Mostrar mensagens com a etiqueta Bebidas de Inverno. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Bebidas de Inverno. Mostrar todas as mensagens

26.2.14

Leite de soja e aveia

Ha anos pesquisei este assunto e pensei até comprar uma máquina própria, porém quando percebi o seu funcionamento, descobri que já tinha uma: a Thermomix. Aqui [no Brasil] só um destemido comensal desta casa [ou não fosse ele jovem] enfrenta a quantidade de açúcar do leite de soja que se encontra à venda, muito acima do aceitável. Reunidas as condições para tentar, a verdade é que a etapa de descascar a soja me demovia, até ler este delicado post da Naida, que veio despertar a curiosidade. Um serão de pesquisas em livros e uma manhã de experimentos bastaram para produzi-lo e perceber que o sabor estranho no caso da soja, pode ser melhorado e adaptado ao nosso gosto. Na segunda experiência eliminei o descasque, para agilizar o processo. Na Thermomix tinha partido metade da soja na noite anterior, na esperança que soltasse naturalmente as cascas quando demolhada. Resultou e sem alterar o sabor :)
Parti de uma receita da Vorwerk e acrescentei canela, limão, baunilha e açúcar mascavado, mas a inspiração para a nota final, veio da leitura da composição da embalagem de compra: sal! Acrescentei flor de sal no final e assim cheguei ao nosso leite, que usaremos para smoothies, juntaremos granola ou chocolate, ou beberemos simples.
Fiz duas receitas seguidas que renderam cerca de 3 litros. Portanto num tacho poderemos duplicar as quantidades abaixo.

Ingredientes para 1,5 l [na Thermomix]
100 g de soja integral orgânica
40 g de aveia em flocos orgânica
1800 ml de água
1 pau de canela
4 unid de casca de limão [retiradas com o descascador de legumes]
50 g de açúcar mascavado
2 colheres de chá de extracto de baunilha
1 colher de chá de flor de sal
Thermomix
Na noite anterior coloque o feijão seco na Thermomix e parta-o com alguns toques de turbo, ou triture em velocidade alta por poucos segundos.
Transfira-o para uma tigela grande com 500 ml de água e deixe de molho durante a noite.
No dia seguinte a maior parte das cascas estarão soltas, mas se quiser pode esfregá-lo com as mãos para soltar mais. Deite a água fora e lave a soja em várias águas, removendo as cascas.
Coloque 900 g de água na Thermomix e programe 6 minutos, velocidade 1, temperatura 100, para aquecê-la e no final acrescente a soja drenada. Monte o cesto e coloque a canela e as cascas. Feche a máquina sem o copinho da tampa e programe 20 minutos, temperatura 100, velocidade 1.
No final retire o cesto, adicione a aveia e triture 2 1/2 minutos, velocidade 7, 8, 9 e 10. Adicione 900 g de água o açúcar e programe 10 minutos, velocidade 1, temperatura 100.
Junte a baunilha e flor de sal e misture na velocidade 3 por 5 segundos.
Filtre o leite para um jarro munido de coador de tecido [opcional]. Só coei metade, obtendo dois leites um coado e outro não, para agradar a todos. Guarde fechado em garrafas até 7 dias no frigorifico/geladeira.

8.12.11

Chocolate (e) picante


Dois verões tinham passado.
Sentou-se na areia em frente ao ponto que perscrutava no mar disposto a esperar. Aos poucos aproximava-se da costa nadando na sua direcção. Era ela, confirmou. 
Saíu enrolada numa onda de água, espuma e areia, levantou-se sorridente e caminhou para ele:
-Como sabias que era eu?
-Só conheço uma pessoa que enfrenta este mar sozinha.Vês alguém na água?

