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quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Comer bem: Folhas

Às vezes fico tentada a pensar que a diferença decisiva entre comer bem e comer mal é representada pela quantidade de folhas consumidas diariamente. Folhas verdes, bem entendido. Das maiores, como taioba, mostarda e couve, às miudinhas, como salsa e coentro, o universo das folhas verdes é praticamente infinito e oferece escolha para todos os gostos. Há quem prefira as picantes, como agrião, ou as amargas, como rúcula; há quem só coma alface, de sabor e textura tão suaves que poderiam ser símbolo da inocência gustativa; não importa, desde que comam. Por quê? Porque elas, além de nutrirem, limpam os intestinos e renovam o sangue.

A comida tem que ter essa dupla função: repor os nutrientes que gastamos vivendo e permitir que o tubo digestivo se livre de resíduos que, se não saírem, começarão a produzir toxinas. Como os intestinos são também vias de absorção, as toxinas passam logo para o sangue. Muitas vezes a dor de cabeça vem daí - por esta ou aquela razão a vítima não foi ao banheiro e aquilo que já ia embora está voltando à circulação, só para causar perturbações. Se a demora for muita, a vítima fica enfezada. Conhecem o termo?

Comer folhas cruas ou ligeiramente cozidas? De modo geral, se a pessoa estiver com a saúde em dia, tanto faz. A maioria das folhas se presta a ambos os modos e a decisão depende apenas do paladar, pois ao cozinhar elas mudam de textura e de sabor. O agrião, por exemplo, deixa de ser picante. Já a mostarda fica igualzinha. A chicória fica doce!

Fazer salada crua não tem mistério, é só lavar, escorrer e misturar as folhas. Pode-se sofisticar: a couve-chinesa fica deliciosa quando é rasgada ou cortada em pedaços de 4x4cm, polvilhada com sal e amassada com as mãos até soltar seu caldo; aí repousa um pouco e é escorrida antes de ir à mesa. Gosto de rasgar ou cortar a rúcula, temperar com azeite, sal e limão e deixar murchar um pouco antes de comer. Agrião cru é das folhas cruas menos compensadoras - difícil de limpar, os talos grossos geralmente são jogados fora (não nos Molhos Myriam, ver post anterior) e ainda costuma abrigar um caramujinho lindo mas portador da larva da fascíola hepática, baratinha do fígado que causa muitos estragos roendo nossos dutos biliares.

Quem não deve comer salada crua? As pessoas pálidas, friorentas, com sintomas de deficiência de energia, barriga estufada e intestino mais para solto. Aí é melhor cozinhá-las. Mas sempre rapidinho. Olho na cor: quando o verde ficar mais escuro e brilhante, tire do fogo. Se demorar mais ela passa e fica marrom.

Pode ser no bafo da panela, com um pouquinho só de água no fundo e uma pitada de sal: especialmente bom para repolho, chicória, escarola, agrião, couve-chinesa, acelga. Tirar da panela, regar com azeite e temperar com shoyu e limão.

Pode ser no vapor.

Pode ser na frigideira, com azeite e alho, as folhas cortadas fininho como a tradicional couve mineira, rasgadas ou em cortes maiores.

Pode reinventar as verduras. Cebolinha verde cortada em pedaços de 4cm e refogada, temperar com shoyu depois de tirar do fogo. Rama fresca de cenoura aferventada, depois cortada miudinho na tábua e então refogada com azeite e uma pitada de sal.

Para quem tem o intestino mais preso, a chicória (escarola) é tiro-e-queda. É só incluir uma boa porção (3 ou 4 colheres de sopa) em todas as refeições, cozidinha, que o intestino começa a funcionar. Também se toma o chá de chicória em jejum ao longo de 1 semana para desentupir a tubulação, se for o caso; há resultados espantosos. Bertalha, mais comum em lugares quentes, também desentope. Cozinhar no bafo, bater na tábua, temperar com azeite e pouco sal.

terça-feira, 31 de março de 2009

Dos leitores: e-mail da Solange

Oi, Sonia, escrevo para dizer para suas leitoras uma coisa da minha experiência pessoal. Moro sozinha e não tenho quem cozinhe para mim. Tive um período em que, além de trabalhar, eu estudava à noite e dedicava pouco tempo a pensar no que ia comer, fora e dentro de casa; então comia muitas coisas fáceis de comprar e consumir - biscoitinhos, requeijão, torradas... No intervalo das aulas jantava capuccino com pãozinho de queijo... Enfim, me alimentava quase que só dessas coisas deliciosas que a gente come principalmente quando não pensa.

Essas comidinhas são que nem televisão, dão aquele torpor... Eu fiz Psicologia e numa determinada aula falaram que existem três tipos de drogas: as alucinogênicas, as excitatórias e as saciatórias, e a comida foi incluída entre as saciatórias, junto com barbitúricos e álcool, que na primeira fase excita mas depois dá torpor. É o gostoso de ficar pesada, como se estivesse relaxada, mas na verdade o que está acontecendo é todo um esforço a mais do organismo para dar conta de tanta coisa.

Com o tempo comecei a ficar mais inchada, com menos disposição na hora de acordar. Me sentia pesada, como se nunca tivesse tempo suficiente à noite para digerir tudo o que eu tinha consumido. Engordei pelo menos um quilo por ano e tinha muita prisão de ventre. Estava chegando a um limite, estava me sentindo muito mal. Insatisfeita com a minha sensaçào e com a forma corporal. Tinha me viciado naquela comida e precisava fazer uma coisa radical para mudar - uma coisa que envolvesse mudança de hábito e de crença mesmo. Resolvi me informar e levar a sério a informação.

De tudo o que li, o que mais me atraiu foi comer mais vegetais e me alimentar só de líquidos e frutas ate o meio-dia. Comecei a incluir na minha rotina ir uma vez por semana à feira. Passou a ser uma atividade que me dá o maior prazer, como ir à praia. Tenho prazer de escolher as frutas, as verduras, ver que a oferta muda de acordo com a época. Adoro descobrir o nome dos vegetais e perguntar ao feirante como faz, se é para comer cru ou comer quente - os feirantes em geral gostam de comer o que vendem.

E aí, quando sinto fome ou vontade de comer, tenho muita escolha de frutas e vegetais, em casa e no consultório. Não dá tempo de ficar tomando conta do fogão, mas soube de uma panela elétrica japonesa que cozinha arroz e comprei. Nela faço arroz integral, colocando 50% mais água, umas fatias de gengibre e uma colherinha de sal para conservar os minerais, e depois como com gersal e salsinha.

De sobremesa gosto de fazer vodus de frutas - espeto cravos nas maçãs, nas peras ou nos pêssegos, que são meus favoritos, na banana com casca, tudo com casca - e ponho para cozinhar abafadinho, com o fogo bem baixo. Isso porque no inverno percebi que é melhor comer a fruta quente; no começo eu comia tudo cru, mesmo que o tempo estivesse frio, e tive muita gripe.

Também gosto de tomar missoshiru antes de comer, fervo uma cebola, um alho-poró ou qualquer vegetal, desmancho o missô e acrescento cebolinha verde. É ótimo para os intestinos e dá muita energia no frio.

E é isso, Sonia, que eu queria dizer. Ter uma geladeira cheia das coisas certas significa emagrecer e ficar em forma, fisica e mentalmente. É você escolher e não ser escolhida pela comida. Posso dizer que isso mudou minha vida.

Um abraço

Solange

(PE)