Josef Stalin
Josef
Vissarionovitch Stalin (em russo: Иосиф Виссарионович Сталин; Gori, 21
de dezembro de 1878 — Moscou, 5 de março de 1953) foi secretário-geral
do Partido Comunista da União Soviética e do Comité Central a partir de
1922 até a sua morte em 1953, sendo assim o líder soberano da União
Soviética. Seu nome de nascimento era Ioseb Besarionis Dze Djughashvili
(em georgiano: იოსებ ბესარიონის ძე ჯუღაშვილი; em russo: Ио́сиф
Виссарио́нович Джугашви́ли, Ióssif Vissariónovich Djugashvíli). Em
português seu nome é referido algumas vezes como José Estaline.
Sob a
liderança de Stalin, a União Soviética desempenhou um papel decisivo na
derrota da Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e
passou a atingir o estatuto de superpotência, e a expandir seu
território, para um tamanho semelhante ao do Antigo Império Russo.
Biografia
Imagem: UOL
Stalin em 1902, um jovem que acreditava poder mudar o mundo, o que ele não sabia era respeitar o livre arbitrio das pessoas.
Nascido
em uma pequena cabana na cidade georgiana de Gori e filho de uma
costureira e de um sapateiro, o jovem Stalin teve uma infância difícil e
infeliz. Chegou a estudar em um colégio religioso de Tiflis, capital
georgiana, para satisfazer os anseios de sua mãe, que queria vê-lo
seminarista. Mas logo acabou enveredando pelas atividades
revolucionárias contra o regime tsarista. Passou anos na prisão (por
organizar assaltos, num dos quais 40 pessoas foram mortas) e, quando
libertado, aliou-se a Vladimir Lenin e outros, que planejavam a
Revolução Russa.
Stalin chegou ao posto de secretário-geral do
Partido Comunista da União Soviética entre 1922 e 1953 e, por
conseguinte, o chefe de Estado da URSS durante cerca de um quarto de
século, transformando o país numa superpotência.
Antes da Revolução
Russa de 1917, Stalin era o editor do jornal do partido, o Pravda ("A
Verdade"), e teve uma ascensão rápida, tornando-se em novembro de 1922 o
Secretário-geral do Comitê Central, um cargo que lhe deu bases para
ascender aos mais altos poderes. Após a morte de Lenin, em 1924,
tornou-se a figura dominante da política soviética – embora Lenin o
considerasse apto para um cargo de comando, ele ignorava a astúcia de
Stalin, cujo talento quase inigualável para as alianças políticas lhe
rendera tantos aliados quanto inimigos. Seus epítetos eram "Guia Genial
dos Povos" e "O Pai dos Povos".
De acordo com Alan Bullock, uma
discordância com Stalin em qualquer assunto tornava-se não uma questão
de oposição política, mas um crime capital, uma prova, ipso facto, de
participação em uma conspiração criminosa envolvendo traição e a
intenção de derrubar o regime Soviético.
A "Grande Purga" ou "Grande Expurgo"
Em
1928 iniciou um programa de industrialização intensiva e de
coletivização da agricultura soviética, impondo uma grande reorganização
social e provocando a fome-genocídio na Ucrânia (Holodomor), em
1932-1933. Esta fome foi imposta ao povo ucraniano pelo regime
soviético, tendo causado um mínimo de 4,5 milhões de mortes na Ucrânia,
além de 3 milhões de vítimas noutras regiões da U.R.S.S. Nos anos 1930
consolidou a sua posição através de uma política de modernização da
indústria. Como arquitecto do sistema político soviético, criou uma
poderosa estrutura militar e de policiamento. Mandou prender e deportar
opositores, ao mesmo tempo que cultivava o culto da personalidade como
arma ideológica. A acção persecutória de Stalin, supõe-se, estendeu-se
mesmo a território estrangeiro, uma vez que o assassinato de Leon
Trótski, então exilado no México é creditado a ele. Por mais que Trótski
tomasse todas as providências para proteger-se de agentes secretos,
Ramón Mercader, membro do Partido dos Comunistas da Catalunha, foi para o
México e conseguiu ganhar a confiança do dissidente, para executá-lo
com um golpe de picareta.