A pulsação acelerava quando o via ao longe, ao passar mirava-o de soslaio com receio de olhares cruzados. Era moreno de olho verde, sem dúvida o rapaz mais "giro" daquele Verão.
Ele parecia nem dar por ela e quando finalmente se conheceram uma noite no café da praia, só tinha olhos e conversa para a amiga mais velha que vivia na América. Conversas de gente vivida, como se isso fosse possível com 18 anos. 
Naquele tempo sem internet ou telemóvel, o café passou a ser naturalmente o ponto de encontro após o jantar e invariavelmente acabavam a noite em casa da amiga. Mas a frivolidade da conversa entediava-a, houve alturas em que tentou mudar-lhe o rumo em vão, sentia-se transparente!
Na quarta noite decidiu não ir, em vez disso foi andar nos altos baloiços da praia, costumava fazê-lo em noites de luar. Começava devagar ganhava balanço com as pernas e ninguém a parava naquela alegria vertiginosa. Com a cabeça caída para trás, olhava o céu riscado pela fuga das estrelas, quando foi interrompida: 
-Pára! 
Era ele ali à sua frente. O atrito dos ténis na areia foi travando o baloiço, as mãos dele agarraram as correntes e trémula ouviu-o confessar não conseguir esconder por mais tempo como gostava de tudo nela, o sorriso, o olhar e a pele morena.
Não lhe deu tempo nem discernimento para responder, puxou-a a si enlaçou-a e beijou-a, ela de cabeça à roda, com o chão a fugir-lhe debaixo dos pés pensou que ia desfalecer. 
Foi o seu primeiro beijo e nos dias que se seguiram andou na estratosfera: piorou da surdez natural aos 16 anos, a mãe chamava-a ela não ouvia, olhava sem ver o movimento de bocas sem sons. A realidade era tão boa que sonhava acordada e inexplicavelmente nunca mais conseguiu ler livros aos quadradinhos. 
Nos encontros na praia quase deserta dos pescadores, protegidos pelas dunas trocavam beijos e abraços e olhavam-se em silêncio congelando o tempo. Na realidade passavam horas até ela se esgueirar e correr em direcção àquela imensidão azul. Desafiava-o entrando nas vagas e a vontade de estar com ela levava-o a enfrentar aquele mar bravo também.
No dia em que o chão lhe voltou a fugir debaixo dos pés, tinha ido com a mãe às compras na vila. Em frente da confeitaria viu-o através da montra e de olhar já turvo ainda vislumbrou a "amiga". Segurava na mão um embrulho e sorria.
Envolta num turbilhão de sentimentos entrou em casa num pranto eminente adiado pelo pedido da mãe para preparar os legumes, tinha de sair depois do jantar.
Pegou numa cebola, cortou-a em rodelas tão finas quanto pode, sempre a chorar repetiu a operação até acabar com todas. Atirou-se às cenouras e aos alhos que transformou em picadinho, enquanto dissertava sobre a falsidade do ser humano e tudo o que de negativo possui essa raça, cortou-se no dedo indicador. Enxugou as lágrimas no pano de cozinha e o sangue e fixou aquela natureza morta, assassinada e esquartejada na bancada, 5 cebolas, 4 cenouras e 2 alhos franceses, ocorreu-lhe uma cena dramática do filme do ano, ao som da Cavalgada das Valquírias. Foi então, enquanto cortava os pimentos em tiras, que se apoderou dela um sentimento crescente de vingança pela dupla traição e os cortes com a faca tornaram-se mais precisos e lentos. A mãe mexia nos frascos das especiarias, o seu olhar recaiu sobre o piripiri, mas logo abandonou a ideia pois outro atraiu a sua atenção. Agora sim aquele ingrediente perfeito daria consistência ao seu plano.
Depois do jantar caminhou nervosa mas decidida ao encontro dos dois, nem deu pelo desacato entre a mulher dum pescador e uma turista francesa, tal era a sua concentração.
Nessa noite preparou ela o cacau em casa da amiga a quem entregou uma caneca e só depois a ele sem o fitar, dirigiu-se à porta de entrada, abriu-a e fugiu dali para fora só parando em casa.
De manhã custou-lhe muito acordar e nesse dia nem saíu de casa, a realidade já não lhe interessava preferia sonhar a dormir, mas no seguinte a mãe impaciente ordenou: 
-Levanta-te!
-Vou ao super comprar pimenta que desapareceu. A tua amiga veio cá outra vez e quer falar contigo, deixou um presente. Não demoro mas espreita a cor do assado no forno. Quando voltar quero ver-te de pé! 
Quando se viu só tentou conciliar as ideias, a mãe deixava-a muitas vezes confusa, sabia que só as mães conseguem pensar em tanta coisa diferente e dar tanta ordem em simultâneo.
Tirou o frasco da pimenta preta do bolso dos calções e apressou-se a colocá-lo junto às outras especiarias na cozinha, dirigiu-se à sala e curiosa pegou no embrulho.Desfez o laço bonito e rasgou o papel. Uma caixa de bombons, um cartão com um coração enorme e duas iniciais M e C. E se o arrependimento matasse ela tinha-se finado ali. 

