sábado, 12 de fevereiro de 2011
Medos e Enfrentamentos
Medo é um negócio muito complicado, pois há quem tenha medo de barata, medo de escuro, de andar sozinho, de altura, de morrer, etc, etc...
Não me considero uma pessoa medrosa, embora tenha meus medos, como todo mundo.
Não tenho medo de bichos em geral, voadores ou rastejantes...Claro que cobras são um caso à parte, mas sou capaz de ver uma e não cair mortinha, como pensei que aconteceria antes de me deparar com várias jararacuçus aqui, no meu quintal...
Hoje, meu amigo Alê, com seu post, me inspirou a escrever sobre meus medos e como consigo domá-los. Pois, embora eles ainda estejam lá, naquele lugar interdito, num canto qualquer do inconsciente, por mais que a gente faça uma faxina de vez em quando, limpe, esfregue e dê polimento, ele existe e se auto alimenta, não se sabe como, naquele cantinho impenetrável, onde nossa mão não alcança...E, continua lá, rindo baixinho da nossa cara porque não conseguimos alçançá-lo e expurgá-lo para sempre.
Tenho medo de avião. Medo tamanho que, antes de viajar numa grande viagem, pela primeira vez, fui procurar terapia: a cognitiva, para enfrentá-lo. Como já estava muito próxima da época de viajar só fiz três sessões. Mas a terapeuta era tão boa, que me fez gravar o relaxamento que ela fez comigo num MP3 e lá fui eu, rumo às Europas, com meus fones de ouvido e a cada vez que "baixava" a tremedeira e o pavor, eu fazia meu relaxamento, respirando e tentando me acalmar.
Tomei três Rivotril e, em vez de ficar chapada, pelo contrário, fiquei acesa e passei a viagem todinha acordada.
Antes já havia feito outras viagens de avião, primeiro para São Paulo, umas 4 vezes e duas para o Nordeste, ida e volta.
Medo de avião é um troço inexplicável. Podem te dizer que é o meio de transporte mais seguro do mundo, um milhão de vezes, que não adianta: ninguém te convence de que aquele "bichão" consegue flutuar só com a força de suas turbinas...Isso não entra na cabeça de quem tem medo, de jeito e maneira...Pra mim, medo de avião vem no DNA.
Pois bem, viajei de avião do Brasil para Portugal e de lá, para a Itália, da Itália para Portugal e outra vez, de volta ao Brasil. Ufa! Para quem se borrava toda de medo, até que me saí bem...Não surtei, consegui me controlar e comportei-me como uma moça de boa família, falando com meu marido sem parar, igual a uma maritaca doida, para não pensar, nem lembrar que estava a não sei quantos mil pés de altura, voando sobre oceano, cidades, países...
Quando visitei o Duomo, em Florença, obra prima arquitetônica, que até hoje desafia arquitetos e engenheiros do mundo todo, tamanha sua improbabilidade com seu Duomo em arco, sustentado pela maneira como os tijolos foram dispostos e assentados, graças à genialidade de Bruneleschi, não imaginava que para chegar ao topo daquela maravilha, teria que subir 463 degraus de uma escada íngreme, na qual só passa um por vez e não se pode voltar para trás, pois existe uma escadaria para subir e outra, do outro lado, para descer...
Ma come?
Dio santo!
Eu pensava que tinha elevador? Sei lá o que pensava io...não pensava, era isso!
Comecei a subir e eis que começou a me dar falta de ar (tenho asma). Olhava para trás e via um monte de japas enfileirados, que vinham subindo atrás de mim.
Olhava pra cima, maridão na frente, olhos engenheiros, encantados, olhando os tijolos e seu assentamento impressionante, pois, por dentro, se vê toda a estrutura do duomo.
Eu só pensava assim: Agora não tem jeito, pro alto e avante!
Vez em quando, umas micro janelinhas, onde eu enfiava minha face em brasa e respirava a plenos pulmões, querendo sugar ar e coragem pra continuar naquela via crucis que parecia me levar aos céus...
A qualquer hora, pensava eu, cruzaria com um anjo, subindo também, que me daria um alô e me diria, espantado: Você? Por aqui?