Desconfiando que as reformas econômicas que
implantara produziam descontentamento entre a população, Stalin
dedicou-se, nos anos 1930, a consolidar seu poder pessoal. Tratou de
expulsar toda a oposição política. Se alguém lhe parecesse indesejável
desse ponto de vista, ele se encarregava de desacreditá-lo perante a
opinião pública. Em 1934, Sergei Kirov, principal líder do Partido
Comunista em Leningrado- e tido como sucessor presuntivo de Stalin - foi
assassinado por um anônimo, Nikolaev, de forma até agora obscura;
muitos consideram até hoje que Stalin não teria sido estranho a este
assassinato. Seja como fôr, Stalin utilizou o assassinato como pretexto
imediato para uma série de repressões que passaram para a história como o
"Grande Expurgo".
Estes se deram no
período entre 1934 e 1938 no qual Stalin concedeu tratamento duro a
todos que tramassem contra o Estado soviético, ou mesmo supostos
inimigos do Estado. Entre os alvos mais destacados dessa ação, estava o
Exército Vermelho: parte de seus oficiais acima da patente de major foi
presa, inclusive treze dos quinze generais-de-exército. Entre estes,
Mikhail Tukhachevsky foi uma de suas mais famosas vítimas. Sofreu a
acusação de ser agente do serviço secreto alemão. Com base em documentos
entregues por Reinhard Heydrich, chefe do Serviço de Segurança das SS,
Tukhachevsky foi executado, além de deportar muitos outros para a
Sibéria. Com isso foi enfraquecido o comando militar soviético; ou seja,
Stalin acreditou nas informações de Heydrich, e sua atitudade acabou
debilitando a estrutura militar russa, que no entanto conseguiu resistir
ao ataque das tropas da Alemanha.
O principal instrumento de
perseguição foi a NKVD. De acordo com Alan Bullock, o uso de
espancamentos e tortura era comum, um fato francamente admitido por
Khrushchev em seu famoso discurso posterior à morte de Stalin, onde ele
citou uma circular de Stalin para os secretários regionais em 1939,
confirmando que isto tinha sido autorizado pelo Comitê Central em 1937.
Depurações
A
condenação dos contra-revolucionários nos julgamentos de 1937-38 depois
das depurações no Partido, exército e no aparelho estatal, tem raízes
na história inicial do movimento revolucionário da Rússia.
Milhões de
pessoas participaram no quê acreditavam ser uma batalha contra o csar e
a burguesia. Ao ver que a vitória seria inevitável, muitas pessoas
entraram para o partido. Entretanto nem todos haviam se tornado
bolcheviques porque concordavam com o socialismo. A luta de classes era
tal que muitas vezes não havia tempo nem possibilidades para pôr à prova
os novos militantes. Até mesmo militantes de outros partidos inimigos
dos bolcheviques foram aceitos depois triunfo da revolução. Para uma
parcela desses novos militantes foram dados cargos importantes no
Partido, Estado e Forças Armadas, tudo dependendo da sua capacidade
individual para conduzir a luta de classes. Eram tempos muito difíceis
para o jovem Estado soviético e a grande falta de comunistas, ou
simplesmente de pessoas que soubessem ler, o Partido era obrigado a não
fazer grandes exigências no que diz respeito à qualidade dos novos
militantes.De todos estes problemas formou-se com o tempo uma
contradição que dividiu o Partido em dois campos - de um lado os que
queriam ir para frente na luta pela sociedade socialista, por outro lado
os que consideravam que ainda não havia condições para realizar o
socialismo e que propunha uma política social-democrata. A origem destas
últimas ideias vinha de Trótski, um antigo inimigo de Lênin que havia
entrado para o Partido em Julho de 1917, ou seja pouco antes da
insurreição. Trótski foi com o tempo obtendo apoio de alguns dos
bolcheviques mais conhecidos. Esta oposição unida contra os ideais
defendidas pelos marxistas-leninistas, eram uma das alternativas na
votação partidária sobre a política a seguir pelo Partido, realizada em
27 de Dezembro de 1927. Antes desta votação foi realizada uma grande
discussão durante vários anos e não houve dúvida quanto ao resultado.
