340)
Santo Agostinho disse que: “A castidade nos recompõe, reconduzindo-nos a esta unidade que tínhamos perdido quando nos dispersamos na multiplicidade” (Confissões, 10,29,40). A virtude da castidade é comandada pela virtude cardeal da temperança, que faz depender da razão as paixões e os apetites da sensibilidade humana (cf. CIC §2341). O homem que vive entregue às paixões da carne, na verdade vive de “cabeça para baixo”; sua escala de valores é invertida; torna-se fraco. Não é mais um homem; mas um caricatura de homem.
Infelizmente, a sociedade hoje ensina os jovens a darem vazão e satisfação a todos os baixos instintos; essa “educação” é uma forma de animalizar o ser humano, pois coloca os seus instintos acima de sua razão e de sua espiritualidade.
O domínio de si mesmo é fundamental para a pessoa ser capaz de doar-se aos outros. A castidade torna aquele que a pratica apto para amar o próximo e ser uma testemunha do amor de Deus. Quem não luta para ter o domínio de si mesmo é um egoísta; não é capaz de amar. Por isso, a castidade é escola de caridade. A Igreja ensina que: “Todo batizado é chamado à castidade. O cristão “se vestiu de Cristo” (Cf. Gl 3,27), modelo de toda castidade. Todos os fiéis de Cristo são chamados a levar uma vida casta segundo o estado específico de vida de cada um. No momento do Batismo, o cristão se comprometeu a viver sua afetividade na castidade” (CIC §2348).
O namoro é a fase do conhecimento da Alma do outro é hora de buscar a pureza juntos em oração e vivendo conforme a graça de Deus. Não é momento de conhecer o corpo isso se da no casamento. O namoro é um tempo lindo e deve ser vivido com dignidade e castidade diferentemente do que a mídia e a sociedade moderna tem ensinado.
Os noivos são chamados a viver em castidade. A vida sexual só deve ser vivida após o casamento, pois só então o casal se pertence mutuamente, e para sempre, com um compromisso de vida assumido um com o outro para sempre.
“Os noivos são convidados a viver a castidade na continência. Nessa provação eles verão uma descoberta do respeito mútuo, uma aprendizagem da fidelidade e da esperança de se receberem ambos da parte de Deus. Reservarão para o tempo do casamento as manifestações de ternura específicas do amor conjugal. Ajudar-se-ão mutuamente a crescer na castidade” (CIC §2350).
Santo Ambrósio ensinava que: “As pessoas casadas são convidadas a viver a castidade conjugal; os outros a praticam a castidade na continência; isto significa viver a vida sexual apenas com o seu cônjuge. Existem três formas da virtude da castidade: a primeira, dos esposos; a segunda, da viuvez; a terceira, da virgindade. Nós não louvamos uma delas excluindo as outras. Nisso a disciplina da Igreja é rica (Vid. 23)” (CIC §2349).
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Fonte: Rainha dos Apóstolos e Canção Nova

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Lutas Interiores de Agostinho em Face da Conversão



Sto Agostinho 
Admirava-me muito, ao recordar diligentemente quão longo fora o período de tempo decorrido após os dezenove anos, idade em que começara a arder em desejo da Sabedoria, propondo-me, depois de a obter, abandonar todas as esperanças frívolas e todas as loucuras enganosas das vãs paixões. Porém, chegado já aos trinta anos, continuava ainda preso ao mesmo lodo de gozar dos bens presentes que fugiam e me dissipavam.
Entretanto, exclamava: "Amanhã encontrá-la-ei; oh! a verdade aparecer-me-á com evidência e possuí-la-ei; Fausto virá explicar-me tudo". Ó grandes homens da Academia! Nada se pode conceber de certo para a conduta da vida? Não. Busquemos pois com mais diligência, sem desesperar. Nos Livros Santos já não é absurdo o que parecia absurdo, podendo ser interpretado de um modo diferente e mais aceitável. Fixarei os pés naquele degrau em que meus pais me colocaram quando criança, até encontrar, finalmente, a verdade manifesta. Mas onde a buscarei, e quando? A Ambrósio falta-lhe tempo para me ouvir, e a mim para ler. Além disso, onde encontrar esses livros? De onde e quando os poderei alcançar? E a quem hei de pedi-los? Repartamos o tempo, distribuamos algumas horas para a salvação da alma. Nasceu-nos uma grande esperança: a fé católica não ensina o que supúnhamos e incriminávamos com leviandade.
Os instruídos nos dogmas olham como um crime supor a Deus delimitado pela figura de um corpo humano. E duvidamos ainda bater, para que nos sejam abertas as restantes verdades? Os discípulos ocupam-me as horas da manhã. E que faço das outras? Por que as não consagro a este trabalho? Mas, então, quando hei de visitar os amigos mais poderosos, de cujo favor tanto necessito? Quando hei de preparar as lições que os discípulos me pagam? Quando hei de reparar as forças, descansando o espírito da fadiga causada por tantos trabalhos?
"Pereça tudo isso e deixemos as coisas vãs e fúteis". Entreguemo-nos unicamente à busca da verdade. A vida é miserável e a hora da morte, incerta. Se me surpreender de súbito, em que estado sairei deste mundo e onde aprenderei o que nesta vida negligenciei saber? Não terei antes de suportar os suplícios desta negligência? E se a morte me amputar e exterminar todas estas ocupações, tirando-me os sentidos? É preciso, portanto, examinar também este ponto.
Mas longe de mim que tal suceda! Não é supérfluo nem vão o estar por todo o mundo difundida a fé cristã, tão grandiosa e tão elevada! Nunca se teriam criado, por poder divino, tantas e tão grandes maravilhas para o nosso proveito, se, com a morte do corpo, se consumasse também a vida da alma. Por que tardo, pois, em abandonar as esperanças do mundo, para totalmente me dedicar à busca de Deus e da vida bem-aventurada?
Mas espera! Os bens terrenos também são agradáveis. Possuem não pequenas doçuras. Não devemos, por isso, apartar deles, inconsideradamente, a nossa inclinação, pois seria vergonhoso voltar de novo a eles. Olha quão pouco falta para alcançar um cargo honroso! Que mais tenho a desejar? Tenho em abundância amigos poderosos. Sem necessidade de me apressar mais, podia já ser, ao menos, presidente (de um tribunal), e casar-me com uma moça que possuísse alguma fortuna, para não sobrecarregar os nossos gastos. Seria este o limite do meu desejo. Muitos homens importantes e dignos de imitação entregaram-se, apesar de casados, ao estudo da Sabedoria.
Ao dizer isto, enquanto o ventos alternavam e impeliam o meu coração para um e outro lado, o tempo fugia e eu tardava em converter-me ao Senhor. Adiava de dia para dia o viver em Vós, sem, contudo, diferir o morrer todos os dias em mim mesmo. Desejando a vida feliz, temia buscá-la na sua morada. Procurava-a fugindo-lhe! Julgava que seria extremamente desgraçado, se me privassem dos abraços de uma esposa. Não pensava ainda no remédio da vossa misericórdia, para curar tal doença, porque nunca fizera a experiência. Pensava que a castidade era fruto das próprias forças, e persuadia-me de que as não tinha. Sendo tão néscio, não sabia que, como estava escrito, ninguém pode ser casto, se Vós lhe não concedeis forças. Sim, Vós dar-mas-íeis se com gemidos internos ferisse os vossos ouvidos, e com fé firme descarregasse em Vós todos os meus cuidados.
Sto Agostinho, Confissões, Livro VI, Cap. 11.

Fonte: Blog GRAA
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