Teve uma hora, que numa espécie de alucinação, ele passou por mim sim, tenho certeza!
Pois é, lá ia eu, e a escadaria parecia não ter mais fim...uma claustrofobia foi tomando conta do meu ser... Eu mesma gritando dentro de mim: Socorro, me tira daqui...isso não pode ser uma igreja, deve ser o caminho do inferno, isso sim...eu suava, mas só parava nas janelinhas por alguns segundos, pra retomar o ar e a coragem e continuar no meu martírio...queria chegar logo lá no alto daquela estupenda joça e descer correndo...
Mas, quando cheguei...Me senti transformada: Era a visão do paraíso...
foto daqui
Mas eu, sem fôlego, sem força nas pernas, suada...queria ar!
Mal olhei essa maravilha de afrescos e saí correndo para o topo...subimos( yes!) mais um pouco e eis que chegamos...
Estão vendo aquele buraco iluminado láaaaa no alto? Pois fui até lá!
Eu e meu indefectível leque...feliz da vida porque vi a luz do dia!
Dali, se vê até os ciprestes dos campos da Toscana, ao longe...
Bem, quem teve paciência de ler até aqui...continua, mas está quase acabando minha experiência com meu medo...Só mais um pouquinho e já acaba a estoria...
Chegando lá, ao ar livre, a vista é divina. Vê-se a cidade todinha se espraindo em todas as direções, e se vai reconhecendo os prédios históricos, as pontes, a maravilha que fez Stendhal desmaiar de emoção, diante de tanta beleza...
Ao chegar lá no topo, ainda consegui vislumbrar um pedaço da asa do anjo que subiu comigo, branca, num vôo rasante sobre a cidade, na forma de uma nuvem....
Medos...todos temos.
Enfrentá-los é viver!
Bom fim de semana a todos!
sexta-feira, 30 de julho de 2010
Blogagem Coletiva - Medo!
O Panóptico foi um mecanismo arquitetônico inventado pelo filósofo Jeremy Bentham, em 1785, para vigiar operários, estudantes, loucos ou presidiários.
Ele consistia de um prédio em forma de anel, com muitas celas. No centro desse anel, havia uma torre de vigilância, com janelas escondidas por persianas. As celas seriam construídas de tal modo, que tudo o que se passasse em seu interior, seria visto pelos vigias.
Era a garantia da ordem e da vigilância total. O vigiado era observado pelo vigilante através das persianas e nunca sabia quando estava sendo observado.
O objetivo não era punir, mas evitar que o mal, passível de punição, fosse sequer cometido, visto que induzia no observado, um estado permanente de consciência de que estava sendo vigiado.
Era o funcionamento autoritário do poder.
Michel Foucault, o filósofo francês, ao escrever o livro "Vigiar e Punir" cita o Panóptico como um instrumento coercitivo e disciplinatório.
"O Panóptico (...) permite aperfeiçoar o exercício do poder. E isto de várias, maneiras: porque pode reduzir o número dos que o exercem, ao mesmo tempo que multiplica o número daqueles sobre os quais é exercido (...) Sua força é nunca intervir, é se exercer espontaneamente e sem ruído (...) Vigiar todas as dependências onde se quer manter o domínio e o controle. Mesmo quando não há realmente quem, assista do outro lado, o controle é exercido. O importante é (...) que as pessoas se encontrem presas numa situação e poder de que elas mesmas são as portadoras (...) o essencial é que elas se saibam vigiadas."
Foucault, Vigiar e Punir.
Em cada esquina, nas ruas, shoppings, lojas, escolas, prédios residenciais, a vigilância é usada e o Big Brother lá está, vendo tudo, acabando com a individualidade e com a privacidade dos indivíduos.
Em nome da "segurança" dos cidadãos. Em nome do "direito" à liberdade individual.
A cada dia, somos mais reféns dessa prisão invisível, desse aparente direito de ir e vir.
A cada dia mais olhos nos vigiam, mais câmeras são instaladas, mais leis são feitas, cada vez mais autoritárias e totalitárias. Em nome de uma liberdade que já não existe há muito tempo.