Dos 725.000 votos, a oposição só obteve 6.000 - ou seja, menos de 1% dos
militantes do Partido apoiaram a Oposição trotskista.
Deportações
Antes,
durante e depois da Segunda Guerra, Stalin conduziu uma série de
deportações em grande escala que acabaram por alterar o mapa étnico da
União Soviética. Estima-se que entre 1941 e 1949 cerca de 3,3 milhões de
pessoas foram deportadas para a Sibéria ou para repúblicas asiáticas.
Separatismo, resistência/oposição ao governo soviético e colaboração com
a invasão alemã eram alguns dos motivos oficiais para as deportações.
Durante
o governo de Stalin os seguintes grupos étnicos foram completamente ou
parcialmente deportados: ucranianos, polacos, coreanos, alemães,
tchecos, lituanos, arménios, búlgaros, gregos, finlandeses, judeus entre
outros. Os deportados eram transportados em condições espantosas,
frequentemente em caminhões de gado, milhares de deportados morriam no
caminho. Aqueles que sobreviviam eram mandados a Campos de Trabalho
Forçado.
Imagem: Enciclopédia Larousse Cultural.
Stalin como todo bom político sabia que uma criança no colo fazia uma grande diferença aos olhos do povo ingênuo.
Em
fevereiro de 1956, no XX Congresso do Partido Comunista da União
Soviética, Nikita Khrushchov condenou as deportações promovidas por
Stalin, em seu relatório secreto. Nesse momento começa a chamada
desestalinização, que, de chofre, engloba todos os partidos comunistas
do mundo. Na verdade, esta desestalinização foi a afirmação de que
Stalin cometeu excessos graças ao culto à personalidade que fora
promovido ao longo de sua carreira política. Para vários autores
anticomunistas, teria sido somente neste sentido que teria havido
desestalinização, porquanto o movimento comunista na URSS deu
prosseguimento à prática stalinista sem a figura de Stalin. De fato, a
desestalinização não alterou em nada o caráter unipartidário do estado
soviético e o poder inconteste exercido pelo Partido e pelos seus órgãos
de repressão, mas significou também o fim da repressão policial em
massa (a internação maciça de presos políticos em campos de concentração
sendo abandonada, muito embora os campos continuassem como parte do
sistema penal, principalmente para presos comuns), a cassação de grande
parte das sentenças stalinistas e o retorno e reintegração à vida
quotidiana de grande massa de presos políticos e deportados. A repressão
política, muito embora tenha continuado, não atingiu jamais, durante o
restante da história soviética, os níveis de violência do stalinismo,
principalmente porque foi abandonada a prática das purgas internas em
massa no Partido.
As deportações acabaram por influenciar o
surgimento de movimentos separatistas nos estados bálticos, no
Tartaristão e na Chechênia, até os dias de hoje.
Número de vítimas
Em
1991, com o colapso da União Soviética, os arquivos do governo
soviético finalmente foram revelados. Os relatórios do governo continham
os seguintes registros:
Número de mortos:
Executados: 800 mil
Fome e privações (gulags): 1,7 milhões
Reassentamentos forçados: 389 mil
Total: aproximadamente três milhões
Entretanto
os debates continuam alguns historiadores acreditam que relatórios
soviéticos não são confiáveis. E de maneira geral apresentam dados
incompletos, visto que algumas categorias de vitimas carecem de
registros – como as vitimas das deportações ou a população alemã
transferida ao fim da Segunda Guerra.