Agora 2 anos depois, ali estava ele de novo. 
Voltaram ao passado com o tema inevitável Chocolate e Pimenta, a sua inicial era um C de Chocolate a dela deveria ser P de pimenta ou picante e não M, ou seria o M de Malagueta?
Entre risadas ela confessou só ter provado os bombons, depois de alguém ter comido o primeiro. Falaram da amiga que não voltara, provavelmente casara com um americano. Houve um momento sério em que ele lhe perguntou porque tinha desaparecido da sua vida, um mês após o episódio picante.
"O essencial é invisivel à vista", foi a frase de um livro preferido que lhe veio à cabeça, hesitou e sem querer magoá-lo respondeu com um encolher de ombros, beijou-lhe a face, sorriu , correu em direcção ao mar e nadou até se tornar num ponto.

Quis o acaso que se cruzassem 2 anos mais tarde em Lisboa, ele divorciado tinha duas gémeas, ela universitária e ainda em busca da essência.
Ele não chegou a saber que ela encontrou o que procurava, teve 2 gémeos e não voltou a enfrentar marés vivas.
Chocolat chaud épicé de Vianne, do livro le petit Larousse de Recettes de Famille de Joanne Harris et Fran Warde. 

Ingredientes para 2

40 cl de leite gordo
1/2 vagem de baunilha cortada longitudinalmente
1/2 pau de canela
1 malagueta cortada em duas e sem sementes
100 g de chocolate negro(70% cacau)
açúcar mascavado a gosto
chantilly, raspas de chocolate e cognac ou amaretto

Tradicional
Aqueça o leite com a baunilha, a canela e a malagueta, deixe ferver um minuto. Incorpore o chocolate em pedaços ou ralado até fundir, adicione o açúcar.Retire do lume e deixe em infusão 10 minutos, depois remova as especiarias. Leve ao lume até ferver e sirva numa chávena guarnecido com chantilly, pedaços de chocolate ou com um traço de cognac ou amaretto.

Thermomix
Coloque no copo o leite, a baunilha, a canela e a malagueta e marque 6 minutos, 90ºC, velocidade colher inversa. Junte o chocolate ralado ou em pedaços e selecione 3 minuto à mesma velocidade e temperatura.Remova as especiarias e sirva numa chávena guarnecido com chantilly, pedaços de chocolate ou com um traço de cognac ou amaretto.

Esta publicação foi uma das vencedoras do passatempo Chocolate e Picante da Casa das Letras, divulgado no Gourmets amadores, pela amiga Suzana. 
Fica a advertência: o picante deve ser usado com moderação;)

3.2.10

Cacau quente


O ar frio e a escuridão surpreendem-me quando saio à rua. Ligo o carro, leio 5º Celsius e 22.35h Há 14 horas que aqui cheguei, estou exausta e com frio, a fome já passou há muito , só desejo beber algo quente e dormir .
Penso no cacau preparado de véspera e é esta bebida simples e reconfortante, que me dá alento para o regresso.



Ingredientes para 4 chávenas (pequenas)
8 dl de leite
3 colheres de sopa de cacau
3 colheres de sopa de açúcar
1 colher de café de extracto de baunilha 


Tradicional
Misture o açúcar e o cacau numa taça.Aqueça o leite sem deixar ferver.
Junte gradualmente uma porção de leite quente na mistura de cacau,até dissolver.
Verta a mistura para o leite quente e mexa.Misture a baunilha e sirva.

Thermomix 

Coloque todos os ingredientes no copo, excepto a baunilha e programe 10 minutos, temperatura 80º,velocidade 4.No ultimo minuto,retire o copo da tampa para juntar a baunilha.
Distribua pelas chávenas e sirva.

Nota - Depois de preparado pode guardar no frigorifico . Quando precisar retire apenas a porção que necessita (depois de agitar a mistura) e aqueça.