UPDATE: A Marli Borges do Blog da Marli fez uma abordagem muito interessante aqui sobre o tema.
quinta-feira, 1 de abril de 2010
As Santas Semanas Da Minha Infância...Medo - Parte 2
A chegada da Semana Santa me fez recordar retalhos da minha infância.
Primeiro porque minha mãe, uma católica fervorosa, filha de Maria, me levava com ela à igreja de nosso bairro para beijar a cruz e uma imagem em tamanho natural do Cristo morto...Como eu tinha pavor daquilo!
Havia uma fila enorme na direção do altar, onde tínhamos que nos ajoelhar e beijar um crucifixo...aquilo já me causava um nojo imenso, pois imaginava quantas bocas, salivas e babas já tinham estado onde minha boca de criança teria que encostar...
Depois, na lateral da grande nave, havia uma imagem do tamanho de um homem, de Cristo morto, ensanguentado e perfurado e eu, pobre de mim! era levada por minha mãe, obrigada a ficar ajoelhada ao seu lado rezando, beijar e ficar olhando para aquela estátua horrenda...
Eu tinha verdadeiro horror àquilo tudo...ia quase arrastada, mas, naquele tempo, criança não tinha querer, tinha que ir e pronto! Psicologia e conversa ainda não existiam no meu tempo de criança, e eu, apesar de tudo, ainda assim berrava, esperneava, dizia que não queria ir, mas ninguém me dava bola...Um dia me recusei a beijar a tal estátua e cheguei a chorar...desse dia em diante, me deixaram ficar só ajoelhada, não precisei mais beijá-lo...fechava meus olhos e pronto: ele sumia da minha visão...
Já crescida, me lembro de certas sensações ao entrar em igrejas...as que tinham imagens me apavoravam e ao mesmo tempo me atraíam...medo e delícia...ficava olhando as imagens esperando que piscassem os olhos para mim, ou mexessem um dedinho...eu sempre procurava um milagre, um milagrezinho só para mim, que só eu visse e ficava extasiada e amedrontada olhando as imagens dos santos...
Quando fui à Tiradentes, linda cidade histórica, pela primeira vez, já adulta, fiquei horrorizada ao saber que os cabelos das imagens eram de gente! As pessoas doavam os cabelos aos santos como forma de pagar promessas! Bizarro, patético e sinistro...
Em todas as cidades históricas de Minas Gerais, vi as mesmas coisas: santos horrorosos com cabelos humanos...E, horror dos horrores, os pisos das igrejas, de largas tábuas numeradas, são lápides, onde os endinheirados das cidades tinham o "privilégio" de ter seus corpos enterrados e colocados debaixo do piso, para estar em "campo santo", pertinho de Deus...
Apesar de toda a beleza, riqueza e arquitetura que as igrejas históricas tem, sempre me dá uma agonia enorme esse culto ao obscuro, ao mórbido que o catolicismo cultiva.
Até hoje tenho verdadeiro pavor de imagens sacras...e mesmo as de Mestre Aleijadinho, notório artista barroco, me causam aversão e desvio imediatamente o olhar...Chego a sentir até, me perdoem a franqueza, uma certa ânsia de vômito, um enjoo...
Deve ser trauma de infância...
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
Do Que Se Tem Medo?
Foto Xanadu
Meu tema de hoje é espinhoso: Do Que Se Tem Medo?
Porque o brasileiro tem tanto medo de falar o que pensa, de tomar posições, de tomar partido?
Porque não procura conhecer os fatos e não quer saber de política?
Porque somos um povo alienado?
Porque fica todo mundo em cima do muro, calado?
Porque esperamos que as coisas aconteçam para depois reclamar?
Será medo?
Medo causado por vinte anos de ditadura?
Desaprendemos a questionar, cobrar, interpelar?
Nunca soubemos fazer isso?
É mais cômodo?
Ou o que?
Foto Alexander Kharlamov
Do que meu povo tem medo?
De quem?
Que sombras serão essas, que fantasmas tanto o amedrontam?