Alguns historiadores acreditam
que o número de vítimas da repressão estalinista não ultrapasse os
quatro milhões; outros, porém, acreditam que esse número seja
consideravelmente maior. O escritor russo Vadim Erlikman, por exemplo,
fez as seguintes estimativas:
Número de mortos:
Executados: 1,5 milhão
Fome e privações (gulags): cinco milhões
Deportados: 1,7 milhão
Prisioneiros civis: um milhão
Total: aproximadamente nove milhões.
Os estudos continuam e alguns pesquisadores, como Robert Conquest acreditam em cerca de vinte milhões de vítimas.
Imagem: Enciclopédia Larousse Cultural.
Stalin encontra Churchill e Harry Truman em 1945, em Berlim, ao final da Segunda Guerra Mundial. O que uma Guerra não faz!!!!!!!
Em
23 de agosto de 1939, assinou com Adolf Hitler um pacto de não-agressão
que ficou conhecido como Pacto Ribbentrop-Molotov, nome dos Ministros
do Exterior alemão e soviético. Stalin esperava ganhar tempo e
reorganizar a força industrial-militar da qual a União Soviética não
poderia prescindir com vistas a um confronto com a Alemanha Nazista que
para alguns sempre fora inevitável. E Hitler estava ansioso por evitar
um confronto imediato com os soviéticos, pois naquele momento
ocupar-se-ia de Reino Unido e França. O Pacto Molotov-Ribbentrop
assegurou em setembro de 1939 a divisão do território polonês entre os
nazistas e os soviéticos.
Imagem: Enciclopédia Larousse Cultural.
Se você não sabia essas duas figuras (Stalin e Hitler lutaram juntos contra a Polônia e Finlândia).
Mas
a invasão da União Soviética pelas forças alemãs, em 1941, levou-o a
aliar-se ao Reino Unido e aos Estados Unidos durante a Segunda Guerra
Mundial. Sob a sua ferrenha direção, o exército soviético conseguiu
fazer recuar os invasores — não sem perdas humanas terríveis — e ocupar
terras na Europa Oriental, contribuindo decisivamente para a derrota da
Alemanha Nazista.
Seus críticos, como Leon Trótski, denunciaram o
pacto com o governo nazista como uma traição imperdoável e mais um dos
crimes do stalinismo contra o movimento operário internacional. Já o
stalinismo sempre considerou uma manobra de genial de Stalin objetivando
impedir o avanço nazista, ganhando tempo, o que lhe permitiu vencer a
Segunda Guerra Mundial.
Imagem: Enciclopédia Larousse Cultural.
Olha ele de novo no meio do povo ao qual ele mesmo viria a assassinar sumariamente. Povo acorda! Não vemos essa hoje em dia?
Com
a sua esfera de influência alargada à metade oriental da Europa, nos
chamados Estados Operários, Stalin foi uma personagem-chave do
pós-guerra. Dominando países como a República Democrática Alemã,
Polônia, Tchecoslováquia, Bulgária, Hungria e a Roménia, estabeleceu a
hegemonia soviética no Bloco de Leste e rivalizou com os Estados Unidos
na liderança do mundo.
MorteImagem: Enciclopédia Larousse Cultural.
Stalin morre em 1953.
Em
5 de março de 1953, Stalin morreu de hemorragia cerebral fato que,
segundo muitos, ainda merece uma profunda investigação; existem aqueles
que acreditam que ele foi assassinado.Os mais destacados historiadores
mundiais, no entanto, ainda consideram que Stalin morreu de causas
naturais.
