Madre Teresa foi uma pessoa iluminada, dedicada ao próximo, grandiosa em sua figura frágil, principalmente porque passou a vida toda atormentada pelas dúvidas sobre a existência de deus.
Ela nasceu com o dom da dádiva, com o olhar voltado para os desvalidos, para os mais miseráveis dos miseráveis, para aqueles em que ninguém tocava: leprosos, aidéticos, mendigos, cobertos de feridas purulentas, corpos esquálidos exalando terríveis odores, enfim, para os "intocáveis", pois sabia que ninguém olharia por eles. Viveu, durante muitos anos em Calcutá, em meio à imundície das ruas, cheias de crianças nuas brincando na própria urina, doentes e subnutridos, animais, esgoto à céu aberto.
Ela escreveu inúmeras cartas falando de suas dúvidas, da ausência de fé em deus, sem entender porque havia tanta dor no mundo. Sofreu tanto com suas dúvidas, que ela chamava de "escuridão", que foi ficando corcunda, como se o peso do mundo inteiro, as dores de toda a humanidade, o intenso e atroz sofrimento do qual era testemunha, fossem carregados por ela, em suas costas franzinas.
O padre Brian Kolodiejchuk lançou um livro com suas cartas: Madre Teresa: Venha, Seja Minha Luz.
Na minha opinião, a igreja católica usou a madre em benefício próprio. Até o Papa João Paulo II usou sua imagem como propaganda para a igreja, devido ao grande prestígio que possuía, em todas as esferas e em todas as religiões, ainda mais, após ter ganho o Nobel da Paz, em 1979.
Acho até uma ofensa à sua memória, que uma pessoa que passou a vida em luta interior, em tristeza confessa por seus dilemas espirituais, seja santificada, como deseja a igreja. Viveu atormentada, em solidão e tortura, segundo suas próprias palavras. Durante 66 anos escreveu cartas, pensamentos e questionamentos internos, que foram transformados em livro.
Há umas semanas atrás, vi um documentário sobre ela. Ela abraçava leprosos, os beijava, cuidava das feridas dos doentes. Montou vários hospitais pelo mundo afora, reuniu equipes de médicos e enfermeiros prontos a cuidar e a acarinhar essas criaturas, as mais miseráveis entre os miseráveis que eu já vi. Gente sem nariz, sem boca, chagas humanas. Imagens tão horrendas que eu nem conseguia olhar.
Foi ficando a cada dia mais encurvada, mais cheia de dúvidas, menos crente e mais caridosa. Todos queriam posar ao seu lado. Qualquer pedido seu era atendido.
Sua fé era no amor, na solidariedade, na ajuda humanitária. A religião, embora poucos saibam disso, não era o que a impelia e sim, o amor ao seu semelhante.
Mas, seu íntimo, era torturado, pois não compreendia que deus era esse que maltratava tanto aos seus filhos. Orava, pedia, mas só via a escuridão.
Vejam algumas frases dela:
Poucos sabem sobre esse outro lado dessa mulher única, e essa seja, talvez, a sua verdadeira face.
Depois de saber disso tudo, cresceu ainda mais a minha admiração por essa criatura iluminada, não pela religiosidade, mas pelo Amor.
Esse sim, deveria mover o mundo.