Tem coisas gravíssimas acontecendo nestes últimos anos no nosso país, nas barbas de todos, mas, no entanto, só a imprensa relata, divulga...ninguém dá opinião, ninguém discute, ninguém cobra.
A censura e suas várias formas de calar o que não interessa ao poder, está aí, na nossa cara...mas todo mundo finge que não vê...
Atos, decisões, falcatruas de todo tipo são jogados diante de nós, nos nossos pés...e ficam todos parados, esperando apodrecer, sentindo o mal cheiro...esperando quando ninguém mais olha, para jogar debaixo do tapete do esquecimento...
Ninguém quer largar sua vidinha simples, sem grandes transtornos... ninguém quer "se comprometer"... sem perceber que já estamos comprometidos, pelo simples fato de que somos cidadãos, eleitores. Somos o país. Nós, não a cambada que está lá, pensando que eles são os donos do Brasil.
O brasileiro é o rei do "deixa pra lá", do "é assim mesmo", do "não adianta".
Adianta sim!
Se todo mundo contar o que vê de errado, se gritar bem alto, com o poder que tiver, seja ele grande ou pequeno, será ouvido...alguém ouvirá. Seja nas urnas, seja mandando cartas aos jornais, seja escrevendo num blog!
Ontem li nos jornais, mais uma vez, estarrecida, mas não surpresa, que, enquanto o governo, quer comprar 36 aviões Rafale da França por US$ 10 bilhões, a Índia está comprando pelos mesmos US$ 10 bilhões, 108 aviões, com transferência de tecnologia!
Bem, não precisa ser muito inteligente, nem muito esperto para ver que há alguma coisa muito errada nessa estória.
Os Emirados Árabes estão comprando os mesmos aviões Rafale, 60 deles, por um valor estimado entre US$ 8 a 11 bilhões. 60 aviões!
Porque será que para o Brasil os aviões são mais caros? Os mesmíssimos aviões?
Ao mesmo tempo, enquanto em qualquer país onde as leis são cumpridas, campanha eleitoral antecipada, inaugurações de fachada antes do prazo, seriam punidos, no mínimo com um impeachment, aqui ficam todos quietos, nenhuma entidade se pronuncia...Ninguém vê nada, igualzinho ao presidente. Todo mundo se intimida diante da arrogância, do dedo na cara, da ameaça velada, do "sabe com quem está falando"...medo de fantasmas que teimam em nos assombrar...
Do que eu tenho medo?
Vou contar a vocês: da letargia, da falta de ação e, principalmente, da covardia e do silêncio. Desse silêncio ensurdecedor que ouço há tempos...
"Todos tem direito a se enganar nas suas opiniões.
Mas ninguém tem o direito de se enganar nos fatos."
-Bernard Baruch-
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Medo de Voar
Cada vez me convenço mais que voar de avião não é uma coisa natural....
Tem tido tantos acidentes e tantos incidentes, que sei não....fico mais segura, quando o meio de transporte onde estou, toca alguma superfície....
Hoje teve um incidente, uma turbulência fortíssima, com um voo da Continental Airlines indo do Brasil para os EUA e 26 passageiros ficaram feridos, alguns em estado grave.
Logo depois do acidente com o Airbus da Air France, li na coluna da Cora Rónai, no jornal O Globo, a experiência de um leitor que estava numa estrada indo pra Minas Gerais, à noite, quando caiu um raio, na rodovia, a uns 10 metros do carro dele.
O painel de luzes do carro, começou a acender e a apagar, a ignição não funcionava, os faróis piscavam, até que, simplesmente, apagou tudo e ele teve que chamar o guincho e mandar pra uma oficina.
Se isso aconteceu com um carro, com uma descarga elétrica a 10 metros de distância, não pode acontecer também com um avião, quando cai um raio em cima dele?
Não sei não....a lógica não me deixa aceitar a segurança de voar de avião, por mais que as estatísticas mostrem o contrário.
Isso não me impedirá de voar, assim que puder, para algum destino maravilhoso, como já fiz várias vezes, mas, sempre com muita desconfiança do "meio de transporte mais seguro que existe".