Entretanto, vale destacar que o período imediatamente
anterior ao seu falecimento, nos meses de fevereiro-março de 1953 foram
marcados por uma atividade febril de Stalin nos preparativos de uma nova
onda de perseguições e campanhas repressivas, exceção até para os
padrões da era stalinista. Tratava-se do conhecido complô dos médicos:
em 3 de janeiro de 1953, foi anunciado que nove catedráticos de
medicina, quase todos judeus e que tratavam dos membros da liderança
soviética, tinham sido "desmascarados" como agentes da espionagem
americana e britânica, membros de uma organização judaica internacional,
e assassinos de importantes líderes soviéticos. Tratava-se da
preparação de um novo julgamento-espetáculo, desta vez com claros traços
de anti-semitismo, que certamente levaria a um pogrom nacional, e que
implicaria , segundo Isaac Deutscher, na auto-destruição das próprias
raízes ideológicas do regime, razão pela qual a morte de Stalin pareceu a
muitos ter sido provocada pelos seus seguidores imediatos, claramente
alarmados diante da iminente fascistização promovida por Stalin. O fato
de que Beria estivesse alheio à preparação deste novo expurgo fêz com
que ele fosse apresentado como possível autor intelectual do suposto
assassinato de Stalin; o fato é, no entanto, que Stalin era idoso e que
sua saúde, desde o final da Segunda Guerra Mundial, era precária;
aqueles que tiveram contato pessoal com ele nos seus últimos anos
lembram-se do contraste entre sua imagem pública de ente semi-divino e
sua aparência real, devastada pela idade. Simon Sebag Montefiore
considera que, apesar de Stalin haver recebido assistência atrasada para
o derrame que o vitimaria, a tecnologia médica da época nada poderia
fazer por ele em termos terapêuticos.
Seu
corpo ficaria exposto no mesmo salão que Lenin até o XX Congresso do
Partido Comunista da União Soviética (PCUS), realizado as portas
fechadas em fevereiro de 1956, no qual Nikita Khrushchov, seu sucessor,
denunciou no chamado "relatório secreto" as práticas stalinistas,
particularmente o chamado "culto à personalidade".
Malenkov assume o
governo após a morte de Stalin mas, devido às posições que defendia, foi
forçado a renunciar à liderança do Partido em 13 de março, sendo
sucedido por Nikita Khruschev em setembro.
Após
o XX Congresso do PCUS o corpo de Stalin foi enterrado próximo aos
muros do Kremlin, sendo o túmulo mais visitado ali. Seu epíteto era "O
Pai dos Povos".
Uma década após a morte de Stálin, sua política seria
defendida e até seguida em parte por parte do novo secretário-geral,
Leonid Brejnev, que após a saída de Khrushchov, tentaria "reabilitar" o
nome de Stálin.
Em 1965, em uma
comemoração dos vinte anos da Grande Guerra Patriótica, sob aplausos,
citou pela primeira vez positivamente o nome de Stálin após sua morte, e
disse que iria usar o mesmo título que usava o antigo líder,
Secretário-Geral, o que na época era algo intolerável; realmente,
Brejnev fora impedido por forças maiores de realizar a reabilitação de
Stálin, mas seguiu uma política que se estruturava bastante nas raízes
do Stalinismo, chamada Brejnevismo, que defendia a burocracia no estado,
o culto da personalidade, a hegemonia soviética e o expansionismo do
país, uma das poucas diferenças, era a invocação da paz pela parte desta
doutrina; ficaria conhecida como "neo-stalinismo" e "doutrina Brejnev".
Em
1978, centenário de seu nascimento, a mando de Leonid Brejnev, seu
túmulo foi reformado e um busto do antigo líder erguido sobre ele,
tornando-se um túmulo de herói nacional.
Grande Expurgo
O
Grande Expurgo (português brasileiro) ou Grande Purga (português
europeu) (em russo: Большая чистка, transl. Bolshaya tchistka) foi uma
ação persecutória movida pelo ditador soviético Josef Stalin (1879-1953)
contra seus opositores políticos, verdadeiros ou não, entre os anos de
1934 e 1939. Súbita e inexplicavelmente, Stalin liquidou cerca de dois
terços dos quadros do Partido Comunista da URSS, ao menos 5.000 oficiais
do Exército acima da patente de major, 13 de 15 generais de cinco
estrelas do Exército Vermelho – criado durante a Revolução Russa por
Leon Trotsky, seu dissidente mais conhecido – e inúmeros civis,
considerando-os todos "inimigos do povo".
É
provável que algumas das vítimas de fato fossem dissidentes de suas
reformas econômicas (conhecidas como Planos Quinquenais), mas a grande
maioria das vítimas não apresentava nenhum indício de oposição direta ao
ditador soviético.
De fato, os Planos Quinquenais – que Stalin
promulgara com o intuito de transformar a União Soviética numa potência
industrial-militar em tempo recorde – provocaram enorme descontentamento
na população, muitas vezes forçada a sacrifícios de toda ordem para que
as metas de produção industrial e de alimentos fossem cumpridas.
Evidentemente, ninguém era louco de expressar abertamente seu desagrado
com a política econômica stalinista, mas muitos denotavam um ar de
insatisfação com os rumos traçados por Stalin.
No
prefácio de 1938 à sua obra O ano I da Revolução Russa, o
revolucionário russo-belga Victor Serge sintetiza o que, na altura desse
ano, tinham já suposto as perseguições políticas de Stalin:
"Dentre
os homens cujos nomes serão encontrados nas págians seguintes deste
livro, apenas um sobrevive, Trotsky, perseguido há dez anos e refugiado
no México. Lenin, Dzerjinski e Tchitcherin morreram antes, evitando
assim a prostração. Zinoviev, Kamenev, Rykov e Bukharin foram fuzilados.
Entre os combatentes da insurreição de 1917, o herói de Moscou,
Muralov, foi fuzilado; Antonov-Ovseenko, que dirigiu o assalto ao
Palácio de Inverno, desapareceu na prisão; Krylenko, Dybenko,
Chliapnikov, Gliebov-Avilov, todos os membros do primeiro Conselho dos
Comissários do Povo, tiveram a mesma sorte, assim como Smilga, que
dirigia a frota do Báltico, e Riazanov; Sokolnikov e Bubnov, do Bureau
político da insurreição estão presos, se é que ainda vivem; Karakhan,
negociador em Brest-Litovsk, foi fuzilado; dos dois primeiros dirigentes
da Ucrânia soviética, um Piatakov, foi fuzilado, e o outro, Racovski,
velho alquebrado, está na prisão; os heróis das batalhas de Sviajsk e do
Volga, Ivan Smirnov, Rosengoltz e Tukhatchevski foram fuzilados;
Raskolnikov, posto fora da lei, desapareceu; dos combatentes dos Urais,
Mratchkovsky foi fuzilado, Bieloborodov desapareceu na prisão; Sapronov e
Viladimir Smirnov, combatentes de Moscou, desapareceram na prisão; o
mesmo aconteceu com Preobrajenski, o teórico do comunismo de guerra;
Sosnovski, porta-voz do Partido Bolchevique noprimeiro Executivo Central
dos sovietes da ditadura, foi fuzilado; Enukidze, primeiro secretário
desse Executivo, foi fuzilado. A companheira de Lenin, Nadejda
Krupskaia, terminou seus dias não se sabe em qual cativeiro… Dentre os
homens da revolução alemã, Yoffe suicidou-se, Karl Radek está preso;
Krestinski, que continou atuando na Alemanha, foi fuzilado. Da oposição
socialista-revolucionária de 1918, Maria Spiridonova, Trutovski, Kamkov,
Karelin, provavelmente sobrevivam, porém na prisão já há 18 anos.
Blumkin, que aderiu ao Partido Comunista, foi fuzilado. Entre os homens
que, no Ano II, asseguraram a vitória da revolução, pequeno número ainda
vive: Kork, Iakir, Uborevitch, Primakov, Muklevitch, chefes militares
dos primeiros exércitos vermelhos, foram fuzilados; fuzilados os
defensores de Petrogrado, Evdokimov e Okudjava, Eliava; fuzilado
Fayçulla Khodjaev, que teve papel de grande importância na sovietização
da Ásia Central; desaparecido na prisão, o presidente do Conselho dos
Comissários dos Sovietes da Hungria, Bela-Kun… "
Sistemática de uma perseguição
Analisando-se
o perfil das vítimas de Stalin, e os acontecimentos noticiados pela
imprensa oficial da época, pode-se chegar a traçar um
comportamento-padrão do Grande Expurgo. Mestre na intriga política, ele
tratava de acusar políticos de médio ou alto escalão por crimes
imaginários; as acusações eram cercadas de imensa publicidade, e o
julgamento imposto à vítima não era de forma alguma justo.
Frequentemente, os expurgados eram exilados para trabalhos forçados na
Sibéria, onde morriam de fome, frio, doenças – ou de uma combinação
destes três males.
Após silenciar a oposição no campo político,
Stalin atacou o Exército Vermelho. A tropa criada por Trotsky para
fortalecer a Revolução era agora uma potencial fonte de intrigas dentro
do país, e o ditador soviético raciocinava que quaisquer conspirações
destinadas a derrubá-lo passariam, direta ou indiretamente, pelos homens
de quepe. Ao fim do expurgo, o alto comando do Exército Vermelho estava
dilacerado, carente de oficiais competentes para comandar a defesa da
URSS contra a Wehrmacht de Adolf Hitler.
A primeira vítima
Sergei
Kirov era chefe do Partido Comunista em Leningrado. Reputado pelo
carisma e pela competência administrativa, foi encontrado morto
misteriosamente, a 1 de dezembro de 1934. Ninguém tem dúvidas de que
Stalin ouvira falar e fora conivente com o crime, se é que não o ordenou
pessoalmente. De qualquer maneira, usou a morte de Kirov como pretexto
para iniciar uma perseguição implacável a seus oponentes políticos, que
perduraria por cinco anos.
O caso Tukhachevsky
Mikhail
Tukhachevsky era general-de-divisão na época do Grande Expurgo. Foi
acusado –injusta e falsamente – de ser colaborador do Estado-Maior
alemão. Sua morte foi a mais notável entre os generais do Exército
Vermelho, por ser ele um veterano e bem reputado oficial. As provas
seriam documentos forjados por Reinhard Heydrich, chefe do
Sicherheitsdienst (serviço de segurança nazista), desejoso de
enfraquecer o comando do Exército Vermelho e preparar o terreno para uma
futura invasão alemã. Para que se tenha uma idéia, o Grande Expurgo
matou mais oficiais de alta patente do que a II Guerra (o que não é
surpresa, já que em guerras os oficiais de alta patente são comumente
preservados da frente de batalha).
Consequências
Por
mais que o povo soviético estivesse aterrorizado pelo Grande Expurgo,
jamais ofereceu qualquer resistência ao delírio persecutório de Stalin.
Muitas pessoas, temerosas de ser implicadas nas acusações, sempre as
acatavam, por mais absurdas que fossem. A diplomacia ocidental ficou
estarrecida com a dimensão da matança; em pelo menos uma ocasião,
analistas militares britânicos afirmaram que a Polônia seria um aliado
muito mais útil ao Reino Unido do que a Rússia stalinista.
Percebendo
que os britânicos permaneciam indiferentes a suas propostas de aliança
para conter o avanço nazista, e fiel ao homem inescrupuloso que era,
Stalin concordou em fazer uma aliança com a Alemanha de Hitler. O
acordo, conhecido como Pacto Ribbentrop-Molotov (uma referência aos
ministros das Relações Exteriores de ambos países) ou Pacto de
Não-Agressão, foi assinado entre a União Soviética e o Terceiro Reich em
23 de agosto de 1939, com validade de dois anos. Mas Hitler, é claro,
jamais abriu mão de seu ódio aos que ele chamava de Untermensch
(sub-humanos), atacando-os menos de dois anos depois, em 22 de junho de
1941.
VOCÊ QUER SABER MAIS?
Bullock, Alan, Hitler and Stalin : Parallel Lives - Vintage 1993 - pág.505
Michael, Kort, The Soviet colossus: history and aftermath, páginas 318 e 319
Bullock, Alan ,Hitler and Stalin : Parallel Lives - Vintage 1993 - pág.471